terça-feira, 5 de julho de 2011

Capítulo 7


7- A VOLTA COM HEMATOMAS



Minha rotina havia mudado desde o dia que voltei a morar em casa. Eu não via mais Marcos com tanta frequência, e achava bom.
No primeiro dia de aula fui de a pé para a escola. Cheguei cedo, Iza e Nani já me esperavam, Caio e Nanda não tinham chegado ainda. Todos estavam animados para recomeçar o ano. Nanda e Nani estavam crentes que este ano encontrariam um namorado.
Eu, Nani e Caio estávamos em salas iguais, separados de Iza e Nanda. Iza ficou revoltada porque ia ficar separada do namorado.
Caio chegou e alguns minutos depois Nanda chegou com Matheus. Ele desceu e foi andando até mim e falou:
- Ei, venho te buscar depois da escola para trabalhar está bem?
- Sim. Vai ser ótimo ter uma carona.
- Tchau.
Ele se foi.
As meninas me olharam com um sorriso malicioso.
- Já está ligeira, né! – murmurou Iza.
Eu mostrei a língua para ela e saí rindo. Quanto tempo eu não fazia aquilo.
Entramos na sala de aula e aguardamos o nosso novo professor. Era de Educação Física, um professor alto e bonito, não muito bonito, mas também não era feio.
As aulas passaram rapidamente e na hora da saída Matheus me esperava, mas junto com Marcos. Ele me deu um beijo rápido e abriu a porta de trás para mim. Entrei e fomos para a loja.
A minha rotina se manteve assim. Até meu pai voltar...

Estava saindo da escola e indo em direção ao carro de Matheus quando reparei um carro preto conhecido – era um luxuoso Mercedes. Marcos estava encostado no carro de Matheus e me apontou para o carro preto:
- Acho que ele quer falar com você.
O vidro do carro abaixou e eu pude ver que era meu pai. Ele me olhou e depois fitou Marcos.
- Preciso falar com você. – disse ele.
- Pode falar.
- Lá em casa.
Eu olhei para Matheus e ele me permitiu:
- Pode ir. Substituo-te por um tempo.
- Está bem.
Dei a volta pelo carro e entrei no banco do carona. Ele me levou para casa sem falar nada, até que resolvi perguntar:
- Para onde você viajou?
- Você irá saber.
Fiquei quieta outra vez até chegar em casa.
Ele parou no jardim ao lado de um outro carro – um Astra hatch 2.0, verde hera – pensei por um tempo de quem seria, até que imaginei e protestei antes de descer do carro de meu pai:
- Se você quer que eu converse com o Rodrigo, pode esquecer!
- Não é o Rodrigo. Venha!
Eu saí batendo a porta. Ele andou em direção a casa e eu o segui, furiosa. Esperava que não fosse mesmo Rodrigo, minha história com ele já havia acabado a tempo.
Eu passei pela porta da sala e meu pai continuou andando até a cozinha. Pensei em permanecer seguindo-o, mas percebi alguém sentado no sofá da sala de estar. Estava imóvel, fitando o chão, pálido e magro.
Fiquei olhando por um longo tempo, ainda não entendia, até que “a ficha caiu”. Será que todo aquele pesadelo que eu vivera no passado havia acabado? Não podia ser. Meu pai falava sério quando perguntou sobre meu perdão?
A pessoa estava parada no sofá, completamente pálida e magra, parecia estar doente.
Eu queria falar algo, mas minha voz não saía. Existia um nó em minha garganta que me impedia de falar. Respirei fundo várias vezes tentando recuperar o fôlego. Até que tentei falar, gaguejei, mas por fim saiu:
- A... Hã... É... A... Alex?
Pude ver um sorriso saindo de seus lábios. O sorriso torto que eu amava.
Naquele momento um filme se passou pela minha cabeça. Todo o meu passado feliz estava de volta e o sombrio seria apenas uma lembrança triste. Meus olhos ficaram fixos nele, a minha escultura perfeita.
Ele se levantou devagar, virou para mim e pude ver que ele chorava. As olheiras eram profundas e escuras. Ele estava mais magro, completamente pálido. Mas não perdera a beleza irresistível que eu tanto sonhava em ver de novo.
Eu permanecia parada na porta quando resolvi correr para seus braços. Empurrei tudo que estava a minha frente até que cheguei. Joguei-me e lhe dei um abraço forte. Ele se encolheu e depois correspondeu o abraço.
Era impossível de acreditar que eu sentia seus braços outra vez, me apertando contra seu corpo perfeito.
- Desculpa Bia, desculpa. – ele implorava chorando.
Afastei-me de seu corpo para olhar sua expressão. Era de arrependimento, de ódio e sombria. As lágrimas escorriam pelas bochechas, eu as limpei com a ponta de meus dedos até que ele pegou minha mão e começou a beijá-la. Sua boca foi deslizando ao longo de meu braço, passou pelo pescoço até que chegou em meus lábios. De repente, seus lábios estavam nos meus.
O beijo que eu tanto procurava estava ali. O sabor doce e gentil estava na minha boca outra vez. E pude sentir a velha falta de ar que sempre me invadia quando ele me beijava.
Agora, minha vida voltava a fazer sentido. Eu estava completa outra vez.
Ele se afastou de meus lábios e perguntou com a bela voz que me estremecia:
- E seu namorado? Ele não vai gostar de saber que você está beijando outro.
- Que namorado? Não tenho nenhum. – minha voz estava mais viva do que nunca.
- O tal Marcos.
- Ele sabe que eu amo você e só estou com ele porque você me pediu. Eu amo você, somente você.
Ele sorriu e me deu outro beijo. E quando percebi, eu também estava chorando. Queria ficar para sempre ali, abraçada com ele, queria que o tempo parasse em nós dois, juntos.
Meus pais apareceram na sala e eu me virei para olhá-los. Minha mãe sorria como nunca e meu pai nos fitava com alívio. Pude perceber que aquele presente teria um preço, e não estava enganada.
- Qual é a condição? – perguntei.
- Só uma. Que você volte para casa. – Paulo respondeu.
- Está bem. Irei agora buscar as minhas coisas.
Ele assentiu.
- Vamos? – perguntei olhando para Alex.
- Vamos.
Eu segurei sua mão e o puxei para fora de casa.
- Vou chamar um táxi. – pronunciei.
- Vamos no meu carro. – falou ele unindo as sobrancelhas.
- O Astra é seu? – perguntei incrédula.
- Presente de natal do seu papai. – ele abria a porta para mim.
Entrei e ele deu a volta pela frente do carro para entrar também. Quando já estávamos saindo falei com irreverência:
- Meu pai te dá um carro e não dá para mim? Nossa!
Ele riu e depois ficou sério.
- Foi um jeito que ele achou para se desculpar. – explicou ele.
Fiquei quieta imaginando.
Lembrei-me que ainda tinha de trabalhar. Mas eu não estava a fim de trabalho naquele dia e resolvi pedir para Matheus uma folga adiantada. Peguei o celular e comecei a discar o numero dele. Pude ver Alex me fitando pelo canto do olho.
Matheus atendeu:
- Alô?
- Matheus é a Bia. Posso te pedir uma coisa?
- Fala.
- Pode cobrir todo o meu expediente hoje? Eu compenso em um outro dia.
- Claro. Está calmo hoje, pode ficar tranquila.
- Obrigada.
- Não por isso.
- Tchau.
Eu desliguei.
Alex ainda me fitava, mas agora com um humor no olhar:
- Então você está mesmo trabalhando? – ele pronunciou a palavra com iro-nia.
Mostrei a língua e sorri. Comecei a lhe explicar o caminho, ele seguiu calmamente. Até que uma pergunta atingiu minha cabeça:
- Como sabia de tudo isso?
- Tudo isso, o quê? – ele perguntou sem entender.
- Sobre o meu trabalho, que eu tinha saído de casa e sobre o Marcos?
- Tenho as minha fontes. – ele falou rindo.
Fiquei quieta outra vez, mas tornei a falar depois de um tempo:
- Você está péssimo na aparência!
- Olha quem fala. Você parece que acabou de sair de uma sala branca, de tão pálida e com olheiras. E o seu cabelo então, - ele falou com uma risada maliciosa – você andou penteando ele com o liquidificador?
- Rá...Rá...Engraçadinho. Na verdade, acho que nem penteei hoje.
Ele soltou uma risada alta. Já havíamos chegado na casa de Nanda.
- Marcos está aí? – perguntou Alex, olhando para dentro da casa.
- Sim.
- Então não vou entrar.
- Vem, ele precisa saber da verdade.
Ele saiu do carro e deu a volta para abrir a porta para mim.
Entramos na casa. Luana e Leandro estavam sentados no sofá e nem perceberam minha entrada. Nanda vinha andando da cozinha para a sala com um lanche na mão e ficou paralisada ao ver Alex. Marcos estava sentado na soleira da porta da cozinha quando ouviu Nanda falar:
- Alex?
Marcos se levantou da porta e foi em direção a sala. Sua expressão ficou suplicante e arrasada quando viu Alex segurando minha mão.
- Olá Fernanda. – falou Alex educadamente.
- Vou pegar minhas coisas lá em cima. Irei embora mesmo. – falei.
- Tudo bem. – falou Nanda olhando para Marcos.
Subi para o segundo andar, fui para o “meu” quarto e comecei a pegar o resto de minhas coisas. Marcos me seguiu e parou atrás de mim.
- Por que ele voltou? – ele perguntou com um falso humor.
- Não sei bem. Meu pai que o buscou.
- Mas ele não te ama mais. Quer dizer, ele te deixou e agora você vai voltar correndo para ele?
- Ele só me deixou porque foi ameaçado. E eu o amo – falei entre dentes – e você sempre soube disso, sempre te avisei.
Agora sua expressão era de angústia.
- Você está certa. Eu sempre soube disso. Fui um idiota em alimentar uma esperança tão impossível como essa.
Minha consciência pesou e eu o abracei com força.
- Te amo. – ele sussurrou em meu ouvido.
- Também te amo.
Ele me fitou com um olhar morto, como quem reprimia um choro.
- Mas eu o amo mais. – continuei.
- Eu sei. – ele beijou minha testa e eu saí.
Marcos me ajudou a descer com as malas e entregou a Alex quando já estávamos na sala.
- Cuide dela. – pediu Marcos.
- Pode ter certeza. – respondeu Alex – Vamos, Bia?
Despedi-me de todos na casa e saí junto com Alex.
Ele colocava as malas no porta-malas, eu fui ajudá-lo e percebi que todas as vezes que ele se esticava a camiseta levantava e revelava sua belas costas. Ele se esticou ao máximo para alcançar a porta do porta-malas e consegui ver um pequeno hematoma roxo no alto de suas costas. Cutuquei com o dedo e ele soltou um grito alto:
- Ai!!!
- O que é isso? – perguntei ignorando o grito.
- Caí e machuquei. - ele falou com um ar de dor.
Eu o olhei sem acreditar, mas deixei passar, pois dava para ver como doía aquilo. Foi difícil para ele se acomodar no banco do carro. Eu me senti mal e tentei me desculpar:
- Desculpa ta, por cutucar seu machucado?
- Não foi nada. Você não sabia.
Ele se contorcia toda vez que se encostava ao banco. Era de doer. Tentei fazê-lo esquecer e obtive resultado:
- Você vai voltar para a escola?
- Sim. Amanhã mesmo. Vou te buscar em casa. – ele deu um sorriso de canto.
- Que bom. – não consegui disfarçar o meu sorriso radiante.
Ainda não conseguia acreditar. Iria para a escola com Alex. Ele tinha voltado.
Ele parou em frente a minha casa. Fui abrindo a porta quando ele a fechou rapidamente. De começo fiquei assustada, mas logo percebi o olhar maravilhoso dele tramando algo. Eu não estava errada. Ele se virou para mim e estendeu a mão falando:
- Vamos fazer tudo direito dessa vez?
- Não entendi. – protestei.
- Venha que você vai ver.
Oba! Mais mistério!
Pensei comigo mesma. Minha vida toda era um mistério, desde quando conhecera Alex. Ele tinha feito da minha vida um perfeito filme de mistério. Mas era um mistério bom, um mistério que me fazia estremecer, perder o fôlego, sorrir outra vez.
Entramos para a sala, ele ainda me puxando sem explicações. Meus pais estavam conversando na mesa de jantar. Alex puxou uma cadeira para mim e depois se sentou ao meu lado, ele estendeu as mãos sobre a mesa e pegou as minhas e estendeu também, falando:
- Quero fazer tudo certo dessa vez. Senhor Paulo Ricardo, eu gosto muito da sua filha e gostaria de saber se deixaria ela namorar comigo. Deixa?
Minha mãe me deu uma piscadela e meu pai abriu um sorriso que eu nunca imaginei que ele pudesse dar.
- Claro que sim, Alex. Se você a faz feliz, então continue, foi por isso que te busquei.
Alex pegou nos bolsos uma pequena caixa preta. Dentro haviam duas alianças prateadas – as famosas alianças de namoro – e colocou uma delas em meu dedo, a menor das duas. E colocou a outra em seu dedo.
Percebi que a minha aliança tinha o nome dele cravado em dourado. Olhei para a aliança dele e estava escrito “Beatriz”. Respirei satisfeita.
Minha mãe estava emocionada com a cena, tanto quanto eu. As lágrimas escorriam pelo seu rosto. Eu sabia que ela gostava de Alex, mas aquilo já estava ridículo.
- Mãe. É só um pedido de namoro, não de casamento. – falei constrangida.
- Eu sei. Já estou me preparando para o futuro.
Eu corei.
- Vamos pegar as malas. – tentei esquecer o assunto.
- Vamos. – respondeu Alex.
Ele se levantou gentilmente e saiu em direção ao Astra, voltou com as minhas malas na mão. Estendi a mão para ajudá-lo, mas ele me ignorou e subiu até meu quarto. Eu o segui.
Ele colocou as malas em cima da minha cama e se virou para mim.
- Preciso ir embora. Está tarde.
Eu senti uma pontada forte na barriga. Meu medo era que ele não voltasse mais. Que meu pesadelo pudesse voltar. Que eu me sentisse incompleta outra vez.
- Você vai voltar não é? Não vai desaparecer?
- Claro que volto. Nada mais me tira de perto de você.
Ele colocou as mãos em minha cintura e me puxou para perto de seu corpo. Mais uma vez, ele se encolheu quando encostei em suas costas, mas se recompôs de novo. Agora colocando a boca em meu ouvido.
- Te amo. – ele sussurrou.
Senti um arrepio cortar meu corpo.
Sua boca começou a deslizar sobre meu pescoço até chegar em meus lábios. O doce sabor do seu beijo gentil tomou conta de mim outra vez. Não importava o quanto eu o beijava, sempre estremecia e nunca me lembrava depois de como havia sido, pois parecia que minha cabeça desligava do meu corpo.
Ele me largou e deu um leve beijo em minha testa.
- Até amanhã Bia.
- Ta. Tchau.
Ele abriu um belo sorriso e saiu. Levei-o até o carro, ele se despediu de meus pais e se retirou.
Embora eu soubesse que ele voltaria, a solidão me assombrava de novo. Tinha medo de ser um sonho e que daqui a pouco eu acordasse sem ele ao meu lado. Não suportaria perdê-lo outra vez.
Fui para o meu quarto com os pensamentos ainda me rodeando. Naquela noite eu dormi bem, de um jeito que eu não dormia há tempos.

Quando acordei, dei uma estranhada no lugar, mas logo me lembrei que estava em casa. Vozes vinham da cozinha, antes de descer fui na janela para me certificar de o que passara na noite passada era real. O Astra estava parado no jardim. Sim, foi real.
Fui para a cozinha, ele estava sentado ao redor da mesa conversando com minha mãe. Seu sorriso de “Bom dia” foi emocionante para mim.
- Acordou cedo, Bia. – falou minha mãe, com uma das sobrancelhas ergui-das.
- É que a casa da Nanda fica bem longe da escola, então eu levantava mais cedo lá.
Ela riu.
- Já quer ir para a escola? – perguntou Alex com sua voz grave.
- Vou tomar banho primeiro.
Ele assentiu.
Tomei um banho rápido e saí para a escola junto com ele. Eu estava ansiosa para chegar e mostrar para todo mundo o motivo de tanta felicidade.
Ele estacionou ao lado de um Vectra – com certeza o de Rodrigo – e ficou pensando por um tempo.
- O que foi? – perguntei impaciente.
- Estou nervoso. Passei tanto tempo longe.
Soltei uma risada alta.
- Deixe de loucura, vamos! – insisti.
Ele desceu do carro e abriu a porta para mim.
- OK. – respondeu ele.
Ele pegou minha mão e me puxou para próximo.
- Tenho que ir até a secretária pegar a minha transferência. Quer ficar com suas amigas? – perguntou.
- Não. Quero ir junto com você.
- Então ta.
Andamos de mãos dadas pelo estacionamento e depois pelo pátio da escola, até a secretaria. Todos nos olhavam curiosos.
Fazia tempo mesmo que Alex não aparecia, será que ele estava tão diferente assim? Ou eu que tava péssima antes dele voltar e havia melhorado agora? De qualquer forma, eu estava feliz com ele.
Iza, Caio, Nani e Nanda estavam parados em uma rodinha de conversa ao lado da quadra de voleibol. Andamos até eles.
- Olá pessoal. – cumprimentou Alex.
- Oi Alex. – respondeu Iza com uma certa curiosidade.
- Olá. – respondeu Nani sorrindo.
- Oi. – falou Caio.
- Olá. – respondeu Nanda, ela era a única que não olhava com curiosidade.
Tentei reprimir uma risada.
- Voltou para ficar? – perguntou Caio com irreverência.
- Sim. Não vão mais se livrar de mim.
Todos riram.
- Tenho que pegar minha transferência, depois a gente conversa.
- Tudo bem. – respondeu Iza.
Nani me deu uma risadinha maliciosa.
Estávamos indo para a secretaria, quando Alex esbarrou em Rodrigo. Ele se desculpou, mas Rodrigo rebateu:
- Você voltou, esquisito?
- Voltei Rodrigo. Por quê?
- Minha mãe estava certa. Deixam qualquer um entrar aqui.
Eu bufei.
- Você já não terminou a escola Rodrigo? Ou repetiu pelo segundo ano seguido? – Alex o provocou.
- Não, eu passei. Sou monitor daqui agora, ou seja, mando em você. – ele arrumava o crachá no blazer.
Estava completamente elegante. Parecia realmente um monitor de escola.
- Parabéns! – Alex o elogiou – Eu acho. Tenho que passar, licença.
- Espere aí. – Rodrigo se colocou na frente bloqueando o nosso caminho. – Só quero falar uma coisa...
- Então fala. – Alex avançou um passo para Rodrigo.
- Se prepara. A nossa luta está só começando.
- Luta de quê? – protestei.
- Não seja tonta, Bia. Eu não vou te dar para ele assim de bandeja.
- Não seja tonto você! Esquece-me Rodrigo, por favor. Pense em você mesmo, deixa de sofrer por nada. Eu não vou voltar com você. – falei entre dentes.
Ele se encolheu e saiu de nossa frente. Eu o magoei. Não devia me sentir culpada por fazer aquilo, mas me senti. Ele havia me feito feliz no passado e eu estava retribuindo da pior maneira que poderia. Resolvi voltar.
- Para onde você vai? – perguntou Alex quando eu lhe dei as costas.
- Preciso falar com Rodrigo. – falei fitando o chão.
- Você que sabe. – ele falou com sarcasmo.
Fui andando até o pátio onde tínhamos nos encontrado. Ele continuava ali, sentado no canto de uma parede, fitando o vazio.
Sentei do seu lado e ele me encarou pelo canto dos olhos.
- Desculpa ta? – tentei me desculpar.
- Pelo o quê?
- Por te fazer sofrer tanto. Eu não queria...
Ele colocou a mão em minha boca me interrompendo.
- Não precisa se desculpar, simplesmente por estar feliz e eu não conseguir enxergar isto. Ele te faz bem, está na cara. Vou conseguir superar. Eu acho.
- Você também me fez feliz. – falei me encostando em seu ombro.
- Mas não foi o suficiente para te ter comigo.
- Sempre serei a sua menina.
Um sorriso saiu de sua boca finalmente, até que o sinal bateu.
- Vá para sala. – ele ordenou.
- Claro senhor monitor. – zombei.
Alex apareceu em meio segundo. Ele e Rodrigo se encararam fortemente por um instante e depois Alex saiu.
Entramos na sala de aula, e como fazíamos antes, sentamos juntos. Era bem melhor estudar com ele ao meu lado, a única coisa que me constrangia era ele olhando a minha horrível letra e falando que era mais bela do que a dele, a caligrafia mais perfeita que eu já vira.
A professora entrou. Era Lucia, a professora do ano passado que me obrigou a fazer um trabalho com um menino que não conhecia e que hoje era meu namorado. Ela abriu um sorriso radiante quando viu Alex sentado ao meu lado.
- Então você voltou mesmo, Alex? – ela perguntou animada.
- É professora. Não conseguia ficar longe por mais tempo.
Ela riu.
- Que ótimo. Porque tenho um trabalho para passar e você faz uma dupla perfeita com Bia.
Nossa! Mais um trabalho, ela adora nos ver ocupados. A professora que mais pedia trabalho escolar era ela.
- Pode mandar. – ele falou rindo.
Ela começou a explicar como era para fazer o trabalho. Detalhe por detalhe. Era até cansativo. Alex prestava bastante atenção, ele sempre era assim, enquanto eu cochilava.
 Fiquei olhando fixamente para suas feições enquanto ele assistia à aula. Ele era mais lindo e mais perfeito do que via antes. Seus belos olhos negros combinavam exatamente com a pele clara e lisa que ele tinha. Os cabelos claros cobertos pelo boné preto eram perfeitos para o corpo belo e estruturado que todos os garotos desejavam – e ele tinha. Ele era melhor que Rodrigo.
Mas percebi que eu não era apaixonada pela beleza dele – não por ela – mas pelo seu jeito gentil e educado, seu sorriso radiante e encantador, sua voz serena e ao mesmo tempo grave, sua forma de me entender e respeitar. E naquele instante eu percebi. Ele era feito somente para mim.
Eu estava imersa em meus pensamentos quando ele me interrompeu, percebendo meu olhar direto nele:
- O que foi?
- Nada. Só estou vendo o quanto você é bonito. – respondi sussurrando.
Ele corou, ficou pensando por alguns instantes e respondeu:
- Não sou nada comparado a você.
Soltei um sorriso de vergonha e tentei me concentrar ao que a professora dizia. Consegui ouvir sobre o que o trabalho se trataria: Seria sobre Química, o que não seria fácil. Sorte que eu tinha o namorado mais inteligente da sala.
As aulas passavam rapidamente quando ele estava comigo. Já se fora toda a manhã.
Fomos juntos em direção ao Astra, pretendíamos ir para a minha casa, quando Alex me deu a sugestão de não ir:
- Quer mesmo ir para casa agora? A Gabi está em casa este mês, ela quer te ver.
- Sério? Quero muito vê-la. Vamos.
Fiquei tão entusiasmada que lhe dei um abraço de urso que o fez encolher e gemer de dor. Deveria ser o machucado nas costas dele, imagino que seja maior do que parece.
- Te machuquei?
- Não é só o machucado nas minhas costas, ele incomoda.
- É tão grande assim?
Ele trincou os dentes e suspirou duas vezes.
- Não. Só está bem roxo.
A história não me convenceu e decidi investigar. Um hematoma roxo pequeno não provoca reações tão abruptas, tinha algo por trás deste pequeno hematoma.
- Você vai? – perguntou.
- Sim.
Ele abriu a porta para mim e depois entrou. Reparei que ele evitava ao máximo se encostar ao banco e disfarçava toda vez que eu olhava.
Chegamos depois de alguns minutos a casa dele. Foi bom rever a antiga casa que eu sempre frenquentara, cheia outra vez. A sensação era ótima.
Do lado de fora dava para ouvir a voz animada e alta de Gabi. Ela parecia feliz, como sempre. Ela não mudava nunca.
Alex me puxou para dentro e Gabi apareceu na porta com um sorriso encantador e imenso.
- Bia! – ela gritou e veio correndo para meu lado – Que saudades menina!
- Eu também estava com saudades de você. – retribui seu abraço.
Ficamos por minutos abraçadas e girando no gramado, até que Alex interrompeu:
- Chega Bi. Vamos entrar?
- Seu chato! – ela mostrou a língua para ele e me levou para dentro.
Amanda, a mãe de Alex e Gabi, estava na sala cantarolando enquanto limpava a estante. Ela me viu entrar e deu um leve sorriso para mim.
- Oi Bia. Quanto tempo, hein...
- Oi Dona Amanda. Já estava com saudades.
- Somente Amanda. – ela falou rindo.
- Está bem.
Gabi nos interrompeu com uma voz alterada:
- Bia, o que você fez com o seu cabelo? Lavou na maquina de lavar-roupa?
Alex soltou uma risada alta enquanto eu me segurava para não ficar irritada.
- Estou tão mal assim? – perguntei me contendo.
- Está péssima. Venha. Vou fazer uma hidratação nisso. – ela me puxou para as escadas em direção ao seu quarto. Alex nos seguiu.
- Você continua obcecada por cabelos, Bi? – ele perguntou.
- Não sou obcecada, apenas valorizo as coisas que estão ao estremo do horror.
- Obrigada. – falei com escárnio.
Os dois riram.
Agora ela enchia meu cabelo com cremes, frutas e óleos. Minha testa escorria líquidos nojentos e coloridos. Alex bufou e saiu do quarto com uma cara de nojo. Concordava com ele no aspecto “nojo”. Era repulsivo.
Ouvi a porta do quarto dele se bater. Gabi interrompeu meus pensamentos:
- Como está sendo a escola este ano?
- Bom. – respondi sem entusiasmo – Falando em escola, não era para você estar estudando na Inglaterra?
- É inverno lá e a neve está muito intensa, então não tem aulas até o fim da estação. É bom, nunca passarei o inverno.
Dei uma risadinha.
- Você já falou com o Luiz desde quando voltou?
- Não. Deve que ele nem sentiu minha falta. – ela deu de ombros.
- Você que pensa. Ele ficou tão mal quanto eu quando Alex se foi. Na verda-de, pior.
Ela ficou quieta.
- Devia falar com ele, o mais rápido possível.
- Está bem. – ela começou a desenrolar uma toalha em meu cabelo – Pronto! Daqui a pouco a gente tira essa meleca em seu cabelo. Por enquanto, usa isso. – me atirou uma toca térmica.
Coloquei e me levantei da cadeira em que Gabi me colocara. Fui em direção ao quarto de Alex. A porta estava fechada, resolvi espiar pela fechadura.
Ele olhava no espelho o pequeno hematoma nas costas, até que tirou a camisa. Eu me assustei e entrei subitamente no quarto, já o interrogando:
- Que hematoma é esse Alex?
Ele se assustou com minha entrada e tentou esconder a grande marca que tinha em suas costas. Era um hematoma que cobria toda a parte superior de suas belas costas, estava roxo e profundo. A pele ao redor estava avermelhada e a região do machucado estava mole e sensível.
Era enorme, cobria toda as suas costas. Não era um machucado que uma queda faria e sim uma surra muito forte. Insisti na pergunta:
- Que hematoma é esse Alex?
- Já falei que caí e machuquei. – ele falou tão baixo que mal pude ouvir sua voz.
- Não acredito nisso. Fale-me a verdade. – exigi.
- Nem sempre a verdade é a melhor coisa.
- Mas eu quero saber. – falei entre dentes.
Ele se sentou na beirada de sua cama e me puxou para seu lado, falando:
- Está bem, vou te contar tudo.
- Então comece. – pedi.
- Tudo bem! – ele parecia falar consigo mesmo – Seu pai me levou para uma escola no Rio de Janeiro. Falavam que era a melhor escola da região, então ele decidiu me colocar lá. Mas não era bem o que falavam.
“Era uma escola, boa, mas não para pessoas como eu. Era para pessoas que tinham algum problema psicológico...”
- Para loucos? – perguntei gritando.
- Shhh! – ele exigiu – É, para loucos.
- Como meu pai pôde?
- Ele não sabia. – ele sussurrava – Na verdade, ninguém de lá sabe. Todos pensam que é uma escola normal. Mas os alunos de lá de algum jeito tem um distúrbio mental.
- E por que nenhum dos alunos ou ex denunciam?
- Por que as regras de lá são rígidas. – falou entre dentes – Não deve manter contato com alguém de fora, se não for autorizado. Deve apenas estudar e jamais fugir. E quando terminar de estudar, jamais falar sobre outras coisas da escola além do ensino ou é perseguido.
- Nossa. – fiquei pasma – Mas aonde que seu machucado entra nessa história?
Ele respirou fundo e ficou fitando o vazio, depois falou:
- Eu era um dos poucos de lá que não tem problema psicológico, não que eu saiba, – ele riu – então eu não aceitava muito das ordens de lá e sempre ignorava as regras, e foi em uma dessas que aconteceu isso.
“Eles sempre me pegavam ligando para Gabi ou até mesmo para você e às vezes as cartas, eles devem ter uma montanha de cartas que eu escrevi para você e a punição era perder alguma coisa. O jantar, uma visita, etc. Mas um dia eu peguei pesado”.
“Umas semanas antes de seu pai me buscar e tentei fugir e eles me pegaram. A punição foi uma surra. Não tive nem como me defender. Foi horrível”.
- Eles te bateram? – eu me assustei.
Ele abaixou a cabeça e ficou fitando o chão antes de responder:
- Sim.
- Temos que fazer alguma coisa. – falei já me levantando.
- Não. – ele agarrou meu braço – Lembra do que acabei de falar? Quem denunciar é perseguido.
- E você vai deixar mais pessoas lá se machucarem, por medo de uma ameaça idiota?
Ele me olhou sério e depois cutucou seu enorme hematoma.
- Tem razão! Mas o que pensa em fazer?
- Primeiro, vamos falar com o meu pai e mostrar isso. – apontei para o hematoma
Ele colocou a camiseta e me abraçou. Gabi apareceu bem na hora e me puxou para fora do quarto.
- Vamos! Tenho que tirar esse negócio do seu cabelo.
Havia até me esquecido de que estava com o cabelo coberto de cremes e gosmas coloridas. Eca!
Ela tirava a toca térmica de meu cabelo e começa a passar uns produtos que eu não conhecia, mas eu não estava prestando muita atenção nela. Estava pensando na situação que Alex vivera naquela escola para loucos.
Como poderiam maltratar uma escultura tão perfeita assim? E não só ele, e quanto às outras pessoas, como elas estão vivendo lá? Arrepiava-me só em pensar.
Estava vagando profundamente em meus pensamentos quando Gabi falou comigo e me assustou:
- Você está muito quieta, o que aconteceu?
Vasculhei a cabeça atrás de uma mentira e não encontrei nada.
- Hã... Nada! – tentei disfarçar.
- Espero que não tenha brigado com o Alex. – ela franziu o cenho.
- Claro que não.
Ela enrolava meu cabelo, pintava e modelava. Pude ver no espelho que havia ficado perfeito. Ela realmente sabia consertar o que estava na beira do horror.
- Acabei! – ela gritou – Você está linda, melhor do que antes.
Eu estava mesmo linda.
- Obrigada Gabi.
- Que isso. Amei.
Descemos as escadas e fomos para o primeiro andar. Alex estava sentado no sofá me esperando e se espantou em me ver daquele jeito.
- Uau! – ele exclamou – Você está linda!
Eu corei.
- Minha obra de arte. – falou Gabi me girando.
Alex revirou os olhos.
- Vamos falar com o meu pai? – perguntei tentando mudar de assunto.
- Vamos sim. – respondeu Alex, agora sério.
- Falar o quê? – perguntou Gabi curiosa.
- Gabrielli! – protestou Alex.
Ele veio em nossa direção e me puxou para perto de seu corpo. Gabi soltou minha mão e saiu.
- Você está muito linda. – sussurrou ele no meu ouvido.
- Para. – pedi.
Ele deu um sorrisinho de canto e me levou até a porta da sala.
- Quero te levar para um lugar antes de falarmos com seu pai.
- Levar para onde?
Seus lábios se aproximaram de minha orelha e um arrepio subiu por minha espinha.
- Lembra do nosso jardim?
O famoso jardim da floresta. Outra vez uma náusea me atingiu, mas agora era sem motivos. Ele disse que mais nada nos separaria, então aquele lugar não poderia me perturbar mais.
- Sim, eu lembro. – respondi.
- Então vamos para lá.
Ele abriu a porta do carro para mim e depois entrou.
Fizemos o mesmo caminho que da primeira vez, sempre conversando.
Chegamos em frente à floresta e continuamos o caminho pela trilha a pé. Ele sempre segurando a minha mão. Caí e levantei várias vezes pelo caminho cheio de arbustos e tocos de árvores. Até que avistei um lugar iluminado no centro da floresta, era o jardim.
Sentamos no meio do belo gramado, que estava maior, no meio de uma sombra que a árvore fazia. Ficamos em silêncio por um longo momento até que ele finalmente rompeu a quietude:
- Por que eu?
- Como é? – perguntei sem entender.
- Entre tantos meninos no mundo você me escolheu. Entre o Rodrigo e até mesmo o Marcos, você me escolheu. – ele destacou a palavra.
- Demorei em aceitar, mas foi tão de repente que nem eu sei responder isso, quando vi, você estava dentro de mim, fazendo parte da minha vida e eu dependendo de você.
Pude ver pelo canto do olho que ele abria um sorrisinho torto e belo, mas logo ele mudou de expressão, ficou vazia. Foi a minha vez de perguntar:
- E o que te fez se apaixonar por mim?
Ele virou o rosto para mim e me empurrou para a grama, nós dois nos deitamos e ficamos fitando o céu. Seus olhos brilhavam e ele respondeu:
- Tudo. Seu jeito, seus olhos, seu sorriso, o modo como você estremece quando te beijo ou como me olha quando te toco. Você deu sentido para a minha vida, você me mostrou o porque de continuar vivendo.
Não consegui reprimir um sorriso de satisfação que me invadira. Continuei a perguntar:
- Mas e se outra melhor aparecer em sua vida?
Ele franziu a testa e apertou minha mão com força.
- Impossível. – respondeu – Se até hoje ninguém me encantou mais do que você, ninguém mais conseguirá.
- Como assim: até hoje ninguém me encantou?
- Você foi e é até hoje a única pessoa que me apaixonei.
- Primeira namorada?
- É. - ele falou beijando minha mão.
Eu ainda não havia entendido. Como pode, uma pessoa tão perfeita assim não ter tido nenhuma namorada no passado? Será que ele era perfeito somente para mim? Claro que não. Ri sozinha com a ideia. Ele era lindo, isso estava estampado em seu belo rosto. Tive de perguntar:
- Mas por que você não teve namorada no passado?
Ele largou minha mão e ficou fitando as árvores. Depois de um breve instante em silêncio respondeu:
- Ninguém me interessava. Nada nas outras meninas me atraía. Elas eram grudadas em mim, isso eu confesso, mas nenhuma delas me chamava atenção. – ele parou por um minuto e se virou para mim – Até o começo do ano passado, que eu mudei para cá e comecei a estudar lá na escola. Desde o primeiro dia que te vi não consigo parar de pensar em você.
“Lembro até hoje, do dia em que entrei naquela sala e depois você apareceu, no primeiro dia, já atrasada. Você entrou na sala correndo e se sentou a duas carteiras ao lado de mim. Nunca me esqueci disso”.
“Sei que nunca havia notado em mim, mas eu sempre reparei em você. No seu sorriso, o modo que escrevia e prestava atenção na aula. Tudo, Tudo. Você me deixava fascinado”.
“Max e Luiz falavam que eu era idiota por me fixar em uma garota que nem sabia da minha existência, mas eu tinha esperança. E um dia o ‘ponta pé’ foi dado”.
“A professora nos escolheu para fazer um trabalho junto. As minhas intenções eram normais, de apenas fazermos o dever, mas você me atraía muito. Eu me identificava em você”.
Uma onda de felicidade me atingiu. Eu era a única que fazia ele feliz. E então uma frase não me fez sentido: “Desde o primeiro dia que te vi, não consigo parar de pensar em você”. Como assim? Ele sempre se interessou por mim?
- Mas Alex, você reparava em mim desde o começo?
            - Desde o primeiro dia que coloquei os olhos em você. Aquele dia do trabalho foi só um jeito de nos aproximarmos. – ele fitava o céu – Bia, te amo muito.
            - E por que você não se aproximou de mim antes? A historia poderia ser diferente, o Rodrigo e meu pai não poderiam fazer nada.
            Ele deu uma leve risada.
            - Tinha medo. – ele respondeu – E se você não gostasse de mim?
            Eu bufei.
            Ficamos um longo tempo em silêncio, refletindo sobre nossa conversa. Eu ainda não acreditava que era a primeira namorada dele. É impossível.
            - E como foi para você ter que partir? – perguntei.
            Ele semicerrou os olhos e pegou em minha mão outra vez.
            - Foi pavoroso. Eu pensava em você a cada minuto. – ele respondeu.
            - Pensava em voltar?
            - Todos os dias. Eu queria muito te ver outra vez. E quando soube que você tinha fugido de casa, ai sim resolvi voltar, mas logo me contaram sobre o Marcos, então eu vi que você estava feliz.
            - Que besteira!
            Eu o puxei para perto de mim e me recostei em seus braços macios. Ele se virou para mim e logo seus lábios estavam nos meus. Com as mãos acompanhei o desenho de sua nuca até chegar em seu cabelo arrepiado e embaraçado dentro do boné enquanto ele acompanhava as formas de minha cintura e de minhas costas.
            Minha vontade era de ficar ali para sempre, mas sem querer apertei suas costas e ele soltou um grito alto e doloroso.
            - Desculpa, desculpa, desculpa! – implorei.
            - Tudo bem. – ele disse se aproximando mais e me dando outro beijo que despertou meu desejo.
            Senti uma gota de água cair em meu rosto e ele se afastou de mim. Olhamos para cima e vimos que o tempo estava fechando, grandes nuvens estavam aparecendo. Tivemos que ir embora.
            - Vamos antes que fiquemos ensopados. – ele protestou.
            Assenti.
            Ele me puxou para fora da campina, com um sorriso largo. Corremos pela floresta de mãos dadas, lado a lado. A chuva começou a cair forte e chegamos ao carro completamente molhados.
            A chuva estava intensa quando chegamos ao Astra. Molhamos todo o estofado do carro, mas isso não diminuiu as risadas que seguiram depois da corrida na água.
            Estávamos indo para minha casa. Eu ainda não esquecera da conversa que queria ter com meu pai. Alex evitava se encostar ao banco, isso me deixava angustiada.

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