terça-feira, 5 de julho de 2011

Capítulo 2



2- ALGO QUE EU JAMAIS SENTIRA


            Levantei com dor nos braços, e com os olhos inchados. Olhei-me no espelho e me senti péssima. Estava pálida, com olheiras e pior, com os pulsos roxos.
            Olhei pela janela e lá estava Rodrigo em seu novo brinquedinho que havia ganhado do pai milionário – o maior banqueiro da cidade – um BMW 118i prateado.
            Desci para me arrumar, tomei o café da manhã e saí. Entrei no carro sem falar nada. Ficamos em silêncio por um longo tempo até que me manifestei:
            - Não tinha nada mais chamativo não? – perguntei irreverente.
            Ele deu risada e respondeu com bom humor:
            - Sou humano também, quero me exibir um pouquinho.
            Nós rimos e fomos para a escola.
            Ele estacionou ao lado de um Vectra que o professor Bruno exibia, mas que logo foi esquecido por todos que passaram a admirar o BMW ali.
            - Fez isto de propósito, né? – perguntei rindo.
            - Sim, fiz, amei meu presente e quero exibi-lo.
            - Precisa desfazer do professor assim? Coitado.
            - Rá! Rá! – ele deu uma gargalhada.
            Saímos juntos como se nada tivesse acontecido ontem. Entrei na sala e sentei longe de Alex, perto da Nani. Eu estava a fim de provar para todos que Alex era só um colega de classe.
             Ficamos conversando durante muito tempo, até a hora em que a professora Lucia entrou e ordenou que sentássemos na dupla do trabalho. Ele se sentou ao meu lado rapidamente, mas evitei olhar para seu belo rosto. Não queria que ele me visse de olho inchado. Coloquei a toca da blusa sobre a cabeça, assim seria mais fácil esquecer ele ali. Ficamos quietos por uns instantes até que ele interrompeu:
            - Então! Faremos o trabalho aonde hoje?
            - Não sei, você quem sabe. – respondi sem olhar em seus olhos negros.
            Ele não falou mais nada, talvez tivesse percebido meu humor sombrio. Estiquei mais a toca sobre o rosto, isso ele notou:
            - O que foi? Você está estranha.
            Encolhi-me e disfarcei, mas foi inútil, ele logo percebeu um problema em mim.
            - O que é isto em seu pulso? Ele está roxo.
            Percebi que eu tinha jogado os braços em cima da mesa, mostrando o grande hematoma em meus pulsos.
            - Não é nada. Caí ontem. – tentei mentir.
            Puxei as mangas da blusa por sobre o hematoma.
            - Isso não é marca de tombo, e sim de um aperto muito forte. – disse ele, me analisando.
            - Não, é serio. Caí da escada.
            - Arrã! – disse ele desistindo
            Ele continuou fitando meus pulsos com uma expressão angustiada, como se tivesse culpa.
            Parei de tentar decifrar sua expressão. A cada minuto mudava. Uma hora ele estava revoltado, outra deprimido. Eram irreconhecíveis às vezes.
            Achei que ele havia desistido, mas logo recomeçou:
            - Foi ele não é? Aquele idiota?
            - Não sei do que você está falando. – respondi olhando para frente
            - Olha para mim!!! – exigiu ele com voz grossa.
            Eu olhei e ele abaixou a cabeça.
            - Ele não gostou de você ter ido lá em casa, né? – perguntou com expressão vazia.
            Eu tinha alternativa a não ser dizer a verdade?
            - É. – respondi.
            - Ele te bateu?
            - Não, só me segurou com força.
            - Isto também não é bom.
            Fiquei quieta o resto da aula. E pude ver pelo canto do olho que ele encarava fortemente o meu pulso, sua expressão era de raiva e lamentação.
            - O que está pensando? – perguntei rompendo o silêncio.
            - Que ele não te merece.
            - Só? Você não ficou este tempo todo só pensando nisto.
            - É! Você está certa, tem mais...
            - Então fala. – falei olhando para baixo.
            - Eu estava me perguntando... Por que está com ele?
            - Eu gosto dele! – neste momento parece que um nó apertou a minha garganta.
            Ele ficou em silêncio até bater o sinal. Quando tocou ele se retirou sem se despedir, nem olhar para trás. Simplesmente saiu. Isto me fez ficar de mau humor, e também saí sem falar nada. Fui embora sem me despedir das minhas amigas, ou até mesmo de Rodrigo.
            Eu estava com uma raiva imensa, queria descontar no primeiro que me aparecesse, mas não sabia o porque. Não havia motivos para tanta raiva, só se tivesse haver com Alex. Ri comigo mesma.
            Era impressionante como eu estava me rendendo muito fácil para aquele estranho que conhecera há poucos dias.
Cheguei em casa chutando tudo, com a maior cara feia.
Vi meu skate encostado no canto da parede da sala, peguei-o e saí sem rumo, decidida a voltar só às sete. E fiquei assim o resto da tarde, até chegar sete horas.
Enquanto andava pela cidade, fiquei refletindo: Por que toda vez que Alex me tocava, falava comigo ou qualquer outra coisa dele me arrepiava? Por que com ele eu esquecia meus problemas, inclusive Rodrigo? Por que eu o estava comparando com meu namorado? Não dava mais para continuar assim, eu teria que dar um basta. Iria me afastar de Alex.
Quando coloquei esta hipótese uma estranha dor no peito me atingiu. Eu estava dependente dele, não poderia esquecê-lo. Já era tarde demais! Algo estava acontecendo... Dentro de mim.
Voltei para casa e estranhamente fiquei esperando ele chegar. A campainha tocou e minha mãe atendeu, pude ouvir do meu quarto uma voz encantadora, falando educadamente:
            - Boa noite Dona Carla. – aquela voz me animou.
            - Boa noite! Só Carla lembra? – minha mãe respondeu com entusiasmo.
            - Claro! Só Carla. – repetiu ele – A Bia está aí?
            - Sim! Pode subir, ela ficará feliz em vê-lo, está mal humorada o dia inteiro. – cochichou ela.
            Fez silêncio por alguns segundos e depois alguém falou atrás da minha por-ta, com uma voz gentil e grave:
            - Posso entrar?
            - Alex? Claro que pode. – falei sem disfarçar minha felicidade. – Pensei que estava bravo comigo...
            - Bravo não! – disse ele se sentando no chão ao meu lado. – Só chateado, pensei que você fosse diferente.
            - Como assim? – perguntei tentando entender sua expressão.
            - Você só está com ele porque ele é popular. Ou tem outra coisa aí no meio, posso ver em seus olhos que você não gosta dele.
            - Me disseram que você era inteligente, mas não sabia que era tanto.
            - Então tem alguma coisa ai, né?
            - Sim. – afirmei quase chorando. – Meu pai. Ele quer que a gente se case. Diz ele porque acha o Rodrigo um bom rapaz, mas eu sei que é só pelo dinheiro que ele tem guardado no banco. E também, no começo, era divertido namorar o menino mais cobiçado entre as meninas, mas agora não é mais.
            - Por quê? – perguntou ele, segurando a minha mão.
            - Porque agora eu tenho que esconder meus reais sentimentos. – respondi involuntariamente.
            - Fale para o seu pai o que pensa.
            - Eu gostaria, mas... – neste momento Rodrigo entrou no quarto e nos viu, sentados no chão, quase abraçados.
            - Ele é só um amigo, né? – gritou ele com os olhos vermelhos.
            Levantei assustada e antes que eu dissesse algo ele veio para cima de mim, Alex o segurou, mas ele continuou gritando:
            - Bia. Estou cansado disso, se livre dele agora!
            Minha mãe apareceu já insinuando para Rodrigo:
            - De novo Rodrigo? – gritou ela – Ontem você estava apertando-a e hoje quase batendo.
            - Não estou batendo. – protestou ele.
            - Porque o Alex está te segurando. Se retire Rodrigo, por favor! – ordenou ela.
            Ele saiu jogando Alex, que bateu forte no chão. Minha mãe o seguiu.
            - Desculpe pela situação constrangedora. – eu disse, com uma expressão vergonhosa para Alex.
            - Não foi culpa sua! – disse ele me puxando para seus braços. – Vamos terminar o trabalho?
            - Sim.
            Continuamos nos divertindo com o trabalho e terminamos naquele dia.      Estava cedo então resolvemos passear um pouco para esquecer os problemas daquele dia. Fomos até uma praça que tinha perto de casa. Aquele dia estava calor, agradável para andar. Sentamos em um banco e começamos a conversar.
            - Será que iremos tirar uma nota boa com esse trabalho? – perguntou ele puxando assunto.
            - Acho que sim, modéstia parte, está muito bom.
            Ele riu.
            - Desculpa por hoje ta bom? – falei sussurrando.
            - Que nada, esquece! – ele me abraçou.
            Estávamos sentados a alguns centímetros de distância, ele se aproximou e perguntou sem muito entusiasmo:
            - E agora, o que você vai fazer? Terminar ou desculpar ele outra vez?
            - Não sei. Tenho medo de terminar e meu pai se alterar e também tenho medo de desculpá-lo e ele tornar a fazer.
            - Ele é do tipo violento e parece estar se segurando. Já pensou se ele se revoltar e descontrola?
            - Já. E é disso que tenho medo.
            Ele me abraçou mais uma vez. Começou a esfriar na praça e decidimos ir embora. Estava escuro, então ele me levou até perto de minha casa e depois seguiu sozinho para a própria casa.

            De manhã um carro preto estava parado em frente a minha casa. Pensei que era Rodrigo, mas logo vi que era um Celta. Ele nunca viria de Celta. Me arrumei e saí correndo para ver quem era.
            Alex estava no banco do carona e Gabi – a irmã, diferente, dele – no volante.
            - Oi, vieram me buscar hoje? – perguntei com irreverência.
            Percebi que eu acordara mais feliz. Minha voz parecia mais otimista.
            - É, pensei que seu namorado não viria e acertei. – disse Alex numa voz grave.
            - E para isso precisava incomodar a Gabi? – falei já entrando no carro.
            - Que incomodar nada. Já ia sair mesmo, só aproveitei. – respondeu ela educadamente.
            - Então obrigada. – agradeci.
            Chegamos na escola, agradeci Gabrielli mais uma vez por ter poupado uma caminhada que me faria chegar atrasada. Alex me esperou sair do carro e entramos na sala juntos.
            A primeira aula foi de biologia então tínhamos que apresentar o trabalho. Notei que ele não estava muito feliz com isso.
            Fizemos uma boa apresentação. Nós dois ganhamos notas altas, as melhores da sala. Mas mesmo assim ele estava com a expressão triste.
            - O que foi? – perguntei por fim, quando voltamos aos nossos lugares. Estávamos sentados juntos.
            - Estou chateado. – ele respondeu fitando o chão.
            - Por quê? Foi por ontem? – eu tinha certeza.
            - Não. Porque não tenho mais desculpa para ficar perto de você. Já que o trabalho terminou.
            As palavras dele me fizeram corar, mas fiquei muito feliz. Parecia que ele pensava do mesmo jeito que eu.
            Algo fez minha espinha tremer, os pelos dos meus braços se eriçaram e meu estômago se revirou, como se borboletas voassem dentro de mim.
            - Tem sim. Podemos continuar saindo. Você é meu melhor amigo.
            Melhor amigo! Rá! Nunca vi um melhor amigo ter um efeito tão modificador dentro de alguém.
            - Ah! – foi o máximo que ele respondeu.
            - Vou a sua casa hoje. Pode? – eu sugeri tentando mudar o clima entre nós.
            - Claro que pode, vai sim. – respondeu ele animado – Mas e seu namorado?
            - Esquece ele. – eu disse rindo.
            Depois da aula, passei a tarde com minhas amigas na escola. Alex não estava perto, na verdade eu nem sabia onde ele estava. Só sabia que ele ainda estava no colégio, porque entrara na secretaria e ainda não tinha saído – eu já o estava vigiando.
            Estávamos no pátio conversando alegremente até Rodrigo aparecer e me chamar. Andamos até o jardim enfrente ao pátio.
            - Desculpe por aquilo que fiz ontem, foi sem pensar. – disse ele olhando para o chão.
            - De novo? Até quando você vai fazer besteira e depois pedir desculpas? Não aguento mais.
            - Como é? Você não está...
            - Estou. – interrompi – Termino com você Rodrigo.
            Falei sem pensar de verdade, mas vi que minha decisão estava tomada. Não dava para continuar com ele. Eu não queria.
            Ele me olhou com raiva e manifestou:
            - Você quem sabe. Só aguente as consequências.
            - É uma ameaça? – perguntei nervosa, mas ele saiu sem responder.
            Fiquei alguns instantes do mesmo jeito que estava quando conversava com Rodrigo. Eu nem acreditava que tinha terminado com ele.
            Acabou!
            A única coisa que eu pensava.
            Virei-me para voltar ao pátio, quando vi Alex parado a alguns metros de mim. Andei em sua direção e me encostei ao seu peito, ele me abraçou forte.
            Impressionante que eu não queria chorar – era o que eu costumava ver nos filmes e novelas, – apenas alívio, por ter terminado com Rodrigo e por estar nos braços de Alex.
            - Foi o melhor que fez. – ele sussurrou – Você quer ir para casa?
            - Não. Ainda quero ir para a sua casa. – minha voz era eufórica.
            - Então vamos. – disse ele com um sorriso torto que me fez arrepiar.
            Fomos andando, conversando sobre o nosso dia e assuntos que surgiam do nada. Meu sorriso estava sempre vivo, já o dele estava triunfante e irresistível.             Quando chegamos na casa dele encontramos Gabi assistindo a um filme.
            - Querem assistir Titanic? – perguntou ela.
            - Claro. Adoro esse filme – falei animada.
            - Tem certeza disso? Ela é melosa. – perguntou Alex, com um sorriso malicioso.
            - Não entendi. – protestei.
            - Você vai ver. – disse ele rindo.
            Depois de uns minutos assistindo ao filme eu entendi o que ele quis dizer com melosa. Gabi estava chorando. Eu e Alex rimos, mas depois me vi chorando também. Ele bufou:
            - Vamos subir para o meu quarto?
            - É melhor. – respondi ainda chorando.
            Nós subimos para o quarto dele e lá começamos a conversar. Estávamos sentados em cima de sua cama. Algumas vezes ele deitava e apoiava a cabeça no braço, o que o deixava parecendo uma escultura. Tive de controlar muito meus pensamentos perto dele, minha expressão poderia me entregar.
            As horas passavam muito rápido quando eu estava com ele, e logo ficou tarde.
            - Tenho que ir. – falei com tristeza.
            - Não precisa ir cedo hoje, a Gabi te leva, e também, você não tem mais namorado então não precisa se preocupar.
            Fiquei sem graça com a colocação que ele fez, e ele percebeu:
            - Te chateei?
            - Não exatamente. Só me lembrei que tenho que encarar meu pai quando chegar.
            Eu segurava a ponta de sua camiseta enquanto ele falava.
            - Não pense nisso! – pediu ele me puxando para perto – Posso te fazer uma pergunta?
            - Pode sim.
            Ele se levantou e ficou sentado de frente para mim, suas mãos em minhas costas. Meu rosto estava apenas a dez centímetros do seu.
            - Aquilo que você falou sobre eu ser seu melhor amigo, é verdade?
            Pensei bem antes de responder.
            - Sim.
            - Só amigos? – ele se aproximava mais.
            Resolvi dizer a verdade.
            - Acho que não. Não sei de mais nada.
            De repente estávamos próximos um do outro, apenas alguns centímetros nos separava. E ele se aproximava cada vez mais.
            Logo estávamos a quatro centímetros um do outro. Eu já podia sentir seu hálito doce em meu rosto. Sua mão deslizava em minha cintura, e antes que eu percebesse, seus lábios estavam nos meus. Seu beijo era bom, inigualável, me fez ficar tonta. Minhas mãos acompanhavam o desenho de seu pescoço. Meu coração estava a mil.
            Depois de alguns minutos naquele beijo tive que parar, antes que des-maiasse. Minhas mãos ficaram em cima das suas que ainda estava em minha cintura. Estávamos apenas com a testa encostada, ele de olhos fechados.
            - Te amo. – disse ele depois de alguns minutos em silêncio.
            A felicidade me inundou. Nunca tinham falado aquilo para mim, a não ser meus pais. Até mesmo Rodrigo que era meu namorado há alguns meses, nunca falara que me amava.
            - Te amo. – respondi ainda tonta.
            Percebi a verdade em minhas palavras. Eu o amava. Naquele momento, senti como se não existissem problemas. Meu mundo agora era só eu e ele.
            - Tenho mesmo que ir. – rompi o silêncio – Se pudesse ficava para sempre aqui, mas não posso.
            - Ta bom. – respondeu ele ainda com a testa encostada na minha – Vou pedir para a minha irmã te levar. – ele se levantou.
            Descemos as escadas de mãos dadas e encontramos Gabi ainda chorando com o filme.
            - Esse filme ainda não acabou? – perguntou ele com a sobrancelha erguida.
            - Coloquei de novo. – respondeu ela ainda chorando
            - Aphf! – bufou ele. – Vamos levar a Bia para casa?
            - Vamos sim. – ela se levantou enxugando as lágrimas.
            Fizemos todo o caminho até minha casa em silêncio. Eu ainda delirava pelo beijo. Reparei que ele me olhava pelo retrovisor, tentei sem sucesso, disfarçar. Quando chegamos, me despedi dos dois e entrei com um enorme sorriso. Assim que entrei encontrei Rodrigo sentado no sofá junto ao meu pai.
            - O que faz aqui? – perguntei com ignorância.
            Eles pararam de conversar e passaram a me encarar.
            - Que educação é esta minha filha? – disse meu pai – Eu que o chamei.
            - Então ta, tchau.
            Comecei a subir as escadas.
            - Espere. – Paulo manifestou – Quero que vocês dois conversem.
            - Não quero! Obrigada.
            - Não estou pedindo. – falou ele engrossando a voz – Estou ordenando!
            - Pai! Terminei o nosso namoro e pronto, acabou.
            - É por causa daquele esquisito, não é? – falou Rodrigo se levantando.
            - E se for? O que você vai fazer? – desafiei-o.
            - Não deixarei barato.
            - Rodrigo, admita, perdeu playboy! – e saí correndo escada acima.
            Passei pela porta do quarto de meus pais e minha mãe estava lá, e como sempre, reparou em minha expressão. Ela me seguiu até meu quarto, sentou na cama e começou a falar:
            - Então, que felicidade é esta?
            - Não estou feliz, da onde você tirou isto? – era impressionante como minha mãe conseguia perceber as coisas.
            - Está sim, e tenho certeza que o Rodrigo não tem nada a ver com isto.
            - É, não tem. – admiti.
            - Então quem é?
            - Ta! Admito! É o Alex.
            - Sabia!!! Vocês se beijaram?
            - Mãe! – adverti – É.
            - Uau, ele é lindo minha filha, sem falar que é educado.
            - Né! Eu amo demais ele mãe. – e ficamos falando dele até dormir. Nunca tinha pensado que minha mãe pudesse ser minha melhor amiga.

            Levantei feliz de manhã, disposta a ir para a escola. Só para ver ele. Olhei pela janela e levei um susto. Havia um Celta e um Vectra no meu quintal. O Celta era da Gabi e o Vectra com certeza era do Rodrigo. Mas o que ele fazia aqui?
            Saí e fui em direção ao Celta, abri a porta e vi que Alex estava dirigindo.
            - Você pode ser multado sabia? – perguntei com humor.
            - Não vou não, meus pais me emanciparam.
            - Hã? – perguntei sem entender.
            Ele hesitou antes de responder. Não demonstrava, mas com certeza era por conta de minha exagerada burrice.
            - Agora, pela lei, sou maior de idade. – disse ele rindo – É um presente que meus pais resolveram me dar por minha aparente responsabilidade.
            - Ata! Parabéns.
            - Obrigado.
            Larguei a mochila em cima do banco e saí em direção ao Vectra.
            - Aonde você vai? – perguntou Alex confuso, se esticando pelo vidro.
            - Vai ver. É rapidinho.
            Abri a porta do carro e Rodrigo esta lá sorrindo, olhando pelo retrovisor a cara de Alex.
            - O que faz aqui? – perguntei com indiferença.
            - Nossa! – ele fez uma falsa expressão de humilhado – Vim te buscar.
            - Não precisa mais, não estamos namorando lembra? E deixa que o Alex faça isto.
            - Escuta! Precisamos conversar...
            - Tchau! – bati a porta e voltei para o Celta.
            Alex ria.
            Rodrigo cantou pneus e disparou com o Vectra envenenado dele.
            Chegamos na escola e saímos de mãos dadas. Rodrigo já havia chegado, ele e seus amigos nos encaravam. Entramos na sala ainda de mãos dadas e todos nos olhavam curiosos. Tivemos que sentar separados porque não havia lugares para duas pessoas vagos, eu sentei junto com Fernanda e Alex sentou com Lucas – um colega nosso.
            - O que significou aquilo? – perguntou Fernanda com estupidez.
            - O quê?
            - Você e Alex de mãos dadas, o que significa?
            A expressão dela era hostil, não parecia estar muito satisfeita, mas eu não entendi o porque.
            - Ata. Significa que estamos juntos.
            - Como assim “juntos”? – ela destacou a palavra com uma voz de nojo.
            - Isso aí, Nanda, estamos “juntos”. Quer dizer, eu o amo e ele me ama!
            Deixei bem clara a resposta.
            - Ridículo! – ela se levantou e saiu da sala sem ordem.
            - Não entendi. – falei sozinha.
            Fiquei refletindo por alguns minutos depois do toque do sinal, e saí logo em seguida. Passei pela mesa vazia de Alex e lá estava um papel amassado com a escrita de sua bela letra:
           
            “Nunca me senti tão completo, aquela pessoa que me faltava estava sempre ali, e eu nunca havia pensado que ela poderia ficar comigo, talvez porque eu não conhecesse este jeito meigo dela, mas agora conheço. Eu a amo mais que tudo. Tudo que fiz em minha vida, foi pensando em uma pessoa especial e agora parece que tudo que fiz foi em vão! Porque ela veio perfeita para mim                                     Te amo Bia!!”
           
Parecia que ele estava explicando alguma coisa para o colega ao lado dele, talvez ele perguntara, como Nanda fez.
Aquelas palavras me fizeram bem, que até esqueci o que acontecera com Fernanda.
            Saí e ele me esperava paciente na porta.
            - O que aconteceu? Por que está tão pensativa? – ele perguntou, passando o braço em minha cintura.
            - A Nanda, ela agiu estranha hoje e não sei porque.
            - Por que não pergunte a ela?
            - É, vou fazer isto.
            - Agora?
            - Não, quero ficar aqui com você agora.
            - Vamos sair daqui? – sugeriu ele me puxando para perto.
            Nós fomos para o jardim da escola, sentamos em um banco – ele sentado e eu deitada com a cabeça em seu colo – e ficamos conversando. Até quando Fernanda passou em nossa frente.
            - Você não vai falar com ela agora? – Alex perguntou
            - Devo? – rebati
            - Sim, deve!
            Eu me levantei e fui falar com ela, sem muito entusiasmo.
            - Nanda? Podemos conversar?
            - Não! – disse ela se levantando e saindo.
            Fiquei confusa outra vez. Ariane estava sentada com Nanda antes de ela sair e veio até mim.
            - Você não sabe o que tem com ela? – perguntou Nani.
            - Não. – respondi – Você sabe?
            - Sim.
            - O que é?
            - Desde o começo do ano ela foi apaixonada por Alex e nunca teve coragem de contar isto a ele e de repente, você na primeira vez que falou com ele já criou uma amizade forte e daqui a pouco está namorando, não é fácil para ela.
            - Mas eu não tenho culpa se me apaixonei por ele e ele se apaixonou por mim, ela deveria ter contado a ele.
            - Ela tentou, mas não conseguia, tinha medo de levar um fora, já que ele não aceitava nenhuma menina e de repente a amiga dela esta com ele? Você sabe que ela não gosta muito de você desde a história com Rodrigo.
            - Como assim? Alex, Rodrigo? Ela gostava dos dois?
            - Não, mas você namorou o menino mais desejado da escola, ela não gostou, e agora o menino que ela ama?
            - Então tudo é questão de afinidade? Quer dizer, ela está brava comigo só porque... – não consegui completar por tanta raiva que estava – Por favor, né. Não vou desistir do Alex só porque ela foi tonta em não se declarar para ele.
            - Você quem sabe. – disse ela se retirando
            - Eu o amo ta bom? Não posso viver sem ele.
            Ela baixou a cabeça e saiu. Alex ficou me analisando de longe, eu fui em direção a ele.
            - Então, descobriu o que há com ela?
            - Sim, ela gosta de você.
Ele riu e se virou para mim
            - Mas ela vai ter que entender que eu te amo.
Aquelas palavras me arrepiaram, me aproximei dele. Ele se encostou a mim e me beijou outra vez. Vi-me amolecer em seus braços e ficar tonta outra vez. A única pessoa que conseguia fazer isto comigo.
- Também te amo muito! – eu disse depois do beijo.
À tarde com ele passava rápido. Fomos embora no Celta e ele me deixou na porta de casa. Ficamos parados por um tempo no jardim, resolvi descer pensando que ele me seguiria, mas não aconteceu.
- Não vai entrar? – minha voz era confusa.
- Será que seu pai irá gostar? – ele olhava pelo para-brisa sem ver.
- Ele não está, só minha mãe.
Ele desligou o motor e saiu, deu a volta e abriu a porta para mim.
- Então vamos! – disse ele com seu sorrisinho torto que me deixava tonta.
Entramos e vimos minha mãe na cozinha.
- Boa noite...Carla.
- Boa noite Alex.
- Oi mãe. – falei irreverente.
Sentamos no sofá da sala se estar e ficamos conversando por horas. Minha mãe não reprimia o carinho que tinha com Alex. Uma perfeita puxa-saco. Foi tudo muito calmo, até meu pai chegar.
- O que ele faz aqui? – perguntou meu pai se referindo a Alex.
- O que é isto Paulo Ricardo? Esqueceu a educação no trabalho? – perguntou minha mãe constrangida.
- Eu já estou de saída. – afirmou Alex.
- Não, fica! Ignore meu pai. – implorei.
- Claro, vamos ignorar o homem que só quer o bem da filha! – provocou meu pai.
- Se bem para você é alguém infeliz, então eu estava mais que bem. – afirmei para meu pai.
- Você ainda é nova. Não entende o que é bom na vida.
- E não será você quem vai me ensinar.
- Você está uma menina muito ignorante, isto que dá ficar se misturando com essa gente.
- Chega! – falou Alex – Boa noite Dona Carla, Boa noite Bia, amanhã a gente se vê.
- Parabéns. – falei com provocação para meu pai.
Eu o segui até o jardim. Ele me abraçou e se virou.
- Desculpe pelo meu pai. – falei de cabeça baixa.
- Não é nada, já estava esperando.
Ele me deu um beijo, que mais uma vez me deixou tonta.
- Te amo. – disse ele e saiu.
- Também – respondi baixo.
Entrei em casa. Minha mãe e meu pai estavam discutindo, – com certeza por minha causa – fui para meu quarto e ignorei a briga.

Naquela noite tive um sonho estranho. “Eu estava naquele jardim outra vez, mas agora sozinha, eu sentava em cima das flores mortas e começava a chorar. Existia um vazio dentro de mim, a única coisa que eu tinha era aquele bilhete amassado que achara na mesa de Alex, eu o usava para me aliviar da dor que havia em mim, mas parecia que só piorava”. Acordei chorando no meio da noite e minha mãe veio ver o que estava acontecendo.
- O que foi minha filha?
Demorei alguns instantes para responder.
- Tive um pesadelo, nada demais.
- Ta bom, está com fome? Você não jantou ontem.
- Não. Só estou com sono.
- Ta, durma bem. – ela saiu.
Voltei a dormir e desta vez não tive nenhum sonho.

Acordei de manhã e o dia estava bonito, finalmente era sábado. E melhor, era meu aniversário, estava fazendo 17 anos. Desci as escadas com animação e fui recebida por cantigas de aniversário, Ali estavam minha mãe, Alex, Gabi, Iza e Nani; meu pai e Nanda não estavam, mas isto não me abalou.
- Parabéns minha bebê. – falou minha mãe me dando um abraço.
- Parabéns Bia!!! – comemorou Iza e Nani.
- Parabéns! – falou Alex me dando um beijo no rosto e um embrulho peque-no.
- Parabéns. – falou Gabi animada. – Que banda você curte?
- Obrigada gente, – agradeci – curto Nx Zero, por quê?
- Você vai saber. – falou ela.
Fomos ao jardim dos fundos, onde ficava a piscina e a mesa da varanda. Tinham doces e bolo em cima da mesa. Gabi beliscou alguns doces e depois saiu pela porta da frente. Não percebi de início, mas depois dei por falta dela.
- Cadê a Gabi? – perguntei para Alex.
- Daqui a pouco ela volta. – respondeu ele
Dei de ombros e comecei a comer. Depois de uma hora Gabi voltou com três papeis na mão.
- Para você! – disse ela – Na verdade só um é seu, os outros são meu e do Alex.
Olhei e me emocionei com o presente.
- Puxa! Obrigada! – falei entusiasmada.
- O que é? – perguntou Alex aflito.
- Três ingressos para o show do Nx Zero. – respondeu Gabi.
- Que dia? – perguntou Alex.
- Amanhã à noite. – respondeu ela.
- Adorei Gabi. – falei abraçando a.
- Que isso cunhadinha.
A palavra me fez corar e Alex a deu um soco de leve.
A tarde passou rápido com toda aquela diversão.
Quando chegou a noite fui junto com Alex e Gabi para a casa deles. Aproveitamos e levamos minhas amigas para a casa delas. Chegamos na bela casa e nos separamos pelos cômodos, Gabi foi dormir, Alex estava com fome então fomos para a cozinha.
Sentei-me na mesa, enquanto ele mexia na geladeira atrás de um refrigerante e ingredientes para um x-salada.
- Você nem abriu o meu presente, né! Ficou tão interessada nos ingressos da Bi...
- É mesmo, ele está aqui no meu bolso.
Eu abri e vi que era um lindo colar, que parecia ser caro.
- Uau, é lindo. Quanto custou? – perguntei maravilhada.
- É presente. – disse ele com a boca cheia –Não vou falar o preço.
- Legal. – falei rindo – Agora sou mais velha do que você não é?
- Por pouco tempo! – falou ele fazendo careta.
Eram oito da noite, quando tocou a campainha. Alex foi ver quem era, com as sobrancelhas unidas. Dois rapazes bonitos estavam parados na porta, um era alto, moreno e forte, o outro era do mesmo tamanho que eu – médio – e loiro. O menino moreno era extremamente forte e o loiro tinha o mesmo estilo de Gabrielli: o cabelo liso caindo em uma franja na testa e vestia roupas completamente estranhas, como se fossem de outro tempo.
Alex os cumprimentou e convidou para comer um sanduíche. Eles vieram em direção à cozinha e se espantaram em me ver ali, sentada ao redor da mesa. O menino moreno comentou:
- Puxa! Então é verdade? Você roubou mesmo a mina do valentão?
- Cala a boca Max. – falou Alex o empurrando. – Bia, esse é Max e este é Luiz – ele apontou primeiro para o grandalhão moreno depois para o menino loiro.
- Prazer! – eles falaram com um sorriso torto.
Cochicharam alguma coisa entre eles, até que Gabi apareceu pulando a escada e gritando entusiasmada.
- Luiz!
Ela o abraçou, depois o puxou para a escada.
- Namorado dela? – perguntei com uma sobrancelha erguida.
- Não. - respondeu Alex – É o melhor amigo dela, são assim desde quando ela tinha 15 anos.
- E quantos mesmo que ela tem agora? – perguntou Max com uma voz simpática
- Dezenove! – falou Alex com irreverência.
- Nossa! – eu e Max falamos juntos.
- Ela gosta de usá-lo como boneca de vestir. – Alex acrescentou – Sempre o atualizando na moda. E ele faz tudo que ela pede. Como um cachorrinho.
Ficamos conversando até ficar tarde. Max tinha uma educação impressio-nante, quem visse aquele musculoso jamais imaginaria que era tão doce e gentil.
Naquele dia cheguei de madrugada em casa e meu pai já estava preparado para dar uma bronca. Por trás da porta pude ouvir o que ele falava com minha mãe:
- Aquele moleque é de família baixa, não serve para ela!
- Você não o conhece para falar estas coisas. – rebateu minha mãe.
- Menino de verdade é só o Rodrigo. E eu farei o que puder para que eles se casem, nem que eu tenha que sumir com este outro fulano.
As palavras me magoaram, senti como se aquilo fosse um aviso.
Sem coragem, abri a porta a passei pela sala em silêncio. Minha vontade era de gritar o máximo que podia para espantar a raiva, e também chorar para espantar a tristeza que me invadira. Será mesmo que ele era capaz de tudo só para me ver rica?
Eu poderia me render e ficar com Rodrigo, ou então ficar com Alex e armar uma enorme guerra com meu pai. Uma guerra na qual alguém se machucaria, seria superado e infeliz. Neste momento meu pesadelo tomou conta de minha cabeça. Eu estava me vendo chorando naquele campo que antes era lindo e agora fora devastado e morto, sozinha e com um vazio enorme dentro do peito. Será que eu acabaria assim?
Subi para o meu quarto e me tranquei, abafei meu choro com o travesseiro e naquela hora, dormi.

De manhã levantei ao som de uma música baixa ao meu lado, a música que eu mais gostava – Cedo ou tarde, Nx Zero. Espantei-me em ver Gabi no meu quarto tão cedo. E depois vi que não era tão cedo assim, já passava das dez da manhã.
- É hoje, é hoje! – falou Gabi ansiosa.
- O quê? – perguntei cochilando.
- Não acredito que você esqueceu. – falou ela com cara de reprovação – O show do Nx!
- É mesmo, to super ansiosa!
- To vendo! – falou com uma sobrancelha erguida.
- Onde está o Alex?
- Conversando com sua mãe lá na cozinha.
- Ata. – falei já me vestindo.
Tomei um banho rápido e desci para a cozinha. Lá estava ele, tão perfeito, sentado conversando com minha mãe. Ele estava lindo com uma blusa preta que eu adorava, uma calça jeans cinza clara e um boné preto combinando com a blusa. Completamente perfeito.
- Oi. – disse ele com um sorriso torto que me matava.
- Oi. – respondi sem jeito.
Ele pegou a minha mão e me puxou para o jardim, minha mãe ficou olhando pelo canto do olho com um sorriso malicioso e Gabi nos seguiu.
Estávamos sentados no gramado, quando o Hilux preto de Rodrigo encostou no jardim. Todos ficaram olhando de caras feias, mas mesmo assim ele desceu com um embrulho na mão. Era um papel bonito e quadrado.
- Para você! – disse ele com uma voz triste – Eu não me esqueci do seu aniversario, só achei que se eu trouxesse hoje não encontraria com ele. – a palavra saiu com um tom de repulsa.
Eu peguei o embrulho e agradeci. Lá tinha uma porta-retrato com uma foto minha e dele abraçados – uma foto que tiramos no verão passado.
- É para você sempre se lembrar de mim.
Alex se levantou e saiu, com o resto vermelho.
- Ei, curta bem enquanto tem, viu! – provocou Rodrigo
- Ata. – ele respondeu indiferente
- Fica esperto ta bom? – falou Rodrigo lhe apontando o dedo
Desta vez Alex veio em sua direção e já de voz alta falou:
- É uma ameaça? Se for ta perdendo seu tempo, ô nojento!
- É uma ameaça sim e é bom ficar esperto.
Eles começaram a se ofender, até Gabrielli interferir:
- Chega! Vamos embora Alex. Bia, passo aqui mais tarde para te pegar.
E eles se foram.
- Rodrigo, por favor! – falei com cara feia.
- Desculpe! – ele falou já se retirando.
- Ei, - chamei-o – obrigada!
Ele assentiu.
A tarde passou lentamente, mas já era hora do show. Lá estava o Celta me esperando e Gabi completamente aflita. Fizemos todo o caminho em silêncio, Alex estava tranquilo, eu estava ansiosa e Gabi não estava diferente de mim.
Chegamos e o local já estava lotado, nossos ingressos eram vip, iríamos assistir ao show de perto e depois iríamos ao camarim. Eu estava animada, afinal, ia conhecer meus ídolos.
O show foi animado e cansativo e depois no camarim eu e Gabi nos divertimos tirando fotos e gravando vídeo com os integrantes da banda. Alex conversou e se divertiu também, mas não estava tão entusiasmado quanto nós.
Chegamos tarde em casa, e outra vez meu pai estava discutindo com minha mãe sobre eu e Alex. Mas desta vez me intrometi:
- Chega pai! Fale o que quiser, eu amo o Alex e você não pode mudar isto.
- Posso sim. – ele rebateu – Dou tudo o que tenho só para apostar como você ficará com Rodrigo.
- Então diga adeus a seu dinheiro e tudo mais!
Falei e subi as escadas correndo para não ouvir mais nada que pudesse me fazer chorar. Dormi inquieta e outra vez tive um sonho assustador: “Eu estava em uma floresta fechada correndo, fugindo de alguma coisa. De repente me vi em um lugar mais aberto, mas continuava um pouco escuro – típico de floresta. Fiquei parada. De um lado da floresta Alex e do outro Rodrigo. Alex estava triste parado e machucado, Rodrigo estava sorrindo de braços abertos como quem está preste a abraçar alguém. Mas eu não fui em direção a nenhum deles, saí correndo para mais dentro da floresta, mas agora de mãos dadas com Gabi e depois de alguns minutos correndo, fomos parar no jardim florido e aberto do primeiro sonho”. Acordei com o barulho do despertador – era segunda feira – e levantei incomodada pelo sonho incompleto.
Saí de casa sem falar com ninguém, ele estava me esperando imóvel dentro do carro. Entrei e fiquei olhando para seu rosto lindo como se fosse a primeira vez, ele me olhou unindo as sobrancelhas:
- Nossa! Desculpe, mas... Você está péssima.
- Como assim? – perguntei confusa.
- Você está pálida e com olheiras. Quer mesmo ir para a escola?
- Querer, eu não quero. – falei me olhando no espelho, eu estava mesmo péssima – Mas...
- Você não precisa, se não quiser. – ele me interrompeu.
Olhei confusa para ele. Como assim não preciso ir? Ele sorria com malícia.
- Está pensando em matar aula?
- Um dia só não mata ninguém. – disse ele com cara maliciosa – Conheço um lugar lindo aqui, quer ver?
- Claro! – disse depois de me espantar com o que ele estava fazendo.
Ele matando aula? Nunca imaginei.
Fomos seguindo o caminho normal para a escola, até ele entrar em uma estrada de terra que parecia não ter fim. Ele parou em frente a uma floresta fechada – igual ao sonho. Aquele lugar começou a me doer, como se alguma coisa estivesse me falando para não ir.
- Está com medo? – perguntou ele me analisando.
- Não! – menti
- Então vamos. – falou ele ainda me analisando – Faremos um pedaço do caminho a pé, se importa?
- Claro que não. Vamos. – disfarcei
Existia uma trilha levando para dentro da floresta. Apertei minha mão bem forte na dele. Encontramos muitas armadilhas e bichos, mas Alex sabia passar por todas, até que vi uma brecha clara um pouco mais à frente. Lá o sol parecia ser forte, passamos por algumas árvores e logo chegamos aonde ele queria.
Era um campo aberto, iluminado e bem florido. Aquilo me causou vertigem e precisei de um pouco de tempo para me recompor.
Ele pegou minha mão e me puxou para o centro do belo jardim. Ficamos deitados de mãos dadas olhando o formato das nuvens, sempre que podia ele me dava um beijo e isto me fazia esquecer dos sonhos estranho que tive com aquele lugar.
Ficamos lá durante todo o período que ficaríamos na escola. Já estávamos quase indo quando resolvi perguntar algo que estava me incomodando:
- Alex?! – falei com um ar de pergunta.
- Sim?
- Qual o motivo te levaria a ir embora, me deixar aqui e nunca mais voltar?
- Nenhum! Nada me faria ir embora sem você...
Aquela resposta me acalmou, mas vi que ele não tinha terminado.
- Você esta escondendo alguma coisa nessa resposta. – falei desconfiada – Pode falar.
- Bom! A menos que seja para proteger você. Mas isto não será necessário. – Ele falou rindo.
As palavras me fizeram lembrar o livro Lua nova, onde Edward abandona Bella, seu grande amor, só para protegê-la. Isto revirou meu estômago e outra vez senti uma grande vertigem.
- Vamos? – perguntou ele interrompendo meus pensamentos
- Sim. – falei ainda confusa
Seguimos pela trilha até o carro. Ele me levou até em casa como se tivés-semos vindo da escola e ficou lá comigo.
Mais tarde Iza e Nani foram a minha casa para ver porque tínhamos faltado, e antes que minha mãe ouvisse contamos onde fomos.
- A Iza ta toda “felizinha” hoje. – falou Nani com um sorrisinho malicioso.
- Por quê? – perguntou Alex
Elas se entre olharam, ficaram com cara de espanto e finalmente falaram alguma coisa:
- Nossa! – falou Iza – Você tem uma voz linda, nunca tinha percebido.
- É! Locutor de radio. – concordou Nani rindo.
Verdade. Elas nunca tinham ouvido a voz dele, não tão de perto. Era encan-tadora.
Ele corou e continuou:
- Então, por que ela ta “felizinha” hoje?
- Por que entrou um novo aluno na nossa sala, mó gato! E ela ficou conver-sando com ele. – terminou Nani.
Iza lhe deu um soco de leve.
- Como ele é? – perguntei
- Muito lindo. Cabelo castanho médio bem arrepiado, alto, branquinho e legal.
- Uau! – acrescentei.
Alex me olhou pelo canto do olho.
- Deixa de serem sonsas vocês duas! – reclamou Iza – Ele é só um amigo que acabei de conhecer.
- Foi assim que começamos, viu! – falou Alex apontando para mim e ele.
- Até você! Nossa! – falou ela com cara de reprovação
Todos rimos e conversamos o resto da tarde, até meu pai chegar e Alex se retirar antes de algum conflito. Iza e Nani continuaram lá comigo e perceberam o clima de tensão entre meu pai e meu namorado.
- Nossa! Seu pai não gosta mesmo dele, né? – falou Nani
- Não! E isso me machuca. – respondi abraçando o travesseiro.
Ficamos conversando por umas horas e depois elas se foram.

No outro dia fomos para a escola juntos, eu ainda não tinha esquecido o sonho, ele sempre me assombrava.
Entramos na sala de mãos dadas, e desta vez ninguém se espantou. Minhas amigas já estavam lá, mas não me sentei com elas, Ariane estava com Fernanda – ela ainda me olhava torto – e Izabela estava com o tal aluno novo. Ele realmente era bonito.
Sentei-me junto com Alex, embora ele fosse meu namorado, eu não gostava de sentar com ele, me sentia muito burra perto dele, já que ele era inteligente, mas não era de se exibir.
Ficamos quietos, prestando atenção na aula e a hora parecia que não passava – pelo menos não para mim. Finalmente o sinal tocou e fomos para o intervalo. As meninas costumavam ficar sentadas ao redor de uma mesa conversando – eu fazia parte deste grupinho antes de Alex virar meu namorado – e por saudade resolvi sentar junto com elas. Mas havia um novo integrante, o novo aluno. Eu e Alex nos sentamos lá e logo nos acostumamos – menos com Fernanda, – Izabela nos apresentou ao novo amigo:
- Bia, Alex, esse é Caio, o aluno novo. Caio esses são Bia e Alex, meus velhos amigos.
- Prazer. – falou Alex gentilmente lhe estendendo a mão.
Ele retribuiu o aperto de mão.
- Olá! – falei com humor.
Ele assentiu com a cabeça e deu um sorriso. Ele era um rapaz educado e gentil.
Iza parecia se sentir bem ao lado de Caio. Como eu, – no começo – Caio parecia completá-la. Isso era bom. Ela merecia.
Estávamos conversando sossegados, quando Rodrigo apareceu com sua gangue já desafiando Alex:
- Eai! Vem aqui para eu ver se você realmente é homem!
- Como é? – desentendeu Alex.
- Você não é homem o suficiente para roubar a namorada dos outros? Prova se é homem o bastante para me enfrentar!
Alex se levantou com os punhos fechados, eu me coloquei na frente, mas fui jogada no chão por Rodrigo, isso irritou mais Alex.
Ele foi para cima de Rodrigo com os olhos vermelhos e as mãos tremendo. Em um segundo eles estavam em cima um do outro se socando feito selvagens. Eu me enraivei e comecei a xingar Rodrigo, mas meus gritos foram abafados pelo som de agito da galera.
Já estava aflita vendo aqueles dois se socando e o pior que era por minha culpa, não podia fazer nada. Fernanda veio ao meu lado e começou a jogar indireta:
- Nossa! Não acredito que eles estão brigando por pouca coisa! Desperdício.
Fingi que não era comigo, mas ela continuou:
- Viu no que dá, querer ser muito?
Continuei imóvel.
- Se fosse comigo, o Alex nunca teria um arranhão, eu cuidaria dele melhor.
Aquilo me irritou e rebati:
- Que pena que ele não é seu, você não tem tanta capacidade para consegui-lo.
E saí de perto dela.
A briga continuava, Rodrigo parecia muito mais forte do que Alex, mas era o que estava mais se machucando. Tomei coragem e me enfiei ali no meio, agarrei Alex com força e o tirei de lá. Eles se soltaram, Alex sangrando na sobrancelha e um pouco na boca, Rodrigo sangrava na boca, no nariz e na testa. Abracei-o com força e fui tratar daquele machucado.
Pude ouvir atrás de nós, Rodrigo falando calúnias e os amigos fazendo algum tipo de ameaça.
Sentamos em um dos bancos perto da sala de aula. Alex reclamava do sangue da sobrancelha que estava escorrendo para os olhos.
Era um corte pequeno, mas sangrava muito. Precisei do meu kit que sempre usava com Rodrigo depois dos seus jogos. Era impressionante como até os curativos ficavam melhores em Alex.
- Ta doendo muito? – perguntei passando um algodão em sua sobrancelha.
- Não! Mas estou explodindo de raiva!
Seu rosto estava vermelho, mas de um jeito diferente, como se fossem explodir as veias do pescoço.
- Você não devia ter se rendido. – falei com cara de reprovação.
- Eu não ia bater nele, mas quando ele te jogou me deu muita raiva.
- Oh amor! Não faz mais isso ta bom?
- Ta! – disse ele sorrindo
- Te amo. – falei beijando o canto de sua boca que não estava machucado.
- Te amo. – respondeu ele triste pelo ocorrido.
O sinal para a próxima aula tocou e entrei na sala ainda cuidando de seu machucado. Todos voltaram a nos olhar, mas desta vez com admiração, eu não sabia o porque.
A expressão de nossos colegas era estranha. Alguns olhavam assustados, outros faziam sinal positivo com o polegar e apenas Fernanda que olhava feio.
Estávamos em nossos lugares, quando a primeira pessoa veio cumprimentar Alex:
- Oh, parabéns! – falou Jonatan, um colega de classe.
- Pelo o quê? – perguntou Alex confuso.
- Cara, você bateu no bonzão, ele ta todo sangrando. Até quem fim alguém ensinou para ele, você agora é o pop da escola.
Eu gemi com a palavra. Estava namorando o popular da escola, de novo.
- Ta valeu! – agradeceu Alex com um olhar confuso.
Depois todos vieram cumprimentar ele também, menos a gangue do Rodrigo.
Estávamos indo embora quando Rodrigo passou por nós com seu BMW e gritou:
- Fica esperto isto não ficou barato!
Eu me assustei, nunca tinha visto Rodrigo assim, mas Alex nem se abalou.
Fomos embora em silêncio, eu ainda reparava em seu machucado, me sentia mal em ver aquilo e saber que foi tudo minha culpa. Mas mesmo com um curativo, ele ainda parecia um príncipe. Era impressionante como eu ainda ficava tonta com sua beleza.
Ele começou a se contorcer e depois percebi o porque, eu estava encarando-o e isto lhe-incomodava.
Paramos em frente a minha casa, ele ficou parado com uma cara de raiva.
- Não vai descer? – perguntei unindo as sobrancelhas.
- Hoje não, estou vendo o carro do seu pai, ele está aí.
- É mesmo. Até amanhã.
- Ta.
Ele me deu um beijo de despedida e saí do carro. O vi sumir na primeira esquina e aquilo me apertou, como se ele tivesse ido embora para sempre.

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