quarta-feira, 6 de julho de 2011

Capítulo 9


9- ESPUMANTE


            Respirei fundo duas vezes antes de descer as escadas. Eu sabia que vários olhos me aguardavam ansiosos, entre eles Alex. Gabi me incentivava a descer, mas eu sempre hesitava quando dava o passo que me exporia.
            O vestido que Gabi me fizera estava divino. Era vermelho vinho; tomara que caia; longo até o chão; tinha um espartilho, que modelava a cintura. Tinha um enfeite na frente, fazendo parecer que o vestido estava enrugado.
            Meu cabelo estava todo cacheado, preso bem alto na cabeça. Eu parecia àquelas mulheres do século passado. A maquiagem estava perfeita. E o salto me deixava quase dez centímetros maior.
            - Vai se atrasar. – Gabi falou.
            Contei até três antes de surgir no alto da escada. Meus pais me esperavam ansiosos. Rodrigo também estava. Mas quem chamou minha atenção foi Alex, de smoking preto, os cabelos arrepiados fio por fio, sem gel algum – outra obra de Gabi. Seu sorriso torto estava tão incrível que tive de olhar aonde pisava, pois poderia ficar tonta e cair.
            Ele me esperava no fim da escada, a mão estendida para mim. Peguei e corei com seu sorriso sedutor.
            - Está divina. – ele sussurrou em meu ouvido.
            Andamos juntos até o carro.
            Rodrigo dirigiu meu BMW, com meu pai ao seu lado. Eu e Alex estávamos no banco de trás. Minha mãe ia com Roberto – meu pai quase explodiu quando Roberto a convidou.
            A formatura aconteceria em um imenso salão de festas. Ficava a alguns metros da escola. O lugar já estava lotado. Eu e Alex fomos para a fila de formandos. O problema foi saber em que lugares ficaríamos, junto com os A ou com os B. Resolvemos ficar no fim do A e no começo do B.
            O diretor chamava um por um para entrar no salão. Reparei que não era só eu que estava com um padrinho da própria sala. Vários outros também estavam.
            A eleição para escolher o orador foi acirrada, mas acabou ganhando alguém que nem estava na eleição. Alex. A decisão foi da professora de Língua Portuguesa.
            Seu discurso foi completamente épico. Ele escrevera e reescrevera várias vezes, embora eu falasse que estava perfeito ele desprezava todos que achava banal.
            Eu estava com seu rascunho em minha mão, caso ele esquecesse algo – a professora insistiu que ele decorasse.

            Muitos desses formandos estão pensando neste momento: “terminei”. Entretanto, há aqueles que não se contentam com esse pouco.
            Nosso maior desafio para chegar até aqui não foi os professores – como os fracos pensam, – não foi levantar cedo, não foi nada do que sempre reclamamos. Mas, a maior dificuldade se baseou, de certa forma, em nós mesmos.
            Sempre ouvimos que jovens só servem para estragar o mundo, que só sabemos bagunçar e errar. Poucos acreditam em nossa capacidade. A maioria prefere atirar pedras a confiar em nós. E conforme o passar do tempo, ouvimos tanto isso que nós mesmos passamos a crer nestes absurdos. E é aí que tudo dá errado.
            Mas hoje estamos aqui para dizer a esses que duvidaram: “Vencemos!” Não acreditaram em nós e estamos aqui. Mesmo com todas as pedras que levamos, continuamos firmes.
            Este discurso foi escrito por mim, mas todos têm participação. Porque não tem um destes formandos que não levou uma pedrada. Todos nos machucamos no caminho até aqui, porém, nenhum desistiu.
            E não paramos por aqui. Queremos muito mais.
            Existem pessoas por aí esperando algum de nós cair, para rir. Mas e se cairmos? Realizar um erro não será suficiente para nos impedir, então não adianta rir.
            Por tanto, para aqueles que ainda duvidam de nosso potencial, só podemos dizer uma coisa:
            “É uma pena não acreditarem, porque querendo ou não, nós somos o seu futuro. E se vocês não acreditam em seu próprio futuro... Acreditam em quê?”.


            O discurso era mais que lindo. Era perfeito!
            A voz grave de Alex fez o discurso ficar mais profundo. Onde já se viu um garoto de 18 anos ter uma voz daquela? Resultado por ter um pai com voz de trovão.
            Todos o aplaudiram veementemente. Ele não precisou do papel. Tinha lido tanto que conseguiu repetir olhando apenas para os olhos de seu público.
            Finalmente começou a entrega dos diplomas. Quando subi no imenso palco pude ver minha mãe chorando no meio da plateia.
            - Parabéns, Senhorita Beatriz. – disse o diretor.
            Agradeci e voltei para o meu lugar, ao lado de Alex.
            Vi Suzana subindo ao palco com Frederico Dias Assumpção, um colega de nossa classe que sempre a rodeava. Ele era bonito: os cabelos extremamente negros, a pele translúcida, mas era principalmente forte.
            Ela estava em um vestido rosa-bebê, com frente única, e curto até os joelhos. Os cabelos louros presos no alto da cabeça e soltos ao longo da nuca, lisos de um jeito impossível. Estava realmente linda.
            Um por um os alunos foram pegando seus diplomas.
            A formatura estava acontecendo em uma pequena parte do salão. Do outro lado havia as mesas para os convidados e uma imensa pista de dança com um DJ preparado. Estava bonito, mas faltava algo: o toque Gabi!
            Faltava a exuberância; exagero de convidados; e a exigência na perfeição. De longe eu a via olhar a decoração com reprovação.
            Muitos elogiaram meu vestido. Eu e Alex chamávamos atenção. Preferia acreditar que era a beleza de Alex do que meu vestido.
            Enfim a parte chata terminou. Todos se dirigiram para as mesas e a pista de dança. Claro que primeiro veio os cumprimentos e os choros.
            Minha mãe correu por entre as pessoas até chegar em mim e me abraçar. Sua maquiagem já estava até borrada de tanto choro. Ela era uma perfeita manteiga derretida.
            Meu pai estava logo atrás dela. Seu sorriso era tão grande que fazia seus olhos desaparecer em rugas.
            - Oh meu amor! – Carla foi a primeira em me abraçar. – Estou tão emocionada.
            - Mãe, lembre-se que só fiz a entrada, que não tem nada dentro desse cano, nenhum diploma.
            - Ainda. Assim que você terminar a recuperação vai pegar o certificado.
            Que otimista! Eu poderia muito bem não passar.
            Seria trágico refazer o terceiro colegial por causa de uma psicopata.
            Paulo me abraçou logo depois, declarando que estava completamente orgulhoso de sua filhinha. Rodrigo também teve a sua vez, me deixando sem ar com seu abraço-de-urso.
            Só percebi que Alex havia saído de perto de mim quando me virei para pegar sua mão. Ele estava rodeado de sua família, mas não só Amanda, Renan e Gabi. Seus avós e alguns tios também estavam.
            Ótimo! Noite de apresentações!
            Eles estavam conversando quando a mãe de Alex me chamou para me juntar a eles. Tive de atravessar a multidão chorona e sentimental até chegar perto dela.
            - Venha! Alex prometeu te apresentar a minha mãe.
            Respirei fundo antes de concordar.
            - Apresente a Bia para todos. – Amanda falou para Alex.
            - Oh! – ele pegou em minha cintura – Gente essa é minha namorada, Bia. Bia, essa é minha avó, – ele foi apontando para cada um que mencionava – meu avô, meu tio John, a esposa dele Érica, minha tia Clara e o marido dela Fernando.
            - Prazer. – falei por fim.
            Todos me cumprimentaram.
            - Beatriz Vasconsellos, estou certo? – John perguntou.
            - Exatamente. – tentei disfarçar o incômodo que a pergunta me causou.
            Por que meu sobrenome causava tanta alteração nas pessoas? Por um lado até foi bom saber que não sou uma oficial Vasconsellos.
            Na verdade, eu era uma oficial o quê?
            - Tio John só pensa em dinheiro. – Alex cochichou em minha orelha.
            - Alex é esperto em escolher uma pretendente. – John continuou.
            - Talvez sim. – respondi com indiferença.
            - Não ligue para o John, querida. – a avó de Alex falou. – Não importa seu sobrenome, se faz meu neto feliz está ótimo.
            - Muito. – Alex respondeu.
            - Temos que dançar a valsa dos formandos. – falei, na realidade, tentando sair daquela situação constrangedora.
            - Vamos. – Alex me puxou para a pista de dança.
            Enquanto saía pude ouvir Érica falando para John:
            - Sempre tem que ser inconveniente!
            Fomos para a pista de dança. Ele sabia que eu não tinha intenção nenhuma de dançar. Suspeitei que até ele estivesse apressado em sair dali. Então apenas deslizamos na pista de dança.
            - Meu tio é um símbolo de sensibilidade, não é? – Alex perguntou com sarcasmo, enquanto tentávamos pegar o ritmo da dança.
            - Muito. – respondi também com sarcasmo. – Ela é um verdadeiro obcecado por dinheiro?
            - Demais!
            - Mas os outros são muito agradáveis. – respondi, tentando amenizar a conversa.
            Ele riu.
            - Isso porque você nunca foi em nossas reuniões de família.
            - Gostaria de ir.
            - Vai precisar de um terapeuta depois.
            Nós dois caímos em gargalhada. Sem dúvidas ele estava exagerando. Não poderia ser tão ruim assim. Eles estavam tão sossegados na festa.
            Alex segurava em minha cintura com uma mão e com a outra minha mão direita. Eu me apoiava em seus braços, enquanto ele rodava pelo salão. Bom, aquilo não era exatamente uma dança.
            Aos poucos a música ia mudando. Da melancólica valsa para o maravilhoso eletrônico.
            Vi Rodrigo flertando uma garota da sala de Izabela. Era Taís, uma menina morena, de feições delicadas e estatura baixa. Parecia uma garota muito delicada para as mãos ousadas dele. Mas se desse em alguma coisa... Ótimo!
            Uma hora ela cedeu e os dois curtiram um pouco da festa junto. Mas assim que Rodrigo conseguiu arrancar um beijo dela, a largou. Típico dele!
            Também avistei Marcos. Na verdade, já tinha o visto fazer a entrada com Fernanda. Ele estava divino no smoking.
            Todos da república estavam ali.
            Max e Luiz também estavam. Luiz dançando com Gabrielli, enquanto Max não desgrudava da mesa de Ponche.
            Outra pessoa que vi várias vezes – e esta não me agradou – foi Suzana. Ela não continuou com o garoto que entrou, só ficava com Vanessa e Gabriela, suas “amigas”. Realmente, elas pareciam mais seguidoras.
            Alex foi falar com Max, enquanto eu ficava com Ariane.
            Estávamos lendo o que havia escrito em seu diploma, quando Rodrigo passou por mim. Segui-o com o olhar. Ele fora até a mesa de bebidas e parou ao lado de Suzana. Vi que os dois conversavam.
            Desliguei-me completamente da festa. Estava tentando entender o que ele fazia ali. Eles nem se conheciam... Eu acho.
            Ela saiu, deixando-o falando sozinho. Eu esperava veementemente que ele estivesse apenas flertando-a.
            Rodrigo saiu de perto da mesa e Suzana voltou, pegando uma taça cheia de uísque. Típico de garota vulgar, ser bêbada!
            Decidi ver o que eles falavam. Deixei Nani falando sozinha e andei – ou melhor, arrastei os pés e o vestido – até a loura. Ela pareceu não perceber a minha aproximação.
            - O que vocês estavam conversando? – perguntei com voz acusadora.
            - Como é? – ela parou de escolher que bebida mais pegaria e passou a olhar para mim.
            - Meu irmão. O que você falava com ele? – insisti.
            - Irmão?
            Apontei para Rodrigo no meio da pista de dança. Ele parecia nos olhar, mas disfarçou com rapidez.
            - Valentyne? – Suzana arfou. – Aquele é Rodrigo Valentyne? O que estava me cantando?
            - Sim.
            - Se soubesse não o teria rejeitado.
            - Fica longe do Rodrigo. – falei entre dentes.
            - Ciúmes do ex? – ela provocou.
            - Sei bem quem você é, Gisele, e quero você bem longe dos meus amigos, sua cobra.
            - Está me confundindo, garota. – sua voz saiu ameaçadora.
            - Não estou. E não tente fazer com o Rodrigo o mesmo que fez com o Marcos.
            - Marcos? Outro ex? Que lista grande. – ela começou a mexer o copo em sua mão. – Mas você tem bom gosto para homens. Este Marcos deve ser um Deus grego.
            - Fica longe do Marcos. – ameacei.
            Ela abriu um sorriso malicioso.
            - Me apresenta? – perguntou provocativamente.
            Não pensei duas vezes. A raiva superou tudo. Procurei algo que pudesse bater nela que fizesse uma marca enorme. Ao meu lado só tinha uma garrafa de espumante.
            Vai esse mesmo. Pensei.
            Peguei a garrafa – que estava destampada – e joguei em sua direção. Não vi como foi, pisquei e quando abri os olhos de novo apenas vi um vestido rosa todo encharcado e um cabelo todo melado.
            Seu vestido rosa-bebê ficou todo molhado; a cara derretia a maquiagem; e o cabelo estava grudado na cara.
            Todos ao redor pararam para ver o que tinha acontecido. Alguns olhavam chocados, outros reprimiam risos. De longe vi Alex olhar abismado.
            - O que você fez? – ela perguntou entre dentes.
            - Te joguei espumante. Dãa. – falei como se fosse uma retardada.
            - Só não desmonto esse seu rostinho de Barbie porque isso desmancharia meu disfarce.
            Olhei chocada ela revelando sua identidade.
            - Vai pagar caro por isso, Beatriz. – ela falou, depois se retirou.
            Fitei suas costas enquanto ela desaparecia no meio da multidão. Agora eu estava com medo!
            Na hora foi pura adrenalina, me deu até felicidade. Mas agora eu percebia a extensão do problema que arrumei.
            Todos começaram a bater palma ao meu redor. A maioria falando que fiz o certo:
            - Demorou para alguém fazer isso nela.
            - Ela mereceu.
            - Foi muito bem feito.
            - Parabéns, Bia!
            Mas a que me chamou a atenção foi uma voz masculina falando:
            - Ela ficou louca.
            Se arrependimento matasse...


            Narração de Rodrigo Valentyne.

            Estava me divertindo na festa. Várias danças. Várias comidas. Vários fotógrafos. Várias garotas. Bom... As garotas eram um problema, pois eu só queria uma para me divertir, e não poderia ser em público.
            Suzana Winter, ou se preferir, Gisele Stoff.
            Ela dissera que não podíamos conversar na frente de todos, principalmente de Bia. Mas eu não estava resistindo, queria falar com ela.
            Andei até a mesa de bebidas, onde ela se encontrava. Fingi estar conhecendo-a.
            - Oi gata. – falei.
            Ela me olhou assustada.
            - Ficou louco? Quer que a Bia descubra? – ela cochichou.
            - Vai não. Ela é muito desligada, nem vai perceber.
            - Ela está de marcação comigo. E pelo que sei, ela agora é bem observadora.
            - Relaxa!
            - Agora finja que está me flertando e eu estou te dispensando.
            - O quê? – desentendi.
            Ela me deu as costas e fingiu me desprezar. Saí de lá e fui para o meio da pista de dança. Fiquei de longe a olhando, quando Bia apareceu ao seu lado. Não sei o que ela falou, mas Suzana parecia assustada.
            Começaram a conversar naturalmente, mas de repente elas olharam para mim. Virei na mesma hora. A cara de Bia ficou ameaçadora e Suzana falou algo que a fez ficar com raiva.
            Do nada Bia pegou uma garrafa de espumante e jogou tudo em Suzana. Todos ficaram chocados, entre eles, eu.
            Elas falaram algo mais e depois Suzana se retirou. Bia ficou completamente imóvel, quando todos começaram a aplaudir.
            - Ela ficou louca. – falei chocado.
            Suzana se trancou no banheiro feminino. Pra minha sorte, eu tinha a cópia de todas as chaves daquele lugar, já que meu pai era um dos patrocinadores do salão. Andei até lá e destranquei. Entrei sem ninguém perceber.
            Ela estava sem a peruca loira – o cabelo preto caía até o ombro. Socando os espelhos. Um já estava em pedaços, o outro eu a vi quebrar.
            - Como se soca um espelho sem fazer a mão sangrar? – perguntei.
            Ela me olhou assustada. A expressão incrédula.
            - Pensei que tivesse trancado a porta.
            - Tenho cópias.
            - É só saber socar. – ela falou com um sorrisinho torto.
            Suzana arrancou o vestido rosa e atirou para mim.
            - Seca ali no secador de mãos. Vou secar minha peruca.
            Peguei o vestido e coloquei debaixo do ar quente. Estava num cheiro estranho de espumante.
            - Tudo isso é culpa sua! – ela falou.
            - Minha? Tenho certeza que você a provocou.
            - Não a defenda.
            Fiquei quieto. Era bem melhor.
            Ela andou até os espelhos e largou a peruca no balcão. Terminei de secar o vestido e o joguei ao lado da peruca, enquanto Suzana retocava sua maquiagem.
            - Aquela garota vai me pagar caro por isso.
            - Ei! O plano é contra Alex, nada de mexer com a Bia.
            Ela levantou o rosto para me encarar do espelho. Sua expressão era furiosa. Não sei como aconteceu, só sei que quando me dei conta ela tinha girado por trás de mim e me enforcava com o braço.
            - Está me ameaçando? – ela perguntou em meu ouvido. – Está, playboy? Enxerga-te, pirralho.
            Já estava ficando sem ar. Ela me segurava em uma gravata tão forte que eu mal ouvia o que estava dizendo.
            Vi quando ela pegou na bolsa um estilete, o mesmo do nosso pacto, e colocou próxima a minha garganta.
            - Não vai me matar. – falei com a voz falhando – Precisa de mim.
            - Não preciso de ninguém. Posso muito bem conseguir outra pessoa. Porém, não vou te matar hoje. Fizemos um pacto de sangue, então o meu sangue está misturado ao seu até o pacto ser cumprido. Se te matar, seu sangue poluído ficará dentro de mim pelo resto da minha vida.
            Relaxei, até sentir a lamina rasgando minha garganta. Ela me empurrou contra o espelho.
            Automaticamente coloquei a mão no pescoço, procurando o corte. Minha mão se encharcou e meus olhos ficaram arregalados com o choque.
            - Não se preocupe, não vai morrer. – Suzana falou, agora relaxada e retocando a maquiagem. – Só fiz um pequeno corte bem longe da sua artéria. Era só para você ver que não tenho pena de você. Se eu quiser te mato.
            - Vaca! – falei, limpando o sangue.
            - Já me chamaram de coisa pior, querido. Agora sai!
            Não protestei com aquele sábio pedido. Ninguém seria louco em ficar trancado com alguém que acabara de passar um estilete em seu pescoço. Bati a porta com força e corri para o banheiro masculino, a fim de limpar o resto do sangue.
            Aquela garota já estava começando a me irritar.

           
            Narração de Beatriz Vasconsellos.

            Depois da cessão dos aplausos fui encontrar Marcos. Ele estava com Nanda, sentado em um canto. Pelo jeito eu estava um pouco desatualizada.
            Tive que pigarrear uma vez para fazê-los perceber minha presença. Marcos ficou todo corado e Nanda levou um grande susto.
            - Nanda, preciso falar com você. – falei timidamente.
            Ela assentiu e andou até perto de mim.
            - Estão juntos? – tentei matar minha curiosidade.
            - Iríamos te falar. Eu juro.
            Considerei isso um sim.
            - Tem importância? – ela parecia realmente preocupada.
            - Por mim, não. Só estava curiosa. – respondi.
            Ela relaxou.
            - Não vim falar sobre isso. – falei – Quero pedir para você fazer com que o Marcos fique longe da Suzana.
            Nanda me olhou curiosa.
            - É que ela me intriga. – expliquei – E ela parece interessada nele. Sei que se falar para ele isso não adiantará, mas você pode me ajudar, não é?
            - Se é para o melhor do Marcos... Ajudo.
            Assenti e me retirei.
            Vi Alex vindo em minha direção, a cara mais rude do que eu achava ser possível. Ótimo! Levaria uma bronca daquelas!
            - O que foi aquilo? – ele perguntou entre dentes.
            Não sabia o que falar. Contar a verdade ou não? Eis a questão.
            Se falasse a verdade ele ficaria bravo, iria falar que estava ficando paranóica. Se mentisse provavelmente minha falta de história me entregaria e ele ficaria mais bravo ainda.
            Optei pela verdade.
            - Ela me provocou. – falei.
            - O que ela pode ter dito que justificaria o que você fez? – ele perguntou.
            - Ela ameaçou se aproximar do Marcos.
            - Ah! Ciúmes do ex?
            Nossa! Que mesquinho! Ele achava que briguei com Suzana por conta de um ciúme bobo?
            - Claro que não! – protestei.
            - Então o que é?
            - É medo. Não está vendo: ela quer se aproximar de todos com quem me importo, outra vez!
            - E ele é tão importante assim que fez você dar um vexame deste?
            Não era possível aquilo. Ele não entendia? Uma psicopata estava tentando repetir uma história bem debaixo de nosso nariz, e ele só pensava que eu estava defendendo o Marcos? Não era só o Marcos! Eram todos!
            Pelo jeito ele não se lembrava que por ele, uma vez, fui tentar o suicídio.    Claro! Isso todo mundo esquece!
            As coisas boas são as mais fáceis de esquecer.
            - Não vou discutir isso. – falei entre dentes. – É infantilidade demais.
            - Você quem sabe. – ele respondeu se retirando.
            Fitei as suas costas até vê-lo desaparecer por entre as pessoas. Tentei imaginar para onde ele estava indo. Só esperava que não fosse arrumar encrenca com Marcos.
            Levantei a saia do vestido e saí. Sentei em um banco no canto. Ali vi quando Suzana saiu do banheiro, seu vestido e cabelo já secos. Ela olhou por todo salão até encontrar-me naquele canto. Para minha surpresa, ela começou a andar na minha direção.
            Todos, que notaram para onde ela se dirigia, se viraram assustados. Pela sua expressão ele não estava para uma conversa amigável.
            - Não vou deixá-la esquecer esse dia. – ela falou ameaçadoramente.
            Não tive tempo de responder. Ela virou-se e saiu, deixando todos ao redor na expectativa de uma nova briga.
            Realmente, eu estava com medo.


Comentem o capítulo ali embaixo

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