terça-feira, 5 de julho de 2011

Capítulo 3


                                               3- MONOTONIA


Estava em meu quarto e ouvi vozes masculinas vindo da sala de jantar, desci para ver quem era e Rodrigo estava lá com meu pai conversando algo que disfarçaram quando cheguei. Subi de novo e não voltei lá em quanto ele não fosse embora.
Passaram uns tempos e eles conversavam todos os dias, mas sempre disfarçavam quando eu aparecia. Comecei a estranhar, eles além de se verem todos os dias não atrapalhavam mais meu namoro com Alex.
E assim foi durante alguns meses.

JUNHO.

Eu e Alex comemoramos um mês de namoro.

JULHO.

Passamos as férias na praia. Eu, Alex, Gabi, Iza, Caio e Nani.

AGOSTO.

            Eu estava feliz por passar todo aquele tempo com ele em paz, mas aquilo me assustava.

            Acordei para a volta as aulas das férias de julho. Corri para a janela e Alex me esperava no Celta. Arrumei-me com a maior pressa que pude e desci em disparada para o jardim.
            Dentro do carro, ele me esperava com um sorriso lisonjeiro. Respirei fundo antes de entrar.
            - Olá. – sua voz ainda tinha o poder de me estremecer – Preparada para a volta às aulas?
            - Um pouco. – respondi.
            Era verdade. Eu estava preparada para tornar a sala de aula, com ele ao meu lado. Mas não estava preparada para uma pilha de lições.
            Chegamos ao abarrotado estacionamento da escola. Descemos de mãos dadas e entramos na sala de aula.
            Tentei prestar atenção nas explicações dos professores, só que a beleza de Alex ainda me atrapalhava. Estávamos juntos há quase três meses e eu ainda não me conformava com aquele deus grego. Esta era a prova de que eu era completa-mente apaixonada por ele.
            Alex me levou para casa de tarde. O carro de meu pai estava lá, e o de Rodrigo também, mas mesmo assim arrastei-o para dentro.
            - O Paulo vai ficar bravo comigo. – ele reclamava.
            - Não ligo para ele. – respondi ainda puxando-o pelo cotovelo.
            Entramos na sala e meu pai conversava com Rodrigo. Mais uma vez eles disfarçaram. Ignorei-os e subi com Alex para meu quarto.
            - O Rodrigo vive aqui. – Alex protestou.
            - Verdade. – falei – Pior que ele só fica lá embaixo com meu pai. Não sei o porquê.
            - Estranho. – ele murmurou.
            Não tocamos mais no assunto pelo resto do dia. Logo escureceu e ele teve de ir embora.
            Mais uma vez, Paulo e Rodrigo disfarçaram quando passamos. Despedi de Alex da porta mesmo, o tempo estava frio, então não quis sair. Ele me deu um beijo na testa e saiu. Corri para o meu quarto.
            Deitei na cama e tentei prestar atenção no som do motor do Celta. Alex saiu, mas numa fração de segundos depois parou subitamente. Andei até a janela para ver o que acontecera.
            Rodrigo estava ao lado do carro preto, falando algo com Alex, enquanto Paulo estava encostado do outro lado da porta. Resolvi ver o que estava acontecen-do.
            Quando eu estava chegando perto do carro, Rodrigo falou algo para Alex, que o fez arrancar cantando pneus. Depois ele entrou no Audi dele e saiu.
            - O que vocês estavam falando para o Alex? – perguntei com raiva.
            - Nada de mais. – Paulo falou passando por mim.
            Dei meia volta e entrei em casa. Estava subindo as escadas, quando decidi falar:
            - Só espero que vocês não tenham sido infantis o suficiente para ameaçá-lo.
            Terminei de subir a escadaria e me tranquei no quarto. Depois escutei o som do Porsche Carrera GT de meu pai sair.
            Não dormi bem.

            De manhã, Alex me esperava em frente a minha casa para irmos a escola. Entrei no carro e percebi uma diferença em seu rosto, ele estava mais sério e sombrio, em vez de abrir um enorme sorriso como sempre fazia.
            Chegamos na escola e ele não falara nada. Passou quase todo tempo em silêncio. Tentei puxar algum assunto:
            - O que você e o Rodrigo estavam conversando ontem?
            - Nada. – foi à primeira coisa que ele falou, sua voz era fria e dolorosa.
            Desisti.
            Estávamos indo embora quando resolvi perguntar o que estava acontecendo. Ele me levava no Celta para minha casa, ainda calado.
            - Alex, por que você está assim? O que aconteceu?
            Ele respirou fundo, encostou o carro já em frente a minha casa e perguntou com as mãos ao redor de meu rosto.
- Se eu fizesse uma coisa, pensando sem saber se é o melhor e no final não ser, você me perdoaria?
Aquela pergunta me doeu como uma facada. Não fazia sentido, mas antes que ela me machu-casse mais, respondi:
- Sim!
- Que bom!
Ele me pegou na cintura, puxou para mais perto e foi me dando um beijo que outra vez me fez tremer. Aquele estava sendo o melhor beijo que ele já havia me dado. Nos soltamos e – como na primeira vez – ficamos com a testa encostada.
- Te amo – sussurrou ele.
- Te amo.
Ele me deu um abraço antes que eu saísse do carro. Quando saí, ele ficou me olhando entrar e depois continuou parado lá por uns dez minutos. Em seguida saiu.
            Depois que ele se foi, resolvi tomar um banho e depois passei o resto da tarde ajudando minha mãe com o que ela precisasse, só para me distrair. A situação com Alex ainda me assustava, uma grande vertigem me atacava sempre que pensava na possibilidade de ele ter feito aquilo.

            No outro dia, corri na janela só para ver se o Celta estava lá. E para minha surpresa, não estava. Fui para a escola a pé, confusa, pensando em um motivo para Alex não ir me buscar.
            Cheguei na escola procurando por ele, mas não estava lá. Naquele dia ele faltou.
            Sentei com Ariane, mas não conversei muito com ela. Meus pensamentos estavam longe demais.
            Fiquei o tempo inteiro com minhas amigas, – coisa que não fazia a tempo. E depois fiquei conversando com Izabela em um dos bancos do pátio principal.
            - Fala serio, o Caio é lindo, não é? – perguntou ela entusiasmada.
            - Claro. É sim. – respondi.
            Não estava prestando muita atenção em nossa conversa, mas me esforçava ao máximo para não chateá-la.
            - Só isso que você diz?
            - Fala sério, você está apaixonada por ele! – foi a primeira coisa séria que falei naquele dia.
            Ela ergueu uma sobrancelha e respondeu:
            - Claro que não! Ficou doida, foi Bia?
            - Arrã! – respondi irreverente.
            Ela me olhou com uma cara de dúvida e perguntou já afirmando:
            - Está muito na cara?
            - Está sim!
            - É, me apaixonei por ele, e agora, o que eu faço?
            - Sei lá, deixa rolar.
            - Como se fosse fácil. Para quem tem um príncipe como namorado!
            - A é! Príncipe! – falei indiferente.
            Um príncipe que tinha desaparecido. Talvez eu estivesse exagerando. Ele só faltou, nada demais.
            - Falando nisso, cadê ele? – perguntou ela batendo o olho pelo colégio.
            - Faltou! Não sei porque, não vi ele ainda.
            - Ata. – respondeu ela com expressão de espanto.
            A hora sem ele passava devagar. Mas já era hora de ir embora.
            Cheguei em casa e fui direto fazer minhas lições no quarto. Sem perceber, dormi em cima do caderno e acordei de madrugada. Era três da manhã e não consegui mais dormir.
            Fiquei deitada na cama por um tempo, levantei duas vezes para beber água e ir ao banheiro e logo tornei a dormir.
            Depois de algumas horas me levantei e fui ver se Alex já havia chegado e, mais uma vez, o jardim estava vazio. Saí cedo para pegar a primeira aula e vi que ele outra vez tinha faltado.
            Sentei sozinha. Era aula de matemática, uma aula que eu adorava sentar com Alex, principalmente para colar.
            Comecei a tirar meu material escolar quando um bilhetinho caiu de minha bolsa, ele estava dobrado de um jeito que parecia estar ali há algumas horas. Peguei e logo reconheci a letra maravilhosa:

“Desculpe! Mas eu tinha que fazer isto. Promete me perdoar? Estou muito mais triste do que você por isso. Sei que é covardia fazer isto por um bilhete, mas foi o único jeito que encontrei. Naquele dia que te ignorei, dei um jeito de colocar dentro da sua bolsa. Fui embora, para um lugar bem longe. Foi a melhor coisa que fiz”.
“Não faço jus a você, Bia! Você merece algo bem melhor do que eu. Seja feliz, mesmo sem mim. Sei que você consegue”.
“Te amo muito Bia, mas termino com você”.
                                                                                              “Alex”.

            Debrucei em cima da mesa para tentar respirar direito. Faltava-me ar.
            Ele terminou comigo? Mas por quê? Pensei que ficaríamos juntos para sempre, era assim que acontecia com os amores verdadeiros. Então o nosso não era verdadeiro?
            Senti uma forte vertigem. Algo se agitava dentro de mim. Uma dor. Dor extremamente forte. Minha garganta doía, com o choro preso nela.
            Ele tinha ido embora.
            A professora me cutucou algumas vezes, mas não levantei a cabeça.
            - Você está bem, Bia? – sua voz estava bem próxima ao meu ouvido.
            - Não. – minha voz saiu abafada.
            - Leve-a para a enfermaria. – a ouvi falando para outra pessoa.
            Alguém pegou meus braços e passou em volta de seu ombro. Era outro colega de minha sala que eu nunca tinha reparado. Desta vez era feio.
            Apoiei meu peso em seus ombros, enquanto ele cambaleava comigo pelo pátio, em direção a enfermaria.
            O garoto me colocou em cima de um leito acolchoado e uma moça de branco vinha me atender. Eu não conhecia a moça. Na verdade, não conhecia ninguém daquela enfermaria, porque nunca precisei ir até lá.
            Não costumava me machucar muito. Quando me machucava, era por conta de algum tombo de skate, então ia direto para o hospital, não para enfermarias ou postos de saúde.
            A mulher começou a analisar meus reflexos e falava coisas que de primeira não entendi, depois notei que ela tentava falar comigo.
            - Você está bem, querida?
            Se eu falasse que não, ela iria chamar um médico e me manter ali. Se falasse que sim, talvez ela respeitasse e me mandasse para casa, já que não confiariam em me deixar na escola.
            - Sim. – falei me levantando.
            Cambaleei um pouco e o menino da minha sala me segurou.
            - É melhor ficar um pouco aqui. – a enfermeira falou para mim.
            - Estou bem. – insisti, saindo da sala.
            Peguei minha mochila, que alguém tinha deixado no banco perto da enfermaria, e saí andando sozinha. Estava decidida a ir até a casa dele, teria de esclarecer aquilo. Não fazia sentido algum.
            Andei o mais depressa que pude. Atravessei o estacionamento do colégio e a rua de minha casa. Logo cheguei na casa. Fui recebida por Gabrielli, que ficou com uma expressão vazia quando me viu.
            - Alex está ai? – perguntei com medo da resposta.
            Gabi estava parada na porta. Com certeza não me chamaria para entrar.
            - Não. – disse ela olhando para o chão – Ele foi estudar no exterior.
            - Em que país? – perguntei quase chorando.
            De que adiantaria saber para que país ele foi? Eu não poderia ir atrás dele.
            - Não sei. Ele não me contou.
            - Por quê? – eu suplicava.
            - Porque ele não quer que...Que...Você saiba. – ela falou também triste.
            - Por quê? – insisti.
            - Bia, ele me pediu para te dizer... – ela hesitou.
            Levantei os olhos com esperança. Talvez ele quisesse que eu esperasse um pouco e depois fosse atrás dele, para assim vivermos longe de Rodrigo e Paulo. Talvez o bilhete fosse só uma camuflagem, que ele não tinha terminado comigo.
            - Fala! – insisti.
            - Para você esquecê-lo. Ele falou que pretende estudar e ficar no país que está e não quer te obrigar a ficar presa num namoro a distância... Nem ele quer ficar preso a um também. – ela terminou.
            Senti meus joelhos falharem. Gabi me abraçou, mas percebi que a intenção dela era me segurar.
            A dor na minha garganta aumentou, mas o choro não conseguia sair.
            Eu a olhei nos olhos e saí de lá com um nó na garganta. Aquilo não tinha cabimento. Eu o amava, e suportaria qualquer distância por ele. Mas ele também queria ficar livre, sem dúvidas arrumaria uma namorada por lá. Ele não me queria mais.
            Andei para longe sem rumo, não me importei em olhar o caminho, até que me perdi. Fui parar em uma praça movimentada, em um lugar que eu não conhecia.
            Não importaria se me perdesse. Não ia fazer diferença mesmo, já que se eu voltasse não o veria.
            Sentei-me em um dos bancos da praça e fiquei lá por horas, sempre olhando o bilhete de despedida, mesmo que me doía, mas era a última lembrança que eu tinha dele.
            Por que ele fez aquilo? Pensei que ele me amava. Era isso que ele dizia. Te amo, Te amo, Te amo. Era a frase que eu mais acreditava, a que eu mais sentia prazer em ouvir.
            Finalmente a dor em minha garganta aumentou de um jeito que ficou insuportável. O choro saiu como uma enxurrada, levando tudo que ainda restava de minhas esperanças.
            Aquilo não fazia sentido. Eu deveria ter continuado com minha opinião sobre amor: Argh! Mas ele tinha que aparecer na minha vida? Se ia fazer aquilo, poderia se manter na redoma que vivia.
            Eu estava chorando com os braços apertando o joelho quando um Fusion preto parou na frente do banco em que estava sentada. Era Rodrigo.
            - Puxa! Até que em fim te achei. Estão todos iguais doidos te procurando, esta pensando o quê? Que tem um GPS no corpo?
            Não percebi que tinha escurecido. Eu deveria estar ali há mais ou menos dez horas, já que saí da escola na primeira aula.
            O ignorei e continuei imóvel no banco.
            - Vamos? – insistiu ele.
            Não me mexi. Ele saiu do carro e me carregou até o banco do carona.
            Continuei calada.
Ele me fitou durante todo o trajeto. Reparei que havia andado muito, por um caminho que eu não tinha visto. Realmente estava ficando doida!
Eu estava distraída olhando para o caminho, quando ele pegou rapidamente o papel em minha mão, começou a ler com as sobrancelhas unidas e sem olhar para frente.
- Olha o caminho Rodrigo! – falei baixinho, era a primeira frase que eu tinha dito desde o acontecido.
Ele soltou o papel em cima do painel e continuou a dirigir. Eu fitei o papel até pegá-lo de volta.
- Por que pegou? Esse bilhete não irá te trazer boas lembranças.
- É a última que terei dele. – falei quase chorando.
Ele ficou me olhando pelo canto do olho por um longo momento, até que comecei a interrogá-lo.
- Como sabia onde eu estava?
- Não sabia. Dei sorte.
- O que te fez levar lá?
- Tudo, eu estava passando por todos os lugares e fui parar lá.
- E as outras ruas? Como sabia que eu não estava nas outras?
- Já falei que não sabia. – ele falou alterando a voz – Eu e seu pai nos separamos, e tive sorte de te achar.
- Mas...
- Chega! – ele me interrompeu. – Não aguento todas essas perguntas, o que ta pensando? Que eu armei tudo isso? Não tenho culpa se seu namoradinho te chutou.
Eu o fitei friamente e gritei:
- Para!
- O quê? – ele perguntou confuso.
- Para o carro.
Ele parou rapidamente, me olhou confuso e eu aproveitei para sair correndo.
Saí igual louca correndo pela rua, empurrava todos que aparecia na frente e derrubava tudo que bloqueava meu caminho. Rodrigo saiu correndo atrás e me alcançou a alguns metros do carro.
- O que é isso? Ficou louca? – falou ele baixo, já que todos nos encaravam.
- Me solta!!! – gritei me batendo.
Eu parecia uma criança mimada nos braços do pai, mas eu me sentia muito pior.
Uns policias que estavam do outro lado da calçada ficou nos encarando e antes que viessem, Rodrigo me soltou.
- Não vai sair de novo, está bem? – pediu ele, apertando minha mão disfar-çadamente.
Entramos no carro e eu segui em silêncio.
Chegamos em casa já era de noite, mas estava cheio de gente na sala. Fiquei olhando confusa antes de entrar.
- Estão todos preocupados com você! – falou ele no meu ouvido – Vamos?
Desci do carro e ele me levou para dentro de casa nos braços, como se eu estivesse impossibilitada de andar.
Entrei na sala junto com ele e percebi que todos os meus vizinhos e alguns amigos estavam ali. Mas principalmente os policiais da cidade. Pra que tudo aquilo? Eu já era grande o suficiente para me virar caso me perdesse.
- Bia! – gritou minha mãe me abraçando – Você deve estar com fome.
Todos me olhavam com cara de alívio, mas nenhum daqueles rostos era o que eu queria ver.
- Não. Estou bem. – menti.
- Mentira! – protestou Rodrigo – Ela está péssima, olha para a cara dela: pálida, fria, com a boca ressecada e nem tomou banho ainda.
- Me deixem! Me deixem! – gritei e corri pela escada até meu quarto.
Resolvi voltar e fiquei parada na ponta da escada – em um local que ninguém na sala me veria – escutando a conversa.
- O que ela tem? – perguntou minha mãe.
- Acho que isto te explica. – falou Rodrigo entregando o bilhete que Alex me deixara. Eu não havia percebido que ele pegara o papel de minha mão.
Ela leu e ficou com uma expressão vazia. Despediu-se de todos que estavam saindo e subiu ao meu quarto.
Saí correndo e me tranquei lá antes que ela chegasse.
- Posso entrar? – perguntou ela educadamente.
- Sim. – falei baixo.
Ela se sentou ao meu lado e eu a abracei chorando.
- Ah amor! Por que ele fez isso? – protestou ela.
Não respondi e continuei chorando em seu colo.
Que sentido minha vida teria daqui para frente? Sem ele, eu votava a ser a antiga respondona, moleca e infeliz Bia. Meu mundo tinha desabado, e eu não tinha vontade de reerguê-lo.
Não percebi que havia dormido. Quando vi, já era de manhã.


SETEMBRO

A mesma vida monótona de antes voltara se arrastando para mim. Eu podia ver a névoa de infelicidade e tédio chegando mais perto.
Já havia se passado um mês e ainda não tinha me conformado.
Não voltei a namorar Rodrigo, embora ele sempre ia me buscar e visitar. Decidi não ir mais a casa que antes era dele, mas sentia muita a falta de Gabi. Tentei, sem sucesso, me divertir com minhas amigas, só que não dava para voltar à vida antiga, eu estava mudada, completamente diferente.
Aposentei meu skate, já que era perigoso praticar esportes radicais com uma atenção tão precária. Não estava a fim de tornar meus dias infelizes em mais infelizes ainda ficando em um hospital.
Minha rotina era: escola de manhã; de tarde em casa adiantando minhas lições e de noite trancada no quarto, ouvindo – sem atenção – os tagarelar de Rodrigo.

Levantei para a mesma rotina de antes. Mais um dia de solidão na escola, mais um dia sem ele.
Eu me sentia fraca, inútil, doente. Olhei-me no espelho e vi que estava horrível.
Não tomei café da manhã e nem coloquei uma roupa decente, vesti qualquer coisa que achei e saí sem falar com ninguém.
Fui andando para a escola quando Rodrigo parou ao meu lado com um Honda City:
- Vamos? Nessa velocidade você não chega nunca. – falou ele
Entrei no carro e continuei sem falar nada. Fiquei durante todo o caminho assim. Ele parou no estacionamento da escola, se virou para mim e falou:
- Qual é? Vai ficar assim até quando?
Eu não queria falar, será que ele não entendia isso?
- Assim como? – falei finalmente
- Oh! Um progresso! Consegui arrancar duas palavras de você, em vez de apenas acenos de cabeça. – ele respondeu com escárnio – Desse jeito, calada, triste e sinceramente, horrível!
- Estou bem.
- Claro que está! Essa palidez, tristeza, quietude e esquisitice são normais.
- É. – minha voz era seca.
- Bia. Precisamos conversar, não quero ver você assim. Você sabe que eu te amo.
- Eu sei.
- Então por que não voltamos?
- Você sabe que eu amo...Ele. – era difícil falar o nome dele.
- Ele te deixou, Bia, sem mais nem menos.
- Não! – protestei – Tem um grande motivo por trás disto. Sei que tem.
- Desisto. – falou ele saindo de dentro do carro.
Também saí e percebi todos aqueles rostos me olhando. Será que eu estava tão feia assim?
Agora Rodrigo me acompanhava até a porta de minha sala, talvez se certifi-cando de que eu não fugiria, ou estava mesmo tentando me reconquistar.
Sentei sozinha na sala de aula, no lugar onde eu e...Ele costumávamos sentar. A hora passou lentamente naquele dia. Sempre que eu podia, pegava o bilhete que ele escrevera e deixara em cima da mesa – aquele da declaração – e abraçava-o firme em meus braços.
Quando a aula acabou, saí e fui andando pelo pátio até Rodrigo. Ele se espantou, faz tempo que eu não fazia aquilo – desde quando namorávamos. Até os amigos dele me fitaram.
Normalmente, eu saía andando sozinha e Rodrigo me abordava para me levar, mas naquele dia eu fui até ele. Claro que com segundas intenções.
- Quer que eu te leve? – perguntou ele.
Assenti
- Então vamos. – falou ele já me puxando.
Andei ao lado dele até o Honda City estacionado perto do portão. Ele me encarava pelo canto do olho.
- Não quero ir para casa. – falei enquanto entravamos no carro.
Ele me olhou torto e perguntou:
- Onde quer ir?
- Na casa da Gabi.
- De quem?
Esqueci que ele não conhecia Gabrielli. Ninguém da escola conhecia. Ela só era popular no meu pequeno mundo, num mundo que agora estava dilacerado.
- Na casa da irmã...Dele.
- Ata. – sua voz saiu indiferente.
Estava decidida a continuar minha vida feliz, em vez de voltar para a monó-tona de antigamente. E o único jeito de tentar ser feliz era com Gabi.
Rodrigo saiu com o carro e me levou até lá. Eu fui explicando o caminho, já que ele não sabia. Chegamos e eu desci do carro mais animada.
- Te espero aqui. – falou ele.
- Não precisa, vou embora tarde.
- O quê? Você nem avisou sua mãe. – falou ele com a voz mais alterada.
- Pode deixar que eu me viro.
Bati a porta do carro e saí.
- Bia! – ela estava parada em frente à varanda quando me viu – Como você está?
- Péssima né. Mais fazer o quê!? – notei que minha voz tinha melhorado.
- Ér, quer fazer o quê? – ela parecia cautelosa nas palavras.
- Não sei. O que você quiser.
- Podemos ir ao cinema. O que acha?
- Sim, vamos.
Ela se arrumou e nós saímos.
O cinema não ficava muito longe, mas precisamos ir de carro. Andar naquele Celta preto sem ele era estranho, machucava. Sorte que chegamos rápido. Já estávamos lá mais não sabíamos a que filme assistir.
Foi difícil, mas achamos um de comédia que nos distraiu o dia todo.
Depois do filme nos divertimos mais um pouco e fomos embora. Tive que voltar na casa dela para pegar meu material escolar que havia deixado. Fui andando pelo gramado até que pisei em um chaveiro que eu reconhecia, não sabia de onde, mas já havia visto. Tinha o símbolo de uma marca de carro, uma marca que eu costumava ver. Guardei para depois ver se conseguiria lembrar.
Ela me levou até em casa, fizemos todo o caminho conversando:
- Foi muito legal o dia hoje, né? – comentou ela.
- Muito, adorei, só você mesmo.
Ela riu.
- Vamos fazer mais isto, não é? – ele perguntou.
- Claro, vamos sim.
Eu estava disposta a cobrir meus dias sem Alex com Gabi.
- Todos os dias? – perguntou ela animada.
- Todos os dias. – afirmei.
- Que legal. Então temos que achar uma coisa interessante para fazer todos os dias.
- Tipo o quê?
- Tipo, transformar você em uma diva da moda!
- O quê? – perguntei assustada
- Diva da moda! Você vai ficar linda.
- Não sei...
- Por favor. – ela me interrompeu.
- Ta bom.
- Isso! Assim que fala.
Já estávamos na porta de casa quando resolvi reparar no caminho:
- Nossa! Já? – perguntei confusa.
- É, a hora passou rápido hoje. – ela fez uma careta enquanto falava. – Então Tchau.
- Tchau.
Estava frio quando saí do carro, entrei correndo para dentro de casa e meu pai já estava na porta me esperando.
- Onde você estava? – perguntou ele irritado.
- Com a Gabi.
- A irmã do nojento que te deixou?
Eu havia me esquecido dele. Quando meu pai falou aquilo, uma ferida foi aberta violentamente em meu peito. Desabei no sofá e comecei a chorar. Toda aquela alegria que eu custei encontrar foi destruída com uma simples frase.
A imagem de seu belo rosto, sua bela voz, letra e educação ficaram girando em minha cabeça, minha vontade era de sumir. Corri para o meu quarto e me tranquei. Fiquei por horas chorando, peguei o chaveiro que achei na casa da Gabi, do meu bolso e fiquei olhando até dormir. Passei o dia inteiro sem comer e dormi com fome.
Passei uma péssima noite. Cochilava às vezes, mas não dormi bem. Sempre que fechava os olhos, visualizava aquele jardim e isso me maltratava.

No outro dia acordei cedo, mas não levantei da cama. Fiquei lá, lendo meus livros, ouvindo meus CDs e vendo o tal chaveiro – eu o conhecia, já tinha visto, mas não lembrava de onde – tudo para me distrair.
Minha mãe apareceu na porta, me olhou com carisma e falou:
- Não vai para a escola hoje meu amor?
- Não mãe, não estou legal.
Era verdade. Eu não estava me sentindo bem. Jamais me sentiria bem de novo.
- O que você tem? – perguntou ela preocupada.
- Dor!
- Onde?
- No coração. – falei chorando.
Ela me abraçou e ficou lá comigo por alguns minutos. Nada como um abraço de mãe para te fazer dormir. Adormeci em seus braços e só acordei à tarde, com a voz de Gabi.
- Te acordei? Foi mal. – falou ela.
Minha visão estava embaçada. Cocei os olhos várias vezes para poder ver seu rosto.
- Não, está tudo bem. O que esta fazendo aqui?
- Te esperei lá por um tempo e você não apareceu, eu vim atrás.
- Ah, foi mal. Que horas são? – eu estava perdida nos horários.
- São duas da tarde.
- Nossa! – me espantei com a hora.
- Vamos levantar? Tenho que criar uma diva da moda.
- Ih! Que trágico.
Nós rimos. Só ela conseguia me fazer rir.
Descemos animadas e isso alegrou minha mãe. Gabi estava com todo seu Kit moda de emergência: Chapinha, baby-liss, tesoura, roupas adequadas e tênis de marca. Fiquei em pânico só de pensar em me transformar.
Fomos para o meu quarto e ela começou sua obra. Corta cabelo, alisa, pinta, faz as unhas e veste roupas apertadas e chamativas.
- Nossa! Você ficou linda! Sou um gênio. – exclamou ela.
- Meu Deus! Estou com medo de olhar no espelho.
- Não seja pessimista Bia, você esta linda.
Olhei e me surpreendi, eu estava linda. Um cabelo cortado no ombro com pedaços curtos ao lado do olho e retocado – destacando a cor de caramelo – caramelo já era natural do meu cabelo, mas estava mais forte e radiante.
- Ficou muito legal. – falei para Gabi.
- Viu! Agora vamos sair para te exibir.
Ela me puxou escada a baixo. Quando minha mãe me viu se assustou, mas ficou feliz por eu estar feliz. Fomos parar na rua e todos nos olhavam com cara de espanto. Será que o pessoal nunca tinha visto duas divas andarem na rua? Ou nunca tinham me visto de diva? A segunda opção se encaixava melhor.
O dia foi divertido, embora a tarde tenha sido curta por eu ter dormido demais. Mas a pior parte sempre era quando eu ficava sozinha, quando Gabi ia embora.
Não havia percebido que eu estava tão fraca, fiquei sem comer por dois dias, estava péssima. Minha mãe como sempre, percebeu:
- Bia, você não esta legal. Comeu alguma coisa hoje?
- Não!
- Bia! Você esta sem comer desde ontem? Vem aqui! – ela me olhou feio
Fomos para a cozinha e fiz um lanche longo, parecia que eu havia passado anos sem comer, mas era assim que eu me sentia, faminta.
Depois fui para o meu quarto e liguei para Iza, precisava me atualizar nas lições, já que havia faltado naquele dia. Ela atendeu rapidamente:
- Alô?
- Oi Iza? É a Bia. Como vai?
- Oi Bia, estou bem. Ei, por que faltou hoje?
- Não estava muito bem. Tem alguma lição ou trabalho importante?
- Tem sim, vou passar aí para te levar o meu caderno.
- Ta bom! Vou ficar te esperando, tchau.
- Tchau!
Ela desligou. Fiquei sozinha em meu quarto até ela chegar, isso me frustrava. Mas passou logo. Ela morava perto de casa, apenas alguns metros nos separava, então ela chegou rápido. Ouvi o barulho da campainha e disparei escada a baixo. Abri a porta e ela estava com a mochila nas costas.
- É tanta lição assim? – perguntei olhando para a mochila cheia.
- Não. É que eu estava com preguiça de tirar daqui de dentro, então trouxe tudo.
- Ata! Entra!
Ficamos na sala de estar, conversando, enquanto eu copiava as lições.
- Então, como vai você e o Caio? – perguntei tentando me distrair.
No tempo em que me desliguei do mundo eles começaram a namorar. Ele também estava muito apaixonado por ela.
- Muito bem! Ele é um fofo, amo ele demais. Falando em amor, o que aconteceu com o Alex?
Encolhi-me no sofá e entreguei para ela o ultimo bilhete que ele me deixou.
- Nossa! Por que ele fez isso? – perguntou.
- Não sei. – respondi inconformada.
Ela me abraçou e prometeu não tocar mais no assunto.
- Tenho que ir ta bom? – falou Izabela.
- Dorme aqui hoje. – pedi
- Não vai dar, tenho que ajudar minha mãe com algumas coisas.
- Então ta! Tchau.
- Tchau.
Ela saiu e a solidão me atingiu outra vez. Olhei no relógio e já era quase meia noite. Fui dormir mesmo sem sono.
Aquela noite foi a primeira que tive um sonho bom depois que ele se foi. “Eu estava sentada na beira de um lindo lago, Iza e Caio também estavam, até mesmo Nani, mas o melhor foi que Alex estava lá, sentado ao meu lado sempre me abraçando”.Eu podia sentir seus braços em minha pele.

Acordei feliz no outro dia, disposta a ir para a escola. Eu já havia perdido o costume de correr para a janela assim que acordasse, então não vi Rodrigo encostado no quintal com seu novo Porsche vermelho, que acabara de ganhar do pai. Só fui perceber quando saí.
Andei em direção ao carro e abri a porta igual à antigamente.
- Olá! –falou ele humorado.
- Oi. Que bom saber que tenho carona hoje. – respondi com uma voz mais viva.
Ele riu e depois me fitou surpreso.
- Que visual é esse? – perguntou ele já saindo com o carro.
- Ah. – eu havia me esquecido que estava transformada – Obra da Gabi.
- Ata. – respondeu ele indiferente.
Eu estava mais animada aquele dia, até entrar na sala e ver que o único lugar vazio era ao lado de Fernanda. Sentei e fiquei em silêncio, mas ela rompeu:
- Oi!
- Oi Fernanda. – respondi surpresa.
- Você me desculpa sobre aquela história? – falou ela olhando para mim – Eu sempre confundo sentimentos, não estava apaixonada pelo A...
- Não fala o nome dele. – interrompi.
- Claro! Entendo! Então, me desculpa?
- Sim.
O professor Bruno entrou na sala tranquilamente. Ele era bonito, o tipo de professor que todas queriam, mas já tinha 25 anos, era oito anos de diferença das meninas da minha sala.
- Nossa esse professor é um gato, né? – comentou Fernanda entusiasmada
- É.
- Não conta para ninguém, mas eu acho que estou apaixonada por ele.
Revirei os olhos. Ela é apaixonada por todo mundo, é só aparecer um bonitinho que ela apaixonou.
- Ele é velho Nanda.
- Idade não é tudo. – disse ela com um sorriso malicioso.
Eu ri.
Ela me olhou dos pés a cabeça, com certeza ia falar do meu estilo, e acertei:
- Que novidade é essa? Virou paty?
- Só estava me divertindo.
- Ficou legal.
Nós duas rimos. Fazia tempo que eu não me divertia assim. Tudo me fazia rir. Era o poder de Gabrielli.
O sinal tocou e saímos da sala, Fernanda fitando o professor.
Estava só eu, Nanda e Nani. Iza estava com Caio no jardim da escola – eu evitava olhar para eles, pois me machucava, – quando meu celular tocou. O número não era reconhecido e pelo número, era interurbano.
- Alô? – atendi.
Ficou silêncio.
- Tem alguém ai? Eu vou desligar! – ameacei.
- Não! Não desliga.
A voz era reconhecível, me fez tremer, tão perfeita e educada. Fiquei calada. Era uma voz grave, uma voz que eu morreria para ouvir de novo.
- Bia? – insistiu a voz.
- Sim. Quem é? – perguntei mesmo já sabendo que era.
- É o Alex.
Fiquei tonta. Não acreditava que era ele. Mas logo me alterei.
- Por que me deixou? Do que acha que eu sou feita? De pedra?
- Desculpe. – falou ele agora chorando. – Eu tive que fazer isto.
- Mas por quê? – perguntei mais calma.
- Você se lembra da nossa conversa naquele jardim? E você me perguntou qual motivo me levaria a te deixar?
- Sim. Lembro.
Era a pergunta mais dolorosa que eu já havia feito para ele. Perguntei se ele tinha coragem de me deixar, e o motivo para isso.
- Lembra o que eu respondi?
- Que só me deixaria se fosse para me proteger.
- Sim. Não mudei minha resposta, ela permanece a mesma.
- Não entendi.
- Um dia você vai entender. Agora tenho que ir, estou atrasado para a escola.
- Não! Espere aí. – exigi aflita.
Ele não podia desligar, minha cabeça ainda não tinha absorvido a voz dele para poder se lembrar mais tarde.
- Te amo. – foi a ultima coisa que ele disse antes de desligar.
- Também. – respondi sozinha.
Larguei o telefone e comecei a chorar. Não conseguia acreditar. Não podia ser. Ele me ligara. Alex!
- Quem era? – perguntou Nani, com certa angústia.
- Ele. – respondi feliz. – Pega os meus materiais para mim?
- Como assim? – falou Nani desentendida.
- Preciso ir.
Saí correndo da escola – matei aula. E fui até Gabi.
Corri o máximo que pude para chegar rápido, mas a casa dela não era tão perto da escola como era a minha. Ainda não acreditava que ele havia me ligado. Só podia estar sonhando.
Cheguei lá toda animada e a abracei.
- Ele me ligou! – gritei.
- Ele quem? – perguntou ela surpresa – Você veio correndo desde a sua casa?
- Não, desde a escola.
- Nossa! Quem te ligou?
- O Alex. – respondi a abraçando de novo.
- Você é louca! – falou rindo.
Senti que minhas lágrimas estavam ensopando a blusa dela. Sequei-as e comecei a contar detalhe por detalhe da nossa conversa.
Passei o resto do dia na casa dela.
Saí de lá já era de noite. Ela me levou de carro até em casa. Durante o caminho fiquei pensando sobre o que ia dizer a meu pai por ter matado aula.
Cheguei pensando que ia levar uma bronca por ter faltado, mas levei uma pior. Meus pais estavam na beira da porta já me esperando, com meu boletim na mão.
- Bia, o que é isso? – perguntou minha mãe com um olhar furioso.
- Acho que é meu boletim. – respondi sorrindo.
Sempre achei engraçado quando meus pais recebiam o assustador boletim. Era um jeito que eu achava para me divertir nas piores situações.
- Se eu fosse você, tirava esse sorrisinho da cara. – falou meu pai com uma voz alterada.
Abaixei a cabeça e só ouvi, meu sorriso ainda na cara.
- Você foi à primeira aula, mas faltou às outras? Como? – perguntou minha mãe.
- Cabulei. – respondi envergonhada.
Zombar com a minha mãe não dava. Ela era especial demais para ser zomba-da.
- Que lindo! – ela completou com ironia. – Mas este não é o pior.
- Tem mais? – perguntei já vermelha.
- Tem. – respondeu meu pai. – Você fez uma prova de historia no dia 26 de abriu, mas estava em branco. Por quê?
Dia 26 de abril, o dia que conheci Alex. Um arrepio me subiu, mas fui interrompida de meus pensamentos:
- Me responda Bia.
- É...Eu não...Sabia. – respondi ainda viajando em meus pensamentos.
- Então para que te pago escola?
- Para eu estudar?
- É, acho que sim! Então trate de estudar! Quando você estava com o Rodrigo as suas notas eram melhores!
- Esquece do Rodrigo, pai! – ordenei.
- Abaixa a voz comigo, menina.
- Então não cutuca a minha ferida. – falei já chorando.
Minha mãe se aproximou e me deu um abraço consolador.
- Na a mime Carla! – ordenou meu pai. – Onde você foi depois de matar aula?
- Fui à casa da Gabi...
- Tinha que ser. A irmã do suburbano.
Ele nunca tinha se referido a ele daquele jeito. A dor me invadiu de um jeito que não consegui evitar o choro.
Fui para meu quarto sem pensar na raiva de meu pai. Ouvi minha mãe sussurrar:
- Não precisava disso Paulo Ricardo!
Sentei na minha cama, tentando reprimir o choro.
Peguei meu celular e comecei a conferir as chamadas. Eu ainda não acreditava que ele tinha me ligado. Era verdade, ele tinha me ligado e aquele, Te amo me fez feliz, mesmo que foi só por uns segundos.
Fui interrompida de meus pensamentos com um toque na minha porta.
- Posso entrar? – perguntou Rodrigo.
- Claro. – falei.
- Que boletim assustador, hein! – comentou ele se sentando ao meu lado.
- Nem me fale.
Nós rimos.
- Quero conversar sério com você. – ele falou.
- Pode falar, estou ouvindo.
- Bia! Por que não voltamos a ser como antes?
- Como assim? – perguntei mesmo já sabendo a que se referia.
- Você e eu! Outra vez.
- Não sei Rodrigo.
- Eu te amo Bia! Esquece aquele...
Eu tampei sua boca antes que pudesse me machucar de novo. Ele veio em minha direção e tirou minha mão de sua boca. Quando menos percebi seus lábios estava nos meus, lutei para sair, mas foi impossível. Ele parou rápido, mas ficou com a ponta dos lábios em meu queixo e falou:
- Por favor, Bia!
Respirei fundo e a única coisa que consegui fazer foi lhe dar um tapa na cara.
Ele me olhou com raiva. Meus dedos ficaram marcados em seu rosto e aquilo me alegrou.
- Por que fez isso? – perguntou ele nervoso.
- Você sabe que eu o amo. Não te dei a liberdade de fazer isto.
- Ele te deixou, Bia. Coloque isto na cabeça. Ele não te ama.
Aquilo já era golpe baixo. Rodrigo jamais poderia dizer aquilo, afinal, eles não eram amigos para ele saber.
- Se ele não me amasse, não teria ligado para mim. – deixei escapar.
- Ele te ligou? – perguntou ele com uma voz alterada demais.
- Abaixa a voz Rodrigo!
- Me responde Beatriz. – gritou socando o travesseiro.
- Esquece. Deixa para lá.
- Me dê seu celular!
- Não! Você não é meu pai nem meu irmão para me controlar. Muito menos meu namorado.
- Então ta, deixa que seu pai veja. – ameaçou ele
- Você não vai...
- Vou! – ele me interrompeu.
- Então vai correndo, só vai conseguir que eu te odeie.
- Desculpa! – pediu ele me abraçando.
- Não! Vai lá para meu pai! – falei empurrando-o.
Ele saiu batendo a porta. Continuei olhando as chamadas do meu celular. Apenas ouvi o som do motor do carro dele saindo.
Tentei esquecer meus problemas, e só pensar na voz de Alex. Dormi sem perceber.

Acordei já com o sol em meu rosto e o celular tocando sem bateria.
Levantei mais cedo, com uma dor de cabeça horrível, tinha dormido de mau jeito. Ouvi vozes femininas na sala, desci e vi que Nani estava lá.
- Oi. – disse ela - Vim trazer seus materiais.
- Obrigada. – respondi com uma voz rouca.
- Por que você matou aula ontem? – perguntou ela e minha mãe também prestou atenção.
- O Alex me ligou e eu me empolguei. Fui desabafar com a Gabi, a irmã dele.
- Ele te ligou para que? – perguntou minha mãe ansiosa.
- Não sei. Ele falou uns negócios parecidos com: Estou apenas te protegendo e Te amo.
- Protegendo de quê? – perguntaram elas ao mesmo tempo.
- Não sei. Mas o que interessa foi que ele ligou. – respondi pensando em sua voz – E eu ainda vou descobrir essa charada dele.
Parecia que eu estava prometendo para mim mesma. E estava. Iria mesmo descobrir.
- Vamos para a escola? – interrompeu Nani.
- Vamos, só vou me arrumar. – falei.
- Ta bom.
Arrumei-me rapidinho. Olhei rapidamente pela janela – por costume – e não estranhei que Rodrigo estivesse ausente. Saímos apressadas, já que iríamos a pé.
Ficamos conversando sobre meu amado telefonema, durante todo o caminho. Cheguei e trombei com Rodrigo. Seu rosto estava completamente vermelho, onde eu havia batido.
Passei direto sem falar com ele. Outra vez, me sentei ao lado de Nanda.
- Olá! Onde você se meteu ontem? – perguntou ela.
- Oi. Fui para a casa de uma amiga.
- Você é louca sabia?
Eu ri.
- Vamos ao cinema hoje, quer ir? – perguntou ela.
- Quem vai?
- Eu, a Nani, a Iza, o Caio e você pode chamar alguém que você queira.
- Ta bom, eu vou. Posso chamar minha amiga Gabi?
- Quem?
- A irmã do...Alex. – engoli o nome em seco.
- Ata. Pode.
- Obrigada.
Fiquei quieta o resto da aula, pensando em um cinema com Gabrielli.

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