terça-feira, 5 de julho de 2011

Capítulo 17

17- RECOMEÇO


Narração de Beatriz Vasconsellos.

Aquilo não era justo! Vi ele pela última vez, mas não pude tocá-lo de verdade. Tudo tinha acabado.
Só que não imaginara que a morte era assim. Eu não sentia meu corpo, mas minha cabeça doía, minhas lembranças ainda estavam claras e dolorosas. Não deveria ter uma luz no fim do túnel? Ou um anjo me conduzindo para Deus? As teorias humanas estavam todas erradas, a morte era desconfortável.
Abri os olhos para uma luz forte em uma sala branca, então aquele era o céu, e aquela era a luz? Estava barulhento demais.
Não!
Aquele era um quarto de hospital, e aquela era uma luz de um refletor. Eu não tinha morrido!
Tentei mexer os braços, mas eles não se moveram. Não sentia tudo que ficava do pescoço para baixo.
Será que eu estava tetraplégica?
Virei o rosto para uma mulher de branco ao meu lado. Seu sorriso ao me ver foi satisfatório.
- Oi, querida! – ela falou.
- O que aconteceu comigo? – perguntei de imediato, minha voz estava seca.
Ela respirou fundo. Lá vinham más notícias!
- Você levou um tiro no pulmão. Não foi muito grave. Removemos a bala e tiramos todo o sangue de seu pulmão antes que sufocasse, concertamos sua costela fraturada e a cirurgia não vai deixar nenhuma cicatriz.
- Mas eu não sinto meu corpo. – protestei – Estou tetraplégica?
Sua risada não me fez sentido.
- Não, querida. Anestesiamos seu corpo para não sentir dores, logo a sensa-ção volta. Mas temos uma má notícia...
- Qual? – indaguei.
- Creio que ficará mais ou menos seis meses afastada da escola.
- Isso é mal? – ri pela primeira vez.
A enfermeira gargalhou. O clima no quarto ficou mais agradável.
Senti que algo faltava ali, embora não sentisse meus membros, percebi que eu estava incompleta.
- Onde está Alex? – perguntei involuntariamente.
- Foi ao banheiro. Ele não sai daqui por nada, apenas para ir ao banheiro.
Assenti. Logo ele voltaria.
Uma leve batida na porta me fez estremecer, depois um belo rosto apareceu no quarto. Ele continuava tão lindo, apenas as olheiras roxas e a aparência mais magra não o deixara menos belo. Era impressionante como ele emagrecia quando ficava triste.
Sua expressão estava vazia quando entrou, mas um sorriso torto se abriu ao me ver de olhos abertos. Quanto tempo eu tinha dormido?
Percebi que a máscara de angústia e mágoa estava ali. Ele estava bravo comi-go.
- Oi. – fui a primeira a falar.
- Olá! – Alex respondeu com uma voz irreconhecível.
Ele puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado.
- Está bravo comigo? – perguntei fitando suas mãos sobre o leito.
Ele colocou minha mão – que eu não sentia – sobre a sua.
- Bravo não, só chateado.
- Ah Alex! Desculpa. Sei que não deveria ter ido me encontrar com a Gisele, mas ela prometeu que deixaria todos em paz e...
- Não estou chateado só por você ter ido até aquela psicopata. Mas por você ser tão egoísta.
- Egoísta? – indaguei.
Como ele me podia achar egoísta? Por acaso ele estava a fim de correr um risco mortal também? Até a enfermeira que olhava os monitores parou para ouvir a resposta dele, com as sobrancelhas unidas.
- Sim, egoísta. Você decidiu morrer porque achou que não conseguiria viver sem mim, mas em algum momento pensou que eu conseguiria viver sem você?
Senti meu coração saltitar. A enfermeira relaxou as sobrancelhas e seus olhos brilharam para as palavras de Alex.
Ele continuou:
- Não sabe o quanto me segurei para não me matar no momento em que vi você agonizando no chão, se não fosse pelas minhas esperanças não estaria aqui hoje. Deveria ter confiado em mim e contado tudo, iríamos passar por isto juntos.
Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.
- Promete não fazer isso de novo? – ele perguntou.
Assenti.
- Te amo. – minha voz saiu entrecortada.
- Eu te amo mais. – sua voz grave me acalmou.
Ele beijou a minha testa e voltou a se sentar.
- O que aconteceu depois que eu saí? – perguntei.
Ele respirou fundo.
- Gisele trancou Gabi e Luiz dentro da casa com o registro de gás aberto...
- Eles estão bem? – interrompi.
- Sim. Fizeram inalação e já estão bem, mas eu corri quilômetros para salvá-los. Vocês ainda me matam!
Limitei a rir. Ele continuou:
- Gilson e Leo foram presos; Gisele e Rone fugiram; e Pedro morreu...
- O irmão da Gisele?
- É. E ela nem se importou.
Ele parecia horrorizado. Eu já esperava aquilo, afinal, ela era psicopata. Mas coitado do Pedro, ele tinha tanto orgulho da irmã e ela fazia isso com ele?
- Quando vou sair daqui? – perguntei tentando manter o clima mais ameno.
- Amanhã mesmo, querida! – a enfermeira respondeu.
Gemi. Ficaria mais um dia ali? Afinal, há quanto tempo estava ali?
- Desde quando estou dormindo?
- Hoje é sábado, - Alex respondeu – chegamos aqui na quarta-feira de manhã.
Nossa!
Estava fazendo uma semana que a psicopata me ligou e marcou nosso desastroso encontro, uma semana que ela me enganara. Até que foi rápido e inesperadamente teve um final feliz.
Bom, não tão feliz, pois eu já começava a sentir as dores que estavam anestesiadas.
Estávamos em silêncio dentro do quarto, apenas nossas mãos se tocavam – agora eu sentia as mãos dele – e o barulho dos monitores quebravam a quietude absoluta.
Duas batidas na porta fizeram a enfermeira andar. Uma multidão de pessoas entrou.
Max trazia rosas na mão e os outros, Luiz; Rodrigo; Gabi; Marcos e Matheus, apenas o seguiam.
- É tão bom ver você de olhos abertos. – Gabi comentou.
Dei uma risadinha tímida.
- Me diz aí, - pediu Max colocando as flores em um jarro ao lado da cama – como é a sensação de quase morte?
- Não é nada agradável, principalmente quando tem alguém batendo no seu rosto e berrando para você não morrer.
- Vai ficar me zoando agora?
Todos gargalharam muito.

Voltar para casa era mais agradável do que eu podia imaginar. O ruim era que eu teria de andar em cadeiras de rodas até tirar a tala da barriga, não podia me mexer muito bem. Teria de ficar o dia inteiro no meu quarto, já que não podia ficar subindo e descendo escadas. Dirigir? Nem pensar. Pelo menos eu não ia para a escola.
Alex me ajudou a descer do carro, pensei que iria me colocar na cadeira de rodas, em vez disso me carregou até dentro da casa. Parecia que aquilo não era muito esforço para ele.
Passamos pela soleira da porta. Tive que zoar:
- Enfim, casados!
A risada dele foi alta e me fez tremer por estar tão perto de seu peito.
- Você é hilária!
Continuamos a andar, na verdade, ele continuou. Foi mais difícil andar pelas escadas, mas chegamos no segundo andar, finalmente.
Ver meu quarto de novo foi a melhor sensação do mundo. As paredes rosa-bebê, as cortinas brancas, os pôsteres na parede direita e os livros na estante a cima da cama deixava meu quarto completamente sereno. O ar lá dentro estava mais puro, com um toque forte de amor.
Alex me colocou em cima da cama – a tala incomodou um pouco – e voltou em direção a porta.
- Não vai ficar? – percebi que minha voz saiu triste.
- Não quer descansar? – a voz dele estava mais triste ainda.
- Quero que fique aqui comigo.
Ele voltou e se sentou ao meu lado.
Minha mãe entrou trazendo minha bolsa. Eu até havia esquecido que tinha largado minhas coisas em um lixo do aeroporto. Falando em largado no aeroporto:
- Onde está meu carro?
- Ele foi roubado. – Alex respondeu sério.
Gemi. Já tinha me apegado a ele.
- Que maldade, Alex! – Carla falou.
Olhei para Alex, tentando entender o que minha mãe falara. Sua expressão mudou, de séria para sarcástica. Arremessei-lhe um travesseiro.
- Não foi roubado, não é? – deduzi.
- Estou brincando. – ele respondeu jogando o travesseiro de volta – Está na garagem, coberto como no dia em que você ganhou.
Assenti aliviada.
Encostei a cabeça no travesseiro, embora não estivesse cansada, eu queria ficar ali sentada, fitando o teto. Resultado dos analgésicos.
- Quer que eu vá embora? – Alex perguntou.
- Não! – respondi colérica.
Claro que eu não queria que ele fosse embora. Depois da minha assustadora experiência de quase morte, a última coisa que eu queria era sentir-me vazia de novo, incompleta, a ausência dele me assustava.
Puxei seus braços para mim, ele respondeu ao meu gesto e deitou a cabeça em minhas pernas, o mais distante possível de meu machucado.
Minha mãe saiu do quarto sem protestar, o que me deixou mais à vontade.
Comecei a acariciar seus lisos e claros cabelos. Pareciam plumas na minha mão, era muito bom sentir algo dele em mim outra vez.
- Te amo! – ele disse procurando meus olhos.
A voz dele ecoou dentro da minha cabeça, provocando um frenesi absoluto. Aquilo era viciador. Meu coração saltitou pedindo por aquelas duas palavrinhas de novo.
- Fala de novo? – pedi, obedecendo ao que meu coração pedia.
Vi o meu sorriso brotar em seu rosto. Não conseguia acreditar que quase havia perdido aquela sensação se êxtase por simples egoísmo. Mas a vida tinha me dando uma segunda chance, e eu não ia desperdiçar.
Ele levantou a cabeça do meu colo e apoiou todo o corpo em um braço, com o outro, pegou meu rosto e se aproximou. Seus olhos estavam próximos aos meus, eles brilhavam a cada vez que piscava.
- Te amo! – ele repetiu com a boca bem próxima a minha.
Depois nossos lábios se tocaram, de um jeito mais urgente. Havia dias que eu não sentia aquele beijo doce. Quase o perdi também. Eu não iria me perdoar tão cedo por quase ter largado aquilo... Por puro egoísmo.
Nossas bocas se separaram lentamente, ele ainda beijando minhas boche-chas e meu queixo.
- Te amo! – respondi.
Ele voltou a deitar a cabeça em meu colo, minhas mãos acariciavam seu cabelo outra vez.
- Sabe, - ele começou, fitando o teto – você está devendo um Vectra e a multa de um Porsche para Rodrigo.
- Eu? – como?
- É. A Gisele roubou o Vectra dele e o incendiou. E o Porsche foi multado enquanto ele corria com você até o hospital.
É verdade, eu devia mesmo, e não só pelos carros, mas pela minha vida. Ele não tinha nada a vê com a história, só que ainda sim me salvou. Ele até parecia um irmão mais velho.
Respirei fundo.
- Creio que não será barato. – respondi com escárnio.
- Acho que não. Terá que trabalhar a vida inteira para pagar. – ele riu.
Gemi.
Aquela semana tinha sido um desastre completo, a não ser...
- Pelo menos tudo isso teve um lado bom. – declarei.
- Qual? – Alex uniu as sobrancelhas.
- Não vou para a escola.
Rimos juntos. Finalmente tínhamos voltado a ser como era antes. Desde quando no conhecemos não passávamos um dia como aquele. Pelo menos, isso eu também tinha recuperado.
- Não vai para a escola, mas terá aulas com um professor particular.
Gemi de novo.
- Se você for meu professor particular, talvez eu aceite.
Outra vez gargalhamos. Aquilo estava se tornando fácil. E pensar que eu quase perdera.
Não tinha percebido que escurecera, só vi quando Alex levantou de meu colo decidido a ir embora.
Não pude acompanhá-lo, como sempre fazia. Fiquei apenas deitada tentan-do ouvir o barulho do Astra saindo.
Liguei a TV em uma novela que eu nunca acompanhava, apenas para me distrair. Minutos depois minha mãe apareceu com uma bandeja recheada na mão. Meu estômago comemorou ao sentir o cheiro da comida.
Comi assustadoramente bem. Carla se sentou ao lado, no mesmo lugar em que Alex deitara, e começou a me olhar de um jeito estranho.
- O que foi? – perguntei.
Ela sorriu, como minha mãe, não mais como minha amiga.
- O amor entre você e o Alex, é tão grande, tão forte, que faz as pessoas ao seu redor se sentir amada também, e ao mesmo tempo vazia, por não ter alguém como o Alex por perto.
Sorri, satisfeita, para minha mãe. Ela tinha razão. Meu amor por Alex era extremamente grande e forte.
Devolvi a bandeja e ela levou para a cozinha.
Ajeitei-me na cama, como se fossa dormir, mas na verdade, estava prepa-rada para passar uma madrugada assistindo a TV, já que meu sono estava bem distante.
Era uma hora da manhã quando começou um filme de terror. A história me assustava. Desliguei a televisão hesitando, já tinha passado por uma história de terror bem real, não estava a fim de ver outra, mesmo sendo fictícia.
Tentei dormir...Com sucesso.

Acordei sentindo alguém acariciar meu braço. Abri os olhos para um rosto sereno com olhos verde-azulados e lindos. Marcos!
Olhei para o relógio na cabeceira. Eram dez da manhã.
Tentei me sentar, Marcos ajudou sem nenhum esforço. Senti-me frágil por aquilo. Parecia que eu era feita de pano e que qualquer um conseguiria me carregar.
- Bom dia! – ele me cumprimentou.
- Bom dia! – retribuí o cumprimento.
- Te trouxe chocolates. – ele me entregou uma caixa vermelha em formato de coração.
Senti uma pontada de remorso por aceitar e ao mesmo tempo vontade, desejo por aqueles bombons cheirosos.
- Obrigada. – minha voz saiu tímida.
- Nunca mais nos assuste deste jeito, está bem?
Com certeza corei. Todos iriam me culpar por tudo? Já não bastava eu sentir que era egoísta, ainda teria que sentir que era irresponsável?
- E você preste mais atenção nas namoradas que arruma. – tentei desviar o assunto de mim.
- Falando nisso... – ele se inclinou – É verdade que você fez aquilo por Alex... E por mim?
Eu deveria ter continuado no assunto sobre minha irresponsabilidade. Aquele não agradaria.
- É... – hesitei – Ela ameaçou machucar você e Alex, então me entreguei antes de qualquer estrago desnecessário.
- E achou que Alex e eu não enfrentaríamos uma psicopata por você? – ele segurou minha mão e apoiou em seu coração. Parecia frenético.
Mais uma vez senti remorsos. Tentei desviar o assunto outra vez.
- Fala a verdade, perdi o emprego, não é?
- É, Matheus contratou outra pessoa. – ele se recompôs – Mas não acredito que tenha te demitido.
- Quem Matheus contratou?
Ele hesitou.
- Luana. Sabe como é, para ficarem mais perto um do outro.
- Bom para eles.
- Sabe, eles juntos me faz lembrar os tempos em que era nós quatro naquela casa.
E mais uma vez a conversa voltou para aquele mesmo ponto. O ponto que eu tentava ao máximo evitar.
Baixei a cabeça, não queria encontrar seus olhos.
- Bom, tenho que ir embora. A faculdade me espera.
Olhei fixamente seu rosto, parecia suplicante e ao mesmo tempo aliviado. Era a face que todos montavam para me ver.
Ele saiu, enquanto eu comia os deliciosos bombons.
- Marcos? – chamei, imaginando que ele já estava chegando nas escadas.
- Sim? – ele respondeu e voltou.
- Me ajuda a ir para o primeiro andar?
- Tudo bem.
Ele me pegou nos longos braços e me conduziu até o sofá da sala de estar. Depois voltou para pegar minha cadeira.
- Sabe, - falei – estou me sentindo um bebezinho.
- Você é. – ele respondeu – E um bebê muito mimado.
Dei uma meia risadinha antes de ele virar as costas.
Ele acenou para mim de dentro de um Renault Sandero prata. Parecia ser novinho. Retribuí o aceno.
Vasculhei os canais da gigante TV da sala. Só havia programas de culinária e desenhos animados passando, resolvi ver os desenhos.
Carla apareceu na sala com uma bandeja de café da manhã na mão. Tomei o café com calma, vendo a cada movimento que a televisão fazia.
As horas pareciam se arrastar sem Alex.
Andei com a cadeira até a cozinha. Minha mãe fazia vários doces e eu tentava ver suas habilidosas mãos fazerem o trabalho. Isso me distraía e também me ensinava a fazer novas guloseimas.
Almocei com minha mãe, embora não tivesse com fome. E voltei a ver os doces que ela colocara na geladeira ou no forno.
Meu coração acelerou quando a campainha tocou. Ele chegara!
Voei para a porta. Seu sorriso ao me ver foi radiante. Ele entrou, como sempre, educado.
- Temos muita lição. – ele disse tirando os livros da bolsa.
- Vamos fazer aonde? – perguntei.
- No seu quarto. – ele respondeu com um tom de óbvio.
Olhei para a cadeira.
- Te ajudo a subir.
Ele me pegou nos braços e andou até o segundo andar. Estava pronto para me largar em cima da cama, quando agarrei seu colarinho. Nós dois caímos, ele se esforçou para não acertar minha barriga.
- Eu poderia ter te machucado. – Alex falou assustado.
- Como se eu ligasse por você me machucar fisicamente.
Ele fez sinal negativo com a cabeça e saiu do quarto, logo voltou com minha cadeira na mão e a mochila nas costas. Hora de estudar.
Ficamos por horas vendo exercícios de física e matemática. Um novo traba-lho de biologia, o que me fez lembrar a primeira vez que fizemos um trabalho junto. Desta vez o trabalho era sobre queimaduras de quinto grau, da última vez era atos reflexos.
Aprender com ele era mais fácil, prazeroso. Talvez porque eu me concentra-va ao máximo para ouvir sua voz, isso era ruim, eu deveria aprender por gosto próprio, não por hipnose.
Eram seis da tarde, quando um carro estacionou no gramado. Segundos depois alguém apareceu na porta.
- Estou atrapalhando? – era outra voz doce, uma voz idêntica a dele, mas feminina.
- Claro que não. Entra Gabi. – falei.
Ela ficou parada em pé ao meu lado.
- Não deveria estar na Inglaterra? – perguntei.
- Ah! – ela hesitou – Fui suspensa. Fugi por uma semana, lembra?
- Nossa! Desculpa. Causei uma reviravolta na vida de vocês.
- Fizemos isso porque amamos você.
Ela me abraçou de leve, tentando manter distância de minha tala.
Agora eu tinha dois professores particulares. Gabi se juntou a Alex e come-çou a passar tudo o que sabia para mim.
- Está tarde, Alex, vamos? – Gabi sugeriu depois de mais algumas horas juntos.
- É verdade. Amanhã eu volto com mais lição para você, Beatriz.
Alex se aproximou de mim e me deu um beijo rápido e satisfatório. Gabi soltou um pigarro ao nosso lado.
Os dois desapareceram no corredor e depois o som de dois carros saindo me fez ter certeza que já estava sozinha. Até minha mãe aparecer.
- Vamos tirar esta tala para você tomar banho? – ela sugeriu.
Assenti.
Eu não poderia fazer muito esforço no lugar da cirurgia, mas se ficasse o tempo inteiro em pé poderia tirar a tala. O problema é que ninguém consegue ficar ereto o tempo todo, a não ser para tomar banho.
Tiramos a enorme tala sem muito esforço, depois entrei debaixo da água quente. Foi completamente relaxante.
Jantei no meu quarto, logo após dormi, com um sono estrondoso. O ronco foi inevitável.

Acordei para o som forte de chuva do lado de fora. Na verdade era um chuvisco. Olhei o relógio e eram nove e meia da manhã. Tinha uma bandeja com sucos e frutas ao meu lado, comecei a mordiscar.
Os desenhos animados prenderam a minha atenção a ponto de não escutar um carro chegando, só percebi quando bateram na minha porta.
- Entra! – falei.
Me surpreendi ao ver quem era. Joseph e mais um guarda ao lado.
- Vim ver como está. – ele falou.
- Estou bem. – respondi tímida.
Ele olhou para mim com expressão suplicante, e de derrota.
- Estou muito triste pelo que aconteceu e ao mesmo tempo aliviado por te ver só machucada.
- Já eu, estou surpresa. Tinha me conformado com a minha morte.
Nós rimos, mas seus olhos não riam.
- Sabe que isso não terminou, não é? – sua voz era derrotada.
- Sim. E agora ela vai estar pior, pois seu desejo agora é de vingança, mas estou preparada, e não só eu, todos os meus amigos.
- Se escaparam dela uma vez, conseguirão de novo.
- Mas ela só vai parar quando alguém morrer, ou ela. Nós não estamos preparados para matá-la.
- Isso é o pior. Não vamos nos preocupar com isto agora, afinal, ela não volta tão cedo.
Suspirei de alívio.
- Ei, você não deveria ficar preso em casa? – perguntei olhando o guarda.
- Sou um preso bonzinho, tinha uma saída sobrando e economizei para quando você estivesse bem.
- Obrigada. – meu rosto corou.
Joseph ficou por poucos minutos e depois se retirou. Era quase a hora de Alex chegar quando ele se foi.
Carla levou meu almoço até o quarto, em seguida Alex chegou, mais uma vez cheio de livros.
A rotina se repetiu por dois meses.

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