terça-feira, 5 de julho de 2011

Capítulo 16

16- RESGATE


Chegamos na casa de Rodrigo depois de várias perguntas e perdidas.
Era uma mansão gigante. Deveria ter três andares. Era linda, mas não dei muita importância. Toquei a campainha e foi ele mesmo quem atendeu.
Estava apenas com uma bermuda.
Ouvi outras vozes vindo de trás dele. Isso significava que todos os seus amigos estavam ali.
- O que faz aqui? – Rodrigo perguntou com indiferença.
- Já sabe que a Bia desapareceu, não é? – falei.
- Sei sim. E já aviso que meu ombro não está disponível para você chorar.
- Eu estou aqui para dizer que sei como achá-la, mas preciso de sua ajuda.
Sua expressão mudou da raiva para o alívio. Ele gesticulou para que entrássemos, enquanto seus amigos nos fitavam incrédulos.
- Então fala! – Rodrigo ordenou.
Tomei o centro da sala, para ficar na visão de todos. Lá estavam todos os amigos dele. Joel, o assustador com metade do rosto deformado; Natan com uma força igual à de Rodrigo; Milton o único menos forte e Nelson o grandalhão de todos.
- Vamos lá. – falei incentivando-me – Sabemos quem sequestrou a Bia, mas não podemos falar para a polícia, senão ela morre. Então iremos seguir a sequestra-dora até onde ela colocou a Bia, só que para isso precisamos de pessoas que ela não conheça, e ela não conhece vocês. – apontei para Rodrigo e seus seguranças – Sei que você tem bastante carros Rodrigo, isso nos ajudará muito. Vocês topam?
Eles se entreolharam.
- Pela Bia! – Rodrigo falou – Não por você!
- Ótimo. – Gabi falou.
- E qual é o plano? – Joel perguntou.
- Puxei a imagem por satélite de toda a via sul de Barueri, lugar onde viram Gisele, a sequestradora, sair com a Bia, e localizei todos os cruzamentos. Em cada um vai ter um carro esperando um Mercedes classe C preto, eu vou avisar qual é, e toda vez que ela entrar na rota de algum dos carros eu aviso por este rádio.– joguei um para cada um – E vocês a perseguirão até onde eu mandar.
- E como vai rastrear o carro? – Nelson perguntou.
- Marcos colocará um mini rastreador na roupa dela.
Marcos me olhou assustado, mas entendeu.
- Tudo bem. – Rodrigo disse – Vamos pegar meus carros na garagem.
Todos o seguiram para uma garagem subterrânea. Lá havia vários carros, todos de marcas conhecidas e importadas, e o espaço parecia maior do que o segundo andar de minha casa inteiro.
- Peguem quais quiser. Menos o Porsche Vermelho, ele é meu. O Corolla e o Fusion prata também não, são dos meus pais.
Peguei um Audi A3. Gabi entrou comigo.
Saí em direção ao começo do plano, em um lugar alto, onde eu teria boa recepção do satélite. A torre de celular mais próxima de Alphaville.
Cheguei lá em um “jato” com aquele possante. Foi fácil subir na torre.
Liguei o computador e puxei duas imagens: uma de perto, para uma filmagem maior, e outra de longe, para ver todos os caminhos e carros.
Todos os carros de Rodrigo estavam marcados no mapa na cor amarela e o carro de Gisele apareceria em vermelho.
Os rádios já estavam preparados. Os carros já apostos em seus lugares, – a cada esquina – só faltava o ponto vermelho entrar em movimento.
Eram cinco horas da tarde. Todos da república falaram que ela costuma sair neste horário.
De repente, um sinal vermelho apareceu e meu rádio apitou:
Coloquei o rastreador. – Era Marcos – Ela está saindo.
Todos já estavam ansiosos.
Estou vendo-a sair. – Rodrigo em seu Porsche – É a garota da foto que você me deu, Alex. Ela está dobrando a esquina e entrando em um Mercedes Classe C. Estou seguindo-a.
- Começou! – falei para todos os rádios.
Gabi oscilou ao meu lado.
Grudei o rádio perto da minha boca e comecei a fitar o mapa.
Rodrigo a seguia perfeitamente.
Passou-se dez minutos que ele a perseguia. Teríamos que mudar, mas ela já estava chegando em um cruzamento.
- Milton! – falei – Ela está chegando aí. Um Mercedes preto.
Estou vendo. – Ele respondeu – Parou no farol.
- Bom. Rodrigo, entre na próxima esquina. Só que continua seguindo até o cruzamento entre a escola e o condomínio.
OK!
O sinal abriu. – Milton – Ela está vindo... Fui!
Agora um Hilux a seguia.
Tudo estava ocorrendo como planejamos. Ela ia cada vez mais próxima de nossa isca.
Alex! – Milton – Ela vai virar a esquina, o que eu faço?
- Continua seguindo. Vou ver para onde ela vai.
O ponto vermelho virou uma rua, o ponto amarelo na sua cola. Ampliei mais a imagem e vi que ela sairia nos cruzamentos à cima dos marcados.
- Todos sobem! – falei – Vão para o cruzamento de cima. Joel vai rápido, você será o próximo.
Os pontos amarelos se moveram juntos, em direção à esquina mais próxima. Joel foi mais rápido com o Honda Civic e chegou em uma fração de segundos na esquina de cima.
- Se prepara Joel. Está vindo o Mercedes.
Está bem.
- Milton você para em uma dessas vagas para estacionar aí para distraí-la.
Pode deixar!
O ponto vermelho se aproximou do ponto de Joel.
Estou vendo.
- Gruda na traseira! – falei.
E ele disparou atrás do carro, enquanto o Hilux parava em frente a um comércio.
- Muito bom! – elogiei – Agora continue assim até eu mandar. Avisa se ela mudar de curso.
Gabrielli roia as unhas ao meu lado.
- Gabi, coloca uns óculos escuros e pega o Audi. Vão faltar carros. Espere no cruzamento da praça com o supermercado.
Ela assentiu e saiu apressada.
Logo, um novo ponto amarelo apareceu, correndo na avenida próxima a perseguição.
Acompanhei os carros com calma, estudando cada trajeto que possivelmente ela poderia mudar. Vi que Gisele se aproximava de um ponto amarelo.
- Matheus, esse para-brisa é realmente escuro?
Sim. Ela não vai me ver.
- Então se prepara que o Mercedes está chegando.
Ela está dando seta que vai descer.
- Segue!
OK!
E ele disparou com o BMW 118i.
- Muito obrigado, gente. – não pude deixar de agradecer.
Não estamos fazendo isso por você. – Rodrigo relembrou – É pela Bia.
- É isso mesmo! – respondeu Marcos chegando ao topo da torre.
Suspirei.
- Do mesmo jeito.
Marcos parou ao meu lado e começou a examinar o segundo mapa.
- Luiz, - falei – começa a andar com o carro e vai até perto do hospital. Ela vai te ultrapassar lá, segue!
Tudo bem!
O ponto amarelo começou a se mexer no trajeto que ordenei. No mapa maior, a imagem de um Volvo C30.
Cuidado com esse carro, hein loiro! – Rodrigo falou – É o carro preferido da Bia, ela o apelidou de “Volvo do Edward”, pelo menos era!
Ouvir Rodrigo falando daquele jeito fez meu estômago revirar, mas aquela não era a hora de se abalar.
Ela está chegando perto. – Luiz avisou.
- Ótimo! Matheus pode entrar no estacionamento do hospital, e depois sai.
Ta.
Respirei fundo. Minha paciência já não estava das boas.
Sentei no chão próximo aos computadores, meu corpo já não se sustentava em pé. Olhei o relógio e eram nove da noite, já faziam mais vinte e quatro horas que eu não comia.
Marcos parou a minha frente e me fitou com incredulidade. Eu olhava para o céu, enquanto as estrelas cambaleavam, Marcos parecia ter se dividido em dois, então percebi que era meu corpo reclamando de fome.
- Alex! – Marcos sacudia meu ombro – Cara, você está bem?
Trinquei os dentes na tentativa de falar.
- Pega uma barra de chocolate na minha mochila. – falei a meia voz.
Ele correu até a mochila e voltou com meu pedido. Mordi com esforço várias vezes e logo senti meus membros responderem.
- O que você tem? É “chocólatra”?
- Não. – respondi já me levantando – Faz horas que não como, na verdade, desde ontem.
Gabi protestou no rádio ao meu lado:
Alex! Que irresponsabilidade!
É mesmo. – Rodrigo – E se você desmaiasse? Louco!
Ignorei os berros e voltei ao monitor. O ponto vermelho já se aproximava de um ponto amarelo.
- Natan, – falei – usa toda a potência desta Ferrari e gruda no Mercedes que está chegando.
 Está bem! Já estou vendo ela...
Houve uma pausa.
Saí!
O Volvo parou subitamente.
- Luiz, continua dirigindo na avenida a cima, vai até a praça principal. Lá, você e a Gabi irão esperar um...  – fiz sinal para Marcos responder.
- Vectra vermelho. – ele completou.
Ta bom. – Luiz e Gabi responderam em coro.
Continuei analisando o mapa e comendo as barras de chocolate, elas faziam meu corpo se sentir mais forte.
- Marcos, prepara o Vectra. Já vamos começar a sair também.
Ele desceu correndo da torre, enquanto eu pegava os materiais e guardava na mochila. Apenas os computadores ficavam a mão.
Percebi que mais uma vez Gisele se aproximava de um dos nossos carros, desta vez, Gabrielli.
- Irmã, é sua vez, ela está chegando aí. Tenta passar despercebida.
Pode deixar!
O ponto vermelhou passou e o amarelo alcançou no mesmo instante.
Desci correndo as escadarias com os laptops na mão. Marcos esperava com o carro em um ponto morto. Deslizei para o banco do passageiro sem tirar os olhos do mapa. Percebi que Marcos corria quando me bati contra a porta.
A cidade parecia borrões vista pela janela, principalmente vendo por aqueles vidros escuros.
Não tinha percebido que o motor do Vectra era envenenado, só notei quando o motor rugiu alto e começamos a voar pela avenida. Não me importei, já que minha atenção estava na tela do computador.
- Gabi! – falei – Para na praça principal. Larga o carro aí e espera um Vectra vermelho com as setas piscando. Apressa o Luiz.
Já cheguei. – Luiz falou.
- Bom! – elogiei – Rodrigo, é sua vez de novo. Agora você vai fundo.
Está bem.
Um Porsche começou a correr atrás do Mercedes, enquanto o Audi parava no lugar ordenado.
Apenas alguns minutos depois, Marcos e eu chegamos na praça. Gabrielli e Luiz entraram rapidamente e começamos a correr até encontrar o Porsche e o Mercedes.
Matheus está comigo. – Rodrigo falou.
- Muito bom.
Seguimos despreocupadamente o carro preto.
Um cheiro de pizza inundou o carro. Minha boca se encheu.
- Que cheiro é esse? – Marcos ecoou meus pensamentos.
- Pizza! Trouxe para o irresponsável do meu irmão.
Abri a caixa que ela me passou, o cheiro aumentou. Peguei um pedaço e comecei a mordiscar.
- Engoli isso inteiro! – Luiz falou frenético.
Fiz o que ele falou. Engoli dois pedaços de uma vez, e dividi o resto.
- Ei, - me lembrei – onde está o Max?
Luiz colocou a mão na cabeça, demonstrando o susto.
Está no porta-malas do Porsche. – Rodrigo respondeu.
- Por que fizeram isso com ele? – Gabi perguntou.
Era o único jeito de esconder o Max e o Matheus dentro deste carro. O Matheus está no banco de trás deitado.
Marcos gargalhou.
Percebi que saímos dos limites da cidade. Já nem sabia onde estávamos.
- Rodrigo, - recomecei minhas coordenadas – Ultrapassa o carro, se não tiver nenhum outro na frente, e deixa que nós grudamos na traseira.
OK!
Ele deu seta para ultrapassar, o Mercedes deu espaço, e o Vectra ficou logo atrás. Notei que tinha só os três carros naquela estrada, isso me arrepiou.
Minutos depois o automóvel a frente deu sinal que ia entrar em uma estrada de terra.
- O que faço? – Marcos perguntou.
- Continua reto, precisamos fingir ao máximo.
Ela entrou na sinuosa estrada, enquanto continuávamos o caminho anterior.
Puxei fotos por satélite da rua em que ela entrara, parecia sem saída.
- Podem parar no acostamento, mas continuem a acelerar o carro. A Gisele tem que pensar que continuamos a estrada.
Rodrigo e Marcos fizeram o que falei e depois desligaram os motores turbo, fazendo tudo ficar mais silencioso.
- Deem meia volta e entrem na rua em que ela entrou. É uma estrada sem saída, então será fácil chegar a ela.
Todos o fizeram e logo entramos na estreita rua. Meu coração já pulsava frenético.
Demoramos na estrada serpenteada por imensas árvores, mas logo chega-mos em um terreno aberto, com uma casa azul no centro. Parecia abandonada, só que era o lugar mais suspeito.
Paramos e todos desceram – Max ofegava quando saiu do porta-malas. Gabi correu para pegar algumas cordas e correntes.
- Vamos bater? – perguntou Max entusiasmado.
- Sim. – respondi – Bater pesado!
Ele ergueu o pé e bateu provocando um estrondo.
- Cadê a Bia? – Max gritou.
- O que faz aqui? Quem é você? – Gisele apareceu com uma expressão assustada.
Atrás dela estavam outros quatro, extremamente forte.
- Sabia que você estava metida nisso. – falei.
Um loiro atrás dela cruzou os braços. Li o nome: Rone. Era ele quem tinha sequestrado ela.
- O loiro grandalhão é meu. – sibilei.
Os seguranças atrás de Gisele se moveram em nossa direção, fiz o mesmo, esticando um sorriso para Rone. Fui ao seu encontro, e a pancadaria rolou.
Ouvi Rodrigo batendo forte em uma porta de madeira perto da sala. Não pude ver o que ele fazia, estava concentrado nos braços fortes do lutador na minha frente.
Gabi apareceu com várias cordas na mão. Rodrigo ajudou a empurrar os grandalhões para próximos uns dos outros e depois passaram as cordas em seus braços e os amarraram em uma coluna no centro da sala.
Encostei-me na parede com a mão na boca, estava sangrando. Olhei para trás das costas de Rodrigo e encontrei o rosto assustado e temeroso de Beatriz.
Várias emoções passaram por minha mente: raiva por ela ter feito aquilo, alívio por estar viva, compaixão por vê-la tão linda e ódio, ódio a mim mesmo, por tê-la condenado. Apenas sorri, por saber que havia acabado.
Corri abraçá-la. Seu corpo parecia frágil, mas ainda sim, perfeito. Ouvi-a soluçar no meu ombro, seu choro estava me maltratando. Muitas perguntas se passaram por minha cabeça, porém nenhuma foi pronunciada. Eu não conseguia falar, só queria abraçá-la.
Escutei Gisele se debatendo nos braços de Luiz, até que todos ofegaram. Virei para olhar e senti Rodrigo se intervir entre mim e Bia. Eu não queria deixá-lo ali, mas quando vi uma arma apontada na nossa direção desejei que mais pessoas se colocassem na frente dela.
Todos começaram a se afastar, menos Max. Ele continuou parado fitando Bia.
- Para Alex! Saí daí! – a voz doce de Bia cortou o silêncio que se arrastava.
Vi que na sua voz saiu um tom de medo, mas eu não tinha medo, apenas adrenalina pulsava em minhas veias.
Na verdade, havia sim um medo dentro de mim, mas não era nada parecido com o dela. Eu não temia pela arma apontada para meu peito, e sim pela a vida da minha pequena skatista.
- Que lindo! – sua voz me causou repulsa – Todos irão morrer por esta patricinha.
- Não precisa fazer isto, Gi. – tentei parecer menos agressivo.
- Preciso sim. Você nunca ficará comigo se ela continuar viva.
- E se você matá-la acha que terá alguma chance comigo? – minha voz saiu grave e verdadeira.
- Não interessa! Se você não for meu não será de mais ninguém.
Que idiotice!
- Por favor, Gi! – implorei.
Sua expressão continuou inalterada. A arma ainda apontava na minha direção. Pela distância que ela estava, à bala me acertaria em cheio, talvez chegasse até Rodrigo, mas nunca iria ferir Beatriz. Isso me acalmou.
- Você sabe o quanto é importante para mim. – continuei suplicando – Eu te amo.
Minha vontade era de rir, só que por fora, minha face, minha voz era verda-deira.
A expressão de Gisele mudou, passou para chocada e depois amorosa. Vi a mão direita relaxar, seu sorriso iluminou o rosto. Parecia que eu tinha conseguido.
Neste instante, Rodrigo caiu em cima de mim e um barulho ecoou pela casa velha.
Aproveitei a distração de Gisele para correr e lhe arrancar a arma. Segurei forte seu braço atrás das costas...Quando um grito me chamou atenção.
Não!
Era um grito de dor, uma dor insuportável. Suas mãos estavam em cima das costelas, pingando sangue.
Ela tinha levando um tiro.
Fiquei paralisado, meu rosto transparecia meu choque. O que eu mais temia tinha acontecido. Suas roupas estavam ensopadas, seu rosto angustiado e seu grito horripilante.
Ela estava morrendo!
Max a pegou com cuidado e saiu correndo para fora da casa. Rodrigo o seguiu. No começo pensei em fazer o mesmo, mas Gabi me deteve.
- Fica aqui com a Gisele. Só você vai poder conversar com ela. Max e Rodrigo sabem o que estão fazendo.
Assenti. Aquilo fazia sentido.
- Marcos, Matheus. – gritei – Pega o Mercedes lá trás e voltem para a casa da Bia. Vocês precisam avisar para a mãe dela antes que a notícia chegue retorcida.
Eles correram e depois o som de carro desapareceu.
Apenas Gabi, Luiz e eu ficamos.
- Por que fez isso? – perguntei sussurrando para Gisele.
- Porque eu te amo! – Rá!
Um barulho forte ecoou da sala, em seguida, Luiz e Gabrielli entraram no pequeno quarto de costas e olhos arregalados.
Os grandalhões tinham quebrado a coluna e se soltaram, mas eram só três.
Gisele aproveitou da minha distração e pegou a arma outra vez. Com um movimento rápido apontou-a na minha cabeça.
- Não faria isso. – sibilei.
- Quer testar? – sua boca estava bem próxima a minha orelha.
Gabi se debatia nos braços de um dos brutamontes, o que tinha uma cicatriz enorme que cortava o rosto.
- Cala a boca desta menina, Gilson! – Gisele gritou.
E antes que eu percebesse, ele deu um tapa – ou soco – na nuca de minha irmã, que caiu inconsciente no chão.
- Covarde! – gritei.
Luiz voou em seu pescoço, mas antes de alcançá-lo foi pego.
- O Amarre, Leo! – mais uma vez ela gritou.
Leo e Gilson o empurraram para uma coluna no canto do quarto, amarra-ram-no lá e se viraram para fitar a nós.
- Posso? – Rone sugeriu, aparecendo na porta com outra arma na mão.
- Se matá-lo, ele não irá sentir a morte da namorada. Será um desperdício do nosso serviço.
Logo em seguida senti uma coronhada na nuca e uma escuridão me cegou.

Vai deixá-lo aí fora, Gisele?
Sim! Já falei, será um desperdício matar ele.
E Pedro? Vai deixar aqui também?
Vou! Não posso fazer nada se ele morreu.
Mas é seu irmão!
É um morto. Chega Rone! Seja homem, para de chorar. Ou quer morrer igual a ele? Também tem a opção de fugir como Leo e Gilson, daqui a pouco a polícia os pega!
Tudo bem, eu vou.
O gás está ligado?
Sim Gi, diga adeus a eles.
Depois o som de um carro saindo me fez acordar.
Senti minha garganta áspera, algo me sufocava. Tossi várias vezes para espantar aquela sensação de sufoco de mim.
Olhei em volta e encontrei um dos capangas de Gisele jogado no chão. Corri até ele. Estava frio, sem pulsação, sem respiração. Ele estava morto.
Um som dentro da casa me fez pular. Alguém batia com certa fraqueza nas paredes grossas, mas o barulho chegava lá fora.
Levantei com os músculos enrijecidos e corri de encontro à porta – agora arrumada. Um cheiro forte de gás inundou o lugar, algo estava vazando. O som vinha de outro cômodo. Arrombei a porta de novo, só que agora encontrando algo.
Gabi estava atirada no chão, a aparência pálida, os olhos roxos, a boca seca; parecia sem vida. Corri e agarrei seus braços – que estavam gelados – e a puxei para fora da casa, largando-a na maior distância possível do cheiro gás.
Voltei para buscar outra pessoa. Luiz estava amarrado à mesma coluna que me lembrava, agora caído, o rosto estava pálido igual ao de Gabi, mas algo nele mostrava que ainda havia vida ali – parecia que ele batia fraco na parede. Também o puxei para fora da casa e o larguei ao lado de Gabi.
A pulsação de Luiz estava irregular, mas estava lá. Já Gabi estava quase sem sinal de batimento. Uma onda de dor me tomou.
Minha irmã não!
Não era justo tantas pessoas morreram por minha causa. Maldita psicopata!
Debrucei-me sobre o peito fraco de Gabrielli, tentando ouvir seu anêmico coração.
Uma onda de coragem me inundou. Tomei fôlego e saí correndo pela sinuosa estrada.
Corri tão rápido que jamais poderia imaginar. Nenhum dos carros estava ali. O Porsche Rodrigo tinha levado, o Mercedes mandei Matheus pegar e o Vectra sem dúvidas foi roubado por Gisele. Só havia minhas pernas para correr.
Só uma coisa passava por minha cabeça: minha irmã não!
Vinte minutos depois cheguei à estrada. Estava escuro, deveria ser madruga-da. Nenhum carro passaria por ali, e os que passariam não iriam dar carona a um moleque louco acenando no acostamento. Mas não me abalei, continuei chamando atenção ali.
Minutos depois uma mini Van parou a minha frente.
- Precisa de ajuda, querido? – uma mulher desceu do carro e perguntou.
- Sim. Minha irmã e meu amigo estão morrendo ali na frente, preciso muito que os levem para o hospital.
- Claro! Entre aqui.
Ela abriu a porta de trás da Van, deslizei para um dos bancos. A mulher correu para o banco da frente e o homem no lado do motorista disparou para a estrada de terra.
Uma criança de cinco anos dormia em um dos bancos de trás, e uma garota bizarra, com pricings e tatuagens por todo o corpo, estava sentada ao meu lado.
- O que aconteceu...?
- Alex! – completei.
Contei toda a história, até que chegamos na casa velha. O homem no carro me ajudou a colocar Gabi e Luiz nos bancos.
- Credo! Ela parece morta. – ele comentou.
Pressionei meus olhos para não chorarem.
Todos no carro ficaram horrorizados pela história que contei, até cheguei a duvidar que estariam acreditando.
Deitei a cabeça de Gabi em meu colo e comecei a acariciar seu cabelo, sempre que podia beijava sua testa.
- Vou tirar você desta, irmã! Eu juro que vou. – sussurrei em seu ouvido.
O dia começou a amanhecer, quando vi que chegávamos no hospital. Desci com Gabi nos braços, enquanto o motorista da mini Van cambaleava com Luiz – agora quase consciente.
Corri para dentro do hospital.
- Emergência, agora! – gritei.
A recepcionista chamou dois enfermeiros que pegaram ela dos meus braços e mais dois para Luiz. Os levaram por uma maca.
Quando fiquei livre alguém me abraçou, parecia minha mãe.
- O que aconteceu com a Gabrielli, meu filho? – ela perguntou.
Ouvi outras vozes se silenciar, entre elas, Carla; Paulo Ricardo; meu pai e Rodrigo.
Eu queria responder, mas algo me cegava; a exaustão lançava meus mem-bros para baixo e uma fenda preta me cegou.
Senti desabar em seu colo.

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