quarta-feira, 6 de julho de 2011

Capítulo 20



20- DESISTÊNCIA


            Narração de Rodrigo Valentyne.

            - Não adianta protestar! Não vou mudar de opinião, merda! Sinto muito, mas já deu para mim. – gritei.
            Estávamos trancados em meu quarto. Eu esvaziara todo o meu closet e espalhara todas as roupas em cima da cama. Estava escolhendo qual delas deveria ir para a mala.
            Suzana estava parada vendo-me arrumar as malas. Ela me ameaçava toda vez que guardava uma peça de roupa na mala. Dizia que se eu não desistisse da ideia de ir embora ia acabar morto.
            Mas eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse fugir daquela realidade assustadora. As palavras de Bia na noite anterior me deixaram arrasado.       Já fazia mais de horas que a festa de casamento havia terminado. Aquela altura os noivos estavam em lua-de-mel.
            Bia me falara que jamais me amara como amava Alex e que nada poderia mudar este sentimento dentro dela. Claro que eu sabia disso, apenas não havia aceitado tanto.
            Apenas fugir poderia curar a dor dentro de mim.
            Já havia separado meu Porsche que levaria comigo. Roberto me dera um serviço no Valentyne’s Bank. Eu seria o subchefe do banco, mas seria na filial de Miami, Flórida. Então estava fugindo para lá.
            - Temos um pacto, lembra? – Suzana gritou.
            - Esqueça o pacto! Já cumpri a minha parte. Você pode fazer o resto sem mim, não pode?
            - Você tem que conquistar a Bia, lembra que combinamos de você ser o ombro amigo dela?
            - Mas ela não está precisando de um ombro, e mesmo se estivesse jamais escolheria o meu. Sou apenas o irmãozinho dela.
            - Mas...
            Agarrei em seu ombro e comecei a chacoalhá-la.
            - Suzana... Gisele... Tanto faz! Enfim, aceite o fato de que não sou psicopata. Não tenho essa inteligência absurda, essas parecerias perigosas e, principalmente, não tenho um coração privado de sentimentos. Ao contrário de você, eu amo alguém de verdade!
            Pensei que naquele instante levaria um de seus doloridos tapas, empurrões ou até socos, porém, recebi apenas um olhar ameaçador no fundo dos meus olhos.
            - Você falou igual a minha mãe.
            Realmente aquela resposta me surpreendeu. Pela primeira vez, durante muito tempo de convivência, pensei que havia algum sentimento bom dentro daquela garota.
            Tudo se esvaiu quando ela caiu em gargalhadas.
            - Tem noção do quanto é ridículo dizer isto a mim? As pessoas esperam que eu fique abalada quando elas dizem “Você não tem sentimento”, mas não faz diferença alguma, afinal, não tenho sentimentos!
            Realmente desisti de discutir com aquela pedra humana. Voltei a arrumar minhas malas sem dar atenção aos seus protestos.
            Aquela altura, eu já estava desistindo de tudo. Desistindo do grande amor da minha vida, dos meus caprichos, do conforto de uma família, das irresponsabilidades de um adolescente, de tudo que havia planejado ali.
            Era impressionante como sonhos que demoram anos para serem construí-dos, que parecem sólidos, são destruídos pelo simples fato de a pessoa que fez parte de todos esses sonhos não querer vivê-los com você.
            - Não está realmente desistindo de tudo está? – a voz de Suzana saiu cética.
            - Estou! Não é possível que vou sofrer durante a minha vida toda. Deve haver um canto neste mundo em que me encaixo.
            - O mundo é redondo, Rodrigo, não existe cantos nele.
            Virei-me para encontrar seus falsos olhos verdes.
            - Então eu crio.
            - Vou te perseguir até o fim do mundo se meus planos derem errados.
            - Dependendo do que acontecer, eu virei atrás de você implorando para que acabe com meu sofrimento.
            - Não estou acreditando muito nesta ideia radical. Sinto que você vai acabar não desistindo da Bia.
             - Já desisti, Suzana! Aceite isto!
            - Então você nunca a amou. Quem ama jamais desiste, custe o que custar.
            - E este custe o que custar se encaixa o fato de estragar a vida da pessoa que ama? Porque se for, estou fora.
            - Você é um covarde! – ela berrou.
            - Covarde é você que não sabe crescer sem pisar nas pessoas que são melhores do que você.
            Ela andou em minha direção. De inicio achei que não fosse nada, até que ela agarrou o meu pescoço e me prensou contra a parede. Não conseguia saber de onde que aquela garota magricela tirava forças para me machucar.
            - Você começou a crescer por cima de mim, garoto. – notei que ela falava em sua voz infantil – Acho que já está na hora de você sentir o peso das minhas ameaças.
            - O que quer dizer com isso? – minha voz saiu esganiçada.
            Ela agarrou meu cabelo e me jogou contra o chão. Senti meu rosto bater no piso.
            - Você não acredita em nenhuma das minhas ameaças, não é?
            Gisele sentou-se em minhas costas, agarrou meu cabelo outra vez, mas desta vez fazendo minha cabeça levantar de um jeito doloroso, e ouvi o barulho de seu estilete sendo preparado.
            - O que vai fazer? – perguntei em meio ao gemido de dor.
            Ela não respondeu, em vez disso, pegou o estilete e colocou a ponta em meu pescoço, exatamente onde eu sentia meu coração pulsar.
           
            - Não vai me matar. – afirmei sem realmente ter certeza do que falava.
            - Por que não faria? – ela perguntou, apertando mais a arma em mim.
            - Temos um pacto. Se me matar ficará com meu sangue sujando você para o resto da sua vida.
            - Agora você se lembrou do pacto? – Gisele puxou mais os meus cabelos – Na hora de fugir não lembrou, mas na hora de morrer suplica, não é?
            Ela aproximou sua boca de minha orelha e começou a sussurrar:
            - Tem certeza de que vai desistir dela?
            - Tenho. – falei entre dentes.
            - Sabia que uma hora ou outra sua mente cansaria das mesmas manipulações. – ela parecia falar consigo mesma – Terei de apelar para algo mais radical.
            Gisele levantou seu corpo e cima de mim por alguns segundos e tornou a sentar em minhas costas quando viu que eu estava levantando. Senti sua boca se encostar a minha orelha outra vez.
            - Só imagina, Rodrigo, ter Bia de volta. Aquele corpo magro, mas lindo, só para você; aqueles olhos castanhos olhando bem fundos no seu; aquela boca que possui o beijo mais delicioso que já provou; a voz mais delicada do mundo...
            Minha cabeça começava a recordar de tudo que era dito. Já estava começando a se tornar insuportável a ideia de abandonar a garota da minha vida.
            - Ela não me ama. – conclui.
            - É claro que ela te ama. Não vê isso? Ela ama a você, Alex e Marcos ao mesmo tempo.
            - Como pode isso?
            - Bia ainda é uma menina, não sabe o que amar alguém de verdade, por isso ela não sabe diferenciar a quem ama realmente.
            - E você sabe o que é amar? – finalmente consegui tirá-la de cima de mim – Uma psicopata sabe?
            - Por que vocês tratam a psicopatia como uma doença? – ela perguntou inocentemente – Ser psicopata é um dom. Imagina só: Perambular pelo mundo sem sentir qualquer coisa por alguém, sem tristeza, sem dor, sem amor! Essa inteligência absurda que tenho, meu Deus, é fabulosa!
            Levantei-me do chão e fiquei cara-a-cara com ela.
            - Acredite, amar alguém e não ser correspondido é uma dor excepcionalmente grande, mas não amar é uma infelicidade.
            - Fala isso porque não sabe a vida maravilhosa que levo. É perfeito ver todos chorando enquanto você só tem motivos para rir.
            - Consegue sentir felicidade? – perguntei bem a sua frente.
            - Claro!
            - E o que te faz feliz?
            - O fracasso dos outros me deixa bastante feliz. – ela respondeu como se isso fosse algo natural para se falar.
            - E quando você era criança? O que lhe satisfazia?
            - Roubar alguma coisa e culpar outra criança. Vê-la levando a maior bronca era muito divertido.
            Desisti quando vi que seria inútil continuar com aquela discussão. Ela realmente não possuía sentimento algum.
            Andei até o espelho em frente a minha cama. Suzana me seguiu calmamente e pousou o rosto em meu ombro.
            - Sabia que sou uma ótima imitadora? – ela sussurrou em meu ouvido.
            - Pra que está me dizendo isso? – desconfiei.
            - Porque é fato, Rodrigo Valentyne – Suzana disse meu nome em uma voz que eu conhecia. Era a voz melodiosa de Bia.
            - Como fez isso? – perguntei exasperado.
            Meu coração batia freneticamente. Ouvir aquela voz maravilhosa sempre me provocava essa reação, e se ela disser meu nome era muito mais intenso.
            - Posso imitar qualquer voz que seja próxima a minha, ou seja, feminina.
            Meu coração voltou a se acalmar quando ouviu a voz de Suzana.
            - A voz da sua amada é realmente agradável, meus ouvidos gostam dela. – ela voltou a falar como Bia – Pena que você não quer ouvi-la mais.
            - Claro que quero! – protestei.
            - Então por que está deixando-a? Já falei que ela te ama, só não consegue enxergar motivos o suficiente para trocar Alex por você.
            - Na verdade, nem eu enxergo estes motivos.
            Suzana tornou a imitar a voz de Bia.
            - Você é bonito, rico, forte, apaixonado. Mas não é carinhoso, super inteligente e muito menos responsável.
            - É por isso que vou embora. Assumi a responsabilidade de crescer e deixar os dois em paz. – respondi, já sentindo que minha voz se alterava, era como se eu respondesse à Bia.
            - Mas isso irá te machucar e a última coisa que quero é te ver machucado.
            Agora ela começava a falar como se fosse a própria Beatriz, o que fazia meu coração se acelerar mais.
            - É o melhor.
            - O melhor é se nós ficarmos juntos. Eu amo o Alex, mas também te amo, Rodrigo, e vê-lo partir é algo que vai me ferir.
            - Não quero te ferir. – meu consciente já começava a se confundir.
            - Então não vá.
            Comecei a sentir uma mão deslizar por meu peito. Sua boca roçava minha orelha. Virei-me para lhe agarrar quando dei de frente com os olhos verdes de Suzana e não os castanhos de minha amada.
            - Que droga, Suzana! – falei empurrando-a.
            - Está vendo como você não tem certeza? Estava pronto para se render aos pedidos de “Bia”.
            - Você não é ela! – falei entre dentes.
            - Mas você acreditou que era. Manipular sua mente é fácil. Tu és fútil!
            Estava pronto para voar em seu pescoço, quando ela tocou em meu rosto e passou a fitar meus olhos.
            - Ela te ama, Valentyne, e não estou mentindo.
            - Sei que não está. – amenizei – Mas ela não me ama o suficiente.
            - E daí? – Suzana se afastou – Um Valentyne desiste? Você será o primeiro a manchar o nome da família.
            - Serei o primeiro a ter caráter.
            - E o orgulho, hein? Um Valentyne tem que manter o orgulho em pé.
            - Minha mãe levou toda a honra da família no momento em que se desvalorizou.
            - Ela somente foi feliz, como todos devem ser.
            - Ninguém é feliz fazendo outras pessoas chorarem.
            - Pense só em você, garoto! – ela berrou – Ninguém está pensando em você. Nem Alex, nem Suélen, ninguém, então os esqueça e pense que a vida é para os espertos e não para os bonzinhos!
            Reparei que minha mente já estava bem diferente do começo daquela conversa.
            - E se eu for só para esfriar a cabeça? – perguntei, já pensando diferente.
            - Vai voltar? – ela abriu um sorriso satisfeito.
            - Sim! – respondi, pegando minhas malas – Tenho um nome a zelar, não tenho?
            - Claro que tem! – Suzana sorriu à beça.
            Ela me ajudou a descer com as malas e a colocá-las dentro do Porsche estacionado em frente de casa. Estava tudo pronto. Precisava apenas esperar Paulo Ricardo chegar para eu me despedir dele.
            Suzana me beijou como despedida e depois saiu de lá com seu Mercedes. Voltei para dentro de casa com a cabeça confusa. Não sabia se havia escolhido certo. Não poderia ir para Miami e não voltar, Gisele me perseguiria, mas não queria tornar a sofrer.
            Sentia uma dor imensa no peito pelo quê estava fazendo. Pensar em não ver mais o rosto de Bia parecia uma prisão. Sentia-me sufocado.
            A viagem estava programada para alguns dias ali a frente, então teria um tempo para me despedir dela.
            Estiquei-me no sofá, preparando-me para dormir o resto da tarde.

            Acordei horas depois, já estava escuro do lado de fora da janela. Ouvi conversas vindo da sala de estar. Uma voz era de Paulo Ricardo, enquanto a outra me parecia familiar, mas não coerente. Levantei para ver quem conversava com Paulo. Eles pareciam não se dar muito bem.
            Antes mesmo de chegar à sala pude ver que a voz era feminina, mas foi somente quando vi que lembrei que era de Suélen. Ela estava sentada de frente para meu pai.
            - O que faz aqui? – perguntei surpreso.
            Os dois se viraram para me olhar. Paulo parecia igualmente surpreso, já Suélen iluminou os olhos quando me viu.
            - Meu amor! – ela levantou e correu para me abraçar.
            Não consegui retribuir o abraço de minha mãe. Sentia repulsa. Só em saber que por culpa dela Roberto já não era o mesmo comigo, Bia me tratava como irmão mais velho e meu futuro ficara incerto...
            - Senti tanto a sua falta. – ela suspirou.
            - É mesmo? – perguntei ironicamente – Não parece!
            - Por que diz isso? – ela passou a me fitar.
            - Você não me ligou, não deu noticias, volta alguns dias antes da minha viagem, cheia de roupas caras, jóias e ainda diz que sentiu minha falta como se isso fosse o suficiente para te consagrar mãe?
            Seus olhos ficaram frios, vi sua expressão se contorcer em dor.
            - Na fale assim com sua mãe, Rodrigo. – Paulo falou se levantando – Vou deixá-los a sós.
            Ele pegou o copo de uísque da mesa de centro e saiu da sala. Suélen continuou me fitando assustada.
            - Desculpe, mas o que te faz pensar que te perdoei? – perguntei.
            - Sou sua mãe, Rodrigo, por que não me perdoaria? Não fiz nada para te prejudicar.
            - Ah não?  - comecei a gritar – Abandonar-me quando toda a família Valentyne está desabando não é nada muito prejudicial; jogar na cara da menina que eu amo que ela é adotada foi algo nada muito nocivo; atirar meu nome e o de Roberto na lama não foi nada maléfico! Foi tudo sadio!
            - Não fiz de propósito. – ela começava a chorar.
            - Fez de que então? Foi tudo sem querer? Sem qualquer intenção ou ideia do quanto isso ia gerar escândalo?
            Ela apenas me fitava com as lágrimas escorrendo em seu rosto.
            - Por que voltou? – perguntei com indiferença.
            - Fiquei sabendo que estava indo embora, então decidi que queria ir com você.
            - Não quero você comigo, já herdei muita coisa ruim para querer mais, não acha?
            - Herdou coisa ruim? – Suélen desentendeu.
            - Esses meus gostos fúteis, meu orgulho imbecil, meu nariz-empinado ridículo são heranças que você me deixou.
            - E Roberto? O que te deixou? Algo melhor do que eu?
            - Tirando o dinheiro... Ele me deixou o caráter, à vontade de ter tudo conquistado e não ganhado, quer mais?
            - Eu não deveria ter vindo, não é? – ela secou as lágrimas que não paravam de sair.
            - Não mesmo!
            Dirigi-me até a mesa de bebidas, peguei um pequeno copo e enchi do mesmo uísque que Paulo estava bebendo.
            - Anda bebendo? – Suélen perguntou.
            - Fiz coisas muito piores depois que você se foi. – joguei em sua cara.
            - O que você fez?
            Espiei para ver se Paulo não ouvia em qualquer porta do corredor, quando tive certeza de que não, falei:
            - Trafiquei drogas!
            - O quê?
            - Não adianta se fingir de indignada, você não se importa, lembra?
            - Claro que me importo! Você é meu filho!
            - Mas você não é minha mãe! – berrei
            Paulo irrompeu pela porta da sala. Ele mantinha o rosto sereno, embora eu soubesse que estava odiando a presença de Suélen tanto quanto eu.
            - Vamos jantar? – ele nos convidou.
            Deixei os dois para trás e comecei a caminhar em direção a sala de jantar. Fiquei calado durante todo o jantar, enquanto Suélen contava para Paulo como havia sido seus meses de reflexão na França.
            Fui dormir após o jantar. Tomei um longo banho quente e me debrucei na cama. Estava quase dormindo quando a porta do meu quarto se abriu. Minha mãe surgiu com a cabeça, me espiando, depois entrou de corpo todo e se sentou ao meu lado na cama.
            - Sei que fui péssima para você, meu filho, mas eu precisava de um tempo para pensar. Sabia que você ficaria bem com seus dois pais.
            - Dois, três, não importa quantos pais, preciso de uma mãe também, sabia disso?
            - E estou preparada para ser sua mãe, de novo.
            - Prove isto!
            - Como? Você irá embora daqui alguns dias.
            - E se eu ficasse por um mês? É tempo suficiente para provar sua maternidade?
            - Faria isso por mim? – seus olhos se iluminaram.
            - Não! Faço isso por mim. Preciso de uma mãe, mesmo ela sendo você.
            - Oh! Amo-te! – ela me abraçou.
            Estava tão cansado que me aconcheguei em seu abraço e minutos depois senti meus olhos se fecharem.

            Desci para tomar o café da manhã com meus pais. Ouvi Suélen comentando sobre nossa conversa da noite anterior. Sentei-me ao redor da mesa da cozinha enquanto a empregada me servia.
            - Sua mãe disse que resolveu ficar. – Paulo tentou puxar assunto.
            - Vou ficar mais um mês, mas não passo disso. Mais tarde terei de passar na casa de Roberto para falar.
            - Onde Roberto está morando? – Suélen perguntou
            - Ao lado da casa da minha esposa! – Paulo trovejou – Seu marido está dando em cima dela!
            - Aceite os fatos, Paulo, eles estão namorando. – falei de boca cheia.
            - Eles estão namorando? – Suélen perguntou – Roberto e Carla? Ela é bem apressada, não é?
            - Dobre a língua para falar de Carla! – Paulo apontou o dedo em seu rosto – Você é a última que pode criticá-la.
            Larguei meu café da manhã em cima da mesa e deixei-os discutindo. Naquele dia não estava em um humor bom para aturar os dois. Fui até a garagem e peguei o Mercedes de Paulo. Disparei rumo a Alphaville.
            Estacionei em frente à casa de Roberto. Toquei a campainha duas vezes até ouvi-lo me chamar do gramado da casa de Carla. Ele me chamou para entrar.
            Meu estômago começou a se revirar quando ouvi a voz de Bia vindo da sala de TV. Por um momento tive de bater em mim mesmo por alguma vez pensar em deixar aquela voz para trás. Entrei na imensa casa dos Vasconsellos. Esperava ver Alex também ali, mas Bia conversava com Carla. Sua voz ecoava pelos corredores:
            - A Gabi estava tão linda! Quando casar quero ter um vestido desenhado por ela!
            - Não está muito nova para pensar em casamento? – Carla desconfiou.
            - Só estou comentando.
            Surgi na sala ao lado de Roberto. As duas passaram a me fitar; Carla com a mesma aparência indiferente e Bia com seu olhar fraterno.
            - Veio se despedir? – Bia perguntou.
            - Na verdade, vim dizer a Roberto que vou para Miami somente no mês que vem.
            - Por quê? – ele perguntou – Não está pensando em desistir, está?
            - Não. É que Suélen voltou e pediu para que passássemos mais um tempo juntos antes de decidir se a levo comigo.
            - Suélen voltou? – Carla perguntou.
            - Ontem. – respondi.
            - Cara-de-pau. – ouvi sussurrar.
            - Tudo bem. Dou-te o tempo que precisar. Diga a sua mãe que não é para ela aparecer em minha casa, está bem?
            - Digo sim.
            Virei-me para encontrar os olhos e Bia. Ela me fitava com um sorriso radiante. Naquela hora, as palavras de Gisele se passaram pela minha cabeça: “Ela te ama, Valentyne, e não estou mentindo”. Já estava pensando em desistir de ir embora quando ouvi um carro parar no jardim, segundos depois e Alex apareceu na sala. Os olhos de Bia se iluminaram como eu nunca vira e o sorriso se alargou. Somente saí da sala mais decidido do que nunca a ir embora dali.

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