quarta-feira, 6 de julho de 2011

Capítulo 10


10- FAMÍLIA PIERCE


            Minha cabeça latejava inteiramente. Já eram quase meio-dia e eu ainda não conseguira levantar.
            Carla havia levado uns comprimidos com água para eu tomar, mas é claro que não tomei. Odiava completamente remédios. Sempre falava que a cura era pior que a doença.
            A festa de formatura havia acabado muito tarde. Eu e Alex havíamos sido premiados como rei e rainha da formatura, embora estivéssemos brigados. Não vi Rodrigo depois do incidente, mas Suzana sim, em algum canto me olhando fixamente.
            Virei de um lado para o outro da cama. Alex ainda não me ligara e eu não daria o braço a torcer e ligar.
            Já tinha levantado duas vezes para tomar banho e ainda não tinha melhorado. Resolvi que estava na hora de comer algo. Levantei e me arrastei pelas escadas até a cozinha. Carla estava lá com a empregada, preparando o almoço.
            - Como está, meu amor? – ela perguntou.
            - Estou morrendo de dor de cabeça. – respondi reclamando.
            - Você bebeu na festa?
            - Claro que não. Só a música que estava muito alta.
            - Sei. – ela duvidou. – Está com fome?
            - Muita. – sentei-me ao redor da mesa.
            - Coma alguma fruta para não forçar seu estômago, caso você tenha bebido...
            - Não bebi. – interrompi.
            - Caso! Então... Coma uma fruta que daqui a pouco o almoço está pronto.
            Peguei uma pêra e comecei a mordiscar. De primeira meu estômago não aceitou muito bem, mas depois foi se acostumando.
            Comecei a repassar todos os momentos da festa em minha cabeça. Lembrei da conversa com o tio de Alex, John. Ele falara sobre meu sobrenome, o quanto ele era importante, e na minha cabeça surgiu à pergunta: Eu era uma oficial o quê?
            Que sobrenome deveria ser o meu?
            - Mãe, se meu sobrenome não fosse Vasconsellos, qual seria? – perguntei.
            - Como assim? – ela desentendeu.
            - Qual era o sobrenome dos meus pais?
            Ela virou-se para mim e puxou uma cadeira. Pelo jeito seria uma longa conversa.
            - Bárbara e eu sempre moramos no bairro do Morumbi, antes de me mudar para cá. Ela era uma simples Silva.
            “Diogo estava estudando em uma ótima escola do Morumbi, na época era uma das poucas melhores. Eles começaram a namorar e ele disse que se chamava Diogo Pierce”.
            “Para mim era apenas um nome qualquer. Até me casar e mudar para cá. Conheci os Pierce. Eram umas das poucas famílias que estavam aqui desde a fundação de Alphaville, assim como os Vasconsellos e os Valentyne”.
            “Claro que Diogo apresentou Bárbara para todos os Pierce, mas eles nunca souberam da sua existência, Bia, claro que como uma Pierce”.
            - Mas os Pierce ainda moram aqui? – perguntei.
            Não me lembrava de ninguém que tinha aquele nome. Nenhuma família Pierce.
            - Sim. É que eles são bem discretos. Não gostam de chamar a atenção para eles mesmos, ao contrário dos Valentyne.
            - E quem são?
            - Vou chegar lá.
            “Fiquei surpresa naquela vez em que você trouxe o Luiz para cá. Lembra-se, não é? Quando o Alex foi embora”.
            Assenti.
            - O nome inteiro dele é Luiz Stevenson Pierce.
            - O Luiz é meu parente? – fiquei muito surpresa.
            - Ele é filho de Danilo Pierce, irmão do Diogo. Então o Luiz é seu primo. Ele e a irmã mais velha que mora em Chicago, Larissa.
            Fiquei boquiaberta.
            - Eles são parecidos com Paula Stevenson. Ela é bem loura, quase translúcida. Mas Danilo é bem parecido com Diogo, vai se surpreender.
            - Mas nunca perceberam que sou parecida com Bárbara?
            - Danilo e Paula estão sempre viajando que quase não os vemos. Luiz deve nem se lembrar de seus pais, ele era só um bebê quando morreram.
            - Quero me aproximar desta família.
            - Pode ser uma boa ideia. – ela falou se levantando.
            Comecei a refletir sobre a história. Então meu nome seria: Beatriz Silva Pierce, ou teria o Luiza: Beatriz Luiza Silva Pierce?
            Almocei com minha mãe e, por coincidência, Roberto chegou depois. Era impressionante como esses dois ficaram muito próximo. Agora além de ter o sobrenome Vasconsellos e ser uma original Pierce, teria um padrasto que possuía o sobrenome Valentyne. Que família!
            Depois do almoço fui para meu quarto. Encontrei meu celular caído no chão. Sem dúvidas ele vibrara até cair. Verifiquei todas as chamadas perdidas, eram catorze chamadas do Alex. A caixa de mensagem estava cheia de mensagens dizendo: Precisamos conversar. E a caixa postal tinha um recado dizendo: Quero muitíssimo falar com você. Liga-me quando ouvir essa mensagem?
            Era impressionante como ele cedia com facilidade.
            Decidi que ele podia esperar mais alguns minutos. Segundos depois o celular voltou a vibrar. Eu ia atender, se a campainha não tivesse tocado e minha mãe não tivesse me chamado. Larguei o celular em cima da cama, tocando, e corri para a sala.
            Eram Olavo e Joni, meus amigos skatistas. Fazia tempo que eu não os via. Olavo tinha outra vez a cabeça raspada e Joni havia feito uma tatuagem bem estranha no braço.
            - Olá, Bia. – Olavo me cumprimentou.
            - Fala ! – Joni esticou a mão para que eu batesse
            Joni sempre me tratava com a amiga skatista, já Olavo me tratava como a amiga feminina. Isso era bom. Com os dois eu era eu. A velha Bia skatista.
            Claro que eu não sentia falta daqueles tempos em que apenas o skate era minha paixão, naquela época eu não conhecia Alex. Mas sentia saudade da diversão que era ser irresponsável.
            - Viemos te lembrar do campeonato de skate. – disse Joni.
            - Não esqueci. – garanti. – Tenho uma semana inteira de folga do serviço para esse dia.
            - Pois é. – Olavo se sentou e eu e Joni o imitamos – Mas temos que falar sobre nossas estratégias.
            Estratégias para quê? Nosso grupo, R7 Nexos, era o melhor. Sempre mandávamos bem.
            - Por que isso? – perguntei.
            - Os Carrera também estarão lá. – Olavo respondeu.
            Ah! Claro! Os Carrera eram os maiores inimigos de Olavo. Ele pertencera ao grupo, mas foi substituído por Daniel: o garoto prodígio do grupo. Desde então Olavo vem na intenção de provar que é muito melhor que Daniel.
            Daniel era realmente muito bom, mas até agora não tinha conseguido derrotar nosso grupo.
            Os Carrera era composto por Daniel, Murilo Jonas e Raquel. Eram do bairro do Pacaembu, também São Paulo. Sempre que éramos rivais em um campeonato o confronto ficava forte.
            - Agora entendi.  – falei.
            - Teremos de treinar mais nossas manobras.
            - Pena que você está trabalhando agora. Seria melhor se treinássemos todos os dias. – Joni falou.
            - Acho que já estamos prontos. – respondi.
            Olavo explicou tudo o que ainda temos de aprender para derrubar o grupo do Pacaembu. Quando se tratava de Daniel e seu bando Olavo era espontânea-mente atencioso.
            Eles ficaram até um pouco depois das três da tarde, depois decidiram que precisavam comprar equipamentos de segurança.
            Subi para o meu quarto e debrucei na cama. Não tive tempo para pensar depois da conversa com minha mãe. Comecei a imaginar como seria minha vida se tivesse passado minha vida inteira com os Pierce: Não seria uma pessoa tão pública; teria passado toda a minha vida com meu primo Luiz; teria conhecido Alex mais cedo, sem qualquer motivo para não ficarmos juntos. Mas por outro lado, talvez eu não seria skatista – o que é minha maior paixão. Não teria amigos como: Marcos, Matheus, Luana, Amanda, Laura e Leandro; talvez nem Nanda, Nani e Iza.
            Percebi que não me entristecia o fato de não ter ficado com minha família biológica, mas me deixava angustiada continuar longe dela. Eu queria conhecê-los. Conhecer Danilo, Paula, Larissa e o resto da família Pierce que minha mãe não mencionou.
            Assim como foi no dia em que fiquei sabendo sobre Bárbara e Diogo, a curiosidade era imensa. Mas afinal, quem não ficaria curioso? Tratava-se de minha identidade, precisava conhecê-los.
            Meu medo era que não me aceitassem. Que pensassem que eu era uma intrusa em suas famílias.
            Carla falara que eles não gostavam de escândalo. Se uma Vasconsellos aparecer e dizer que na verdade é uma Pierce a mídia apareceria em um instante. Seria um tremendo escândalo. Já iria começar com o pé esquerdo.
            Mas e se a mídia não ficasse sabendo? Poderia dar certo minha aparição se ela fosse discreta.
            Imaginei como Luiz reagiria quando descobrisse que somos primos. Seria um máximo ter, finalmente, parentes no qual eu goste.
            Decidi que precisava ir. Antes, liguei para Luiz. Lembrei que Carla falara que Danilo e Paula viajavam muito, então precisava saber quando eles estariam em casa. Para minha sorte, eles estavam. Estavam por conta da festa de formatura de ontem. Uma sobrinha de Paula se formou.
            Escolhi uma roupa adequada para ir. Decidi que um vestidinho básico, cor violeta, ficaria perfeito. Penteei meus cachos e os deixei soltou. Depois corri para minha BMW.
            Os Pierce não moravam muito longe. Já havia ido uma vez lá, mas quem me levara era Max. Era em uma imensa casa branca de três andares. Por dentro era toda decorada em tons diferentes de branco e marrons. Era impressionante.
            No bolso estava o retrato de Diogo e Bárbara, caso eles duvidassem de minha história. Ninguém poderia duvidar quando me comparasse com Bárbara.
            Só precisei buzinar uma vez para Luiz aparecer. Claro que Max surgiu logo atrás.
            - Bia! Quanto tempo você não aparece, hein. – Luiz comentou.
            Desci do carro e lhe abracei. Fazia muitíssimo tempo desde a última vez em que estivera na casa de Luiz.
            Entrei com Luiz e Max ao meu lado. De primeira, a casa parecia estar vazia, mas depois ouvi os ecos vindo do segundo andar.
            Pela primeira vez veria o senhor e a senhora Pierce. Não conseguia imaginar como eles eram. Lembrava que minha mãe falara que Paula era extremamente loira e Danilo era muito parecido com meu pai.
            Imaginei se naquele dia teria a sorte de também conhecer Larissa, a irmã de Luiz, e minha prima.
            - Então... – Luiz falou enquanto parávamos no meio da imensa sala branca – Qual foi o milagre que te trouxe aqui?
            - Na verdade, Lu, quero falar com seus pais.
            Max e Luiz se entreolharam. Com certeza estavam imaginando que eu fora lá para vê-los e não para ter uma conversa com Paula e Danilo Pierce.
            - Eles estão lá em cima. – Max respondeu confuso.
            - Posso ir lá? – perguntei para Luiz.
            - Vamos.
            Subimos a imensa escadaria que dava para o segundo pavimento. Paula e Danilo se encontravam na sala de arte, um lugar repleto de quadros e esculturas valiosas.
            Paula era exatamente como imaginei: Os cabelos louros, quase brancos; a pele translúcida; o corpo esbelto. De longe se notava que era a mãe de Luiz.
            Danilo me deixou hipnotizada. Foi como ver meu pai mais envelhecido. Era idêntico ao homem da foto ao lado de minha mãe. A não ser pelas rugas e o cavanhaque.
            - Mãe, pai, a Bia quer falar com vocês. – Luiz falou.
            Eles se viraram e seus olhos se arregalaram.
            - Beatriz Vasconsellos? – Danilo perguntou. Imaginei se aquela bela voz grave era parecida com a de meu pai.
            - Tenho um assunto muito importante com os senhores. – falei de modo sério.
            - Sente-se, Bia. – Paula me indicou o sofá logo atrás.
            Todos nos sentamos. Sentei no sofá de frente para Paula e Danilo. Max e Luiz sentaram-se ao lado.
            - Pode começar. – Danilo falou.
            Respirei fundo duas vezes, antes de começar.
            - O senhor teve um irmão chamado Diogo, não foi? – perguntei para o senhor Pierce.
            - Sim. Era meu irmão caçula. Morreu dezoito anos atrás.
            - E ela tinha uma namorada chamada Bárbara, não é?
            Os dois assentiram.
            - O que tem isso? – Paula perguntou.
            - Vocês ficaram sabendo que sou adotada por Paulo e Carla Vasconsellos, sem dúvidas.
            - Sim e confesso que fiquei chocada. – Paula respondeu. – Mas o que isso tem a ver?
            - Bárbara era muito amiga de Carla, e ela foi morar com Carla quando Diogo se envolveu com drogas.
            - Como sabe que ele se envolveu em drogas? – Danilo perguntou.
            Ignorei a pergunta e comecei a fazer as minhas próprias.
            - Nunca se perguntaram por que Bárbara desapareceu por nove meses? Ou por que pareço com ela?
            Paula arfou, enquanto os outros ficavam sem entender.
            - Espere aí! – Luiz pediu. – De quem vocês estão falando? Quem é Bárbara?
            - Bárbara era a namorada de Diogo, irmão de Danilo. – Paula respondeu - Eles morrerão a dezoito anos atrás. Quantos anos têm, Bia?
            - Dezoito. – respondi sorrindo.
            - Danilo, olhe bem para ela. É a cara de Bárbara, a não ser pelos olhos... Parecidos com os de Diogo.
            - Está dizendo que Beatriz é filha do meu irmão e da namorada?
            Revirei minha bolsa atrás da foto em que mostraria minha aparência copiada. Entreguei-lhes a foto. Luiz se aproximou para ver.
            - É você, Bia? – ele perguntou.
            - Não. – foi Paula quem respondeu – É Bárbara, namorada de seu tio.
            Eles olharam a foto por um longo tempo, quando Paula voou em meu pescoço. Ela me abraçava de um jeito tão meigo que parecia que era minha mãe. Danilo ficou chocado no sofá.
            - Isso quer dizer que você é uma Pierce? – Danilo parecia falar consigo mesmo.
            - Você é minha prima? – Luiz perguntou com felicidade.
            - Mas por que Diogo nunca nos contou? – Danilo ignorou a pergunta do filho e fez outra.
            - Ele nunca soube. – respondi.
            Paula me soltou e fitou meu rosto.
            - Por quê? – ela perguntou.
            - Se os traficantes soubessem de mim agora eu estaria morta. – encolhi com a possibilidade.
            - Faz sentido. – Danilo respondeu.
            Paula voltou a me abraçar. Luiz fez o mesmo, comemorando.
            - Imagina... – ele comentou – Nós, primos, namorando os irmãos Bittencourt!
            Eu ri da colocação que Luiz fez.
            Depois da conversa com os Pierce, todos nós fomos ao salão principal da casa. Lá ficava uma imensa mesa de madeira-maciça, quadros em molduras de bronze, uma lareira de pedra cinza e um imenso tapete de poliéster. Era realmente muito luxo. Os Pierce pareciam não gostar muito da modernidade.
            Sentamos ao redor da mesa e a empregada nos trouxe chá com biscoitos.
            - Não acredito – Paula começou – que nunca havia notado que você era parecida com Bárbara. É tão evidente que me sinto cega.
            - Mas não nos víamos muito. – comentei.
            - Ah! Mas um dia você disse algo sobre Bia parecer com Bárbara. – Danilo falou.
            Olhei automaticamente para ele.
            - Quando saiu nos jornais que você era adotada. – Danilo completou. – Paula falou que você lembrava um pouco a Bárbara.
            Lembrar era pouco, eu dava a visão completa da aparência de minha mãe.
            - Tenho uma dúvida. – falei.
            - Qual? – Paula perguntou.
            - Lembro de Carla ter dito que toda a família de meu pai fora assassinada...
            - Entendi sua pergunta. – Danilo me interrompeu – Quer saber como estamos vivos, certo?
            Assenti.
            - Estávamos em Chicago quando tudo aconteceu. Eu sabia que meu irmão não estava bem, mas não dei muita importância ao problema. Tivemos sorte.
            - Quando chegamos, não tinha mais ninguém. – Paula suspirou.
            Todos ficaram calados por alguns minutos, até que Max quebrou o clima chato.
            - Nossa! Coisas interessantes acontecem nesse pequeno bairro. Imagina só, Luiz parente de Bia!
            Todos riram.
            Saí da casa dos Pierce já estava anoitecendo. Peguei meu celular enquanto dirigia. Ele vibrara o quase o tempo inteiro em que conversei com a minha família. Vibrava a cada cinco minutos e isso significava uma mensagem.
            Era de Alex:

            Estou te esperando na sua casa. Precisamos muito conversar.
            Alex”.

            Claro que eu estava brava com ele, mas não conseguia deixar de ficar feliz por ver que ele estava preocupado comigo. Sabia que uma hora ou outra ele se renderia.
            Acelerei mais o carro e logo estava em frente a minha casa. O Audi azul estava estacionado no gramado.
            Alex conversava com Roberto Valentyne na sala de estar. Larguei minha bolsa na mesa ao lado e os cumprimentei. Indiquei as escadas com a cabeça, na intenção de fazer Alex me seguir. Ele seguiu.
            Tranquei a porta do meu quarto e me virei para encarar seu rosto. Ele estava confuso e ao mesmo tempo zangado, não sereno como costumava ficar.
            - Afinal, por que estamos brigados? – perguntei.
            Parecia besteira o que acontecera na formatura. Por que ele ficaria sem falar comigo por causa de um espumante que joguei em Suzana?
            - Porque você foi uma completa criança. – Alex respondeu com sua voz grave.
            Foi maravilhoso poder ouvir a voz dele de novo. Passei o dia inteiro sem ouvi-la, já não aguentava mais.
            - Ela me ameaçou. – respondi.
            - O que ela te disse? É sobre o Marcos de novo?
            - Não! Ela disse que jamais vai me deixar esquecer o que lhe fizera.
            - Grande ameaça.
            - Acha pouco? – fiquei abismada.
            - Acho besteira ficarmos brigando por bobagens.
            Ele abriu meu sorriso torto preferido. Formou covinhas em sua bochecha que eu nunca havia reparado. Deixou-o com um rosto infantil, completamente lindo.
            Não consegui reprimir meu sorriso tímido. Estiquei o braço para receber seu abraço. Ele afundou o rosto em meus cabelos enquanto eu tentava aproximar minhas mãos em suas costas largas.
            Aquela era a melhor sensação do mundo, sentir os braços de Alex a minha volta.
            Ele tocou os lábios em meu pescoço e foi deslizando até chegar em minha boca. Seu beijo doce me fez estremecer. De repente ele me atirou em cima da minha cama e ficou por cima de mim.
            - O que está fazendo? – perguntei assustada.
            Pelo que me lembrava, Alex seguia a regra que a mãe – maldita regra – lhe pôs na cabeça: sexo só depois do casamento.
            Aphf!
            - Não posso apreciar o que é meu um pouco? – ele parecia estar se divertindo.
            - Fala como se fosse meu dono. – caçoei.
            - Não sou? – ele falou me analisando.
            Empurrei seu peito e ele caiu ao meu lado. Nós dois soltamos altas gargalha-das. Parecíamos dois irmãos depois de aprontar algo e não dois namorados depois de uma briga.
            - Te amo. – ele falou depois das gargalhadas.
            - Te amo. – respondi rolando pra cima dele, depois me levantando.
            Tirei meus tênis que estavam apertando e enrolei os cabelos em um coque. Alex se sentou e começou a me analisar.
            - Sabia que sou prima do Luiz? – perguntei.
            Ele me olhou assustado.
            - Como é?
            - Meu pai era irmão de Danilo Pierce. – respondi.
            - Então você, de algum jeito ou de outro, vem de família muito rica.
            - É a vida.
            Descemos para a sala de estar. Roberto ainda estava lá, tomando chá com a minha mãe.
            - Certo, – falei – quando pretende me falar o namoro de vocês?
            Roberto cuspiu chá a dois metros dele, enquanto Carla se engasgava com o gole que acabara de dar. Alex precisou dar alguns tapas nas costas de minha mãe para desengasgar, e Roberto demorou minutos para voltar a sua cor normal.
            - Como é? – Carla perguntou.
            - Fala sério. Faz meses que vocês estão íntimos. Assumem de uma vez.
            - Que besteira, Beatriz. – agora ela estava realmente brava.
            - Tudo bem! Quando acharem que estão prontos... Avisem. – e saí arrastando Alex comigo.
            Encostamos-nos ao seu Audi. Ele colocou a mão em minha cintura, enquanto eu brincava com seus cabelos claros.
            - Por que fez isso com sua mãe? – ele parecia surpreso.
            - Só estou adiantando para eles que sou totalmente a favor dos dois.
            - Belo jeito de dizer.
            Ele tocou meus lábios outra vez e depois entrou no carro e saiu.
            Fiquei alguns minutos no jardim, depois entrei e corri para o meu quarto.
            Aquele negócio de família me fez ver o quão fácil era encontrar alguém pelo seu sobrenome. Eu sabia que se jogasse Vasconsellos em algum site de busca, eu apareceria na lista, seria uma das primeiras. Imaginei quem apareceria se eu pesquisasse Stoff na Internet.
            Liguei meu computador e digitei no site de busca. Apareceu uma pequena lista de pessoas com aquele nome. Não era muito comum. Mas um desses poucos nomes me chamou a atenção: Gisele Stoff.
            Cliquei e apareceu uma pequena biografia: Nascida em 13 de setembro de 1989, Gisele Stoff, filha de Arnoldo e Joana Stoff. Estudou até o nono ano do ensino fundamental em uma escola pública, quando foi diagnosticada por sofrer de sociopatia/ psicopatia, depois de matar uma de suas colegas de classe por lhe roubar um lápis.
            Foi internada em uma casa de recuperação, na qual fugiu duas vezes, na última, deixando seu responsável desacordado por horas.
            Também passou por uma escola clandestina de recuperação.
            Atualmente está foragida, depois de sequestrar a filha do empresário Paulo Ricardo Vasconsellos, Beatriz Luiza Vasconsellos.
            Sua última aparição foi na Flórida, EUA, mas suspeitam que seja apenas uma emboscada para distrair as pessoas do lugar que suspeitam onde ela está: Alphaville.

            Embaixo havia uma foto da maluca. Ela sorria como uma pessoa inocente. A foto era de seu antigo visual: Os cabelos pretos bem lisos, com uma franja cobrindo a testa; a pele translúcida; as roupas de uma simples menininha.
            Pelo que dizia o texto, Gisele já tinha vinte e dois anos.
            Imaginei se existiria alguma Suzana Winter nas buscas. Digitei Winter e apareceu outra pequena lista. Havia uma Suzana Winter: Morava na Califórnia, tinha dezenove anos, mas morreu no ano passado por alguma doença que tinha.
            Havia uma foto abaixo. Era uma loura de cabelos extremamente lisos, compridos até as costas; as vestimentas avançadas; os olhos verde-água. Sem dúvidas Gisele havia feito aquela pesquisa também. Mas a verdadeira Suzana era mais bela do que a cópia cuspida. Talvez porque não tivesse o olhar ameaçador.
            Desliguei o computador e fui tomar um banho. Saí minutos depois e desci para o jantar.
            Roberto estava lá, o rosto ainda muito vermelho. O jantar foi muito silencioso. Eu não tinha nada para falar. Carla e Roberto tinham medo de falar algo que os comprometessem.
             Ao final, Roberto falou:
            - Estava muito bom o jantar, Paula.
            Espiei os dois me olharem pelo canto do olhou. Tentei dizer algo que mostrasse que eu não ligava para nada.
            - É mãe, estava realmente bom.
            Os dois deram sorrisos de alívio.
            Corri para o meu quarto e desabei na cama. Estava realmente cansada, depois do dia com os Pierce.
            Minha antiga e, ao mesmo tempo, nova família.


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