6- CONVERSA PERTURBADORA
Narração de Beatriz Vasconsellos.
Gabi ficou histérica. Comemorou mais do que eu. No começo ela achou loucura, mas depois que expliquei direitinho ela achou a atitude do irmão a mais linda de todas:
Meu irmão é um verdadeiro príncipe, não é?
- Ele é mais do que é um príncipe. É inexplicável! Mas fala a verdade, você não sabia mesmo?
Claro que não, Bia. Quando ele me pediu para comprar um anel de Rubis, pensei que era para algum aniversário. Não para um pedido de noivado.
- Mas não foi mesmo caro?
Se contar como Real sim, mas como Euro é barato...Um pouco.
- Estou muito feliz. Parece que esse anel foi feito especialmente para mim. É lindo!
É mais do que lindo. Mas é verdade que você quer morar na nossa velha casa?
- Verdade. Ela é perfeita para nós.
Que fofo! Ei, mudando de assunto. Você lembrou que esse mês é aniversário de Alex, não é?
Senti minha expressão mudar da felicidade para o susto. O silêncio que se ocorreu fez Gabi suspirar do outro lado da linha.
- Nossa! Esqueci completamente. É dia 22 agora? Já?
Ele vai ficar decepcionado.
- Preciso urgente comprar um presente!
Semana que vem eu vou estar aí para organizar a festa dele, talvez eu ajude.
- Vai ser uma festa surpresa?
Sim. Quero que me ajude a falar com todos os amigos dele.
- Tudo bem.
Ela me explicou como seria a festa. Seria igual foi a minha há alguns meses atrás. Ele não ia gostar muito, mas fazer o quê? Ele tinha feito o mesmo comigo.
Já fazia uma semana desde o dia em que falara com Gabrielli por celular. Faltavam dois dias para a festa dele e eu ainda não sabia que presente dar. Em algumas horas Gabi chegaria no Brasil e começaria todo o preparativo. Aí sim que não teria mais tempo para o presente.
Corri para meu BMW pensando no que comprar. Não poderia ser algo pequeno, afinal, ele tinha me dado aquele carro maravilhoso.
Isso!
Daria-lhe um carro. Sei que ele já tinha um Astra, mas tinha de ser um luxuoso. Ele não iria gostar se eu aparecesse com um possante, mas o que ele poderia fazer se o presente já estava pago?
Voei para a concessionária de meu pai. Decidida a caprichar na escolha. Teria de pedir um aumento de mesada para pagar, mas poderia negociar, já que a concessionária era de meu pai.
Estacionei e desci apressada. Paulo me recebeu assim que surgi no imenso pátio.
- Bia! Veio ver seu velho pai?
- Ah! Claro pai.
Abracei-o, depois comecei a admirar os carros.
- O que procura? – Paulo perguntou.
- Quero comprar um presente de aniversário para Alex.
- Mas ele já não tem um carro?
- Ele pode ter outro.
- Pode me dizer como vai pagar? – ele cruzou os braços.
- Estava pensando em negociar minha mesada.
Ele levantou uma sobrancelha. Sua expressão ficou desconfiada.
- Depende do carro.
Comemorei e saí andando pelos longos corredores de carros. Dispensei os primeiros que vi. A maioria era Mercedes e BMW. Os Porsches jamais poderia pagar.
Paulo me seguia desconfiado, depois começou a comemorar quando viu que nenhum me interessava.
Até que vi um perfeito.
Estava girando em uma plataforma. Era incrivelmente lindo. A cara de Alex.
As quatro argolas na grade indicavam que era um belíssimo Audi. Era azul escuro, sua cor reluzia na luz. O formato cupê não disfarçava o lindo conversível que era.
Lembrava de ter visto aquele carro nas listas de lançamentos do semestre.
A capota do carro estava aberta, revelando o belo estofado preto. O carro girou na plataforma e mostrou o nome prateado: RS5 Cabrio.
As rodas de orbitais prateadas deixavam o carro mais lindo ainda.
Girei o calcanhar para ficar de frente para meu pai. Ele me olhava assustado. Os olhos cheios de medo e censura.
- Não! – ele respondeu a minha pergunta antes mesmo de ser feita.
- Por que não? É tão lindo!
- O preço também é maravilhoso... Para quem me paga, não para eu comprar!
Fiquei carrancuda. Já estava imaginando Alex dentro daquele carro, os belos cabelos claros expostos ao vento.
- Pai!!! – choraminguei.
Percebi que estava usando a mesma voz e a mesma expressão de quando era criança. Se melhorasse ele se entregava.
- Por favor! Eu te amo.
- Seu amor é muito caro. – ele reclamou, os olhos já ficando piedosos.
- Ah pai! Meu BMW é mais caro do que esse Audi. Por favor?
Deixei a voz mais aguda para parecer infantil.
- Ficará sem mesada pelo resto da sua vida. – ele falou.
- Ah! – não acreditava que tinha ganhado tão facilmente.
Voltei a olhar o belo carro, vendo que Alex estaria realmente dentro dele, exibindo-o para todos.
Fomos preencher toda a papelada de compra.
- Quer acrescentar algo nele? – um funcionário perguntou.
- Sim. Quero um aerofólio da mesma cor do carro. Faróis de milha de Xenon. Suspensão a ar e rodas de aro 20.
Meu pai me olhou boquiaberto, os olhos pareciam saltar do rosto.
- Está tentando me falir, não é?
Fizeram as contas e o preço saiu assustador. Paulo choramingou, mas pagou.
- Guarde o carro aqui até sábado. De manhã meu pai leva.
- Tudo bem. – o funcionário falou.
Saí da concessionária com o sorriso em cada canto da orelha. Dirigi para casa, decida a esperar Gabi chegar. Ela ficaria em casa, escondida de Alex até o sábado. Seria difícil manter meu namorado longe da minha casa, mas eu tentaria.
Chegando em casa encontrei minha mãe e Roberto conversando outra vez. Agora eles estavam na cozinha, comendo um bolo, que com certeza era obra de minha mãe.
- Boa tarde, Bia. – Roberto me cumprimentou.
- Boa tarde, Roberto. Oi, mãe.
Ela assentiu.
Dei uma piscadela para ela e subi as escadas. Antes de subir pude ver a expressão de minha mãe se alterar, ficando rubra.
Deitei na cama e liguei o aparelho de som, com uma batida eletrônica. Passar a tarde sem Alex era horrível. Pelo menos eu sabia que ele estava procurando emprego. Ao contrário da época em que namorava Rodrigo. Eu nunca sabia onde ele estava.
Não percebi que tinha dormido. Só percebi quando Gabi apareceu no meu quarto me chamando. Dei um pulo tão alto que se estivesse dormindo em um beliche teria batido a cabeça na cama de cima.
Ela riu tanto que parecia que ia rolar no chão.
- Bom te ver, garota! – ela falou.
Levantei desembaraçando o cabelo. Voei para lhe abraçar. Fazia tanto tempo que eu não via Gabi, pareciam ser anos, não meses. Ela estava diferente. Tinha pintado os cabelos, deixando-os num tom de mel; as roupas pareciam aquelas de garotas de passarela; a pele estava mais pálida – resultado do clima frio de Londres – e o corpo mais magro.
- Você está diferente. – comentei – Mais bonita. Uma típica garota européia.
- Mulher agora. Já tenho vinte e um anos.
- Nossa!
Parecia que foi ontem que eu tinha conhecido Gabrielli. Ela só tinha dezenove anos; não era tão diferente de Alex.
Organizamos as malas de Gabi em um espaço do meu closet, onde Alex não poderia ver. Depois corremos para a casa dos Bittencourt.
Amanda esperava a filha na maior expectativa. Fizemos todos os convites. Gabi ficou para preparar os doces para a festa, enquanto eu enviava os convites.
Para os amigos de Guarulhos tive de mandar por e-mail, depois saí para entregar o resto. Deixei a casa de Nanda por último, pois já sabia que quando entrasse veria a cara de ressentimento de Marcos.
Toquei a campainha duas vezes antes de Luana abrir a porta.
- Olá, Bia! – ela me cumprimentou – Entre.
Assenti e entrei.
Matheus estava sentado assistindo a televisão, Leandro ao seu lado. Laura se encontrava na cozinha. Nanda estava sentada ao redor de uma mesa, estudando...
Com Marcos ao seu lado. Apenas Amanda não estava, ela estava na faculdade.
- Vim trazer um convite para vocês. – falei.
- Já vão se casar? – Matheus perguntou com irreverência.
Marcos levantou a cabeça, o rosto ficando vermelho de susto. Tentei entender sua expressão, estava assustada e ao mesmo tempo adorável. Percebi que ele encarava o anel em minha mão esquerda.
- Não! – respondi de imediato, vendo Marcos relaxar – É um convite de aniversário. Alex vai fazer dezoito anos amanhã, e quero que vocês venham.
Entreguei o convite a cada um, deixando Marcos por último. Ele segurou minha mão quando lhe passei o convite.
- Quero falar com você. Venha até o quintal dos fundos?
Assenti e o segui. Nos sentamos nas escadas que dava para a porta da cozinha. Seu rosto estava sereno.
- Posso perguntar deste anel? – ele perguntou.
Eu não sabia se deveria dizer a verdade ou somente mentir para não machucá-lo. Era melhor dizer a verdade. Iria machucar muito mais se ele soubesse nas vésperas.
- É um anel de noivado.
Ele deu um “sorriso amarelo”.
- Quando?
- Depois da faculdade. Mais ou menos cinco anos.
- Você está certa de que quer fazer isto?
Agora ele me encarava. A face se retorcia de dor.
- Completamente.
Marcos esticou a mão e pegou no pingente de meu colar. Era o pingente que ele me dera no dia de meu aniversário.
- Vai continuar usando isto depois que se casar? – sua voz parecia indiferente.
- Claro.
- Já pensou se em algum dia deixará de gostar de Alex?
- Essa pergunta é absurda! Eu o amo e nada pode mudar isso. Amor não se acaba, caso contrário, nunca foi amor.
- Então nunca me amou? Nunca mesmo?
- Você sabia. – suspirei.
- É, acho que sim. – ele passou a fitar as estrelas.
Passaram-se uns minutos em silêncio, depois ele se levantou e olhou para mim com a expressão mais séria.
- Não vou a este aniversário.
- Tudo bem. – já era o que eu esperava.
Passei por ele e me despedi dos outros. Dentro do meu carro fiquei refletido: não era justo o que eu estava fazendo com Marcos, mas o que eu podia fazer? Eu amava Alex.
Ele sempre soubera disso. Mesmo quando estávamos juntos fiz questão de repetir que nunca o corresponderia da mesma maneira. Foi ele quem se iludiu.
Mas por outro lado, eu tinha uma cota de culpa nisso. Nunca deveria ter aceitado a proposta de Marcos, e até de Alex, de tentar amar outra pessoa. Era nisso que dava: sempre alguém machucado!
Eu sempre ouvira que entre duas pessoas felizes havia uma chorando, será que meu caso era o único em que os quatros se machucavam? Eu, Alex, Marcos e Rodrigo?
Olhei para o relógio, eram cinco da tarde. Antes de voltar para casa teria de fazer uma coisa, algo que me incomodava havia tempo. Pisei fundo no acelerador e saí cantando pneus.
Aquilo estava me incomodando desde o dia em que conheci os amigos de Alex, precisava esclarecer a bagunça em que minha cabeça se encontrava.
O trânsito no sentido centro estava leve, enquanto a faixa ao lado estava congestionada. Vi meu velocímetro alcançar 180 Km/h. Enquanto corria notei um Astra verde-hera na outra pista. Alex acompanhou meu carro com os olhos, a boca escancarada. Então eu estava correndo muito. Mas precisava chegar em Itapecerica da Serra – a cidade vizinha – em pouquíssimos minutos.
Entrei na Roan. Mario Covas. Logo estava no presídio de Itapecerica. Aquele era o último lugar em que imaginava estar. Tive sorte, estava dentro do horário de visita. Fui revistada na entrada, depois estava em uma sala com um carcereiro junto.
Rone entrou algemado, com a cara fechada e sendo escoltado por dois policiais.
- Bia? – ele pareceu surpreso.
Na verdade, até eu estava. O que eu fazia ali?
- Oi Rone. – falei baixo.
- O que faz aqui? – ele perguntou, sentando-se de frente para mim.
Os policiais se encostaram logo atrás de nós.
Ele estava tão diferente. O cabelo fora raspado; o corpo parecia mais magro; a pele estava extremamente pálida e os olhos possuía olheiras profundas.
- Me explica aquela história de a Gisele estar pior do que antes.
Ele respirou fundo.
- Ela está assustadora, Bia. Nunca a vi com tanta raiva, desejando tanto a vingança. Nem sei mais se por é Alex ou se é por reputação que ela esta fazendo isto.
- Ela disse alguma coisa sobre algum plano? – minha voz estava entrecortada.
- Só sei que ela estava pesquisando a vida de todos os seus amigos, principalmente aqueles que te resgataram.
- Acha que ela pode fazer algo contra eles?
- Acho que não. Acho que ela vai usá-los para chegar até você.
Percebi que estávamos inclinados um para o outro.
- Não pode me ajudar? – eu quase suplicava.
- Sinto muito, Bia, mas já te falei tudo o que podia.
Engoli em seco. Ele também estava com medo.
Voltei para a casa de Alex com menos pressa. Estava tremendo tanto que qualquer deslize poderia provocar um horrível acidente, e garanto que Alex não gostaria de um presente como este.
Aquela conversa só tinha me atormentado. O que consegui? Saber que a psicopata estava com mais ódio do que eu acha ser possível? Isso não era algo que quisesse saber.
Então o jogo estava recomeçando. Só que agora eu não sabia o que fazer. Não sabia contra quem jogar. Pelo menos sabia que meu namorado estaria comigo em qualquer situação.
Jogar as cegas era a pior coisa que podia acontecer. Mas teria de ser.
Encostei o carro no jardim da casa de Alex. Teria de mantê-lo em casa até o outro dia à noite. Gabi estava na minha casa organizando a imensa garagem – agora só com dois carros – para a festa do irmão.
Ele me esperava na sala de estar.
- A hora parece que não passa sem você. – ele falou, vindo me abraçar.
- Digo o mesmo. – falei em seu peito.
Era tão bom sentir os braços quentes e aconchegantes de Alex. Nada no mundo era igual aquilo.
Subimos para o quarto dele. Ele se sentou na cama, enquanto eu deitava e apoiava a cabeça em seu colo.
- Foi você que passou “voando” para o centro? – ele perguntou.
- Sim.
- E para que tanta pressa?
- Eu precisava falar com Rone.
Ele me fitou com os olhos arregalados. Levantei a cabeça para poder ver sua expressão.
- Você foi ao presídio? – sua voz estava chocada.
- Eu precisava saber sobre a Gisele.
- Mas isso é loucura, Bia.
- Eu sei, mas precisava tentar.
- E o que você descobriu? – ele agora parecia mais calmo.
- Algo que poderia ter ficado sem saber.
- O quê? – sua voz estava preocupada.
- Que ela está mais louca do que antes. Só pensa em vingança. E também, que ela investigou a vida de todos os meus amigos, principalmente os que me ajudaram da última vez.
- Acha que ela pode fazer algo com eles?
- Rone disse que não, que ela está usando-os para chegar disfarçadamente até nós.
- Estou preparado para qualquer coisa que ela tentar fazer com você.
- Mas meu medo é que ela faça algo com você.
- Isso seria melhor ainda.
- Não seria! – levantei abruptamente de seu colo – Me prometa que você vai contar a mim se ela tentar fazer algo contra você!
- Por quê? Se você não me contou da última vez?
- E isso quase provocou a minha morte. Sem falar na Gabi e no Luiz, que também quase morreram. Está a fim de sentir essa culpa pelo resto de sua vida também? – eu apontava o dedo para sua cara.
- Tudo bem. Eu não vou sair por aí desenfreado procurando a minha morte.
Relaxei. Ele abaixou meu dedo e me puxou para mais perto de seu peito.
Quando Alex colocou essa hipótese, de sair procurando a psicopata, um medo extremamente forte me apertou. Percebi que eu havia feito o mesmo com ele. A dor de saber que pode perder a pessoa que ama, perder para sempre, é pior do que terminar o namoro.
Se da vez em que fui correndo atrás de Gisele Stoff tivesse pensando assim, teria terminado com Alex antes de infligi-lo a imensa dor de imaginar minha morte.
Era muito egoísmo.
Pela primeira vez pude sentir a dor que Matheus sentiu quando descobriu que o amor da sua vida não existia mais. Era pior que qualquer coisa.
Notei que a camisa de Alex estava molhada. Eram minhas lágrimas. Não tinha percebido que começara a chorar.
- Está chorando, Bia? – ele levantou meu queixo para poder ver meu rosto.
- Estava imaginando como seria minha vida se você...Morresse.
- É uma dor inimaginável. Não sabe o impulso que tive de me matar quando descobri que você tinha ido se encontrar com Gisele.
“Quando te vi viva naquela casa foi o maior alívio que senti. Eu já tinha planejado tudo: me vingaria de Gisele, depois me mataria”.
- E seus pais? Já pensou no quanto eles sofreriam? – perguntei desconfiada.
- Você pensou nisso naquele dia?
Abaixei o rosto para esconder a vergonha que sentia. Não! Essa seria a resposta.
Ele levantou meu rosto. Senti seus lábios doces tocarem os meus. Passei a mão por trás de sua nuca e me levantei de joelhos. Ele também se levantou, jogando-me deitada em cima da cama, e ficou de frente para mim.
- Te amo. – ele sussurrou em minha orelha.
Eu queria responder, mas não encontrava minha voz. Vendo Alex ali, em cima de mim, a única coisa que eu conseguia era desejar mais seu beijo.
Desta vez fui em quem limitou.
- Só daqui cinco anos. – falei com certa malícia.
- Será que aguento tudo isso?
- Foi você quem quis.
- Então você tem que parar de ser tão atraente assim.
Sentei na cama dando risada. Ele me fitava sem entender.
- Agora sou eu a abstenha? – perguntei.
Nós dois rimos ao mesmo tempo.
- Amanhã temos prova de física, vamos estudar? – sugeri.
- É. Isso pode ajudar a me distrair.
Ter Alex como professor particular era tudo de bom. Além de ser muito inteligente tinha uma beleza máscula, deixando qualquer uma hipnotizada.
Eram dez da noite quando saí da casa de Alex. Dirigia tranquilamente de volta para minha casa, imaginando que tanto de coisa Gabi já devia ter feito. Cheguei e ela já me esperava, a expressão ansiosa.
- Ficou tudo maravilhoso! – ela falou quando eu entrava em meu quarto.
- Como está? – tentei parecer igualmente entusiasmada.
- Parece um verdadeiro salão de festa. Contratei um DJ maravilhoso, a comida já está garantida, todos as pessoas já foram convidadas...Não é?
- Todas. – garanti.
- Muito bem. Tem uma imensa pista de dança e o espaço reservado para os presentes... Falando nisso... O que você comprou para meu irmão?
Gemi.
- Preciso falar com você sobre isso...
- Não acredito: Você não comprou!
- Comprei, mas preciso que você fale que o presente é de nós duas. Que você me ajudou a pagar.
- E o que é? – ela perguntou desconfiada.
- Você vai saber.
Ela semicerrou os olhos, mas não protestou.
Organizei o quarto de hóspedes para Gabrielli, depois fui tomar um banho e dormir.
Naquela noite tive um sonho estranho: No começo eu apenas andava pela rua em frente a minha casa. Parecia procurar por algo, mas não sabia o que. Até que disparei mais à frente da rua. Andei até parar no jardim da casa de Alex. O Astra não estava no lugar de sempre, então resolvi entrar. Somente Amanda e Gabi estavam, Renan estavam trabalhando.
“‘Onde está Alex?’ Perguntei”.
“Gabi me olhou surpresa, aquela não era uma pergunta que ela esperava. Nem Amanda, pois ela também me olhava com certa surpresa”.
“‘Ela já não está mais com a gente, não lembra, Bia?’ Gabi respondeu”.
“‘Foi para o exterior de novo?’ Perguntei exasperada”.
“‘Não, Bia.’ Foi Amanda quem respondeu ‘Não se lembra do que aconteceu com Alex?’”.
“Olhei para as duas, minha expressão confusa. Do que elas falavam?”.
“Um flashback se passou: Alex indo de encontro a uma psicopata e meu susto ao saber do assassinato dele. Desde esse dia tive de conviver em um mundo no qual Alex não existia”.
Acordei sufocada por minhas lágrimas. Aquela conversa com Rone e a outra com Alex tinha me perturbado. Quando aquilo teria um fim?
Olhei para o relógio, eram apenas cinco da manhã. Decidi tomar um banho. Tomei e desci para a cozinha. A empregada estava começando a fazer o café da manhã quando apareci.
- Já acordou, Bia? – ela perguntou – Ou é sonâmbula?
- Tive um pesadelo. – respondi, sentando ao redor da mesa.
- Quer contar como foi?
- Melhor não.
Varri o lugar com os olhos e me deparei com meu skate no canto da porta dos fundos. Peguei uma fruta e saí com o skate. Ainda estava amanhecendo quando saí. O céu estava um rosa-alaranjado. Eu estava com calça jeans clara; uma blusa da marca Fatal Girl de cor azul-escura e um par de tênis Olympikus.
Sabia que àquela hora não deveria estar na rua, muito menos sem avisar a minha mãe. Mas precisava esfriar a cabeça. O sonho tinha me atormentado...Muito.
Parecia que algo apertava minha garganta, fazendo ser impossível a respiração. Era isso que sempre e acontecia quando pensava em viver sem Alex.
Parei na praça principal e sentei, disposta a voltar só quando o dia amanhecesse. Apoiei o skate no colo, com as rodinhas viradas para cima. Ele era branco por baixo, com uma parte raspada formando um coração e o nome de Alex no centro. O nome estava quase se apagando, o raspado estava saindo. Peguei uma pedra do chão e forcei na parte de trás do skate, reforçando o nome de Alex.
Os carros começavam a passar constantemente na estrada; o céu já mudava sua cor, saindo do rosa-alaranjado e indo para o azul-amarelado. O relógio já marcava quase seis horas. Então devia voltar para casa.
Joguei o skate no chão e voltei deslizando pelo acostamento. Cheguei e me deparei com o Astra no jardim. Não podia ser! Ele já devia ter descoberto que Gabi estava lá.
Corri para a porta e entrei. Minha mãe esperava ansiosa na sala de estar.
- Onde você estava? – ela parecia brava.
- Estava sem sono. Onde está Alex? – perguntei desesperada.
- No seu quarto. – agora ela se acalmara – Estamos tentando manter ele longe da Gabi. Ela quase atendeu a porta, mas por sorte eu tinha percebido que era o som do Astra, então não a deixei atender e ela está trancada no quarto desde então.
- Desculpa. Não imaginava que ele viria aqui.
Corri pelas escadas e abri a porta do meu quarto subitamente. Alex olhou assustado para trás, pelo susto que levou.
- Você anda muito rebelde ultimamente. – ele falou sorrindo.
- Ah, desculpe. Estava com insônia, então resolvi refrescar a cabeça e você sabe que só sei fazer isso quando ando de skate.
Ele riu.
Corri para o closet e procurei algo bom para vestir para a escola. Encontrei uma blusinha branca de botões e uma saia balonê preta. Tirei a blusa e arranquei a camiseta com pressa.
- O que está fazendo? – Alex perguntou pasmo.
- Me arrumando para escola. – respondi naturalmente.
- E vai tirar a roupa na minha frente?
- Às vezes até esqueço que você preza por sua virtude. – respondi, pegando as roupas que iria colocar – Vou me trocar no outro quarto.
- Pode deixar que eu me retiro.
- Não! – praticamente gritei. – Eu vou.
Saí antes que ele protestasse. Atravessei o corredor com as roupas na mão e só com a parte de baixo vestida, acima só tinha o sutiã. Abri a porta do quarto em que Gabi estava e tranquei ao entrar.
- Onde você estava? – ela perguntou sussurrando.
- Foi mal! – falei trocando de roupa – Nem imaginei que ele viria agora. Mas ele não te viu, né?
- Não. Por sorte sua mãe reconheceu o barulho do carro.
- Vou tirar ele daqui e você corre para arrumar as coisas.
- Tudo bem.
Ela começou a analisar as roupas que eu colocara, uma das sobrancelhas erguida.
- É, você aprendeu direitinho sobre moda. – Gabi elogiou.
- Obrigada. – respondi saindo.
Voltei para o meu quarto com as roupas que tirara formando uma bola na minha mão.
Alex estava sentado em minha cama. Peguei um par de sapatilhas em baixo da escrivaninha e calcei.
- Vamos? – sugeri, pegando minha mochila.
- Não está cedo? – ele pareceu surpreso.
- É... – tentei inventar algo – mas preciso falar com... O... Professor de ginástica.
Foi à primeira desculpa que passou por minha cabeça.
- Por quê? – ele perguntou.
- Porque...Fiquei com uma dor na perna pela aula de ontem. Quero saber o motivo.
- Mas...
- Vamos. – interrompi, puxando-o pelo braço.
Desci as escadas arrastando-o. Encontramos minha mãe no jardim, conversando com Roberto, outra vez.
- Alex? – Roberto o chamou.
Nós dois nos viramos involuntariamente. Desde quando Roberto Valentyne conhecia Alex?
- Sim? – Alex pareceu tão surpreso quanto eu, mas mesmo assim respondeu com plena educação.
- Preciso falar com você. Passa no banco hoje à tarde?
- Passo sim.
- Sabe onde fica, não é?
Alex assentiu.
Entrei no BMW, enquanto Alex ia para o Astra. Dirigi monotonamente, pensando em um motivo para Roberto querer falar com o menino que seu filho – que não era de sangue – mais odiava. Talvez fosse ideia de Carla. Ela podia ter falado para ele ajudar no disfarce de Gabi.
Pensando assim, vi que Roberto faria qualquer coisa que minha mãe quisesse. Eles estavam juntinhos demais.
Estacionei ao lado de um Mercedes conversível vermelho; era o Mercedes SL 350 Sport de Suzana Winter. Ela estava sentada em cima do porta-malas, as pernas cruzadas e um amontoado de meninos ao redor.
Que ridículo! Que vulgaridade!
Alex estacionou ao meu lado.
- Isso não é justo! – ele declarou – Você corre só porque tem um possante e me deixa para trás.
Ele passou o braço por minha cintura e começou a fitar a multidão ao redor da loira vulgar.
- Para que tudo aquilo? – ele perguntou com desdém.
- Para ver se aquela saia minúscula dela revela alguma coisa. – respondi com indiferença.
Ela estava com uma minissaia jeans; uma blusinha decotada e um salto tão alto que parecia deixá-la um metro maior.
- Mulher oferecida é ridícula. – Alex declarou, me conduzindo para fora dali.
Pela visão periférica percebi que Suzana ficou ofendida pela falta de interesse de Alex. Sem querer, um sorriso se abriu no canto de meus lábios, fazendo Suzana ficar mais ofendida.
As aulas se arrastaram. Uma hora ou outra Alex jogava indiretas sobre o aniversário dele, mas eu fingia não entender. Pelo menos ele não tinha se lembrado da minha mentira então não me fez falar com o professor de ginástica.
Fui para a Marshel’s academia, enquanto ele ia para o Valentyne’s bank – o banco dos Valentyne. Matheus me dispensou mais cedo naquele dia. Na verdade, até ele estava ansioso pela festa. Desde minha festa de aniversário as pessoas esperavam por uma outra, envolvendo a família Vasconsellos – e todos pensavam que a festa era de organização minha.
Ajudei Gabi com os últimos toques. A pista de dança estava imensa; o globo de luz estava no lugar; o gigante bolo com velas em formato de 18 estava em cima da imensa mesa de comidas; e os convidados aos poucos chegavam.
Todos de Guarulhos já haviam chegado, a maioria do pessoal da escola também. Vi o Astra chegar no jardim e saí correndo para receber Alex. Ele me analisou com curiosidade.
- Para que o vestido? – ele perguntou.
Eu estava com um vestidinho azul escuro, simples.
- Está calor e ele é velho. – respondi, tentando parecer inocente.
- O que estava fazendo na garagem? – ele parecia desconfiado.
- Meu carro está estranho. Tentei ver o que era, mas não entendo nada de mecânica. Pode me ajudar?
Eu poderia ser uma excelente atriz!
- Sabe que eu não entendo muito de carros.
- Por favor?
- Tudo bem.
Peguei em sua mão e o conduzi para dentro da garagem. De fora ela parecia vazia, monótona. Ninguém podia imaginar que havia várias pessoas lá dentro e uma festa imensa aguardando.
Abri a porta e o coro de surpresa fez Alex pular. A garagem/ salão de festa estava lotada.
- Fez tudo isso? – ele perguntou para mim.
- Eu fiz praticamente tudo! – Gabi surgiu por entre as pessoas.
- Bi! – ele ficou surpreso com a aparição da irmã.
Eles se abraçaram no meio da pista.
- Coloca logo esse som, porque isso está muito meloso! – Max falou da mesa de comidas, a boca já cheia.
- Cara, espero que esse não seja o meu bolo. – Alex lhe lançou um olhar ameaçador.
Todos riram e começou as batidas de som.
Vários se direcionaram para a pista de dança, enquanto outros se juntavam a Max na mesa de doces. Gabi arrastou Alex para um canto do salão, ele me arrastava com ele, onde estavam os presentes.
- Estão todos os presentes aí. – Gabi falou – Ou quase.
Ela olhou para mim interrogativamente. De repente lembrei de meu presente.
- Gabi, preciso falar com você. – arrastei-a para longe de Alex – O presente já deve estar lá fora. Distraia o Alex enquanto eu coloco aqui em frente.
- Mas o que é?
- Você vai ver. Mas lembre-se, o presente é nosso.
Não esperei para ouvir sua resposta, saí correndo pela porta dos fundos. Paulo estava ao lado do Audi RS5 Cabrio, azul escuro. Preguei um pequeno laço vermelho no capô e aguardei Gabi aparecer na porta com Alex.
Logo as pessoas começaram a surgir do lado de fora da festa, inclusive Alex, com os olhos cobertos pela mão de Gabrielli. Muitos arfaram ao ver o presente.
- Espero que não seja muito grande. – Alex falou.
Encostei ao lado da porta, esperando Gabi abrir os olhos dele. Quando ela abriu o choque foi imenso em sua expressão.
- Bia! Ficou louca? – ele estava boquiaberto.
- Não pensei em nada melhor. – como se isso fosse desculpa.
Gabi correu para o meu lado. Ela tentava disfarçar, mas o choque também estava explicito em seu rosto.
- Você é doida? – ela sussurrou.
- Ele vai aceitar. – falei presunçosa.
Alex começou a admirar o carro. Primeiro olhou de relance, depois começou a olhar por dentro.
- Não vou aceitar isso. – ele concluiu.
- Já está pago. – choraminguei.
- Vocês duas pagaram?
- N... – cutuquei Gabi com o cotovelo – Sim! – ela corrigiu.
Ele pulou pela porta do motorista – já que a capota estava suspensa – e ligou o motor.
- Isso é demais! – ele arfou – Mas já tenho um carro.
- E daí? Pode ter outro. – falei.
- Só aceito porque já está pago...E porque é fascinante.
Eu e Gabi comemoramos. Depois de admirar o carro todos voltaram para a festa. Enquanto andava ouvi duas garotas atrás de nós cochicharem:
- A cada festa é um carro diferente. Aphf!
- Esse é o luxo dos Vasconsellos e daqui a pouco os Bittencourt também ficam famosos por extravasar dinheiro. – a outra falou.
- Quem vê pensa que carro é um presentinho simples. Principalmente BMW e Audi.
Fingi não ter escutado e entrei para a festa. Alex me conduzia pela cintura, enquanto conduzia a irmã pelo ombro com o outro braço.
Comentem o capítulo ali embaixo!
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