11- NATAL EM FAMÍLIAS
Acordei para a luz radiante do lado de fora da minha janela. Era 24 de dezembro. O sol ardia no jardim. Já passavam das nove da manhã.
Corri para me arrumar e ajudar minha mãe com os preparativos para a ceia de natal. Aquele seria o melhor dia da minha vida. Toda a minha família estaria reunida. E quando digo família não é titio, titia, primos, vovô e vovó; digo: Vasconsellos, Bittencourt, Valentyne e Pierce. Claro que Suélen não estava incluída nos Valentyne. Ela viajara para Paris e não voltaria por um bom tempo.
Já havia quase me esquecido do ocorrido da formatura. Principalmente de Suzana.
Visitei Marcos no dia anterior para lhe desejar feliz natal. Ele e Nanda estavam muito felizes com seu namoro. Matheus e Luana também. Laura parecia estar conhecendo um garoto da faculdade que estava gostando muito.
Não vira Alex com muita frequência. Ele passava dias estudando para os vestibulares, principalmente para a universidade local.
Desci correndo as escadas, feliz por poder ajudar Carla com a comida.
Um cheiro maravilhoso de comida invadia a casa. Minha mãe se distraía com um bolo enquanto a empregada limpava um gigantesco peru. Amarrei meus cabelos caramelo em um coque e corri para ver o que precisava fazer.
Carla me colocou para fazer as sobremesas.
Estava completamente ansiosa para aquela noite. Teria Alex, Gabi, Luiz, Rodrigo e até Larissa. Amanda, Renan, Danilo, Paula, Paulo Ricardo, Roberto... Todos estariam ali. A festa estava completa!
Corri ansiosa para me arrumar quando chegou à noite. Vesti um básico vestido branco; penteei meus cabelos de modo que caíssem com cachos até as costas; calcei uma simples sapatilha e corri para aguardar a todos na sala de estar.
Praticamente voei quando a campainha tocou. Era Alex, sozinho. Ele estava divino. Uma camisa preta social; uma calça jeans clara; e os cabelos arrepiados com os reflexos em três tons. O sorriso torto e sedutor exposto em sua face.
- Cadê os outros? – perguntei enquanto ele entrava.
- Estão vindo com os presentes. Daqui vinte minutos chegam.
Envolvi seu pescoço com meus braços. Precisei ficar na ponta dos pés para encarar seus olhos escuros. Pela primeira vez reparei que os olhos de Alex não eram pretos, eles tinham um tom muito escuro de marrom.
- Seus olhos são castanho escuro. – falei pensativa.
- Também pensava que era preto? – ele perguntou com os lábios em meu queixo.
- Parece.
- Não existe olho preto. Apenas castanho muito escuro.
- Sério? – perguntei com curiosidade.
Ele assentiu.
Toquei seus lábios de leve, quando ele me puxou pra perto e me beijou com mais urgência. O barulho da campainha nos deteve de continuar. Atendi com Alex atrás de mim, segurando minha cintura. Era Paulo Ricardo, cercado de presentes, e Rodrigo com uma pequena caixa discreta.
- Olá meninos. – Paulo cumprimentou.
- Oi pai. – só não voei em seu ombro porque os presentes estavam na frente.
- Olá Paulo.
Meu pai e Rodrigo entraram. Rodrigo nos cumprimentou, feliz. Era a primeira vez que passaríamos um natal junto, principalmente como irmãos.
Colocaram os embrulhos e as caixas no pé da arvore de natal, na sala de estar. Sentamos eu, Alex e Rodrigo na sala, enquanto meu pai ia para a cozinha. Não demorou muito para a campainha tocar de novo e Roberto entrar. Com certeza ele vira o carro de Paulo e veio vigiá-lo perto de Carla. Até o achei bonitinho com ciúmes.
Ele cumprimentou Rodrigo e lhe deu um abraço. Colocou o amontoado de presentes embaixo da árvore e andou até a cozinha pigarreando.
Alex e Rodrigo conversavam sobre futebol. Eu tentava entrar no assunto, mas quando as palavras começaram a ficarem difíceis desisti.
Outra vez a campainha tocou, mas agora eram os Pierce. Luiz estava na frente com os presentes, enquanto Paula e Danilo estavam atrás sorrindo. Reparei na loira ao lado deles, de mãos dadas com um homem moreno e alto. Era Larissa.
Eles entraram. Os pais de Luiz foram conversar com meus pais, enquanto ele e a irmã sentavam conosco.
- Então você é a minha prima misteriosa? – Larissa perguntou irreverente. – Nem imaginava que meu tio Diogo tivesse uma filha.
- É. – concordei. – Quantos anos você tinha quando ele morreu?
- Eu tinha sete anos. Era muito apegada a ele e a Bárbara. Teria ficado feliz se soubesse de você.
- Ah! Mas foi por uma boa causa que a mãe da Bia não a apresentou. – Luiz falou.
Os Bittencourt foram os últimos a chegar. Renan e Amanda na frente, seguidos de Gabi e uma pilha de presentes.
Gabi correu para se sentar ao lado de Luiz. Ela e Larissa já se conheciam, então foram dispensadas as apresentações, nem mesmo para o marido dela, Ben.
Os meninos estavam falando dos novos lançamentos de carro, Rodrigo se gabava por já ter tido todas as marcas possíveis. As meninas falavam sobre os novos pôsteres promocionais do Robert Pattinson e Ian Somerhalder, entrei na conversa das meninas, afinal, Ian somerhalder era meu sonho de consumo. Até Larissa participava da conversa.
Carla surgiu na sala de estar e nos chamou para o jantar. Não havíamos reparado que já era quase meia-noite.
A mesa da sala de jantar já estava lotada. Carla estava na ponta. De um lado estava Paulo com um sorriso amarelo. Do outro estava Roberto com um sorriso de orelha a orelha.
Sentei ao lado de Alex e Rodrigo. Os dois parecendo ter aceitado o tratado de paz.
- A dona da casa é a primeira a se servir. – Paula falou com irreverência.
Carla se serviu com o rosto corado. Depois todos a imitaram, inclusive eu.
Gabi limitou-se a comer somente salada e coisas pouco calóricas. Disse estar fazendo regime, embora Luiz repetisse que ela fosse magra.
- Seus olhos que são estreitos, Luiz. – ela repetia.
Alex ficava sempre me olhando com seu sorrisinho torto.
Te amo.
Ele escrevera em um guardanapo com pimenta e me passara. Reparei que Rodrigo também leu, mas tentou ignorar.
Abaixei o rosto para esconder meu rosto corado.
O relógio soou meia-noite, quando Roberto pediu a atenção de todos antes de desejar-nos feliz natal. Paulo o fitou com irritação.
- Quero dizer a todos vocês que Carla e eu resolvemos finalmente assumir o namoro.
Todos começaram a bater palma e elogiar, enquanto Paulo se engasgava com um pedaço de torta.
- Agora que sabemos que Bia nos aprova. – Roberto terminou.
Paulo me fitou como se sentisse traído. Não havia reparado que ele gostava tanto assim de Carla. Pena que não pensou nisso antes de traí-la com Suélen Valentyne.
Todos levantaram as taças com vinho para brindar a notícia maravilhosa. Agora, oficialmente, eu tinha um padrasto.
Todos terminaram de cear quando Carla anunciou que estava na hora de abrir os presentes. Luiz foi o primeiro a se levantar, alegre por finalmente chegar à parte que ele tanto queria.
Minha mãe pediu que Alex fosse o leitor dos recadinhos e entregassem os presentes à pessoa certa. Claro que isso foi por causa de sua voz maravilhosa.
Ele pegou um pequeno embrulho rosado e leu o cartão:
- De Roberto, para Carla.
Todos ficaram encantados pelo casal ser o primeiro. Carla pegou o presente e o desembrulhou. Era um belo colar de esmeraldas.
O outro era a caixa que vi Rodrigo carregando.
- De Rodrigo, para Bia.
Corri para pegar a caixa curiosa. Abri e vi um treco eletrônico esquisito, não sabia o que era. Olhei para Rodrigo interrogativamente.
- É um detector de radar. – Respondeu ele – Sei que você dirigi como uma louca. Isso ajuda a se livrar das multas.
- Ah! Obrigada! – falei.
- Belo presente para se dar a uma louca dos volantes. – Alex falou. Atirei a caixa do presente em sua cabeça.
O próximo era a pequena caixa azul que eu comprara.
- Este é de Bia, para... Eu! – ele ficou feliz.
Abriu a caixa, curioso e logo a fechou, assustado. Sem mostrar qual era o presente. Ele me fitou com incredulidade.
- O que é? – Gabi perguntou.
- Nada! – Alex falou e foi pegando outro embrulho.
O presente era uma pequena cueca Box, preta. Comprara aquilo para rir de sua cara.
O outro era de Gabi para Luiz. Um urso vestido com suéter inglês. Era muito fofo.
Alex corou com o presente de sua mãe. Era uma pequena pulseira de prata.
- Mãe. – ele a repreendeu.
- É uma nova pulseira da abstinência. Essa já está pequena.
Não teve quem não riu. Mas até Gabi recebeu este mesmo presente.
Foi uma festa de distribuição. Alex até teve de pedir para Luiz entregar um pouco, porque seus braços já estavam doendo.
Carla ganhou pulseiras, colares, brincos, roupas e sapatos.
Paulo Ricardo ganho tênis, cintos, paletós, sapatos, gravatas e chapéus.
Rodrigo ganhou roupas, calçados, pesos de academia e uma coleção de carros em miniatura – presente de Roberto.
Alex ganhou camisas, bonés, tênis, a pulseira de abstinência e o meu presente ousado.
E assim foram todos pegando seus presentes.
Ganhei um São Bernardo de pelúcia em tamanho real de Alex. Era incrivelmente lindo.
Alex pegou a ultima caixa da árvore. Ele virou-a, balançou e procurou o cartão.
- De quem é? – ele perguntou.
Todos sacudiram a cabeça dizendo não ser deles.
Era uma pequena caixa, com embrulho azul e uma fita rosa.
- Está escrito: Para Bia. Só. – Alex me entregou.
Sacudi a caixa. Parecia ter algo pesado dentro. Olhei em interrogativa para todos na sala. Não havia ninguém que também não estava curioso.
Abri a caixa e havia um pequeno bilhete com uma caligrafia confusa. Li em voz alta
Bia,
Dizem que no natal todo mundo fica bonzinho. É o espírito de natal aflorando em todos. Pois então, aí está meu espírito natalino: lhe enviei este presente.
Sabia que não gosto de pessoas que sentem piedade? Nem objeto! E este objeto teve piedade de você uma vez, então resolvi deixá-lo com você.
Se não fosse por ele você não estava passando este natal agora. Então sejam bons amigos.
Não havia a assinatura de ninguém. Tirei o pano que cobria o presente. Senti meus olhos se arregalarem.
Era uma arma preta, com uma etiqueta colada escrito:
A arma que NÃO te matou.
Para Bia, de Gisele Stoff.
Este não li em voz alta. Joguei a caixa no chão e disparei pela escada, ofegante. Aquela havia sido muito mais do que uma ameaça.
Só parei de correr quando cheguei no meu quarto. Tranquei a porta e desabei no chão com as costas encostada na porta.
Não pude conter o jorro de lágrimas que saiu dos meus olhos. Estava completamente desesperada.
Não sentia medo. Era ódio. Ódio por ela conseguir fazer tudo de novo sem que alguém percebesse ou acreditasse em mim. A história estava se repetindo.
Encostei a cabeça nos joelhos e tentei conter os soluços do choro, mas parecia impossível.
Meu celular vibrou dentro do bolso de trás da minha calça. Olhei e o número estava restrito. Ignorei a chamada, jogando o celular em cima da cama.
Senti alguém batendo na minha porta, depois a voz de Alex pediu para entrar. Apenas não respondi.
O celular voltou a vibrar. Me levantei e andei até a cama. Era o número restrito de novo. Voltei a ignorar.
Alex e Gabi imploravam para entrar. Fingi não ouvi os dois, abafando os sons com o travesseiro.
Tudo aquilo era culpa deles. Principalmente de Alex. Por que eles não podiam simplesmente acreditar em mim? Era simples!
Senti mais uma vez o celular vibrando. Irritada, peguei-o e atendi. Sem nem mesmo ver se era outra vez o número restrito.
Devia ser Gabi ou Alex, tentando falar comigo.
- O quê que é? – perguntei já estressada.
- Gostou do meu presentinho? – a voz irritante e infantil de Gisele que respondeu.
Fiquei sem saber se responderia.
- O que você quer? – perguntei.
- É só o espírito de natal dentro de mim. Resolvi mandar a arma que manteve você viva até hoje.
Minha respiração se acelerou ao máximo. Quase não conseguia ouvi-la.
- Por que você simplesmente não me deixa em paz? – falei entre dentes.
- Porque sou uma psicopata e isso não tem diversão nenhuma para mim. Não é mesmo? – ela respondeu com indiferença.
- Qual é o seu plano?
- Acha que vou cometer aqueles erros idiotas dos filmes e contar meu plano? Claro que não.
Bufei.
- Vá a sua janela. – ela pediu.
Andei devagar até a janela. Estava escuro lá fora, mas pude ver muito bem um conversível vermelho reluzindo. Encostada na porta estava Suzana, falando ao celular.
- Só posso te contar uma parte do meu plano: Que esta arma não cumpriu sua missão, mas a irmã dela pretende algo muito diferente.
Ela levantou uma arma prata na mão, apontando-a para cima.
- Elas são diferentes, não é? – ela perguntou – E não é só na aparência. Na piedade às pessoas também. Esta não tem.
Fiquei apenas ouvindo.
- Esta vai cumprir com meu plano.
Ela apontou a arma na direção da janela. Abaixei no mesmo instante e corri para dentro do closet.
Gisele começou a rir no celular.
- Curta sua nova melhor amiga. – ela falou e depois o celular ficou mudo.
Passou-se um longo minuto em silêncio, depois o som de um tiro me fez gritar. Comecei a imaginar o que aquela maluca tinha feito.
Decidi sair do closet para ver onde ela havia atirado. Comecei a pensar que fosse em alguém da sala.
Primeiro fui até a janela. Uma fumaça saía do gramado.
Abri a porta e dei de cara com Alex, Gabi e Luiz. Ignorei os três e desci correndo as escadas. Quando cheguei à sala todos arfaram.
- Bia, você está bem? – Carla perguntou.
Não respondi. Apenas abri a porta e saí para o gramado. Andei até a fumaça e vi que ela saía de um celular, completamente destruído. Foi o que ela usara para me ligar.
Peguei o celular destruído. Ainda estava quente. A bala ficara no gramado.
Virei-me e vi que todos me olhavam curiosos da porta de entrada. Alex estava logo atrás de mim, a expressão também curiosa.
Levantei o celular para que ele pudesse ver. Senti que as lágrimas voltavam a cair.
- O que tem isso, Bia? – ele perguntou.
- Foi o celular que ela acabou de me ligar para perguntar do presente. – respondi com os olhos encharcados.
- Como é?
Mesmo sem entender ele correu para me abraçar. Dali todos podiam nos ouvir.
- Ela estava aqui no gramado. – respondi.
- Só está assustada, querida. – Carla falou – Ela não viria aqui.
Naquela hora explodi.
- Eu sei o que eu vi. – gritei – Ela estava aqui. Parada ao lado de um Mercedes Vermelho. Falando comigo por este celular que ela destruiu.
- O que ela falou? – Alex perguntou.
- Que da próxima vez vai fazer o serviço melhor.
- Como ela estava?
- Loura, alta... Idêntica a Suzana... Ou talvez era ela mesma. – falei entre dentes.
Ele ficou em silêncio. Somente me abraçando.
- Por que você não acredita em mim? – murmurei.
- Porque não faz sentido.
Explodi outra vez.
- Isso é culpa sua! – gritei.
Empurrei-o e entrei em casa. Passei pelo pessoal sem olhá-los. Paulo me seguiu e se sentou ao meu lado no sofá da sala de estar.
Tentei não fitar seus olhos, pois sabia que se os encontrassem sentiria segurança, o que era a última sensação que era real naquele momento.
Claro que eu acabara de falar para Alex era da boca para fora.
- Não se preocupe, querida. – Paulo falou – Vamos pegar esta maluca.
Era óbvio que não iam. Estavam procurando a aparência errada. Se estivessem realmente preocupados em encontrá-la perceberiam que Gisele Stoff é na verdade Suzana Winter.
Debrucei minha cabeça no colo de Paulo Ricardo e vi aos poucos a exaustão me empurrar para a inconsciência.
Acordei coberta por meu cobertor, com meu travesseiro, mas na sala de estar. Paulo estava no sofá ao lado me olhando.
Sentia meus olhos doloridos e ressecados. Sentei devagar, tudo ao meu redor girou.
- Que horas são? – perguntei rouca.
- Apenas dez da manhã. Pensei que dormiria mais. – Paulo respondeu.
- Eu não dormi nem um pouco. Apenas descansei. – falei esticando os músculos.
Claro que não dormi. Ninguém dormiria sabendo que uma psicopata estava novamente te ameaçando, e que na primeira vez você quase morreu.
Estive o tempo todo pensando nas ameaças e, quando finalmente cochilava, sonhava que ela me perseguia.
Carla apareceu na sala com a expressão preocupada.
- Tudo bem, meu amor? – perguntou.
Assenti.
- Alex está te esperando no jardim. Ele não saiu dali por nada. Está te esperando desde a hora em que brigaram.
De repente minha consciência pesou. Eu havia jogado toda a culpa daquela loucura em Alex. Em alguém que jamais merecia ouvir aquilo.
Andei para o jardim e o vi sentado perto das margaridas que Carla tentara cuidar. Ele estava com o rosto encostado no joelho; a mesma roupa de ontem.
Parei até chegar ao seu lado. Ele se levantou, a expressão torturada.
- Desculpa. – falei. – Falei sem pensar. Você não tem nada a ver com isso.
Ele não respondeu, apenas me abraçou e segundos depois o ouvi soluçar em choro. Por um tempo pensei que fosse por minha culpa.
- Tenho sim. – ele falou ainda soluçando. – Tenho tudo a ver com isso. A Gisele me quer e está atormentando você.
Comecei a fitar sem rosto arrasado. Senti que minhas orelhas esquentaram, era o medo irradiando.
- Claro que não. – falei. – Só falei besteira ontem.
- Uma besteira verdadeira. Não dá para continuar assim.
Afastei de seu peito para poder olhar melhor sua expressão. Ele estava decidido.
- O que quer dizer? – me arrependi desta pergunta no mesmo instante que a fiz.
- É melhor a gente terminar.
Senti como se tivesse algo amarrando a minha garganta. A mesma sensação que tive quando descobri que ele havia ido embora, no ano passado.
- Não está falando sério. – não foi uma pergunta.
- Vamos ser realistas, Bia. – agora, lágrimas voltavam a escorrer em seu rosto. – Se terminarmos ela vai parar de te ameaçar.
- E o que você vai fazer? Correr até ela e pedir que machuque a você e não a mim? Como eu fiz? Vai ser egoísta também?
Eu também começara a chorar, mas meu choro era desesperado. Ele estava tão decidido.
- É para o bem de todo mundo. Não vou me entregar para ela... A não ser que ela continue te ameaçando.
- Veja se entende: - falei entre dentes, já cega por causa das lágrimas – Que diversão terá para ela se nós terminarmos? Ela vai continuar.
- Precisamos correr o risco. Se não der certo, a gente volta.
- Você prometeu que passaríamos por todos os problemas juntos. – eu já não o enxergava.
- Não se sua vida estivesse em perigo.
- Você é minha vida! – gritei.
- Entende, Bia. É melhor assim.
Ele beijou minha testa e me deu as costas. Afundei em soluços, enquanto o via desaparecer.
- Se você for embora – gritei – eu mesmo cumpro o serviço dela!
Ele se virou abruptamente, o rosto extremamente branco.
- Como é?
- Se terminar comigo, eu pego aquele meu presente de natal e o estréio com grande estilo.
- Não está falando sério.
- Tão sério quanto você. Se você for embora sei que entrarei em uma nuvem de torpor, como da última vez.
Ele fitou o chão, finalmente hesitante.
- Te amo. – falei.
Alex levantou o rosto e andou até mim. Ele foi imediatamente aos meus lábios, satisfeito e hesitante.
Apertei suas costas contra me corpo e desejei que jamais passasse por aquela situação.
Ele se afastou, as lágrimas ainda escorrendo.
- Te amo.
Abracei-o, desejando nunca sair dali.
Entramos e deparamos com Paulo e Carla nos esperando. Eles estavam separados pela mesa de centro, evitando se olhar.
- Fizeram as pazes? – Carla parecia satisfeita.
Assentimos.
- O que vai fazer com seu presente horrível? – Paulo perguntou.
- Vou guardá-lo para devolvê-la. – respondi. – Talvez me seja útil.
- Credo Bia. – Alex falou.
- Soou psicótico para você? – virei para encará-lo – É porque nunca a ouviu me ameaçando.
Todos ficaram calados.
Carla deu um jeito de fazer Paulo ir embora assim que terminou a onda de medo. Não demorou muito para Roberto aparecer.
- Bom namoro para vocês. – falei enquanto arrastava Alex para cima.
Comentem o capítulo ali embaixo!
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