No dia 20 de maio foi o aniversário do Livro Incompleta. Faz dois anos em que a primeira palavra foi escrita e originou uma trilogia que hoje postamos neste Blog. Não temos previsão de quando lançaremos o terceiro e último livro, então como presente de aniversário para vocês, iremos postar um trecho do primeiro capítulo onde conta o que aconteceu à Bia depois de ir embora para Miami.
1- MIAMI
[...]
"Despedi-me de Paulo Ricardo enquanto Rodrigo ia pegar um passaporte para mim. Conseguir o visto foi fácil: Roberto Valentyne – pai de consideração de Rodrigo e namorado de minha mãe – pagou tantos mil para algo tão rápido. Havia pegado o visto de turista, ou seja, poderia ficar somente por alguns meses, mas Rodrigo teria tempo suficiente para legalizar minha permanência lá.
Sentei-me do lado da janela no avião, e no outro lado estava Rodrigo. Ele me fitava com felicidade, mas com uma certa desconfiança.
O avião começou a decolar, a paisagem começou a passar depressa e pouco a pouco eu vi o Brasil ficar para trás, junto dele meus amigos, família e ele. Foram inevitáveis as lágrimas.
Adormeci durante boa parte do voo. Tive vários sonhos, dentre eles um que mostrou que aquela era a viagem que definiu totalmente o meu futuro e o futuro das pessoas ao meu redor. Era como se ele deixasse de ser incerto e passasse a ser definido.
O difícil foi desembarcar do avião. Fui direto para o banheiro feminino enquanto Rodrigo pegava as malas. Passei mal mais uma vez, os enjôos matinais continuavam.
Ele entregou meu carrinho com as minhas malas e começamos a andar até o estacionamento.
- Onde vamos ficar? – perguntei.
- Na mansão Valentyne, ué! – ele respondeu rindo, como se aquilo fosse óbvio.
- Tem uma “mansão Valentyne” aqui?
- Temos uma em todas os lugares em que há o Valentyne’s Bank e como aqui é o banco sede, somos obrigados a ter uma aqui.
O Porsche já havia chegado no aeroporto. Entramos nele e Rodrigo começou a dirigir por um caminho que eu não conhecia.
Percebi que o Porsche não chamava atenção nas estradas, era como se fosse um carro qualquer. Em Alphaville – meu antigo bairro –, que era um bairro luxuoso os carros dos Valentyne costumavam chamar atenção. Logo percebi que os carros dali eram iguais, ou até mais luxuosos, que o Porsche de Rodrigo.
Paramos em frente a uma calçada larga, com palmeiras a cada um metro. Era possível ver algo azul se movendo atrás das palmeiras, parecia água. Ao fundo estava a casa: toda branca, com paredes de vidro em alguns cantos protegidas por madeira. Havia luzes acessas por toda parte, principalmente no lado de fora; várias lâmpadas colocadas nas árvores refletiam a água, mostrando que ali era uma imensa piscina. Também havia luzes no fundo da piscina.
Rodrigo entrou com o carro por uma pequena estrada ao lado da casa que eu não tinha visto, depois notei que ela desaparecia na hora em que o portão se fechava. As trepadeiras no portão não deixavam ver que ali era uma entrada. Para quem olhasse pelo lado de fora pensava que era impossível entrar naquela casa, pois, mesmo com a distância entre as palmeiras, quem passasse dali caía direto na piscina, o que chamaria atenção de qualquer um.
A garagem ficava no subterrâneo e só era possível entrar por um elevador. Desci do carro e peguei minhas malas. Rodrigo fez o mesmo e começou a me conduzir para dentro da casa.
Dentro as paredes eram brancas em duas, de vidro em uma e de outra cor em outra – cor que variava a cada cômodo.
- Bem vinda à mansão Valentyne! – Rodrigo me disse.
- Uau! – suspirei.
- Vou te mostrar o seu quarto e você pode se acomodar do jeito que quiser. – Rodrigo me disse.
- Não preciso fazer muita bagunça lá em cima, vou ficar só por um tempo e depois procuro um apartamento.
- Por quê? – ele soltou as malas e passou a me encarar com certa surpresa – Não vai morar aqui?
- Não vai querer morar comigo. – falei.
- Por que não?
Pensei se diria à verdade ou não. Eu estava com vergonha. Somente eu e Gabi sabíamos da verdade. Por outro lado, eu estava sozinha naquela nova vida, ter Rodrigo talvez ajudasse bastante. Optei pelo sim.
- Porque eu estou grávida, Rodrigo.
Ele ficou parado durante um longo tempo apenas me fitando. Sua expressão não demonstrava nenhuma emoção, mas eu sabia que ele estava surpreso.
- O que ele te fez? – minutos depois ele perguntou.
- Não fez nada que eu não quisesse. – resolvi deixar bem claro. – Você não vai querer morar com uma mãe solteira, então vou embora.
- E vai para onde? Acha que é fácil encontrar um apartamento barato por aqui? E esse bebê, pretende cuidar dele sozinha?
- É. – era o que eu pretendia, mas não o que queria.
- Claro que não! Prometi ao Paulo que cuidaria de você, esta não parece uma boa maneira de cuidar.
- Não quero que você lide com uma garota grávida só por causa de uma promessa.
- Não vou cuidar de você só por causa de uma promessa, vou cuidar de você porque eu quero.
- Não se importa com o que vão falar? – sorri.
- Alguma vez me importei com a opinião dos outros? Podemos lidar com isso, não podemos?
Ele esticou a mão para que eu pegasse. Peguei.
- Podemos.
Ele fitou o chão por alguns instantes, depois começou a olhar no fundo de meus olhos.
- Por que ele não quis assumir? – ele perguntou.
- Na verdade, acho que ele nem sabe. – respondi fitando seus pés.
- Como assim? – ele se afastou e levantou a voz – Não contou a ele? Bia, ele tem que saber!
- Eu disse a ele, mas ele estava drogado, então com certeza não prestou atenção e duvido muito que algum dia venha a lembrar.
- Ele voltou a se drogar?
- Sim e é por isso que resolvi vir para cá. Não posso criar meu filho junto de um drogado.
Ele me abraçou. Parecia que um abraço era o que eu estava precisando naquele momento.
- Prometo cuidar muito bem de você. – ele sussurrou em meu ouvido.
Nos afastamos e ele começou a levar as malas para cima. O segundo andar era imenso. O corredor era todo branco e cheio de quadros famosos na parede. Meu quarto ficava perto da escada; era todo azul-claro e lindo. Já conseguia vê-lo com um berço no canto.
- Faça deste quarto o seu mundo, OK? – Rodrigo me incentivou.
- Vou tentar. – respondi, já vendo que seria impossível."
[...]
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