terça-feira, 5 de julho de 2011

Capítulo 12

12- MARCOS


Acordei com o frio me arrepiando. Olhei o relógio e eram seis da manhã, logo iria para escola, então resolvi me arrumar lentamente.
Tomei um banho extremamente quente, de um jeito que ardia e fiz meus músculos se soltarem e aquecerem com o calor da água, pois o dia lá fora estava frio.
Caprichei no café da manhã de um jeito que não fazia desde que era criança. Voltei para o meu quarto, peguei a mochila e corri para o carro.
Estava pensando em buscar Alex, mas eu havia sido tão ignorante com ele que duvidava que ele queria me escutar agora. Então resolvi ir direto para escola. Sabia que chegaria cedo demais, pelo menos teria tempo para pensar.
Cheguei e o estacionamento ainda estava vazio, só com os carros dos professores. Decidi ouvir música. Peguei o CD de música erudita que um dia Alex me deu, coloquei no volume baixo e comecei a ouvir inclinada no banco. O som era suave, fazia relaxar, era prazeroso de se ouvir. Tentei me concentrar ao máximo no som dos violinos, dos violoncelos e todos os outros instrumentos da orquestra.
Estava tão concentrada na música que não percebi que o movimento no estacionamento tinha aumentado. Agora estava cheio.
Ouvi uma batida tradicional no vidro do carro. Desliguei o som e abaixei o vidro. Era Alex.
- Oi. – ele disse tímido.
- Pensei que estava com raiva de mim. – respondi envergonhada.
Ele abriu um sorriso que eu não via há muito tempo. Que eu não via desde quando éramos apenas amigos. Senti borboletas no estômago.
- Bravo não, só chateado.
Eu me lembrava daquela frase. Ele dissera quando éramos colegas de trabalho. A lembrança foi boa.
Desci do carro e o abracei com força. Era impressionante o quanto amava ele.
- Desculpa! Desculpa! – insisti – Te amo.
Ele me puxou mais pra perto de seu peito. Senti seus lábios frenéticos nos meus. O agarrei de forma que ficasse constrangedor. Ouvimos um pigarro ao nosso lado. Era Nanda me esperando para poder falar algo.
- Te amo. – ele sussurrou com a voz mais grave em meu ouvido.
- Também. – sussurrei com uma voz agradecida.
Saí de seus braços e andei em direção a Nanda, que olhava fascinada para mim e para Alex.
- Quer falar comigo? – perguntei.
- Sim. Na verdade é só um aviso: Marcos quer falar com você. Hoje!
Ouvi Alex bufando ao nosso lado.
- Mas hoje eu trabalho.
- É breve. – ela respondeu.
- Tudo bem, eu vou.
Seguimos os três juntos para a sala de aula.
Todos já estavam lá dentro. Percebi que não havia lugares duplos sobrando, somente vagas ao lado de outros colegas. Ao lado de Gisele havia um. Encarei Alex que me olhava em interrogativa, como se pedisse permissão. Como resposta, sentei ao lado dela e ele teve que sentar com Caio.
Vi, pelo canto do olho, ela me fuzilar com os olhos. Sem dúvidas aquele lugar era para Alex.
A aula de física começou, mas eu não conseguia me concentrar, só pensava que estava sentada ao lado de uma psicopata que queria me matar. Esses pensa-mentos me levaram de volta a conversa com Joseph. Ele me disse para jogar igual a ela – ela mentia, fingia uma identidade – eu poderia fazer o mesmo. Poderia fingir ser sua amiga. E começaria a partir de agora.
Contaria até dez, e depois falaria com ela. Um...Dois...Três...Quatro...Cinco... Seis...Sete...Oito...Nove...Hesitei...Dez...
- Oi. – saiu automaticamente.
Ela me olhou bruscamente, com cara de quem não entendia.
- Oi. – ela respondeu hesitando.
- Alex me pediu para parar de implicar com você, porque isso não tem motivos. Não é? – fiz questão de perguntar, mas sem demonstrar o sarcasmo.
- É.
- Então, vamos começar de novo? – sugeri.
- Hã... Claro! – ela gaguejou.
Tentei continuar a conversa com ela até o final da manhã. Gisele não estava gostando, mas tentou ao máximo não derrubar sua máscara de menina dócil.
O último sinal tocou. Andei diretamente para a BMW, Alex me seguiu.
- Vai sozinha hoje? – ele perguntou.
- Vou sim. Depois do serviço pretendo passar na casa da Fernanda. – res-pondi.
- Falar com o Marcos? – perguntou com desconfiança.
Fechei a porta do carro e o olhei com irreverência.
- Vou. Está com ciúmes?
Não esperei sua resposta, apenas dei ré com o carro e saí em disparada.
Cheguei à loja em alguns minutos. Desci do carro e andei até o meu habitual balcão.
Enquanto trabalhava, comecei refletir. Como faria para separar o Marcos de Gisele. Como Alex, Marcos não acreditaria no que eu falasse. Então eu teria que ser direta com ela. Faria isso hoje.
Naquele dia, o movimento da loja foi intenso. Muitos compravam pesos, esteiras e outros artigos acadêmicos para passar no fim de semana. Mas logo o expediente acabou.
Saí da loja e entrei no carro na intenção de ir até a república. E foi o que fiz.
Cheguei a grande casa em poucos minutos. Marcos me esperava na calçada.
- Sabia que você viria. – Marcos gritou andando em direção ao carro.
Desci tentando deixar escapar um sorriso. Ele pareceu satisfeito. Percebi que ainda mexia com seu coração, então seria fácil – um golpe baixo, – porém fácil.
- Estou curiosa para saber sobre o que você quer conversar comigo. – falei.
- Na verdade, só queria te ver. – ele me abraçou.
Andamos em direção a casa. Leandro e Amanda se encontravam na sala, assistindo a um programa. Nanda estava na grande mesa de jantar, rodeada por livros. E Luana lia a um romance ao lado das escadas. Apenas Gisele não estava lá. Imaginei que ela estava trancada no quarto planejando algo.
- Estou feliz que tenha vindo. – Marcos confessou ainda segurando a minha mão.
- Sua namorada não vai gostar disso. – tentei provocá-lo.
Queria saber que poder Gisele tinha sobre ele. Será que ele percebia que estava sendo usado? Esperava que não, pois isso poderia deixar sua auto-estima muito baixa, já que estaria outra vez perdendo alguém para o Alex. Mas por outro lado eu esperava que sim, pois não estava afim de vê-lo sofrer de novo.
- Ela não é minha namorada. Só estamos passando uns tempos juntos.
- Mas você gosta dela? – percebi que minha pergunta o fez hesitar.
- Não do jeito que te amei.
Agora estávamos no alto da escada, parados próximo aos dormitórios.
Abaixei a cabeça para fitar seus pés. Senti minhas bochechas esquentarem, com certeza eu estava vermelha.
Nesse instante Gisele surgiu na porta do quarto que antigamente era meu. Ela nos fitou, com um olhar zangado para Marcos, mas eu sabia que por dentro ela estava comemorando vitória, já que o sentimento entre nós ainda estava vivo.
- Oi Bia! – ela me cumprimentou.
Assenti.
- Que bom que está aqui. Quero falar com você, pode vir aqui? – ela falou cinicamente.
- Se importa? – perguntei olhando para Marcos.
- Se prometer voltar rápido. – ele falou pegando uma mecha de meu cabelo.
- Prometo. – falei encostando a cabeça em seu corpo e saindo.
Gisele o fuzilou com os olhos enquanto eu entrava em seu quarto. Ouvi-a trancar a porta. Uma onda de medo me dominou, mas eu não poderia deixar transparecer isto. Tomei coragem para virar e encarar seu rosto.
Ela me fitava pelas costas, com uma certa curiosidade.
Percebi que seu estilo estava diferente. Ela estava toda de preto. O cabelo extremamente liso pendia abaixo dos ombros, a franja não escondia o olhar furioso que ela tinha sobre mim.
- Sobre o que quer falar comigo? – tentei parecer mais amistosa possível na pergunta.
- Por que decidiu virar minha amiga assim, tão de repente? – sua voz mostrou a forte desconfiança que tinha.
- Já disse, – tentei parecer natural – Alex me pediu. Ele é quem está so-frendo com nossa briga, porque é ele quem está no meio deste fogo cruzado.
- Entendi. – ela respondeu andando em direção ao pequeno closet do quarto – Vou trocar de roupa, não se importa em ficar sozinha por alguns instantes, não é?
- Não. – respondi.
Passei os olhos pelo pequeno quarto, quando achei um notebook preto, aberto em cima da cama. Lembrei que dentro da minha bolsa havia um pen drive vazio.
Olhei por sobre o ombro para certificar de que ela não estava olhando. Peguei o pen drive e o conectei ao pequeno computador. Na tela principal apareceu a opção de copiar tudo, confirmei e coloquei o pen drive para copiar todos os arquivos do notebook.
Eu tinha que distraí-la para não voltar ao quarto tão cedo. Andei até a porta do closet, onde ela trocava a roupa gótica por uma blusa pólo e uma minissaia preta.
- Então, - comecei – você e o Marcos estão em um namoro sério?
- Estamos. – ela disse com firmeza.
Minha vontade era de rir. Marcos não tinha a intenção de namorá-la e ela estava se gabando.
- Boa sorte para vocês. – declarei.
- E você e o Alex?
- Melhor impossível. – Minha voz saiu com solidez.
Ela assentiu. Percebi sua expressão mudar.
Ela já estava voltando para o quarto. Andei rapidamente para o notebook e arranquei o pen drive de lá. Por sorte, ele já havia copiado tudo. Escondi na bolsa.
Gisele voltou com uma nova aparência. Agora parecia uma simples menini-nha inofensiva.
- Também lhes desejo sorte. – ela disse.
Rá! Minha vontade era de explodir em gargalhadas. Como alguém podia se convencer de que Gisele era uma menina prendada só pelas roupas que ela usava, pelo cabelo amarrado sempre em um rabo-de-cavalo ou pela beleza natural? A psicopata estava descrita em seus olhos.
- Gi, - tentei ser amiga – por que você não mora com seus pais?
Eu já imaginava a resposta.
- Meus pais acham que eu sou louca e vivem querendo me internar. Na verdade, eu acho que isso é só uma desculpa para se livrarem de mim.
- Nossa! – que trágico! Eu inventaria melhor – Vou embora, ta?
- Está bem. Obrigada por me ouvir e que bom que somos amigas agora. – ela respondeu.
Ela andou até a porta e a abriu para mim. Saí do quarto e dei de cara com Marcos me esperando.
- Demorou. – sua voz soou sedutora.
- Desculpe. – falei abraçando-o.
Percebi que eu estava dando esperanças a ele. Decidi me afastar e lhe mos-trar que minhas intenções era de somente amizade.
- Preciso ir. – eu disse me afastando.
- Mas já? – ele perguntou decepcionado.
- Já está tarde.
Ele assentiu.
Despedi-me de todos da casa e voltei para o carro.
Estava chuviscando quando saí. O céu já estava escurecendo. Deveriam ser seis horas ou mais. Sem dúvidas Alex já estava na minha casa, aflito e preocupado. E com certeza ele deve estar pensando que depois que eu comecei a dirigir, fiquei mais imprudente com meus horários.
Cheguei em casa, vi que o Astra já estava estacionado no jardim.
Entrei e deparei com minha mãe conversando com Alex na sala de estar. Isso era estranho, pois quem costumava ficar com Alex era meu pai. Olhei por sobre o ombro e reparei que havia, outra vez, um Toyota Corolla estacionado há alguns me-tros do Astra. Deveria ser Suélen, outra vez.
- Olá, “atrasadinha”. – Alex me cumprimentou.
- Oi. – respondi – Mãe, a Suélen está aí?
- Sim. Ela tem algum assunto importante com seu pai, não sei o que é.
- Tudo bem. Vamos lá em cima Alex? – sugeri indicando com a cabeça.
Ele se levantou e me seguiu.
No quarto, tranquei a porta. Peguei o pen drive dentro da bolsa e o conectei em meu computador.
Alex se sentou ao meu lado e ficou observando com curiosidade o que eu fa-zia com o notebook.
Na tela inicial apareceu a janela de boas vindas e a senha de acesso ao computador. Não foi nenhuma surpresa. Claro que o computador de uma psicopata teria uma senha de acesso.
Tentei imaginar palavras-chaves boas para um código, mas eu teria que imaginar igual a uma pessoa obcecada.
Digitei Alex – não funcionou.
Digitei Gisele – também não funcionou.
Fui na opção de ajuda e o computador me mostrou a seguinte frase: Pessoa no qual eu “adoro” e que jamais vai esquecer minha “amizade”. Eu já sabia que era o nome de alguém naquele código, e uma pessoa que ela foi muito amiga.
Não conhecia ninguém que poderia ser amiga de Gisele Stoff.
- Quer uma ajuda para pensar em uma senha? – Alex interrompeu meus devaneios.
Já até havia me esquecido que Alex estava ali comigo, vendo tudo que eu es-tava fazendo.
- Sim. Consegue entender a frase?
- Pelo que estou vendo, você está tentando invadir o computador de alguém. De quem é? – ele disse com sarcasmo.
- Se você me ajudar vai ficar sabendo.
- Tudo bem. As palavras: adoro e amizade, estão entre aspas. Isso pode significar o contrário do que elas querem dizer.
- Nesse caso, odeio é o contrário de adoro e inimizade o inverso de amizade.
- Isso mesmo. Então, já te ajudei. De quem é o computador?
- Da Gisele. – respondi sem hesitar.
- Ah Bia! Francamente. Não vou ficar aqui com você para bisbilhotar as informações de uma amiga minha.
- Tudo bem.
Ele destrancou a porta e saiu carrancudo.
Continuei a pensar em uma senha. Então a frase havia ficado assim: Pessoa no qual eu “odeio” e que jamais vai esquecer minha “inimizade”. Mas quem Gisele odiava?
Claro!
A resposta veio como um jato!
Digitei Beatriz e o resultado me surpreendeu. A senha foi aceita.
Na área de trabalho havia uma foto dela com Alex, que acredito ter sido tira-da quando eles ainda estavam naquele manicômio. Ela parecia feliz, com um sorri-so de posse; mas Alex estava com uma expressão abatida e parecia mais magro, do jeito que eu o havia visto quando voltou.
Ignorei a foto e comecei a vasculhar o computador em busca de qualquer coisa que provasse o perigo por trás daqueles olhos meigos. Encontrei uma pasta escrita registro, decidi ver o que tinha lá dentro. Eram os registros de conversas que ela tinha no Messenger. Havia muitas conversas com um tal de Rone_psy. Abri a conversa.
Ele parecia uma espécie de melhor amigo dela, mas não poderia ser, pois ela não tinha sentimentos, não poderia ligar para um sentimento tão banal como amizade. Deveria ser alguém muito importante para ela.
Uma daquelas conversas me abalou:

Rone_psy diz:
Eai Gi? Alguma novidade com a garota que você quer se livrar?

Gisele diz:
Ah! Tenho sim! Você acredita que um dos meus colegas de república já foi namorado dela? Já sei como vou infernizar a vida daquela intrusa!

Rone_psy diz:
Legal, mas e se isso não incomodá-la?

Gisele diz:
Vai sim! Eles são ótimos amigos e eu posso sentir como o sentimento deles ainda existe. Pelo menos um pouco.

Rone_psy diz:
Mas diz aí, como vai ser o plano?

Gisele diz:
Vou atormentá-la até ela se cansar e quando isso acontecer, eu lhe faço uma proposta irrecusável... O resto você já sabe...

Rone_psy diz:
Sei sim! Vai ser irado!!!

Gisele diz:
Posso contar com você, não é?

Rone_psy diz:
Opa! Claro que pode. Comigo e com meus comparsas!

Gisele diz:
Ótimo!

E decidi parar de ler aquela conversa.
Fui para outro registro. Agora a conversa era de uma semana depois, fazia algumas horas que estava ali. Ainda era com o tal de Rone_psy:

Gisele diz:
Rone... Rone... Tenho algo muito louco para te contar...

Rone_psy diz:
Fala o que é!

Gisele diz:
Aquela garota, a Beatriz, decidiu ser minha amiga, falou que era pedido do Alex, mas eu não acredito!

Rone_psy:
Acredita mesmo não, hein... Ela está tentando se aproximar de você.

Gisele diz:
Acha que ela suspeita dos meus planos?

Rone_psy diz:
Acho sim e é melhor agir rápido.

Gisele diz:
Beleza! Vou agir.

Rone_psy diz:
O plano é o mesmo?

Gisele diz:
É sim. Do jeito que falei. Aquela patricinha vai ter o fim que merece.

Fechei o notebook no mesmo instante. Aquela conversa tinha me assustado, e muito! Aquela garota era mesmo psicopata e uma das piores que eu poderia ver.
Desci desesperada para o primeiro andar. Alex se encontrava na sala, Assis-tindo a um noticiário junto ao meu pai. Peguei sua mão abruptamente e o arrastei escada acima até o meu quarto.
- Bia! O que foi? – ele perguntou exasperado.
- Você precisa ler isso! – falei levantando a tela do notebook.
- Ah não! Não vou ver as coisas da Gisele. Inclua-me fora dessa Bia.
- Mas Alex veja, aquela garota é psicopata. Olha o que ela está planejando contra mim.
- Beatriz, você está com algum problema, não é possível tanta aversão a Gisele.
Eu estava ali, desesperada, com provas de que havia uma louca atrás de mim e ele falava que eu tinha algum problema? Minha paciência não era tanta.
- Entendi bem? – perguntei me soltando de sua mão – Você acha que eu é que tenho problema mental? Alex! Tudo bem! Não acredite em mim, fique do lado de sua amiguinha! Mas depois não se culpe está bem?
Ele abriu uma gargalhada. O fitei incrédula.
- Sai daqui Alex! – gritei empurrando-o para fora do quarto.
- De novo, você adora me expulsar. – ele disse com sarcasmo.
- Sem gracinhas! Vai embora! Quero ver seu carro longe do jardim e amanhã não precisa vir aqui. Vou sair. Vou atrás de alguém que realmente acredite em mim.
Antes que ele falasse qualquer coisa, bati a porta em sua cara.
Desliguei o computador irregularmente e me atirei na cama. Lágrimas começaram a transbordar dos meus olhos. Eu só não sabia qual era o real motivo por estar chorando. Era decepção por Alex não acreditar em mim ou medo por estar na mira de uma assassina? Pareciam os dois, pois as lágrimas escorreram sem parar. E se arrastaram à noite inteira.

Acordei com uma luz forte atravessando a minha janela. Senti meus olhos inchados e doloridos, meus músculos estavam rígidos, e o frio arrepiava a minha pele. Eu havia dormido do mesmo jeito que havia deitado para chorar.
Tomei um rápido banho e desci para o primeiro andar.
Estava esperando ver minha família tomando o café da manhã, mas a varanda estava vazia. Imaginei que era por causa do frio, quando olhei no relógio. Já passava das onze da manhã. Comi uma tigela de cereal sozinha.
Voltei para o quarto decidida a trocar de roupa. Achei um casaco roxo e uma calça jeans preta. Desconectei o pen drive do notebook e corri para a garagem, na intenção de sair com a BMW.
Meu intuito era mostrar aqueles arquivos do pen drive para Joseph. Talvez ele poderia me ajudar.
Ótimo, passaria meu final de semana pesquisando aquela maluca. Pelo menos Matheus tinha trocado meus turnos de trabalho, de sábado para sexta-feira. Já que precisei por conta das minha aulas de direção.
Cheguei ao sítio em uma hora e meia. Os policiais continuavam cercando a mansão.
Toquei a campainha e mais uma vez foi à empregada quem me atendeu.
- Quero falar com o senhor Joseph.
- Pois não. Entre. – ela me gesticulou educadamente – Espere só um minuti-nho.
Ela subiu as escadarias e logo voltou com Joseph ao seu lado.
- Beatriz! – Joseph me cumprimentou – Espero que sejam boas noticias que a traz aqui.
- Como eu queria. Tenho algo para lhe mostrar.
Ele desceu para o primeiro andar e me conduziu até sua sala. Mais uma vez um guarda nos seguiu, mas naquele dia ele não entrou, em vez disso, ficou parado na porta. Joseph fechou a imensa porta e se virou para mim.
- Pois mostre! – ele pediu.
Olhei para o computador em cima de sua mesa.
- Posso ligar? – perguntei.
- Se for necessário.
Assenti e liguei. O computador dele era dos mais antigos, então demorou alguns segundos para ligar. Esperei impacientemente.
Conectei o pen drive em uma das antigas entradas de USB do computador. Entrei na assustadora conversa entre Gisele e o desconhecido Rone_psy.
- Veja! – pedi indicando com a mão a poltrona em frente à mesa.
Joseph sentou e se inclinou sobre a mesa. Sua expressão ficou indecifrável, enquanto eu me debatia contra o medo.
- Meu Deus! – Joseph comentou – Esta garota é extremamente perigosa. Como pretende conviver com isso?
- Não sei... Talvez... Pensei que você pudesse me ajudar. – falei e pude sentir que minha voz já estava sendo abafada pelos soluços do choro.
- Ah Bia! – ele disse me abraçando – Por que você não deixa a Gisele para trás e entrega logo os pontos para lá?
Levantei a cabeça tentando encontrar seus olhos enrugados.
- E deixar Alex na mão daquela maluca? Nunca! – eu quase gritava – Você não entende? Ela não o quer especificamente, mas sim atormentar a minha vida. Se eu continuar fazendo o jogo dela, irei satisfazê-la e quando ela conseguir o que pretende vai parar. Mas se eu entregar o Alex tão facilmente não irá fazer com que ela se sinta vitoriosa, e sim na necessidade de continuar atrapalhando a minha vida. E pior! O Alex será seu maior alvo!
- Faz sentido. Mas você se arriscaria tanto assim por alguém?
Afastei-me de seu abraço e olhei inexpressiva para seu rosto.
- Por alguém não! Pelo Alex!
- E não tem medo? – ele me fitou assustado.
- Medo eu tenho, – respondi olhando para o chão – mas meu amor pelo Alex abafa qualquer medo.
- Então lhe devo dizer boa sorte?
- Não. Apenas, tenha cuidado.
- Então, tenha cuidado. – mais uma vez ele me abraçou.
Peguei o pen drive do computador e o guardei na bolsa. Nos despedimos antes de eu sair com o carro. Agora, eu não tinha mais medo! Mas amor, somente amor!

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