terça-feira, 5 de julho de 2011

Capítulo 14

14- SERIA ESTE MESMO MEU FIM?


Sentei na velha cama e comecei a olhar o escuro quarto que eu estava. Ali, a depressão era assustadora.
Resolvi ver como era o banheiro. Era branco, bem limpo. Tinha um cheiro agradável de lavanda. Experimentei ligar o chuveiro. Era quente e volumoso, mas de que adiantava um banheiro se eu não tinha roupas?
Voltei ao quarto com um imenso desanimo. Andei até a estante, na intenção de escolher um livro. As opções não eram muito boas, mas um me chamou a atenção, – A Cabana – decidi ler aquele.
Comecei a imaginar cada cena do livro, e assim esquecer o pesadelo que eu estava vivendo.
Algumas horas depois – eu já estava na pagina duzentos – alguém bateu na porta do quarto, e antes que eu permitisse entrou.
- Olá! – era Rone, com uma voz gentil – Trouxe comida para você.
Ele me entregou um prato coberto na mão. Peguei, ouvindo minha barriga reagir ao cheiro. Parecia bom.
- Obrigada. – falei com a voz morta.
- Não precisa ficar trancada neste quarto o dia inteiro. Até que a casa não é muito pequena, mas você terá que dividir com quatro machos.
Gemi com a ideia de conviver com quatro homens desconhecidos.
- Não se preocupa. São todos muito respeitosos, apesar do sequestro que fizemos, não somos capazes de tal coisa.
Assenti dando uma grande garfada na comida.
- Vou sair e deixar você comer a vontade. – ele se pôs para sair.
- Não! – protestei – Fica.
Ele voltou e se sentou ao meu lado.
- É que quando eu fico sozinha, - expliquei – uma dor insiste em me incomodar. Nada físico. É emocional.
- Entendo. – ele concordou.
Eu não podia acreditar. Estava conversando com meu sequestrador como se fossemos velhos amigos.
Entreguei-lhe o prato já terminado. Havia comido como uma selvagem, mas a fome era tanta que nem fiz questão de bons modos.
- Vem, vamos conhecer o resto da casa. – ele falou puxando a minha mão.
Finalmente saí de dentro do apertado quarto. Os outros cômodos tinham janelas, mas nenhuma delas parecia poder se abrir. Tinha uma grande sala de estar e jantar juntas; uma cozinha ao lado e um corredor que acredito dar para os outros quartos.
Havia dois homens, também altos e musculosos, sentados na sala de estar. Nenhum deles eu conhecia.
- Cadê o Gilson? – Rone perguntou.
- Foi comprar umas roupas para ela. A Gi fez a lista. – um dos homens respondeu.
- Ata. Bia, este é Leo. – ele apontou para o que acabara de falar.
Leo era loiro também; tinha olhos azuis; era aparentemente bonito. Suas feições me lembravam o cantor americano Eminen.
- E eu sou Pedro. – o outro falou.
Percebi quando Pedro levantou, que ele deveria ter mais ou menos uns 17 anos. Tinha os cabelos negros; a pele branca. Era parecido com Gisele.
- Ele é irmão da Gi. – Rone me explicou.
Cumprimentei todos e me sentei no outro sofá vago. Nem parecia que eu es-tava sequestrada, pois o clima entre todos na sala era de amizade.
Fiquei olhando Pedro e Leo jogarem vídeo game, até eu joguei um pouco, mas logo senti a exaustão se arrastando para mim. Meus olhos cederam ali mesmo, no sofá.

Abri os olhos para uma estranha escuridão. Normalmente eu acordava para a luz forte atravessando a minha janela, por isso aquele escuro do quarto me assustava. Acendi o abajur e vi o lugar se iluminar para as paredes azuis claras, isso me reconfortou, pelo menos a cor das paredes lembrava o céu que eu via através da janela.
Não lembrava de ter dormido na cama. Provavelmente, um dos musculosos me carregou até o quarto.
Arrastei-me até o banheiro. Lá encontrei uma mala cheia de roupas femini-nas – deveriam ser as que Gilson fora comprar. Escolhi um vestido que pegava no meu joelho, era branco. Havia também roupas íntimas, – deve ter sido constrange-dor para aquele homem monstruoso comprar estas coisas – objetos de higiene pessoal e até bijuterias.
Liguei o chuveiro e fiquei lá até meus membros enrijecidos começarem a reclamar. Vesti-me e penteei os cabelos embaraçados, deixei-os cair em belos cachos até os ombros. E saí do quarto.
Da sala já senti o cheiro de bacon e ovos fritos. Todos estavam na cozinha desfrutando do café da manhã. Rone se levantou a sim que me viu entrar.
- Bia! Venha tomar café da manhã junto com a gente.
Sentei em uma das cadeiras vagas e Pedro colocou um prato cheio para mim.
- Posso saber quem é o prendado cozinheiro? – perguntei percebendo que minha voz estava mais viva.
- Pedro! – todos falaram em coro.
Desfrutei dos ovos com bacon, estava uma delícia, só que logo acabou.
Fomos todos para a sala assistir ao noticiário. Lá tinha uma grande TV de LED com recepção digital. Parecia até a sala de minha casa.
Estávamos prestando atenção à notícia de uma garota de dezoito anos desaparecida, quando Gisele entrou dando a maior gargalhada.
- Estão todos a sua procura, Bia! – ela disse em meio aos risos – Acho que mandei metade da Rota para Vancouver. É muito engraçado.
- Como fez isso? – Pedro perguntou com o maior orgulho da irmã.
- Digamos que conheço alguém daquele aeroporto que fez o Checking da Bia para Vancouver. Todos acreditam que ela fugiu.
- Minha mãe deve estar decepcionada. – falei sentindo que lágrimas já co-meçavam a rolar em meu rosto.
Rone me abraçou.
- Ah! Bia, já terminei com o Marcos. Saiba que ele ficou triste. E hoje na escola, eu nem cheguei perto de Alex. A menos para perguntar de você, não podia dar muito na cara assim.
- Espere aí! – protestei – Hoje na escola? Que horas são?
- Já são três da tarde. O Alex estava muito agitado na escola, tenho certeza que não vai amanhã.
Suspirei. Eu estava começando a trocar meus horários.
- Bom, vou embora. – Gisele falou – Rone, vou precisar de você. Foi horrível vir de táxi para cá. Tive que pagar um absurdo para o motorista.
- Não vai dar, Gi. – ele respondeu – Pede pro Leo ir com você.
Todos olharam espantados para Rone. Pelo jeito, ele nunca havia recusado nada a Gisele. Os olhos dela faiscaram para mim.
- Não Rone! – ela discordou – Vem!
Eles saíram e eu ouvir um carro se retirar. Sem dúvidas o Mercedes.
Sem Rone, pude sentir que meu clima de paz não estava mais tão igual.
Voltei para meu minúsculo quarto, não pretendia sair de lá até que Rone chegasse.
Lá dentro eu podia sentir o cheiro de mofo, fazia tempo que as janelas dos outros cômodos não eram abertas. Escolhi outro livro para ficar lendo.
Quanto tempo mais eu teria que aguentar aquilo? Ela não poderia simples-mente me dar um fim e parar com este tormento?
A incógnita de se eu sobreviveria ou não já estava se tornando ridícula. Minha vontade era de acabar com aquilo logo. Outra coisa que atormentava era o porque dos meus sequestradores serem tão dóceis.
Ela poderia acabar de vez comigo, com certeza Alex estava louco atrás de mim e uma hora ou outra desconfiaria dela – já que eu lhe joguei muitas indiretas – e isso poderia comprometê-la. Então não era mais fácil acabar comigo de uma vez?
Comecei a imaginar como Alex estaria. Sem dúvidas ele colocou muitos policiais nas ruas. Carla deveria estar aflita e isso me destruía por dentro. Eu tinha magoado a pessoa mais importante da minha vida.
Quantas pessoas será que estavam atrás de mim? Alex, Carla e Paulo Ricardo era certeza absoluta, mas será que Rodrigo estava? E Marcos, será que havia se tocado de quem estava namorando? Minhas amigas da escola?
Pena que de nada adiantaria.
Passaram-se horas desde o instante em que me tranquei no quarto e Rone ainda não tinha chegado. Pedro, Leo e Gilson não tinham um comportamento amistoso comigo, principalmente Gilson, eu não sabia porque.
Queria muito que Gisele chegasse logo, pois ela teria novidades da caçada que estava tendo lá fora.
Não sei que horas eram, só sei que o cansaço estava começando a tomar conta de mim, logo eu estava dormindo.

Acordei com o som de conversas vindo da sala. Levantei com a mesma roupa que estava e andei até lá. Gisele estava lá conversando com seus capangas. Apressei meus passos para falar com ela.
- Alguma novidade? – perguntei ainda com uma voz de sono.
- Sim! – ela comemorou – Até a irmã de Alex que estava na Inglaterra está atrás de você.
Puxa! Até a Gabrielli estava perdendo seu tempo.
Abaixei a cabeça e comecei a andar de volta para o meu quarto.
- Ei! – Gisele me deteve – Já está arrependida?
Suspirei.
- Por que não acaba com isso de uma vez? – percebi que minha voz estava alta – Termina com essa palhaçada logo!
Ela não gostou da minha alteração de humor, andou até onde eu estava e apontou um dedo na minha cara.
- Não me diga o que devo fazer!
Bati em sua mão de modo que caísse e voltei para meu quarto assustador. Depois de alguns minutos ouvi o Mercedes sair de novo. Mais uma vez, eu estava sozinha com aqueles três homens monstruosos.
Tentei voltar a dormir, sem sucesso.
Não sabia mais se estava arrependida. Ela não cumprira muito bem o nosso trato. O que ela está pensando?
Mais algumas horas e ouvi o carro encostando ao lado da casa. A porta da sala bateu e foi trancada.
Andei até a porta do meu quarto e encostei o ouvido nela, tentando ouvir o que Gisele ia dizer.
- Estranho! Eles pararam um pouco com a procura aloucada e depois alguns deles seguiram o Mercedes, mas nenhum seguiu caminho.
- Cuidado Gi! – ouvi Pedro falar.
Depois, um barulho estranho de carro estacionou em frente a casa. Creio que Gisele e companhia não ouviu, pois riam sem parar, mas pude conhecer o som não de um carro, mas de três diferentes. O som se silenciou e depois um barulho forte na sala me fez pular.
- Cadê a Bia? – reconheci, com agrado, a voz exigente de Max.
- O que faz aqui? Quem é você? – a voz de Gisele estava assustada.
- Sabia que você estava metida nisso. – o som de uma voz grave, doce e prazerosa fez meu coração palpitar.
Depois o estrondo de alguém batendo na minha porta me fez ficar alerta, mas quando a porta caiu pude ver o rosto raivoso de Rodrigo mudar de expressão, agora estava aliviado. Senti minhas pernas mexerem involuntariamente e correrem em sua direção. Sentir seus braços de novo era a melhor coisa do mundo.
- Você está bem? – ele perguntou em meu ouvido.
Sua voz rouca me acalmou.
- Estou. – respondi abraçando-o mais.
Separei-me de seus braços e pude ver que atrás de nós, um show de panca-daria acontecia. Max, Alex, Marcos, Matheus e Luiz brigavam com Rone, Leo, Pedro e Gilson.
A pior briga estava entre Max e Gilson, os dois extremamente fortes de socavam assustadoramente. Alex batia em Rone, ou apanhava, não sei. Só vi quando Gabi apareceu com uma corda. Rodrigo correu junto a ela e os dois começaram a puxar e amarrar um por um dos homens de Gisele, até que todos estavam impossibilitados de se mexerem.
Luiz segurava Gisele com força, mas ela se debatia.
Alex olhou para mim, seu rosto estava sangrando, transpirava, mas o sorriso ainda o deixava um deus grego. Ele correu me abraçar. Minhas lágrimas transbor-daram sem parar.
Eu não conseguia acreditar que estava abraçando Alex. Por um momento pensei que já tivesse morrido.
Eles conseguiram me achar!
Todos me rodeavam quando Gisele se soltou dos braços de Luiz e arrancou uma arma de dentro da blusa. Rodrigo se postou a minha frente, Alex na frente de nós dois e os outros começaram a se afastar.
- Para Alex! Saí daí! – gritei.
Ela começou a andar em circulo apontando a arma para Alex.
- Que lindo! – ela falou com um tom de ironia – Todos irão morrer por esta patricinha.
- Não precisa fazer isto, Gi. – Alex quase suplicou.
- Preciso sim. Você nunca ficará comigo se ela continuar viva.
- E se você matá-la acha que terá alguma chance comigo?
- Não interessa! Se você não for meu não será de mais ninguém.
Minha espinha tremeu das costas até a cabeça.
Ela apontava exatamente para Alex. Eu não ia deixar alguém morrer por mim, isso era injusto. O gatilho já estava pronto para ser puxado.
Calculei quanto tempo eu levaria para conseguir empurrar Alex e Rodrigo antes que a bala atravessasse um deles. Se empurrasse antes dela atirar, um deles poderia se levantar e levar o tiro; e se fosse depois, seria tarde demais. Então teria de ser na hora em que ela apertasse o gatilho.
Em seguida calculei quanto de força seria necessária para derrubar os dois. Concluí que deveria tomar distância, apoiar o pé esquerdo no direito e empurrá-los com o maior fôlego possível.
Max estava ao lado de nós três, com uma distância de aproximadamente três metros de Gisele. Ele percebeu o movimento que eu fiz com as pernas e me encarou com desconfiança. Fingi ser um movimento despreocupado, mas mantive meu pla-no atual.
- Por favor, Gi! – Alex implorava.
A expressão de Gisele continuou dura, fria.
- Você sabe o quanto é importante para mim. – Alex continuou – Eu te amo.
Pela primeira vez, vi a face daquela psicopata mudar. Ficou pensativa e ao mesmo tempo surpresa. Ninguém esperava ouvir aquela declaração. Mas percebi que a mão dela não relaxou, a arma ainda apontava o peito de Alex.
Claro!
Ela só estava acalmando ele para ser mais fácil matá-lo. Seu dedo estava mais firme no gatilho. Ela estava pronta para atirar.
Fixei meu peso sobre as pernas. Olhei adsorvida para seu dedo, quando vi um simples movimento, que me fez agir.
Ela apertou.
Joguei todo o meu peso para frente e bati com força nas costas de Rodrigo, fazendo ele cair e levar Alex junto.
Vi, como um filme em câmera lenta, a bala passar raspando pelo cabelo dos dois e seguir na minha direção. Não senti nada, apenas algo muito forte que me conduziu para trás. Bati subitamente na parede.
Comecei sentir algo escorrendo por minha barriga, olhei para baixo e vi que era sangue.
Tirei minha atenção do machucado e notei Alex correndo em direção a Gisele tentando arrancar de sua mão a arma.
Principiei uma dor estranha no lugar do tiro. Parecia fogo. Algo começava a queimar dentro de mim, cada vez aumentando mais, até a hora em que se tornou insuportável. Ouvi um grito assustador sair por entre meus dentes. Todos me olharam horrorizados.
Eu estava morrendo!
Senti as mãos fortes de Max me pegarem. Ele corria para fora da velha casa. Notei que Rodrigo nos seguia.
- O Porsche! – Rodrigo gritou – Vamos no Porsche! Ele corre mais.
Max virou e correu para o carro vermelho atrás dele. Rodrigo foi na frente, enquanto Max me deitava em seu colo no banco de trás.
Minha vista já começava a se embaraçar.
- Bia, não dorme! – Max batia nas minhas bochechas.
Eu sentia o carro fazer curvas abruptas. Parecíamos voar.
- Não a deixa dormir. – Rodrigo berrava.
- Deixa-me dormir. – pedi, a voz falhando – A dor para.
- Não Bia! Por favor! – Max implorava.
Me esforçava para não dormir, mas só porque eles estavam pedindo. Era mais fácil fechar os olhos. A dor cessava, minha vista ficava clara e eu já não sentia algo frio e molhado escorrendo por meu corpo.
Então seria este mesmo meu fim?
Minha vista embaçava cada vez mais, mas ainda sim pude ver lágrimas saindo dos olhos de Max.
Ele continuava a bater em meu rosto, entretanto aquilo não doía tanto quan-to o fogo em meu estômago.
- Não dorme! – sua voz já não estava mais tão clara.
- Max, liga para os pais dela.
Senti os pneus do carro entrarem em algo liso e rápido. Deveria ser o asfalto. A velocidade que andávamos era assustadora.
Max pegou um celular e discou rápido. Falou que encontraria meu pai em algum hospital que não entendi qual era.
Ouvi um barulho estranho do lado de fora do carro. Não era nenhum som que eu ouviria lá dentro.
- Droga! – parecia que Rodrigo gritou.
Logo um show de luzes vermelhas e azuis apareceram junto com o som estranho. Era a polícia.
- Não para, Rodrigo! Não para! – Max gritava como um louco - Deixa a polí-cia para trás! Depois damos um jeito de recuperar seu carro e pagar a multa.
Nossa! Eu não valia tudo aquilo. Não era justo com eles.
Tentei falar para pararem com aquela loucura, mas percebi que minha voz não saía.
Meus olhos já insistiam para se fechar, eu tentava lutar para não obedecê-los.
- Bia, estamos quase chegando! – Max já chorava.
Senti algo começar a subir por minha garganta. Tentei reprimir, mas um jorro de sangue saiu por minha boca. Sujei completamente o carro de Rodrigo. Se eu não morresse pelo tiro, morreria pela raiva de Rodrigo.
- Entra aí, Rodrigo! – Max gritou.
Senti os pneus virarem e pararem de repente. Max me apertou contra seu peito e saiu correndo do carro, sua camisa já estava ensopada de sangue.
Ouvi os polícias abordarem Rodrigo e se chocarem ao me ver sair nos braços de Max.
- É a garota desaparecida! – um deles gritou.
Todos deram espaço, enquanto Max me levava para dentro de um lugar branco. Acho que era um hospital.
Paulo e Carla se levantaram quando nos viu chegando. Meu pai estava horrorizado e minha mãe estava desesperada.
- Emergência! Agora! – alguém gritou.
Logo, dois homens com coletes brancos me pegaram e colocaram sobre uma maca. Senti vários olhos em mim, mas não me incomodei.
Entramos em uma sala mais branca que o normal, havia luzes para todos os lados. Várias outras pessoas de branco apareceram e senti uma picada no braço.
- Pode dormir, amor. – uma moça falou – Iremos tirar isto de você. Pode descansar.
Ótimo! Meus olhos obedeceram e se fecharam.

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