5- PROMESSAS
O tempo passou rapidamente. Já havia algumas semanas que eu tinha saído de casa e conhecido todos aqueles novos amigos.
Lembrei que tinha algumas promessas a cumprir: realizar a vontade de Alex e encontrar um novo amor; ajudar Luiz, que eu havia prometido há semanas atrás e tentar perdoar meu pai.
Quase todos da casa já haviam saído – domingo era o dia de se divertir ou visitar os pais. Claro que eu não ia fazer nada disso.
Virei-me na cama várias vezes, sem a mínima vontade de levantar, e meu olhar encontrou rapidamente o calendário pendurado na parede.
22 de Outubro.
Era aniversário dele.
Meu dia já começou mal. Comecei a imaginar se naquele dia ele voltaria. Não havia sentido, mas ele poderia voltar...Um dia!
Levantei e fui direto tomar banho. Depois desci e fiquei na sala assistindo tevê. Estava só eu e Luana em casa, os outros estavam na praia.
- Não vai sair hoje? – perguntou ela gentilmente.
Sua voz era fina e infantil, parecia não ter desenvolvido as cordas vocais.
- Não. Você vai? – continuei a conversa.
- Sim, daqui a 10 minutos. Aproveite a casa.
Nós rimos.
- Pode usar o computador da sala de jogos. – disse ela.
- Ta bom.
Havia tempos que eu não checava os meus e-mails, devia estar cheia a caixa de entrada.
Ela se retirou. E eu fui direto para o computador. Havia 17 e-mails na caixa de entrada. Verifiquei todos, alguns eram propagandas, outros eram Rodrigo me procurando e uns era de minha mãe. Mas teve um que me chamou atenção: Estava sem assunto, sem remetente e muito menos identificação pessoal. Abri as pressas:
Bia me desculpe. Foi irracional e infantil o que eu fiz, você já estava em um mau momento com a partida do Alex e depois eu faço o mesmo?
Mas é que foi uma oportunidade irresistível, meu futuro estava em jogo e decidi apostar nele. Só que não me esqueci de você. Estarei sempre pensando em ti e pode apostar que te considero muito.
Prometo que um dia volto, não para ficar, mas para te ver. Você virou minha melhor amiga, alem do Luiz – ele deve estar sofrendo muito com minha partida! Ajude ele, por favor? Seria um grande favor para mim.
Desculpe me, por favor!
Adoro-te muito.
Gabi.
Fiquei feliz por ela lembrar de mim e prometer um dia voltar, mas ainda sim estava mal. Assim que terminei de ler me lembrei que tinha que falar com Luiz, - pedido de Max.
Peguei o celular e disquei rapidamente o número que Max me deixou em cima do balcão onde eu trabalhava. A voz rouca dele atendeu:
- Bia? Sabia que ia ligar. Como está?
- Oi Max, estou bem. Como sabia que era eu?
- Eu tinha pegado seu número com a Gabi.
Nós rimos.
- Então, como está Luiz? – perguntei mais séria.
- O mesmo, como um Zumbi.
- Quer que eu vá?
- Sim. Claro, será muito bom para ele.
- Então ta, venha me buscar na praça perto do parque, estarei lá em 20 minutos.
- Está bem. Tchau.
Ele desligou.
Arrumei-me rapidamente e saí apressada. A praça ficava longe dali, não queria deixar vestígios de onde estava, então achei um lugar movimentado e distante.
Cheguei e ele já estava lá, me esperando encostado a um Corsa sedan vermelho. Sua expressão era alegre, parecia que eu estava fazendo um favor imenso para ele, mas acho que estava.
- Olá Bia! Como está? – perguntou ele.
- Oi! Estou bem e você? – respondi de cabeça baixa.
- Também. Você não parece bem. O que foi?
- Hoje é o aniversário dele, então não estou tão contente, me traz lembranças fortes do passado.
Ele me abraçou como se também estivesse sofrendo.
- Vamos? – sugeri
- Claro, vamos! – ele me soltou.
Entramos no carro e partimos para a casa de Luiz.
Quando chegamos, não consegui deixar de reparar na bela casa. Era enorme – bem mais do que a minha. Aberta, clara e era cercada por um belo jardim.
Entramos e vi que a casa era mais bela por dentro do que por fora. Tinha uma bela decoração, nenhum espaço muito cheio e nenhum muito vazio, tudo proporcional. Fiquei pasma com a casa.
- O quarto dele é no terceiro andar. Vamos? – Max interrompeu meus pensamentos
- Sim. – falei ainda olhando para a imensa casa – Os pais deles estão?
- Não! A mãe dele está viajando a negócios e o pai dele sai de madrugada e chega tarde da noite, ele nunca vê, está sempre sozinho. Por isso que fico aqui com ele, ou saímos juntos. Dá até dó.
- Nossa! Tem razão em entrar em depressão.
- É.
Chegamos ao quarto. Ele estava sentado na cama enrolado na cabeceira feito uma bola. Tinha olheiras enormes e havia em seu criado-mudo uma bandeja com lanche que ele não tocara, estava até frio.
Eu sentei ao seu lado. Max se retirou.
- Luiz? Como você está? – era uma pergunta idiota, mas eu precisava ter certeza de que ele estava me ouvindo.
Ele não respondeu, nenhuma palavra se quer.
- Entendo você Luiz, eu estou sentindo o mesmo. Você pode estar em uma depressão bem mais profunda do que a minha, mas meu caso é pior. Porque eu sei que tudo isso é culpa do meu pai e do meu ex.
Ele olhou para mim com a expressão assustada, e enfim falou:
- Como assim? Não entendi. – sua voz era morta.
- Meu pai queria que eu namorasse o Rodrigo. Você deve saber da história.
- Sim. Um pouco. Continue.
- Então, ele não aprovava o Alex e não sei como, ameaçou-o para ir embora. Não sei o que ele falou ou fez, mas conseguiu o que pretendia.
“Fiquei mal por muitos dias e depois que voltei ao meu estado normal fiquei indo à casa da Gabi. Meu pai pensava que sem o Alex eu ficaria mais próxima de Rodrigo, mas foi o contrário. Eu o troquei por ela”.
“Quando estávamos juntos, eu o pedia para me levar até ela e isso o irritava. Tenho certeza que ele contou tudo a meu pai, que depois de uns dias foi até a casa dela e a ofereceu uma bolsa para estudar na Inglaterra. Ela aceitou com a melhor das intenções, não foi para nos magoar. Mas meu pai fez com esta intenção”.
“Mas o pior não é este. Eu sei que Gabrielli está bem, em um lugar bom, fazendo o que gosta. Mas Alex...”.
Interrompi antes de terminar. Eu sabia que o que estava preste a falar poderia me abrir uma ferida imensa, mas continuei:
- Alex está em um lugar isolado. Não pode me escrever ou telefonar. E sei que está infeliz, sofrendo muito. – parei para chorar e ele me abraçou forte – Assim como eu!
Ele me reconfortou. De repente havíamos trocado de papel.
- Não sabia disso. – admitiu ele secando as minhas lágrimas.
- Pois é. – falei tentando conter o choro.
- Mas é que eu gostava da Gabi, por isso estou assim.
- Mas eu também gostava dela.
- Eu sou diferente. Eu gostava no sentido de amar. Desde o dia em que conheci ela eu estou apaixonado.
- E por que você nunca contou a ela?
- Eu tive medo. E se ela não gostasse de mim do mesmo jeito? E se eu perdesse a amizade dela para sempre?
- Mas agora o seu maior medo aconteceu não foi?
- Isso! Ela se foi.
Ficamos abraçados por um longo momento.
- Agora, por favor, saia deste estado que você está?
- Está bem. Vamos descer?
Eu abri um sorriso e assenti. Ele pegou minha mão e me puxou escada a baixo. Luiz era realmente animado.
- Nossa! Você é milagrosa. – gritou Max quando nos viu descer as escadas – Que saudade que eu estava de você menino doido!
Ele e Luiz se abraçaram e ficaram girando pela imensa sala de estar.
- Temos que comemorar isto! – continuou.
- Claro, vamos sim. Como? – perguntou Luiz
- Vamos a algum lugar especial. Nosso.
- Que tal um jogo de boliche? Faz tempo que não fazemos isso.
- Isso aí. Vamos Bia?
Eu estava tão entretida com o falatório deles que nem tinha percebido que Max acabara de falar comigo.
- Então, você vai Bia? – repetiu ele.
- Acho que não, nem sei jogar boliche, só vou encher a paciência de vocês.
- Que isso Bia? Você vai sim. – falou Luiz já me arrastando para o carro dele.
- Vamos no seu carro? – perguntou Max com um sorriso de satisfação.
Depois entendi o sorriso. Quem não queria andar em um carro daquele? Era um Hyundai Azera preto. Completamente lindo. Fiquei boba.
- Esse é seu carro Luiz? – perguntei olhando o belo carro.
- Sim. Ganhei do meu pai. – ele disse naturalmente, como se aquele carro fosse comum.
Como um pai poderia dar um carro tão belo e luxuoso na mão de um filho? Nunca imaginei ganhar um daquele de meu pai.
- É mentira dele. – Max sussurrou em meu ouvido – É do pai dele.
- Então o dele é menos luxuoso? – pensei entender.
- Pelo contrário. Olha lá. – ele apontou para uma lona que tampava algo de largura imensa.
- O que é?
- Vem aqui. Vamos dar uma espiada.
Fomos em direção à lona e ele a levantou com um movimento rápido. Fiquei chocada com aquilo, muito mais do que fiquei com a casa ou com o belo carro do pai de Luiz.
Era um BMW M9 vermelho. Era um carro lindo, veloz e desejado por todos que entendiam de carros.
- Engraçado, o carro é meu e você que se exibi, Max? – disse Luiz rindo.
Entramos no carro. A sensação de andar em um carrão era ótima. Luiz corria bastante, mas eu dava razão, afinal, de que vale ter um BMW se não pode correr com ele?
Chegamos em alguns minutos.
Passamos todo o resto de domingo jogando boliche. Foi divertido. Aprendi a jogar, fizemos bagunça e aprontamos todas. Foi uma tarde muito agradável, do tipo que eu sentia falta. Mas tive que ir embora logo, eu tinha aula no outro dia.
Na volta, Luiz me deixou dirigir sua belezinha – na verdade eu estava aprendendo a dirigir, pois eu não sabia. Foi ótimo, me senti a dona do carro. Desci na mesma praça onde Max havia me pegado e eles foram embora.
Fui indo de a pé quando Marcos me parou:
- Hei. Aonde você vai? – perguntou ele sorrindo.
- Embora. Por quê?
- Pensei que estava fugindo. – nós rimos – Está com fome?
- Um pouco.
- Então vamos a um restaurante aqui perto, hoje a Laura não dorme em casa então não tem jantar.
- Estou sem dinheiro. – falei batendo as mãos no bolso.
- Estou te convidando, então, eu pago não é?
- Não sei...
Ele me arrastou para o restaurante antes que eu terminasse de responder.
Fomos andando, pois não ficava muito longe. O lugar estava quase vazio, um bom ambiente para jantar.
Ficamos quietos por alguns instantes, mas logo ele puxou assunto:
- Eai, se divertiu hoje?
- Sim, foi um dia legal. Fiquei jogando boliche com uns amigos.
- Amigos? – perguntou ele com a expressão carrancuda.
- É que um deles me pediu ajuda para tirar o outro de uma depressão, que eu já havia passado antes, e por incrível que pareça, eu consegui ajudá-lo, então fomos comemorar jogando boliche.
- E você tem alguma queda por algum deles?
- Não. De jeito nenhum. Um deles é apaixonado pela minha cun... – parei e pensei bem na palavra – melhor amiga e o outro não faz o meu tipo.
Ele riu.
- Qual é o menino que faz o seu tipo?
A vontade que eu tinha era de responder “nenhum”, mas eu tinha que fazer a vontade de Alex. Mas fiz questão de descrevê-lo como “o menino que faz o meu tipo”.
- Prefiro meninos educados, inteligentes, de cabelos claros e olhos escuros, que sabe conversar e me entender e que enfrentaria qualquer um por mim.
Marcos me olhou fixamente e respondeu:
- Você acabou de descrever o seu ex. – ele se levantou da mesa em direção a porta.
- Aonde você vai? – perguntei agarrando seu braço – Te magoei?
- Um pouco, não se preocupe, eu pago a conta.
Saí da mesa deixando o prato quase cheio. Fui em sua direção decidida a me desculpar:
- Marcos! Por favor, me desculpe, não quis te machucar.
- Tudo bem. Sei como é difícil esquecer um grande amor.
Ele estava de cabeça baixa, como se estivesse escondendo o rosto. Eu peguei seu queixo com dois dedos e o levantei, fazendo o olhar para mim.
- É difícil mesmo, mas não posso fazer você pagar isso. Me desculpe?
- Que isso, eu que peço desculpas, fui um infantil. Termine de comer.
- Estou sem fome. Vamos embora?
- Não, antes, quero te mostrar um lugar. Venha.
Ele tirou a tristeza do rosto. Entregou o dinheiro para o garçom e depois me puxou para perto dele.
- Não fica muito longe. Quer ir?
- Sim, vamos.
Andamos por várias partes da cidade. Lugares movimentados e desertos, claros e sombrios, bonitos e estranhos e enfim chegamos.
Era um lugar bem iluminado, havia um movimento de pessoas, mas não estava lotada, uma praça cheia de bancos rodeando um chafariz lindo que ficava de frente para uma ponte. Era um lugar perfeito para um quadro ou um filme romântico.
O que eu não sabia era o motivo de estarmos ali. Ele estava de mãos dadas comigo e me puxava para os lugares mais lindos que havia. Não aguentei e tive que perguntar:
- O que estamos fazendo aqui?
Ele me puxou para perto de seu corpo, pegou meu rosto com as mãos gentis e grandes e sussurrou no meu ouvido:
- É que eu acho aqui o melhor lugar para se declarar.
- Como assim? – fingi de desentendida.
- Bia. Você entendeu. Eu estou apaixonado por você e não aguentava mais segurar isso comigo. Eu te amo muito.
Fiquei sem resposta. As palavras não saiam da minha boca. Eu queria sair de seus braços e evitar qualquer aproximação, mas não conseguia, à vontade de cumprir o que Alex pediu me prendia ali. Se é que era isso que me prendia ali.
Eu tinha medo de me apaixonar também e tirar de vez ele da minha vida.
Marcos aproximou mais seu rosto do meu e eu me rendi rapidamente. Antes que eu percebesse, seus lábios estavam nos meus. O beijo era bom, mas não era aquele que eu queria, de volta.
Faça por Alex, faça por Alex, faça por Alex. Fiquei repetindo varias vezes para mim mesma. E isto me prendeu ali. Por pouco tempo.
O empurrei rapidamente e saí dali correndo. Eu não queria ver ele de novo, não sei porque, estava com raiva. Deveria ter ficado, deveria ter me entregado, mas não consegui.
Corri ao máximo que pude e entrei em um táxi que estava parado em uma esquina próxima a praça. Pedi para me levar até em casa, ou melhor, a minha antiga casa. Eu precisava dos braços de minha mãe. Não queria saber se meu pai estaria lá ou não, eu queria vê-la.
Minha cabeça girava. Eu não entendia o que acabara de fazer, com certeza eu tinha magoado Marcos, e Alex também, de algum jeito. Mas não consegui ficar lá por mais nenhum minuto.
- Mãe, mãe! – entrei em casa gritando.
Ela estava sentada no sofá da sala de estar, com meu pai e Rodrigo. Todos se levantaram assustados e minha mãe correu me abraçar.
- O que foi minha filha? O que aconteceu?
- Eu não aguento mais, mãe! Não aguento. – de repente eu estava chorando – Eu o quero de volta.
Minha mãe disparou um olhar furioso para meu pai.
- Quem você quer minha filha? – perguntou ela, enxugando as minhas lágrimas.
- Ele mãe, ele... O Alex!
Rodrigo me olhou furioso e meu pai fez uma expressão de arrependimento, pelo menos era o que parecia.
Carla me abraçou contra seu peito e me segurou como quando eu era pequena. Ter os braços de minha mãe era muito bom.
Rodrigo passou por nós furioso e foi em direção ao carro estacionado no jardim. Fingi não ver e continuei a desabafar com minha mãe:
- Posso dormir aqui hoje?
- Claro amor, sempre. Vou arrumar sua cama.
Ela subiu para o meu quarto e eu a segui, mas uma voz me chamou atrás de mim:
- Beatriz. – olhei e fiquei pasma, meu pai estava falando comigo – Quero falar com você.
- Sim. – me sentei no sofá de frente para ele.
- Me desculpe ta? Eu estou muito arrependido.
- Não sei pai. Estou muito magoada com você. A dor que eu sinto é muito grande.
Ele fitou o chão por um longo momento. Pude ver em seus olhos como ele estava arrependido.
- Eu só queria saber...Por quê? – perguntei.
- E se eu te disser que não posso te contar?
- Eu me levantarei e me retirarei. – e foi isso que fiz.
Minha mãe ficou comigo no quarto até eu dormi. Foi uma noite tranquila, com um sonho maravilhoso: “Eu estava me divertindo no jardim em que Alex me levara uma vez, mas era com Marcos, Rodrigo também estava, mas não inço-modava, pelo contrário, ele animava o lugar. Estava tudo tranquilo quando duas mãos macias e familiares tocaram meus braços que se apoiavam no chão. Era boa a sensação daquele abraço. Resolvi olhar para ver quem era, e vi um rosto com olheiras profundas, pálidas, mas mesmo assim, lindo. Era Alex. Ele tinha voltado...” E eu acordei com o barulho do despertador.
Acordei no outro dia disposta, eu estava feliz. Nem lembrava do que acontecera na noite anterior. Aquele sonho tinha me despertado a vontade de sorrir sozinha. Será que era um aviso? Ou aquela felicidade não tinha nada a ver com o sonho e sim com Marcos? Balancei a cabeça tentando me livrar do pensamento.
Tomei meu café rapidamente, despedi de minha mãe e saí. Eu tinha que passar na casa de Nanda antes de ir a escola, pois tinha que pegar minhas coisas.
Teria que enfrentar Marcos.
Tentei entrar e sair da imensa casa despercebidamente, mas foi inútil. Marcos me esperava na porta de meu quarto.
- Quer me matar do coração? Onde você se meteu? E por que saiu correndo daquele jeito?
- Desculpe, nem sei o que deu em mim ontem, você me desculpa? – eu me aproximei de seu corpo e coloquei as mãos abaixo de suas bochechas.
- Eu te entendo. – ele se curvou para me beijar. Eu saí rapidamente de seus braços. – Qual é, você não quer saber de mim?
Eu estava arrumando meus materiais na bolsa quando ouvi isso. Virei para ele com uma expressão vazia e respondi com ressentimento:
- Você sabe que não é isso. Eu ainda não superei.
- Já entendi. – ele se aproximava cada vez mais.
Eu me retirei apressada, passando por baixo de seus braços.
Saí correndo para a escola sem me despedir de Marcos. Percebi que ia me atrasar, até que Matheus parou ao meu lado com seu carro – o Mercedes conversível preto – e perguntou:
- Carona?
- Ah, não precisa.
- Precisa sim. – ele falou olhando o relógio e rindo – Vamos, vai?
- Ta bom. – entrei no carro e fiquei em silêncio.
Passou se um longo instante até que ele interrompeu a quietude assus-tadora:
- Você saiu ontem com o Marcos?
- É. Ele me chamou e eu fui, nem sabia para onde estava indo.
- Ele gosta de você. – falou olhando pelo retrovisor.
- Como é?
Paramos no sinal e ele se virou para mim até conseguir olhar em meus olhos:
- Ele está apaixonado por você, Bia. Completamente. Mas isso não me estranha, você é linda.
Eu corei e fiquei frustrada com a descoberta. Pensava que ele estava apenas querendo se divertir. Era mesmo verdade.
- Mas eu não consigo corresponder esse amor. – falei por fim.
- Eu sei. Você ainda gosta do seu ex. Mas olha pelo lado bom, ele pelo menos está vivo.
Não compreendi a afirmação dele. Como assim, vivo?
- Não entendi.
- Depois te explico. Eu venho te buscar para o serviço.
Olhei para o lado e vi que já tínhamos chegado. Era uma pena, eu queria ouvir aquela história.
- Tudo bem. Tchau.
Ele assentiu.
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