quarta-feira, 6 de julho de 2011

Capítulo 3


3- ALUNA NOVA


            Alex dirigia calmamente com meu carro até o centro da cidade de Barueri, levando-me para o novo emprego: A Marshel’s academia. A academia dos pais de Matheus – um amigo que um dia morou junto comigo na república da Nanda.
            Estava olhando através do vidro escuro ao meu lado, quando a voz grave de Alex chamou minha atenção.
            - Ontem, quando chegamos aquele assunto sobre sexo fiquei pensando sobre algo também importante que deveríamos conversar.
            - O quê? – estimulei-o a continuar.
            - Com quantos anos pretende se casar?
            Arregalei meus olhos para seu rosto. Ele parecia se divertir com meu espanto. Casamento? Ele era louco.
            - Qual é, você quer fazer esse tipo de coisa e não quer se casar?
            - É diferente! – minha voz saiu aguda de tão assustada.
            - Pra mim não. – ele admitiu com naturalidade – Você não respondeu a minha pergunta.
            - Com 30 anos. – respondi carrancuda.
            - Por quê? – agora era ele quem estava surpreso.
            - Pretendo fazer faculdade, sei lá, estudar no exterior.
            - Que curso pretende fazer?
            Parecíamos novos conhecidos com aquela série de perguntas.
            - Ainda não sei. – respondi ainda carrancuda –Alguma coisa que envolva esportes. Quero virar uma profissional do skate, mas não posso viver só disso, então vou estudar algo que eu goste.
            - Faz sentido. – ele respondeu parando no estacionamento da academia – Venho te buscar às cinco horas. Posso te levar para jantar?
            Olhei para seu rosto, agora sereno, a raiva já atenuando.
            - Pode. – sem querer, sorri.
            Ele pareceu satisfeito. Saí do carro, ofegando pelo calor intenso, e Alex saiu devagar. Entrei na academia andando diretamente para o balcão.
            - Bia! – ouvi a voz de Matheus vindo do meio da amontoado de gente no centro do grande salão cheio de equipamentos.
            Parei, esperando ele chegar até mim.
            - Você está tão linda que estou até pensando em não lhe entregar o uniforme. – ele me elogiou.
            Senti meu rosto corando.
            - Obrigada. Por onde começo? – tentei desviar o assunto.
            - É só você marcar na caderneta – ele apontou para um caderno azul – todas as pessoas que chegarem e, se for necessário, registrar os novos alunos. Qualquer dúvida, pergunte para o Diego.
            Assenti e andei até o balcão. Coloquei o uniforme preto enquanto cumprimentava Diego e me coloquei apostos no serviço.
            Não descansei nem um minuto do serviço. Sempre tinha alguém chegando para malhar ou emagrecer. Se estivesse sozinha jamais daria conta. Diego também não descansou.
            Quando o dia enfim terminou estávamos exaustos. Fechei o caixa, contando os lucros. Matheus chegou para finalizar todos os expedientes e logo fomos embora.
            Alex me esperava, de smoking, dentro do BMW. Gemi, já me arrependendo de ter aceitado ir jantar com ele. Pelo visto seria em um lugar bem luxuoso. Entrei no carro exasperada.
            - Não estou adequada para ir a um restaurante. – admiti.
            - Você está linda.
            Senti meu coração se desmanchando. Ele estava impossivelmente mais lindo.
            - Qual é a ocasião especial? – perguntei.
            Pelo que eu me lembrava, agosto não era data nada comemorativa. O ano passado, neste mesmo mês, ele tinha me abandonado, isso não era nada para ser comemorado.
            - Não posso sair com minha namorada sem que haja um motivo? – ele fez um tom de chateado.
            Dei um sorrisinho enquanto ele saía com o carro. Seguimos o curto caminho até um restaurante italiano em silêncio. Tentei pentear o cabelo enquanto ele parava na porta da frente do restaurante, depois deu a volta e abriu a porta para mim. O manobrista levou o carro até uma vaga com um sorriso de satisfação.
            Alex me conduziu como um verdadeiro cavalheiro até uma mesa reservada para dois. Fiquei cada vez mais abismada com a gentileza de Alex. Depois ele se sentou de frente para mim.
            Várias pessoas nos olhavam. Acho que não era comum um casal de adolescente ir a um restaurante com tanta formalidade.
            - Qual é a ocasião? – repeti a pergunta.
            Ele respirou fundo com um sorriso torto tão lindo, o mais lindo que eu já vira.
            Notei um grupo de meninas, que aparentavam ter entre 15 e 17 anos, olhando abismadas para Alex. Senti-me presunçosa com aquilo.
            - Hoje fazemos seis meses de namoro... Oficial. – ele respondeu.
            Ele deveria ser o único garoto na face da Terra que se lembraria de um aniversário de namoro.
            O garçom nos entregou o menu. Concluí que uma macarronada básica seria excelente, já que não gostava de comer em público. Alex pediu algo com um nome tão estranho que imaginei ser horrível. Depois o garçom se retirou.
            - Quero retomar aquela conversa sobre casamento. – ele declarou.
            - Por favor, Alex, só temos 18 anos.
            - Não estou te pedindo em casamento, só acho que devemos abordar o assunto. – ele respondeu com um sorriso irônico.
            - Ah! – senti a decepção em minha voz.
            Eu devia ser louca. Uma hora, estava assustada com a proposta de casamento e outra hora, fico chateada por ver que tinha entendido errado.
            O garçomAlex parecia boa, mas eu não me arriscaria a experimentar. Desfrutei de minha macarronada.
            - Continuando... – ele falou – Você não pensa em se casar comigo?
            Fitei com provocação. Não era justo colocar o assunto daquele jeito, ele estava jogando baixo.
            - Claro que penso, mas tenho meus sonhos primeiro.
            - Bingo! – ele comemorou em voz baixa – Agora você sabe como me sinto quando você me coloca nesse tipo de situação.
            Percebi que nossa conversa encerrara do mesmo modo que a conversa da noite anterior.
            - Não é justo, não é? – ele continuou.
            - Nem um pouco. – concordei em voz baixa, segurando o talher sobre o prato.
            Voltei a comer minha macarronada, meu humor já estava ficando sombrio. Então era assim que ficaríamos, jogando sujo um com o outro? Ele também ficou pensativo.
            Resolvi pedir algo para beber. Chamei o garçom, que nos reparava de longe. Estava tão interessada no mistério de Alex que nem tinha reparado no garçom. Ele não deveria ter mais de 23 anos; tinha os cabelos extremamente negros, penteados com elegância para trás, sem nenhum fio fora do lugar; o smoking branco deixava sua pele clara quase translúcida. Tinha uma beleza radiante. Ele parou ao meu lado e entregou o menu de bebidas, um sorriso malicioso deixava-o mais lindo.
            Folheei o menu sem ver. Pedi apenas um suco de goiaba e devolvi o menu.
            - Não deseja algo mais? – ele perguntou com uma voz atraente.
            Alex olhou para cima abruptamente, parecia que ele também reparou na voz do garçom. Com certeza aquela pergunta tinha um duplo sentido.
            - Por enquanto não. Obrigada. – respondi de imediato.
            Ele assentiu e se retirou. Parecia satisfeito com minha resposta. Tentei reprimir uma gargalhada.
            - Ele estava dando em cima de você. – Alex falou com incredulidade.
            - Você falando desse jeito até sinto que isso é raridade. – respondi com um tom de ofensa.
            - Na minha frente é. Normalmente os garotos esperam eu sair para darem cantadas em você.
            - Ele só está fazendo o trabalho dele. – tentei defender o rapaz.
            - Ele é um garçom, não um gigolô. – Alex respondeu entre dentes.
            Dei uma risada baixa, satisfeita pelo ciúme dele.
            O rapaz voltou com minha bebida, desta vez mais confiante de sua cantada. Ele colocou meu refresco sobre a mesa com delicadeza, depois se virou para mim.
            - Por enquanto é só isso. – não foi exatamente uma pergunta.
            - É. – respondi.
            - Não. – Alex protestou, olhando severamente para o moço – Também quero algo para beber.
            O garçom lhe passou o menu sem muita vontade. Alex pediu um refrigerante, ainda olhando com frieza para ele. Depois o garçom se retirou.
            Bebi o refresco e voltei a comer da macarronada, enquanto Alex recebia sua bebida.
            - Como foi o primeiro dia de trabalho na Marshel’s academia? – ele tentou puxar assunto.
            - Foi cansativo. Não dá para descansar.
            - Já está reclamando? – sua voz saiu sarcástica.
            - Você não pode falar nada. – respondi também com sarcasmo – Falando nisso, quando você vai arrumar um emprego?
            - Estou procurando. Hoje mesmo, aproveitei de seu BMW para fazer algumas entrevistas. Não se preocupe, paguei a gasolina.
            - Ele nem gasta gasolina, é híbrido! Por que precisava do meu carro para fazer suas entrevistas? Queria causar alguma impressão?
            - Não. As entrevistas eram quase na mesma hora, então abusei do velocímetro do seu possante.
            - Depois fala que não gosta de correr. – acusei-o.
            Ele deu um sorrisinho enquanto afastava o prato vazio. Terminei de comer o resto da minha macarronada e também afastei o prato. O garçom veio retirar os pratos da mesa.
            - Deseja alguma sobremesa? – ele perguntou somente para mim.
            - Não. – respondi sem olhar para o rapaz.
            - Também não. – Alex respondeu com ironia – Não quer mais nada, Bia?
            - Nada. – garanti.
            - Então quero a conta. – Alex pediu.
            - Espere só um instante. – o garçom falou.
            Ele se retirou com as louças. Alex passou a mão por sobre a mesa e pegou na minha, o anel prata em sua mão direita destacava o nome Beatriz – escrito em dourado – de longe.
            - Te amo. – ele sussurrou.
            - Também te amo. – respondi.
            Percebi que o garçom já estava parado ao nosso lado, agora sem o sorriso maroto. Ele entregou a conta para Alex, que passou uma única nota.
            - O resto é seu. – Alex falou.
            - Puxa! Obrigado. – o moço agradeceu com felicidade, depois se retirou.
            Alex levantou e puxou a minha cadeira para me levantar também.
            - Quanto deu de gorjeta para o garçom? – perguntei aos sussurros.
            - Trinta reais. – ele respondeu em meu ouvido.
            Saímos para o estacionamento, o manobrista já esperava no ActiveHybrid7.
            - Posso fazer um elogio? – o manobrista perguntou para Alex.
            - Se for sobre o carro diga para ela. – Alex respondeu apontando para mim.
            - É uma delícia andar nesse seu carro, hein... – o manobrista falou para mim.
            - Obrigada. – agradeci.
            Alex abriu a porta do carro para mim, depois deu a volta e entrou no lado do motorista. Saímos do estacionamento e entramos na via principal. Recostei a cabeça no encosto do banco, decidida a fechar os olhos.
            - Está com sono? – a voz grave de Alex fez meus olhos abrirem subitamente.
            - Um pouco. – confessei – Que horas são?
            - Quase oito horas.
            Ainda estava cedo. Normalmente eu ficava cansada quando chegava perto das dez horas. Esse era o resultado de um dia de trabalho intenso.
            Chegamos na minha casa dez minutos depois de sairmos do restaurante. Cambaleei para fora do carro, pestanejando. Alex saiu do carro e veio me dar um beijo na testa.
            - Não vai entrar? – perguntei.
            - Hoje não. – ele respondeu levantando meu queixo.
            Ficamos de frente um para o outro. Ele tocou meus lábios de leve, depois se afastou. Seus olhos semicerrados.
            - É melhor você ir dormir, já está quase desmaiando. – ele falou.
            Notei que estava sendo sustentada pelos seus braços. Comecei a andar até a porta da frente enquanto Alex ia em direção ao Astra. Entrei em casa, depois ouvi o Astra sair. Cambaleei para o segundo andar, passando em frente à porta aberta do quarto de Carla.
            - Onde vocês estiveram? – sua voz não saiu desconfiada, apenas curiosa.
            - Em um restaurante italiano. – respondi ainda andando pelo corredor.
            Cheguei no meu quarto trancando a porta. Corri para a suíte decidida a tomar um banho rápido. Foi o que fiz, saí com apenas cinco minutos de banho. Desenrolei o cabelo seco e deitei na cama, sem mesmo colocar o pijama, dormi apenas de calcinha e sutiã. Estava calor mesmo.

            Acordei outra vez com a luz forte do sol intenso. Olhei o relógio na cômoda, marcava seis da manhã. Já estava na hora de ajustar o horário normal para o horário de verão, pensei. Fui tomar outro banho, agora um mais longo. Saí quase vinte minutos depois de ter entrado. Sequei o cabelo, depois o enrolei com o baby-liss, deixando meus cachos caramelo com mais volume. Procurei uma boa roupa para vestir. Encontrei uma saia balonê preta; uma camisa branca com cinto; e uma sapatilha da cor de meu cabelo. Ficou tudo perfeito.
            Desci contente para o primeiro andar. O jantar com Alex tinha me feito bem. Tomei o café com pressa, com os ouvidos atentos, esperando o Astra chegar. Logo aconteceu. Um som de carro parou no gramado. Corri para abrir a porta.
            Ele estava parado ao lado da porta de seu carro, sorrindo com elegância. As mãos dentro do bolso da calça jeans; uma camisa fina com a gola em V, mostrando o belo corpo musculoso que tinha; e os cabelos, arrepiados como sempre.
            Peguei a mochila que tinha largado em cima do sofá e andei em sua direção.
            - É melhor você ir com o seu carro. – ele falou depois de me dar um selinho – Vou fazer mais algumas entrevistas hoje, então não vou poder te trazer.
            Assenti e corri até a garagem. Saí com o BMW, parando ao lado do Astra.
            - Racha? – perguntei desafiadoramente.
            - Com tudo isso de potência não é justo. – ele choramingou.
            - Chorão. – debochei cantando pneus.
            Saí deixando uma nuvem de poeira para o Chevrolet atrás de mim. Logo estava no estacionamento da escola. Alex chegou três minutos depois de mim.
            Atravessamos o estacionamento de mãos dadas e sentamos em um dos bancos do pátio principal. Iza chegou com Caio logo depois. Imediatamente o sinal tocou.
            Eu e Alex sentamos juntos, como sempre, no centro da sala. Os outros alunos foram chegando aos poucos. Depois a professora Lisa, de inglês, entrou.
            Debrucei na carteira já entediada, antes mesmo da aula começar. A professora revirava os materiais em busca da caderneta de frequência dos alunos, quando alguém bateu na porta da sala e pediu para entrar.
            - Claro Suzana. Entre.
            A garota atravessou a sala e entregou um papel para a professora. A senhora Lisa pegou e se virou para a turma.
            - Gente, esta é sua nova colega de classe. – ela gesticulou para a garota.
            Houve assovios vindo de todos os lados. Até Alex se enrijeceu ao meu lado, mas não ficou boquiaberto como os outros garotos.
            Não era para menos, a moça era linda. Tinha os cabelos louros, completa-mente lisos até a metade das costas – parecia natural; os olhos em um verde-água vívido; a pele clara bem esticada – eu me recordava daquela pele, só não lembrava de quem; alta, aparentava ter um metro e setenta. Estava bem vestida: uma blusinha rosada, bem comportada; uma calça jeans escura; e um uma sapatilha Melissa de salto alto de última geração – então ela não era tão alta assim. Era uma garota de causar inveja.
            As meninas ao meu lado murmuravam grosseria sobre a garota – que achei desmerecidas. Mas algo naquela menina me intrigava, não era nada nela em particular, só que no jeito como ela olhava. Era familiar.
            Olhei automaticamente para Alex. Ele avaliava a menina, mas não do jeito que sempre me olhou, ou do modo de cobiça como os outros meninos, apenas olhava... O que me deixou satisfeita.
            - Meu nome é Suzana Winter. – ela se apresentou numa voz desenvolvida, do jeito que só se ouve nos filmes – Sou nova aqui em Barueri. Tenho dezoito anos completos. E espero que gostem de mim.
            As meninas ainda cochichavam, com um tom de repulsa na voz... Ou melhor, inveja. Percebi que eu jamais teria inveja do tipo de garota como Suzana, já que meu estilo era bem diferente do que causava cobiça nas outras meninas.
            Os meninos a elogiavam sem parar, ela já estava ficando rubra.
            A professora mandou ela se sentar com o menino a nossa frente – o garoto ficou todo eufórico.
            - Achou ela bonita? – perguntei me inclinando para Alex, minha voz saiu desafiadora.
            - Um pouco. – ele respondeu fitando o quadro negro.
            Ergui uma sobrancelha, ainda desafiando-o.
            - Muito. – ele admitiu por fim – Mas sabe, eu tenho uma certa queda por garotas skatistas.
            Dei uma leve risada.
            A garota se sentou bem na frente de Alex, o que me deixou aliviada, já que ela era muito alta para ficar na minha frente. A professora finalmente iniciou a aula, ou pelo menos tentou. Os alunos ficavam murmurando e falando gracejos, que, com certeza, eram para Suzana.
            As outras aulas se arrastaram do mesmo modo. Nos intervalos, principal-mente o mais longo de 30 minutos, os meninos se rastejavam atrás da garota e as meninas interesseiras guardavam lugares nas mesas para ela.
            Ela não pode fazer a aula de educação física, porque estava com roupas inapropriadas e não tinha nenhuma reservada, então ficou assistindo aos jogos de futebol dos garotos – que ficaram lisonjeados e se exibiram como nunca.
            Na hora da saída Alex me deu um beijo na testa e andou direto para seu carro. Demorei-me um pouco no pátio principal, depois resolvi ir embora. Consequentemente Suzana andou na minha frente com duas garotas da nossa sala – que eu não lembrava o nome.
            - Nossa, os meninos desta escola mandam bem no futebol. – ela elogiou.
            Sem querer comecei a prestar atenção na conversa delas enquanto andava até o estacionamento.
            - É. – outra garota respondeu, uma mais baixa de cabelos escuros e oleosos – Tínhamos um ótimo treinador. Ele ensinava tudo: futebol, voleibol, basquetebol, tênis... Sem falar que era um gato, mas foi embora.
            Elas estavam falando de Rodrigo, sem dúvidas. Era o único que sabia tudo isso por aqui.
            - Falando em gato... – Suzana comentou – Tem um na nossa turma que é um arraso, jogando futebol então... Fica um Deus grego.
            Agora estávamos no estacionamento. Parei ao lado de minha porta para ver o que ela iria falar. Elas estavam ao lado de um Mercedes SL 350 Sport Conversível, vermelho.
            - Quem? – outra menina perguntou. A que tinha os cabelos enrolados em um rabo de cavalo; com uma estatura média.
            Estiquei-me completamente para ouvir.
            - Não sei o nome dele. Ele estava de calça jeans, depois trocou por uma bermuda bege na educação física; uma camisa branca com gola em V. Tinha o corpo muito bonito, não muito forte, mas nada magro. Os cabelos claros arrepiados sem parecer usar gel; e tinha uma voz extremamente grossa. Ele estava atrás de mim e às vezes eu o ouvia cochichar com a colega ao lado. Aquela voz me deixava arrepiada.
            As outras duas garotas olharam automaticamente para mim. Percebi que eu estava debruçada na capota da BMW, olhando com fúria para a aluna nova.
            Mal chegara na escola e já cresceram olhos para Alex.
            - Ele tem namorada. – a baixinha do cabelo escuro murmurou.
            Suzana me encarou com descrença, depois entrou no Mercedes batendo a porta e cantando pneus pelo estacionamento. Fiz o mesmo com meu carro, mas sorrindo por dentro, lembrando de Alex falando que seu interesse era apenas em mim.
            Liguei o aparelho de som do meu carro, coloquei um CD de música eletrônica e aumentei até machucar meus ouvidos. Abri ao máximo os vidros para o som sair e corri... Corri ao extremo que meu ActiveHybrid7 permitia, sempre prestando atenção na estrada.
            Cheguei em um tempo recorde, apenas 1 minuto e 12 segundos depois de sair da escola. O asfalto em frente a minha casa ficou marcado pela freada dos pneus e o som foi tão forte que fez meus ouvidos reclamarem.
            Minha mãe estava sentada na varanda quando cheguei. Seu pulo foi tão alto que me fez rir dentro do carro. Mas eu sabia que estava bem encrencada.
            - Beatriz! – ela gritou enquanto eu descia do carro.
            Notei que Roberto Valentyne estava na varanda, ao lado de minha mãe. O que ele fazia ali?
            - Oi gente. – falei com inocência.
            - Que loucura foi essa? – Carla perguntou entre dentes.
            - Loucura? – perguntei com irreverência.
            Roberto reprimia uma risada. Pelo jeito estava me achando hilária.
            - Falei para seu pai que esse carro era muito veloz para ficar na sua mão.
            - Mãe! – fiz tom de ofendida – Só estava me divertindo um pouco. Não corro sempre.
            - Dá um tempo para ela, Carla. – Roberto pediu.
            - Que milagre de visita é essa? – perguntei para ele, tentando mudar o assunto.
            - Segui seu conselho e vim ver a casa ao lado da sua. Agora ela é minha.
            - Seja bem vindo à vizinhança. – cumprimentei-o.
            Entrei em casa cantarolando. No meu quarto troquei a saia balonê por um minishort xadrezado em tons de marrom e bege; a camisa branca com cinto por uma camiseta rosada mais larga e refrescante; e a sapatilha por um tênis Converse preto.
            Desci para o primeiro andar e peguei uma maçã na cozinha, em seguida peguei o skate e saí, ainda mordiscando a fruta.
            - Aonde você vai, filha? – Carla perguntou enquanto eu deslizava pelo meio fio.
            - Divertir-me um pouco. – gritei já do meio da rua.
            Deslizei pela rua sem saber para onde ir, na verdade. Decidi que precisava praticar minhas manobras esportivas, então deveria ir até a praça principal, lá tinha várias pistas, corrimãos e escadas. Dei meia volta e andei em direção a praça.
            O sol estava escaldante. Tive de parar uma vez para amarrar meus cachos em um coque, já sentindo o suor escorrendo por minha nuca. Quando cheguei no parque ao lado da praça parei para beber água, na verdade, quase sequei o bebedouro.
            Havia muito movimento na praça, mas a maioria deles estava nos bebedouros e chafarizes. Fui diretamente para os lugares de manobras. Comecei pelas escadas, passando pelo corrimão, depois segui para a pista maior, na intenção de treinar meus giros de 360°. Caí uma vez e fiquei deitada no meio da pista, quando ouvi meu nome.
            - Bia!
            Aquela voz era conhecida, eu me recordava dela, só que não com muita clareza. Parecia que eu não ouvia aquela voz há muito tempo. Só o reconheci quando se aproximou de mim e me deu a mão.
            - Está bem? – Olavo perguntou enquanto me levantava.
            Olavo era um grande amigo skatista. Ele tinha os cabelos castanhos com um corte curto – melhor do que antes que era raspados, – o corpo esbelto e algumas tatuagens pelo corpo.
            - Estou sim. – respondi já de pé.
            Percebi que Olavo não estava sozinho. Joni, um menino baixo, com pele de uma cor chocolate linda. Olavo e Joni eram meus melhores amigos no skate.
            - Oi Joni. – falei.
            - Olá sumida! – ele respondeu – Onde esteve esse tempo todo?
            - Estive ocupada e não deu para me divertir muito.
            - Mas agora a melhor skatista do mundo está de volta, não é? – Olavo perguntou.
            Assenti corando. Eles sempre me mimavam.
            - Você está boa nos 360, hein! – Joni me elogiou.
            - Acabei de cair e você fala que eu estou boa! – zombei.
            - É sério. Está preparada para um campeonato... Falando nisso, tem um campeonato de skate em Campinas.
            Ele me passou um folheto com a propaganda do campeonato de skate. Tinha vários tipos de pistas perfeitas para manobras.
            - Topa? – Olavo perguntou com presunção.
            - Quando vai ser? – perguntei.
            - Em fevereiro. – os dois responderam em coro.
            - Topo sim. – falei.
            Eles comemoraram e me abraçaram em conjunto.
            Ficamos por mais algumas horas lá, treinando para a prometida competição. Éramos muito bons juntos. Já tínhamos três troféus em campeonatos municipais; dois estaduais e dois distritais. Sempre fomos os skatistas respeitados pelos outros. Olavo costumava dar algumas aulas para os principiantes, já gostava de se exibir.
            Quando o sol começou a se por peguei meu skate, decidida a voltar para casa. Despedi-me de Joni e Olavo, depois deslizei pelas ruas até minha casa. Notei que o Astra não estava parado no jardim, como sempre estava nesse horário. Entrei e fui direto para o telefone, disquei o número da casa de Alex e Amanda atendeu:
            - Alô?
            - Amanda, é a Bia. O Alex está?
            - O Alex está dormindo, Bia. Ele pediu para avisar que não passou aí porque estava cansado por ficar o dia todo fazendo entrevistas de emprego, mas amanhã de manhã ele estará aí.
            - Tudo bem. – respondi.
            Eu entendia os motivos dele. Despedi de Amanda e subi para o meu quarto. Tomei um banho rápido e voltei à cozinha para jantar com minha mãe. Foi um jantar tranquilo, falamos muito pouco. Depois voltei ao meu quarto, decidida a fazer meus deveres de casa. Estavam difíceis, demorei horas para resolver apenas uma página de exercícios de física, mas enfim terminei. Dormi com facilidade aquela noite, já imaginando como seria meu dia seguinte na Marshel’s academia.

            Acordei com uma mão deslizando pelo meu rosto. Abri os olhos para o rosto mais lindo que alguém poderia ver. Alex estava ajoelhado ao lado de minha cama, seu rosto estava inclinado para o meu num sorriso extremamente lindo. Tentei sorrir também, mas me lembrei que ele só chegava cinco minutos antes de sairmos.
            - Ah! Estou atrasada, não é? – perguntei ainda sonolenta.
            Ele continuava acariciando meu rosto enquanto respondia, a voz mais grave do que o normal.
            - Muito.
            Será que era possível, ele ainda estava desenvolvendo a voz?
            Levantei subitamente e corri para meu banheiro. Tomei o banho mais rápido que podia, coloquei a primeira roupa que achei: uma simples calça jeans, uma camisa pólo feminina e um tênis Nike. Passei pelo primeiro andar ignorando meu café da manhã e corri para o BMW. Alex ria da minha pressa.
            - Por que não me acordou? – sibilei, enquanto cantava pneus.
            - Você estava tão linda dormindo que tive pena de acordar.
            - E agora estou com uma roupa horrível e os cabelos completamente embaraçados nesse rabo-de-cavalo que fiz.
            - Você está linda.
            Bufei.
            Já estávamos no estacionamento lotado da escola. Todos os carros dos alu-nos do 3º colegial estavam ali, e pior, não tinha nenhum aluno ali.
            Desci com pressa, enquanto Alex estava sereno. Fala sério, estávamos completamente atrasados, ele não estava apressado?
            O monitor de corredores nos encontrou no meio do pátio. Ele estava em um terno preto, os cabelos penteados corretamente e a cara severa, o que me preocupou.
            - Onde pensa que vai o lindo casalzinho? – o monitor perguntou com formalidade.
            - Para a sala. – Alex respondeu mais formal ainda.
            - Vocês estão quinze minutos atrasados. Pensam que algum professor vai lhes deixar entrar?
            - Não custava tentar.
            - Só vão poder entrar na segunda aula.
            - Tudo bem.
            Alex passou a mão por minha cintura e começou a me guiar para fora da escola.
            - Para onde vamos? – perguntei.
            - Para a lanchonete. Você precisa se alimentar.
            A lanchonete ficava apenas alguns metros dali, e eu realmente precisava comer alguma coisa, minha barriga já reclamava. Sentamos em uma pequena mesinha – de frente um para o outro – do lado de fora da lanchonete, aonde o sol fraco da manhã chegava com facilidade. Pedi um misto quente e um suco de goiaba. Comi, enquanto Alex só observava.
            - Conseguiu algum emprego, ontem? – perguntei, tentando puxar algum assunto.
            - Nenhum que eu gostasse. Apenas aqueles que não sei fazer, ou que não pagavam o suficiente para pagar a faculdade.
            - Qual curso vai fazer?
            - Estou entre medicina e justiça.
            - Pretensioso hein!
            - Só quero fazer o que gosto.
            Mordisquei o misto quente, olhando para seu rosto. Ele estava com as mãos cruzadas apoiando a cabeça.
            - Alex, sou sua primeira namorada, não é? – perguntei com timidez.
            Ele hesitou antes de responder.
            - Primeira e única. – ele falou.
            - Mas não fui à primeira menina que você beijou. – não foi exatamente uma pergunta.
            - Não. – seu rosto corou.
            - Quero saber sobre essas outras meninas que você ficou.
            - O que você quer saber?
            - Por que ficou com elas?
            - Bom, a primeira vez foi para provar para meus “amigos” – ele fez sinal de aspas com os dedos – de que eu não era gay. Até que ela era bonitinha e já me dava bola desde pequena, mas não foi nada de que eu gostasse. Para mim, eu continuava sem beijar uma menina.
            - Quantos anos você tinha? – perguntei com interesse.
            - Doze ou treze. Meus amigos achavam que eu não tinha interesse nas meninas, por isso não tinha beijado nenhuma. Falavam que eu era gay porque varias me rondavam, mas eu dispensava todas.
            - Qual era o nome dessa primeira?
            - Fátima. Ela era loirinha, o rosto perolado, mas nada que a deixava muito linda, na minha opinião.
            - E as outras?
            - A segunda foi uma aposta. Apostamos num jogo de futebol. Se meu time ganhasse, eles teriam de desfilar na escola com o uniforme do meu time. Se eu perdesse, teria de beijar a menina mais linda da escola. Perdi. Ela era do segundo colegial, enquanto eu era da sétima serie. Mas foi fácil, ela aceitou na primeira vez que pedi. Os moleques ficaram bobões.
            Ele continuou:
            - A terceira foi uma amiga da Gabi. Minha irmã estava fazendo dezesseis anos e estava uma festa estrondosa. Ela me apresentou uma amiga que ficou louquinha por mim. A Gabi me encheu tanto a paciência que acabei cedendo, mas fujo até hoje dos pedidos de namoro.
            Ele ficou quieto, me vendo comer.
            - Foram só três? – perguntei.
            - Quatro. – ele respondeu.
            - Então... – incentivei-o a continuar.
            - A quarta foi um desastre. Era fim de ano, eu já estava com catorze anos, foi a primeira e última vez que bebi álcool. Ela era minha vizinha. Eu estava completa-mente bêbado e meus amigos, também bêbados, ficavam me empurrando para ela. No outro dia ela saiu falando para todo mundo que estávamos namorando. Ela era bonitinha, mas tinha doze anos. Tive de desmentir tudo. Depois jurei nunca mais chegar perto de menina nenhuma. Cumpri minha promessa até te conhecer, dois anos depois.
            Corei um pouco.
            - Mas você tem algum contato com alguma delas? – insisti.
            - Com elas não. Só com alguns desses meus amigos. Eles falam alguma coisa sobre as meninas, só para me provocar. Todas continuam morando e estudando no mesmo lugar, menos a segunda, ela está casada em outro estado. Mas as outras três continuam solteiras e um deles me falou que duas delas estão completamente lindas.
            “Contei que estava namorando, mas eles não acreditaram. Falaram que precisam te ver para crer”.
            - Também quero conhecê-los. Você me deixou curiosa.
            - Amanhã, sábado, te levo para conhecê-los.
            Neste momento ouvimos o sinal do pequeno intervalo tocar. Paguei meu misto quente e meu suco, depois seguimos para o pátio da escola. O pátio já estava lotado.
            Percebi que a aluna nova saiu conversando com Nani. Não sei porque um arrepio subiu por minha espinha. Era minha fértil imaginação. Depois que Gisele Stoff, a psicopata que tentou me matar a alguns meses atrás, fugiu, fiquei descon-fiada de todos os novos moradores que apareciam em Alphaville.
            Sentamos em um banco ao lado da porta da sala. Dez minutos depois o sinal para a segunda aula tocou. Eu e Alex entramos procurando uma mesa dupla vaga, que por milagre tinha.
            Aquela era a aula de historias gerais. Uma aula que eu não era muito boa, mas que não me incomodava.
            Suzana estava sentada junto com Nani. Elas pareciam ter se dado bem, então ela não deveria ser exibida, mesmo tendo aquela beleza estonteante.
            As outras aulas pareciam se arrastar, até a hora em que o sinal do intervalo mais longo tocou. Decidi, pela primeira vez, assistir a um jogo de futebol do time de Alex. Ele não costumava jogar, só em educação física ou com os amigos, mas naquele dia convenci-o a jogar.
            Ele era bom. Ficava sempre na zaga. Comemorei igual louca quando ele fez um gol, dedicando-o a mim.
            Depois do animado intervalo de trinta minutos veio o restante das aulas. Foi uma aterrorizante monotonia. Por um momento desejei que tivéssemos matado aquelas aulas quando tivemos chances. Mas por fim acabou.
            Alex me levava para o serviço, quando discou o número de alguém e colocou o celular no viva-voz. Uma voz masculina, desconhecida, atendeu:
            - Alex! Que milagre!
            - Fala, George! – Alex respondeu com simpatia.
            Nunca tinha visto Alex falar na gíria daquele jeito.
            - Que te passas? – George perguntou com irreverência.
            - Vou fazer uma visita para vocês amanhã. Carlos e Pedro continuam aí, não é?
            - Continuam sim. Fátima, Marcela e Patrícia também.
            Fátima era a primeira menina de Alex, Marcela e Patrícia deveriam ser as outras.
            - Falando nisso, vou levar minha namorada. Agora vocês vão ver o que é beleza.
            Senti meu rosto corar.
            - Mais gata que Marcela? Duvido!
            - Verás! Fala pros moleques que amanhã de manhã estou chegando.
            - OK.
            - Falô, George.
            - Falô.
            Ele desligou com um sorriso de satisfação.
            - É bom falar com os velhos amigos. – ele comentou.
            Assenti, perdida em pensamentos. Finalmente conheceria o passado de Alex. Os velhos amigos, as meninas antes de mim – mesmo que elas nunca tenham sido namoradas dele – e a antiga casa, cidade.
            Ele estacionou em frente à academia. Desci lhe dando um selinho.
            - Venho te buscar às cinco horas. – ele falou.
            - Tudo bem. – concordei.
            Entrei e quase me arrependi quando vi o movimento intenso. Por que Matheus me tirara da calma, pacata e sedentária Alphaville, onde a loja de artigos acadêmicos era quase parada? Ah, claro! Pelo salário dobrado.
            Trabalhei incansavelmente ao lado de Diego. Ele não teve nem tempo para jogar suas cantadas baratas.
            - Esse é o ritmo das sextas-feiras. Todo mundo quer ficar em forma para o fim de semana. – ele me informou.
            - Pior que muitos daqui são extremamente magros e estão aqui. – observei.
            - É. Mas não podemos falar nada. São eles que pagam nosso salário.
            Assenti enquanto matriculava uma mulher que deveria ter uns quarenta anos de idade e pesar uns noventa quilos.
            Matheus não apareceu em momento algum. Devia ter passado seu dia na pequena loja de artigos acadêmicos, ao lado de Luana, sua namorada, até quando eu sabia.
            Alex veio me buscar exatamente às 5 horas, no seu próprio carro. Entrei hesitante. Fazia tempo que eu não andava no Astra verde-hera de Alex.
            - Não foi fazer entrevistas hoje? – perguntei enquanto entrava.
            - Não. Fui para casa descansar.
            - Hum! – foi só o que respondi.
            Eu tamborilava os dedos no encosto do banco do carro. A velocidade daquele carro me deixava impaciente. Como um carro poderia ser tão lento? Depois me lembrei que não era justo comparar a potência de um Chevrolet com um BMW.
            Chegamos em casa minutos depois. Entramos e percebi que minha mãe não estava. Arrastei Alex até meu quarto. Quando ele se sentou em minha cama notei que carregava algo preto. Olhei interrogativamente enquanto sentava ao seu lado.
            - Trouxe para você ver. – ele explicou.
            Encostei-me na cabeceira da cama, enquanto pegava o álbum que Alex me entregava. Abri a primeira página e percebi que aquele era um álbum de fotos antigas, fotos de quando Alex era pequeno.
            - Percebi que você ficou interessada em meu passado.
            Assenti, revirando as páginas do álbum.
            Alex era muito mais lindo do que agora. Os cabelos claros caíam lisos até as orelhas; o sorriso impecável de uma criança e os olhos brilhantes como de quem acabara de aprontar algo. Ao seu lado estava Gabi; as roupas absurdamente incombináveis; o cabelo amarrado em um rabo-de-cavalo mal feito. Outra foto era dele pequeno, de mais ou menos dois meses, brincando em cima de uma cama com vários brinquedos ao redor.
            Revirei todas as fotos, me emocionando a cada folha. Como alguém pudera ser tão lindo quanto era agora?
            - Espero que nosso filho seja igual a você, sem nenhuma interferência minha. – falei despreocupadamente.
            - Isso seria um desperdício. – ele declarou.
            Passou-se um minuto de silêncio enquanto eu via as últimas fotos, quando Alex começou:
            - Sabe, de manhã você me fez as perguntas sobre as meninas que beijei antes de você...Fiquei curioso com relação aos seus. Passei a tarde toda pensando em seus ex. Quantos teve e como foi?
            - Só tive um namorado antes de você, que foi Rodrigo. – falei sinceramente – Mas fiquei com alguns antes disso.
            - Quem foi seu primeiro? – ele perguntou interessado.
            - Meu primo. – respondi corando.
            - Primo? – ele pareceu surpreso.
            - Nós dois estávamos curiosos, então resolvemos experimentar. Foi diverti-do. Rimos disso até hoje. Ele também tem dezoito anos.
            - Qual o nome dele?
            - Fernando. Mora no Bairro Brooklin. Faz tempo que não o vejo.
            - E os outros?
            - A maioria foi em campeonatos de skate. Nos bastidores. Os meninos dos outros grupos chegavam e jogavam cantadas, que eu aceitava. A maioria era idiota, mas às vezes os meninos eram bonitinhos.
            - Se arrepende de algum?
            - Só de um. Nos beijamos por acidente. Estávamos comemorando nossa primeira vitória em um campeonato estadual.
            - Então foi Joni? – ele pressupôs.
            - Não. Foi Olavo.
            - Seu amigo gay? – ele sobressaltou.
            - Foi um acidente. – tentei explicar – Juramos não tocar mais no assunto.
            - Você tinha quantos anos quando aconteceu isso?
            - Quinze. Eu acho.
            - E quantos anos tinha quando beijo seu primo?
            - Dez, pelo que me lembro.
            Ele ficou de queixo caído.
            Continuei olhando as fotos finais de seu álbum. Sempre tão lindo e glorioso. Alguns minutos depois Alex se foi, enquanto eu caía em sono profundo.


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