4- CINCO ANOS
Foi horrível decidir que roupa usar. Eu não conhecia os amigos de Alex, não sabia o que eles pensariam quando me vissem com tal roupa. Como estava calor, decidi colocar um short jeans escuro; uma blusinha rosada caiada no ombro direito e um tênis Reebok sem amortecedores, branco. Penteei os cabelos e os deixei solto, caindo em ondas, cor de caramelo, até metade do ombro.
Desci as escadas aos pulos. Alex já me esperava na sala de estar. Carla conversava com ele, parecendo satisfeita com nosso programa de fim de semana.
- Está bonita demais para os meus amigos. – Alex elogiou.
Corei sem resposta.
Ele pegou em minha cintura e me conduziu até o BMW, enquanto eu me des-pedia de minha mãe. Sentei no lado do carona, deixando Alex assumir a direção.
- Para onde vamos? – perguntei eufórica, enquanto saímos do jardim de minha casa.
- Guarulhos. Meu antigo bairro. – ele respondeu com um sorrisinho torto – Uma hora até lá.
- Trinta minutos com este carro. – corrigi.
Ele riu, depois pegou o celular no bolso e começou a discar, sem tirar os olhos da estrada. Em seguida colocou no viva-voz e apoio-o no painel.
Alô? – uma voz que eu já ouvira atendeu.
- George! É o Alex de novo. – Alex respondeu.
Fala! Já “ta” vindo?
- Estou sim. Em meia hora chego aí. Onde vocês vão estar?
Naquela praça que a gente costumava ir. A Fátima, a Marcela e a Patrícia vão estar também.
- Ótimo! Assim todos conhecem minha namorada. Vocês vão babar quando verem ela. É linda demais. – ele falou com um sorriso maroto para mim.
Ainda não acredito, mas vamos ver, né?
- É. Agora vou desligar. “Falô”, George.
“Falô”.
Ele desligou e voltou a fitar a estrada com atenção. Fiquei olhando através do para-brisa a paisagem que sempre mudava com muita rapidez.
- Vai me mostrar sua antiga casa ou tem gente morando lá? – perguntei.
- Não. Ninguém mora lá. Minha mãe tem fortes lembranças com aquela casa, então não quis vender. Eu vou te mostrar sim.
Assenti com satisfação.
Eu estava extremamente nervosa. Agora não era apenas os amigos dele que eu conheceria, as antigas admiradoras dele também. Sem dúvidas que elas me odiariam e me fuzilariam com os olhos. Mas eu estava preparada. Estava preparada para curtir com a cara delas.
- Estamos chegando? – perguntei com impaciência.
- Mais dez minutos. – Alex me garantiu.
Vasculhei minha pilha de CDs atrás de algum eletrônico. Encontrei um do DJ David Guetta, coloquei no som do carro e aumentei de um jeito que se tornasse agradável. Alex me olhou com reprovação.
- O que aconteceu com o CD que te dei?
- Está no som ao lado da minha cama. Costumo ouvir antes de dormir.
Ele riu.
- Obrigado por ser tão delicada com meus gostos musicais. – ele disse com sarcasmo.
- Já ouviu realmente os CDs de música eletrônica e hardcore? – perguntei, relembrando quando ele me fez a mesma pergunta sobre música erudita.
Ele não respondeu, assim como eu fiz antes.
- Era o que eu imaginava. – respondi com escárnio.
Ficamos alguns minutos em silêncio, enquanto o carro sacudia com as batidas do som.
A paisagem corria linda ao nosso redor. Uma hora ou outra eu esquecia da música para olhar os prédios da imensa São Paulo.
Alex virou em uma esquina cheia de casas e poucos prédios, depois parou no meio-fio ao lado de uma imensa praça, abarrotada de gente.
- Já chegamos? – agora o nervosismo encobria a impaciência.
- Sim. Eles devem estar perto do playground. São grandes, mas ainda amam um parquinho.
Ele abriu a porta e desceu, fiz o mesmo.
- Entra de novo. – Alex falou – Vou estacionar em um lugar melhor.
Dei de ombros e entrei no carro. Alex ligou o carro e começou a rodar pela praça atrás de uma vaga. Ele parou ao lado de um grupo de adolescente sentados no capô e de um Palio Fire vermelho.
- O velho carro do George. – Alex declarou.
- São eles? – perguntei olhando através do vidro escuro.
- São.
Ótimo. Veriam-me logo de primeira.
- Você desce primeiro. – falei.
Ele assentiu e desceu.
Reparei que todos no Palio olhavam meu carro com a boca escancarada. Pior que não eram só eles, todos próximo ao estacionamento olhavam de olhos arregalados. Não era para menos, o BMW reluzia em meio a todos os outros carros.
Alex desceu e os olhos dos adolescentes no Palio se arregalaram mais.
- Esse carro é seu? – um dos garotos perguntou, abismado.
- Claro que não, George. Estou morando em um bairro mais luxuoso, mas não fiquei tão rico assim.
Eles se cumprimentaram. Notei que George tinha o corpo igual ao de Alex, mas os cabelos eram de um tom estranho de marrom-acinzentado; os olhos eram castanho-claros e a voz não tão grave.
- É de quem então? – George perguntou.
Decidi que já estava na hora de sair do carro. Abri a porta com cautela e desci. Todos os olhos se voltaram para mim, analisando-me da cabeça aos pés. As meninas me olhavam com indiferença, já os meninos... Esses olharam com incredulidade e admiração.
- Dela. – Alex respondeu gesticulando para mim.
Senti meu rosto começar a corar. Parei ao lado de Alex, fuzilando-o com os olhos. Agora sim que todos não parariam de olhar para mim.
- Gente essa é Bia, minha namorada.
As meninas fecharam mais a cara.
- Bia, esse é George. – ele apontava para cada um que dizia o nome – Esse é Carlos. – ele era alto, o corpo muito magro e os cabelos extremamente pretos, não era muito bonito. – Esse é Pedro. – ele era bonito, tinha os cabelos pretos feitos em topete na frente, um sorriso torto parecido com o de Alex, mas que abria em covinhas ao lado do rosto. – Essa é Fátima. – ela era do meu tamanho, mas tinha o corpo mais magro, os cabelos loiros em camadas e os olhos escuros. – Essa é Marcela. – ele apontou para a mais bela de todas; ela tinha os cabelos com tom de mel, os olhos azuis, mas a pele era morena de um jeito cremado de dar inveja e o corpo de atleta. – E por fim, Patrícia. – ela era muito pálida para os cabelos negros, os olhos não eram tão belos e o corpo era magro demais.
- Prazer. – falei por fim.
- O prazer é completamente nosso. – Pedro respondeu e uma voz sedutora.
Alex soltou um pigarro.
- Você é mesmo namorada dele ou ele te pagou para fazer esse papel? – George perguntou desconfiado.
- Há quase um ano. – respondi.
- Quem pediu? – foi à vez de Carlos perguntar.
- Claro que fui eu. – Alex respondeu como se isso já fosse óbvio – Foi difícil, mas consegui.
- Difícil? – Fátima perguntou com incredulidade. Ela tinha uma voz horrívelmente nasal.
- É. Foi mais de meses para ela finalmente me notar, depois quase um ano para enfrentar uma família inteira.
- Seus pais não aprovaram? – foi à vez de Marcela perguntar. Ela tinha um tom de malícia na voz, parecia feliz com a ideia de os pais de Alex não gostarem de mim.
- Meus pais amaram a Bia. Foi o pai dela que não gostou de mim e toda a família Valentyne.
- Você é uma Valentyne? – George perguntou abismado, os outros também viraram para ouvir minha resposta.
- Não. – arfei – Mas meu ex-namorado é. – ou era.
A boca de todos escancarou. Então os Valentyne eram famosos em Guarulhos?
- Você...Namorou...Rodrigo...Valentyne? – Marcela perguntou pausadamen-te.
Assenti confusa.
- O Conhecem? – perguntei.
- Todas as revistas de glamour falam sobre os Valentyne. Rodrigo é famoso pela coleção de carros luxuosos. Ele coleciona mesmo? – Marcela continuou.
- De todas as marcas e potências possíveis. – Alex respondeu.
- Já viu ele? – Carlos perguntou.
- Já soquei a cara dele.
Todos arregalaram os olhos.
- Mas ele é imenso, como bateu nele? – Pedro parecia intrigado.
- Ele é imenso, mas é um só. Tirando a gangue que tem...
- Ele tem gangue? – Fátima perguntou.
Falamos sobre os Valentyne por horas. Tínhamos saído do estacionamento para sentar no meio da praça. Sentamos ao redor de uma mesa de piquenique, todos atentos ao que eu e Alex falávamos.
- Mas os Valentyne se envolveram em um escândalo no mês passado. – Patrícia falou.
Eu já tinha parado de dar atenção à conversa, quando ela disse isso.
- Verdade. – Marcela concordou – Um problema entre a família Valentyne e a família Vasconsellos, outra família muito famosa.
Comecei a fitar a mesa, imaginando por quanto tempo fomos e ainda seriamos motivo de fofocas. Alex me olhou com cautela.
- Falei algo errado? – Marcela observou.
- Só falou a verdade, nada mais que a verdade. – minha voz estava derrotada – Eu, sou Beatriz Vasconsellos.
Desta vez me fitavam surpresos.
- Desculpa. Eu não sabia. – Marcela se desculpou.
- Tudo bem. É a realidade.
Contei tudo que aconteceu com minha família. Todos pareciam igualmente interessados. Fiquei feliz por finalmente me integrar no grupo, embora aquela não fosse a melhor conversa para se começar uma amizade.
- Me conta, como é o apaixonado Alex? – Marcela quis saber. Percebi que ela me recebia bem, tinha um jeitinho que eu já conhecia, me lembrava Nanda.
Alex revirou os olhos.
- É. Só conhecemos o fechado, antimulheres e descomprometido Alex. – Fátima me estimulou a responder.
- Sabe aqueles filmes antigos, em preto e branco em que o galã leva flores para conquistar a moça e quando conquista fala coisas bonitas, que dá presentes assustadores e que você pode confiar mesmo ele estando perto da garota mais linda do mundo? – falei isso pensando em Suzana – Então, esse é o aberto, a favor das mulheres e comprometido Alex.
Alex desabou na mesa com o rosto extremamente corado. Carlos, Pedro e George bagunçaram seu cabelo com irreverência, já Marcela, Fátima e Patrícia suspiravam de admiração.
- Ele é mesmo assim? – Patrícia perguntou.
- Sim. Leva para jantar, abre a porta do carro, não fala palavrão e nunca, nunca mesmo me desrespeitou.
- Um verdadeiro príncipe. – Fátima suspirou – Por que você não aceitou namorar comigo? – ela acusou Alex.
- Nenhum defeito? – Marcela perguntou.
- Só um. – elas ergueram a sobrancelha, até Alex parou para ouvir minha resposta – A abstinência.
- Verdade. – George bateu o punho na mesa – Esse é o maior defeito dele.
- Como sabe disso? – perguntei desconfiada.
- Cala a boca. – Alex ameaçou o amigo.
- Não contou para ela? – George perguntou.
- Por que contaria?
- Contar o quê? – interrompi.
- A festa de quinze anos que fizemos para ele.
Respondi que não, George fez sinal de reprovação.
- Ele sempre foi assim: “Sexo só depois do casamento!” – ele imitou a voz de Alex – Então para fazê-lo cair na tentação, o levamos para comemorar seus quinze aninhos em uma boate.
Minha boca se escancarou.
- E o que aconteceu? – não consegui reprimir o surto de ciúmes que me deu.
- Cada mulher que se oferecia para essas coisas ele chamava de vulgar ou prostituta. – foi Pedro quem respondeu – Pior que todas deram em cima dele.
Suspirei aliviada.
- Acho a abstinência uma coisa muito bonita. – Marcela declarou.
- Mas você não pode mais se tornar uma abstenha, baby. – Pedro falou passando o braço em seu ombro.
- Pedro! – ela chamou sua atenção com o rosto rubra.
Todos riram.
- Bom, vou levar Bia para conhecer minha antiga casa. – Alex falou se levantando.
- Vão voltar aqui? – Carlos perguntou.
- Se der tempo.
Alex passou o braço em minha cintura e começou me conduzir de volta ao BMW.
- Ah! Bia? – George gritou – Esse carrão é mesmo seu?
- Presente de aniversário. – respondi presunçosa.
- Uau! Um ActiveHybrid7. – ele arfou.
Virei e entrei no carro. Alex sorria satisfeito.
Andamos mais alguns metros até parar em frente a uma casa linda, pequena, mas linda. Era toda de madeira, tinha uma bela varanda rodeando; de dois andares. Era cercada com alambrado, mas o portão de madeira clara deixava a entrada ainda mais bela.
Desci do carro enquanto Alex destrancava o portão com uma chave que tirara do bolso da calça. Andamos de mãos dadas pelo pequeno gramado, até a varanda, onde ele destrancou a porta e gesticulou para que eu entrasse primeiro. Entrei na ampla sala, parecia tão grande quanto na sua casa atual.
Alex fechou a porta depois veio se postar ao meu lado.
- Esse lugar me fez lembrar de minha infância. – sua voz saiu entrecortada.
- É tão aconchegante.
- Não tínhamos muito dinheiro, mas éramos felizes aqui. Sempre que eu ficava deprimido sentava embaixo da escada e começa a pensar em como seria boa a minha vida se eu tivesse uma casa igual àquelas de Alphaville.
- Por que ficava deprimido?
- Às vezes porque brigava com Gabi, às vezes porque tinha enjoado de meus brinquedos e não podia comprar novos, ou por simples sonho de ser rico.
- Eu também costumava ficar deprimida quando era criança, mas era porque meu pai nunca estava em casa para me ensinar a andar de bicicleta, ou porque eu não tinha muitas amigas, as meninas não gostavam de mim. Então eu me enrolava no meio dos meus ursos de pelúcia e começava a imaginar como seria minha vida se meu pai fosse um simples pedreiro chegando às cinco da tarde em casa, beijando a minha mãe dona-de-casa e me levando para andar de bicicleta. Sempre imaginei que seria em uma casa assim.
- Seu sonho era ser pobre?
- Não. Meu sonho é que meu filho aprenda a andar de bicicleta.
Percebi que começavam a escorrer lágrimas de meus olhos. Minha infância não era algo em que gostava de me lembrar. Alex me abraçou.
- Se depender do pai, nosso filho vai aprender a andar de foguete.
Ri com a ideia.
- Isso não seria saudável para uma criança. – falei.
Tremi em seu peito enquanto ele ria.
- Então você é uma profissional do skate, mas não sabe andar de bicicleta? Interessante.
Eu sabia que ele estava tentando me distrair. E conseguiu.
- Nem se a bicicleta tivesse rodinhas. – respondi.
Ele pegou em minha mão e começou a me levar para o segundo andar. Lá em cima a madeira rangia, mas não era para menos, a casa estava inabitada há muito tempo. Paramos na porta no fim do corredor. Alex abriu e nós entramos.
- Meu antigo quarto. – ele falou sorrindo.
O quarto tinha uma pequena cama – maior que um berço e menor que uma de solteiro –, no canto tinha uma estante cheia de brinquedos.
Alex pegou todos os brinquedos da estante e os espalhou pela cama.
- Meus velhos brinquedos.
Sentei-me ao lado dele, vendo os brinquedos e lembrando a foto em que ele brincava com cada um deles. Comecei a imaginar nosso filho naquela cama, com aqueles brinquedos, naquela casa. Seria lindo.
- Seria maravilhoso se viéssemos morar aqui depois que nos casarmos. – falei – Imagina como sua mãe ficaria.
- Ela explodiria de emoção. Mas pensei que fossemos morar em uma mansão. – ele respondeu brincando.
- Para meu pequeno Alex Júnior crescer sem saber andar de bicicleta? Não.
- Nosso pequeno Alex Júnior não só vai aprender a andar de bicicleta como também vai assistir a jogos do “timão” no estádio. Ou se for menina... Bom, aí já terei de comprar armas.
- Armas? – sobressaltei.
- É. Para expulsar qualquer garoto que se aproximar da minha pequena Beatrice.
- Beatrice?
- É um nome muito lindo e é parecido com o seu. Não existe Beatriz Júnior, então vai Beatrice.
Abaixei meu rosto corado, mas ele pegou em meu queixo e o levantou, depois seus lábios tocaram os meus em um beijo rápido.
- Quer mesmo morar aqui? – ele semicerrou os olhos.
- Só por um tempo. Para termos uma vida de marido e mulher, antes de nos tornarmos executivo e esposa de executivo.
- Acha que vou me tornar um marido igual ao que seu pai foi para sua mãe, não é?
- Só quero ter uma vida que nunca tive e que você pode me dar.
- Vou pedir para dar uma reformada, mas sem mudar nada, e vamos morar aqui pelo tempo que você quiser.
- Sério? – perguntei levantando da cama.
Alex também levantou e pegou minhas mãos.
- Com uma condição. – ele fitava o fundo de meus olhos.
- Qual?
- Que você se case comigo no mesmo dia em que se formar na faculdade.
- Condição mais do que aceita.
Passei o braço em seu pescoço e ele apertou minha cintura, fazendo meus pés saírem do chão, depois me girou em um abraço-de-urso.
Soltamos de nosso abraço. Ele pegou minha mão direita e tirou o anel de namoro que me dera há seis meses atrás.
- O que está fazendo? – perguntei.
- Se você não reparou acabei de te pedir em casamento e você disse sim, então esse anel prateado não representa mais o que somos. Você agora é minha noiva, mesmo que seja durante cinco anos, mas é.
- Não quero que compre um anel de brilhantes para mim. – falei com aspereza.
- Agora é tarde.
Ele tirou uma caixinha preta do bolso e abriu para mim. Tinha um pequeno anel com várias pedras vermelhas rodeando.
- Rubis? – minha voz subiu duas oitavas – Tinha que escolher a pedra mais cara?
- Na Inglaterra são mais baratas. – ele deu de ombros como quem se desculpava – Vai usar?
- Claro que vou.
Ele pegou minha mão esquerda e colocou a aliança em meu dedo. Estava preparado para colocar a dele em seu próprio dedo, quando a peguei e coloquei eu mesma.
- Minha mãe vai ficar derretida quando eu contar. – ele falou, analisando o anel em meu dedo.
- Não vamos contar aos meus pais agora, não é? – perguntei.
- Agora não precisa. Porque vamos fazê-los ficar grisalhos agora se só vamos casar daqui a cinco anos?
- Você faz parecer uma eternidade.
- E não é?
- Podemos nos casar no fim desse ano. – sugeri.
- O que aconteceu com seus planos?
- Posso realizar meus sonhos estando casada com você. A única diferença será que estaremos morando juntos.
- Isso geraria fofocas e eu nunca vi uma profissional do skate casada.
Rimos juntos da ideia de uma esposa-skatista. Depois ele me abraçou de novo e voltamos a girar, agora em um beijo. Aquele daria um ótimo beijo para um filme romântico.
- Está ficando tarde. Vamos? – ele sugeriu, me soltando.
- Vamos.
Descemos para o primeiro andar. Andei até a cozinha para conhecê-la; era tão aconchegante. Depois saímos para a pequena varanda. Parei no gramado para admirar a bela casa, minha futura bela casa.
Voltamos à imensa praça para despedir dos velhos amigos de Alex e meus novos amigos. Já estávamos arrancando com o carro quando Marcela parou ao lado de minha janela.
- Cuide bem de nosso garoto, hein. – ela pediu para mim.
- Claro. – de repente senti que seria extremamente difícil manter aquela promessa.
- E se me permite dizer: Alex, a cada vez que te vejo você está mais lindo.
- Igualmente, Marcela. – ele respondeu corando.
Nos despedimos e saímos, agora com a escuridão tomando tudo.
Tínhamos almoçado com os amigos de Alex, todos com muita irreverência, até mesmo as meninas que eu tinha certeza que me odiariam por estar namorando Alex.
Notei que eu gostava mais dos amigos dele do que dos meus. Sempre me dei bem com Max e Luiz mais do que com Iza, Nani e Caio; e convivi melhor com aqueles do que com Nanda e sua imensa república, embora todos tenham sido ótimos comigo.
Estiquei minha mão esquerda para admirar meu novo anel. Não era certo para uma menina de dezoito anos, mas se só valeria a daqui cinco anos, então que problema tinha?
Imaginei nós dois a daqui cinco anos, morando naquela casa, aberta, reformada e com nosso Alex Vasconsellos Bittencourt Júnior e nossa Beatrice Vasconsellos Bittencourt. Seria a melhor coisa do mundo.
Eu devia ser anormal. Toda mãe sonhava em dar uma boa casa para seus filhos, uma boa escola e um bom futuro. Meu sonho era que meus filhos aprendes-sem a andar de bicicleta, com o pai. Isso deixa uma criança mais feliz do que qualquer dinheiro do mundo.
Virei meu corpo para apoiar no banco de modo que visse Alex dirigindo. Senti minhas pálpebras pesadas, lutei contra elas. Estiquei por sobre o encosto de banco para pegar meu notebook no banco de trás. Liguei para tentar distrair o sono. Na página inicial da Internet a manchete chamou minha atenção.
- Alex, ouça isso: Preso o cúmplice da acusada do sequestro de Beatriz Luiza Vasconsellos, filha do empresário Paulo Ricardo Vasconsellos, há três meses atrás.
“Ronaldo Janell Scarp foi preso há quatro horas atrás. Ele era o único cúmplice foragido do caso de sequestro da filha do empresário. A acusada e verda-deira sequestradora ainda está foragida. A recompensa pelo paradeiro de Gisele Stoff é de R$ 10.000,00”.
- Aquele grandalhão que se amoleceu por você? – ele pareceu surpreso.
- É. Alguma coisa aconteceu. Gisele não ia abandonar ele assim. Pior que tem mais: Ronaldo se entregou dizendo que não aguentava mais conviver com a psicopata e que não podia dizer nada sobre ela, em nome de sua vida, mas disse: “Ela está pior do que nunca. O desejo de vingança é assustador”.
Senti meu corpo estremecer.
- Se entregou? – Alex começou a refletir, olhando através do para-brisa escuro.
- Rone está preso. – repeti a frase, tentando acreditar nela.
Isso era quase impossível, mas aconteceu. Ela deixou acontecer.
Comentem o capítulo ali embaixo
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