13- PRIMEIRO DIA DE AULA NA UNIVERSIDADE
Não acredito nisso! Não acredito nisso! Não acredito nisso!
Pensei milhões de vezes enquanto dirigia da minha casa até a Escola Secun-dária de Alphaville. Estava no meio das férias de verão, tempo de estar em algum parque de Orlando.
Mas não! A suicida aqui tinha de ficar em recuperação!
Naquele mesmo dia Alex ia para sua primeira aula na Universidade local. Era a mesma que Rodrigo estava.
Claro que Rodrigo estava lá por poder pagar as mensalidades. Alex entrara como bolsista, pagaria apenas metade do total da mensalidade. Meu pai ofereceu um acordo para ele pagar, mas é óbvio que ele não aceitou.
Era dia 10 de janeiro.
Lembrei dessa mesma data há um ano atrás. Entre essa lembrança e passar as férias de verão na escola, preferiria passar as férias de verão na escola.
Há um ano atrás, Alex estava naquela escola maldita com aquela psicopata manipuladora.
Falando em psicopata: Não via a Gisele desde o episódio no cemitério, nem ela nem Suzana – o que era a mesma coisa.
Estava um calor escaldante. Eu vestia apenas um vestidinho básico e amarrara o cabelo em um rabo-de-cavalo.
Tentei imaginar meus dias estudando sem Alex. Seria mais difícil vê-lo agora. De manhã eu estaria na escola; de tarde ele estaria no Valentyne’s bank e eu na Marshel’s academia; e de noite ele iria para a faculdade.
Ele começaria o curso de direito. Seu sonho era se tornar um renomado advogado.
Estacionei em frente ao pátio principal. Havia poucos carros, apenas professores e alguns alunos.
Peguei a mochila e desci. Não havia nenhum de meus amigos ali. Sentei em uma das mesas vagas no pátio, esperando o sinal de entrada tocar.
Prometi a Alex e a Carla que me dedicaria muito para terminar o colegial, então sentei na carteira da frente. Esvaziei a mochila enquanto o professor entrava.
Primeiro veio o sermão sobre não termos passado de ano. Claro que ele disse que o sermão não era para mim, pois só estava ali por conta do ocorrido com Gisele.
Debrucei na mesa tentando não dormir ou morrer de tédio.
Narração de Rodrigo Valentyne.
Girei de um lado por outro da cama. Não consegui dormir direito, pensando que aquele era o primeiro dia de aula na faculdade. Mas não era esse o problema! Aquele era o dia em que o plano de Suzana entraria em prática.
Por um lado eu estava ansioso, pois finalmente começaria a fazer algo para ter a Bia de volta. Por outro estava com a consciência pesada. Não era nem um pouco certo o que faria.
Mas o que ele fez comigo foi certo? Roubar Bia?
Arrastei para o banheiro; tomei um banho relaxante. Não tinha nem terminado de trocar de roupa quando ouvi a campainha tocar. Houve silêncio enquanto a empregava atendia e segundos depois alguém bateu em minha porta. Coloquei a camiseta às pressas.
- Entra! – falei.
Uma figura loura e alta surgiu na porta. Ela usava uma minissaia preta, uma blusinha rosada e um salto tão alto que dava a impressão que ia arriar a qualquer momento.
- Pronto para o dia de hoje? – ela perguntou em sua voz sedutora.
Tentei desviar o assunto.
- Como consegue alterar a voz com tanta facilidade? – perguntei.
- É questão de prática. Muito fácil. Mas não muda de assunto: está pronto? – ela repetiu mais autoritária.
- Se está perguntando se não amarelei, a resposta é: Não! Sei o que estou fazendo e não voltarei atrás agora.
- Ótimo! Seria um desperdício ter de me livrar de você.
Ela se atirou na cadeira de minha escrivaninha, cruzando as pernas e me provocando com o olhar.
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que se você amarelar eu te mato! – seu olhar faiscava chamas azuis – as mais quentes.
- Maluca! – falei, saindo do meu quarto e batendo a porta.
Deixei-a trancada em meu quarto. Comecei a me lembrar dos tempos que tinha medo desta psicopata, fazia tudo o que ela queria por medo. E agora fingia ser superior a ela.
Claro que ela só deixava porque sabia que eu cumpriria nosso pacto.
Desci para o primeiro andar. A empregada já havia feio meu café da manhã, embora não fosse tão manhã assim.
- Sua amiga não vem também? – ela perguntou.
- Não! – respondi – Ela não é minha amiga. E cuide de sua vida!
Se Paulo Ricardo me visse falando deste modo me daria um tapa na orelha. Até Roberto faria isso. Mas por que aquela empregada tinha de ficar se intrometen-do onde não devia?
Terminei o café e me dirigi até a sala de multimídia. Liguei a televisão para ver o que teria naquela manhã de segunda-feira. Desisti quando meus dedos começaram a doer de tanto apertar os botões.
Resolvi voltar para o quarto. Encontrei Suzana mexendo em meu closet.
- O que está fazendo? – perguntei enquanto fechava a porta.
- Vendo suas roupas. – ela respondeu – Você quase não tem camisetas, e parece colecionar bermudas.
- Gosto de andar só de bermuda.
Ela soltou uma leve risada.
Comecei a me perguntar o que se passava na mente daquela maluca. Parecia tão diabólica e ao mesmo tempo inteligente.
Atirei em minha cama enquanto a via desarrumar meu closet já desarruma-do.
- Onde está o negócio que é para eu dar para o Alex? – perguntei.
- Muito bem guardado. Quando sair encontrará em sua mochila.
- Ficou louca? – levantei subitamente – Quer que me peguem com isso na bolsa?
- Relaxe! Deixei-o como pó. É quase impossível perceber esctasy em pó. Ninguém vai notar.
- Mas e se notarem?
Ela se virou e apontou o dedo em minha direção.
- É bom você ter um raciocínio muito rápido!
Dei-lhe as costas. Aquela garota já estava me dando nos nervos.
- Vou sair. – falei – É bom não ficar, hein! Se Paulo te pega aqui...
- Antes de sair me responda uma coisa: Que pessoa foi importante para Bia e que está enterrado no cemitério aqui perto?
Tentei repassar mentalmente as pessoas que já morreram e que Bia se importava. Só me lembrava de uma.
- Lembro de uma amiga dela que morreu quando estávamos começando a namorar. Ela foi atropelada na França e o corpo foi enterrado aqui.
- Qual o nome?
- Me lembro bem do sobrenome: Brandão. É outra família bem refinada.
- Tente se lembrar do nome!
- Daniela... Denise... Damiane... – lembrava que era algo parecido.
- Qual dos três? – ela exigiu.
- Estou tentando lembrar! – gritei – Dana... Dulce... Dique... Dique? É algo assim. Bia a chamava de Dique.
- Dique costuma ser o apelido de Dominique.
- Isso! Dominique! Dominique Brandão.
Ela colocou a mão no queixo, como se pensasse.
- Perfeito. Você está me saindo muito útil, playboy.
- Ah! Cala a boca! – saí batendo a porta.
Desci aos pulos as escadas. Ouvi os o barulho do salto alto de Suzana me seguindo, mas não com pressa como eu estava. Corri até a garagem para pegar meu Porsche.
Se havia algo no qual eu sentia muita falta era minha coleção de carros. Sabia que isso era fútil e que estava na hora de eu amadurecer, mas era inevitável pensar na maravilhosa vida que eu tinha.
Entrei no carro e saí em disparada. O Mercedes vermelho de Suzana me seguia também correndo. Ela entrou em uma pequena viela enquanto eu continuava pela rua principal. Meu destino estava quase no fim daquela rua.
Antes de fazer qualquer coisa do que teria de fazer hoje pediria desculpas à pessoa que merecia o meu arrependimento.
Saí de Cotia e entrei na estrada principal que me levaria ao centro da cidade de Barueri. Fiz todo o trajeto em pouquíssimos minutos. Estacionei em frente à Marshel’s academia. Do lado de fora já avistei Bia no balcão.
Desci e andei até lá, mas fui barrado por três garotas na porta da academia.
- Meu Deus! É Rodrigo Valentyne. – uma de cabelos ruivos e a que me pareceu a mais retardada falou.
- Falei que ele frenquentava a academia! – uma morena baixa falou.
- Rodrigo, você é tão lindo! – uma de cabelos tingidos falou.
Fitei-as incrédulo. Eram loucas ou ingeriram algum tipo de droga? Pelo que eu sabia, não era nenhuma estrela do rock ou ex-participante de um reality show.
- Com licença, garotas. – toquei em uma delas para poder passar e ela simplesmente me agarrou.
Vi, por cima do ombro da garota, Bia me fitando, sua expressão igualmente incrédula. Pedi com o olhar para ela me salvar e ela pareceu entender, pois veio até a entrada.
- OK, o larguem! – ela falou.
As garotas passaram a fitá-la.
- Quem você pensa que é? – a ruiva perguntou.
- Beatriz Vasconsellos e você quem pensa que é?
- Se você é Beatriz Vasconsellos, eu sou Hilary Duff. – a garota de cabelos tingidos falou.
- Prazer, Hilary. – Bia a provocou.
Soltei-me dos braços da garota e corri para o lado de Bia.
- Quem são vocês? – perguntei.
- Somos as criadoras do fã-clube Rodrigo Lindo Valentyne. – a morena falou.
- Eu tenho um fã-clube? Por quê?
Bia caiu na gargalhada.
- Porque você é lindo e maravilhoso. – todas falaram ao mesmo tempo.
- Ah! Obrigado, mas agora tenho que ir lá para dentro. Vamos Bia? – empurrei Bia para dentro da academia.
- Se falar sobre isso para alguém... Torço seu pescoço. – falei.
Ela ainda lacrimejava em risos.
As garotas nos fitaram de longe e depois saíram.
- Agora sei o motivo delas rondarem a academia quase todos os dias. – Bia falou em meio à risada.
Sentei em um dos bancos em frente ao balcão enquanto ela voltava ao trabalho.
- Vai fazer aula? – ela perguntou, agora mais séria.
- Na verdade, vim falar contigo. – inclinei sobre o balcão.
- Estou trabalhando, Rodrigo.
- Que horas termina seu expediente?
- Daqui uma hora.
- Vou dar um pulo no banco do Roberto e te espero no carro. O assunto é sério.
- Tudo bem.
Deixei o carro no estacionamento da academia e fui andando até o banco, era só atravessar a rua e dar trinta passos.
Em frente aquela imensa porta de mogno rodeada por ouro lembrei dos tempos em que ia lá somente para pedir dinheiro ao meu pai. Até que eram boas lembranças.
Empurrei a imensa porta – seria muito pesada se eu não fosse forte, mas os seguranças atrás dela ajudavam a abrir. O interior era muito branco e luxuoso, a menos pelas molduras de ouro, prata e bronze. Haviam guardas armados a cada dois metros.
O Valentyne’s Bank nunca fora assaltado e nas várias tentativas frustradas os seguranças executaram bem o seu trabalho. Depois de uma quadrilha inteira morrer ninguém mais ousou ter segundas intenções sobre o Valentyne’s Bank.
De longe avistei o esquisitão atrás do imenso balcão branco. Ele atendia a uma moça enquanto falava ao telefone.
Andei até e ele e interrompi seu trabalho. Costuma ser tão mal-educado antes que agora as pessoas já estavam acostumadas.
- Roberto está lá em cima? – perguntei, debruçando em cima do balcão.
- Rodrigo, estou atendendo a mulher, não pode esperar? – ele falou com calma.
- Sim ou não?
Ele respirou fundo e assentiu. Tamborilei os dedos – para provocar – e saí. Subi a longa escadaria de vidro e corrimão de prata. O banco possuía cinco andares e a sala de Roberto ficava no último.
O último andar só era permitido para quem era autorizado, pois lá além de ficar a sala do dono também ficava o cofre de segurança máxima. Então a porta de entrada era cercada por cinco guardas e além da porta havia um corredor que só possuía duas portas. O corredor todo era cheio de guardas com metralhadoras e fuzis e na porta do cofre tinha um reconhecimento facial, digital, ocular e de voz – que só reconhecia Roberto.
Era para eu também ser reconhecido pela porta, mas Roberto sempre me achara imaturo para isso.
Para minha surpresa, fui barrado pelos cinco seguranças da porta.
- Hei, sou Rodrigo Valentyne! – falei – Va-len-ty-ne.
- O senhor Valentyne não avisou que viria. – o segurança mais forte e que possuía um fuzil falou.
- Venho à hora que quiser, independentemente de Roberto saber ou não. – disse na cara do guarda.
- Sinto muito.
- Argh! – berrei.
Arranquei o celular do bolso e liguei para Roberto, que atendeu no segundo toque.
- O que foi, Rodrigo?
- Vou arrebentar a cara do seu segurança! – gritei a centímetros do guarda.
- Deixa-me falar com ele.
Entreguei o celular para o guarda que me devolveu segundos depois e abriu a porta.
Andei apressado pelo imenso corredor branco, todos os seguranças me fitavam e possuía a mão nas armas.
Paranóicos, pensei.
Abri a imensa porta da sala de Roberto. Ele se encontrava atrás da grande mesa prateada, rodeados de papeis e com dois seguranças nos cantos a suas costas.
- O que te trás aqui, Rodrigo? – ele perguntou, sem tirar os olhos dos papeis. – Pensei que tivesse deixado de ser dependente.
Caminhei até sua mesa e sentei a sua frente.
- Não vim pedir dinheiro. Quero uma informação.
Roberto levantou a cabeça, as sobrancelhas estavam unidas.
- Finalmente resolveu saber o que é a bolsa de valores? – ele parecia esperançoso.
- Nem um pouco. – abri um sorriso irônico.
- Então... – ele suspirou.
- Quero saber em que horário que seu funcionário Alex irá sair.
- Não posso passar informações sobre meus funcionários, Rodrigo, principalmente se for por motivos fúteis.
- Por que acha que é fútil?
- Por que perguntaria sobre o namorado da sua ex-namorada se não fosse algum motivo fútil?
- É o namorado da minha irmã! – ri em pensamentos.
- Qual o motivo então?
Não havia pensado nesta pergunta. Realmente subestimei Roberto.
- Preciso falar com ele e pretendo que seja antes do primeiro dia de aula dele.
Era uma boa mentira. Meu real motivo era que precisava saber que tempo que ele teria livre antes de ir para a universidade.
- Pergunte a ele.
- Responde, Roberto!
- Chega, Rodrigo! – ele se levantou – Não vou ceder aos seus caprichos. Alex é um ótimo funcionário e não vou expô-lo dessa maneira, principalmente a você. Se quiser informações sobre ele pergunte a ele mesmo.
Levante abruptamente e saí. Fiz todo o caminho de volta ao primeiro andar e fui em direção ao balcão em que Alex estava.
- Que horas você sai? – fui direto ao assunto.
- Por que a pergunta?
- Curiosidade.
- Às cinco horas, mesmo horário da Bia.
- Então hoje não precisa levar a Bia, eu mesmo levo. Tenho um assunto sério para tratar com ela.
- Que assunto?
- É com a Bia.
- Tudo bem. Só quero vê-la antes de ir para a faculdade.
Assenti.
Voltei para meu carro. Já estava quase na hora de Bia sair.
Ela saiu da academia sem o uniforme ridículo, abriu a porta do meu carro e entrou. Naquele instante me permiti brincar com a imaginação, imaginei o passado em que Bia entrava no meu carro para irmos à escola juntos. A época em que namorávamos.
- O que tem a me dizer? – ela perguntou enquanto eu acelerava.
Fiquei quieto. Ainda não havia pensado muito bem no que falar. Ela me fitou com curiosidade. Fiquei com medo de minha expressão me entregar.
Estacionei em frente a sua casa. Virei para poder encarar seu rosto.
- Quero te pedir desculpas. – falei.
- Por quê? – ela ainda estava confusa.
- Por favor, só diz que me perdoa.
Desabei em seu colo. Foi impossível conter as lágrimas. Ela passou a mão em minha cabeça, sem ao menos saber o porquê.
- Mas o que você fez?
- Me perdoa? – insisti.
- Perdoou, perdoou. Mas o que foi?
Encostei a cabeça no encosto do banco, respirei profundamente.
Bia bufou e saiu impaciente do carro. Sem imaginar, ela acabara de perdoar aquele que fará ela terminar com quem mais ama.
Acelerei o carro e saí dali.
- Que droga, Rodrigo! – Paulo trovejou – Não vou emprestar os carros da minha concessionária para você ir para a faculdade, não! Vá com os seus.
Estava terminando de arrumar minha mochila. Já me via atrasado e ainda Paulo berrava do segundo para o terceiro andar. Pedi um Audi emprestado de sua concessionária e agora ele me xingava.
- Mas só tenho três. – respondi enquanto pegava a mochila e descia as escadas correndo.
- Então os use. – e aquele foi o veredicto.
Corri até o Honda Civic – um dos três carros que me restaram. Atirei a mochila no banco traseiro e corri para o centro da cidade de Barueri.
O estacionamento estava lotado. Parei ao lado de um grupo de meninas no capô de um Ferrari – naquele instante quis ter vindo com meu Porsche. Desci e todas as garotas me cumprimentaram.
Comecei a andar até o pátio. Encontrei Alex encostado em seu Audi RS5 Cabrio. Ele parecia encarar um papel, sua expressão estava confusa.
Aquele seria o ponta-pé inicial.
- Perdido com os horários, Bittencourt?
Ele se sobressaltou. Andei até ficar ao seu lado. Reparei que a capota do carro estava fechada, ele não gostava muito de exibir o conversível.
- Não sei para onde vou. – ele admitiu.
- Vem que te ajudo. – sugeri.
Ele começou a me seguir, sem perceber o duplo sentido em minhas palavras.
Paramos na secretaria. Pedi a secretária meu horário, depois comparei os nossos. Apenas uma aula juntos: Língua Portuguesa.
- Vem que te mostro as salas.
Alex me acompanhou em silêncio. Mostrei cada sala que marcava em seu horário.
- Bem, bom primeiro dia de aula. – falei. – Nos vemos na hora do intervalo.
Ele assentiu e eu lhe dei as costas.
- Rodrigo? – ele me chamou, virei-me – Obrigado. Está sendo legal comigo.
Apenas assenti. Minha consciência se debatia de tanto peso.
Andei para a minha primeira aula. Era de medicina, com o antigo professor Rodolfo.
Sentei no fundo da sala, a cabeça maquinando uma maneira de fazê-lo ingerir a droga.
As aulas se arrastaram até o intervalo. O corredor ficou lotado ao toque do sinal, mas foi possível enxergar Alex, afinal ele era alto.
- A lanchonete fica para cá. – falei quando cheguei próximo a ele.
Ele me seguiu. Sentamos em uma pequena mesa vaga.
- As aulas aqui são bem interessantes. – ele falou.
- São, mas acho que as garotas acham você mais interessante que as aulas. – observei, olhando por sobre seu ombro as meninas que cochichavam.
Alex virou-se para ver o foco de minha visão. Quatro meninas encaravam nossa mesa.
- Podem estar olhando para você. – ele falou.
- Não! Já desistiram de mim faz tempo.
Foi inevitável uma gargalhada.
- Quer comer o quê? – perguntei.
- Acho que nada.
Não! Ele precisava comer algo. Suzana falara que comida disfarçava mais que bebida.
- Te sugiro um misto quente. O que vende aqui é divino.
- Pode ser.
- Vou pegar então.
Levantei e me dirigi ao balcão. Pedi dois mistos quentes. Sentei para esperar o pedido sair.
A garota me entregou o pedido minutos depois. Tentei disfarçar que ainda esperava enquanto pegava o pó no bolso da blusa. Despejei no recheio de um dos lanches e levei-o até Alex.
Certifiquei-me de que ele pegara o certo. Meu coração falhou quando ele dera a primeira mordida.
Primeiro Alex hesitou ao gosto, analisou o lanche por alguns segundos depois tornou a morder.
- Tem um gosto estranho.
- Gostoso, não é? – hesitei.
Ele analisou o misto quente outra vez antes de responder:
- É muito bom.
Relaxei e comemorei por dentro ao ver que o plano estava dando certo. Comemorei mais ainda quando vi que ele pediu outro. Eu mesmo fui buscar para poder colocar a droga outra vez.
O sinal para entrar tocou. Tivemos duas aulas separadas antes de estudar-mos Língua Portuguesa. Percebi que ele estava com os olhos rosados e sua atenção não estava como antes.
Ótimo!
Na hora da saída ele já estava “melhorzinho”, o suficiente para dirigir.
Liguei para Suzana no instante em que entrei no carro. Ela atendeu no primeiro toque.
- Que demora! Me conta agora!
- Ele gostou do misto quente e ainda repetiu. – falei enquanto manobrava o carro para sair.
- Perfeito. Como ele ficou?
- Com o olho rosado e meio sem atenção.
- Ele é fraco. Em menos de um mês ele estará devorando todos os mistos quentes atrás do recheio especial.
Ela trovejou uma risada tão diabólica que me fez estremecer.
- Está fazendo um ótimo trabalho, playboy.
- Trabalho sujo você quer dizer, não é?
- Medroso.
- Vadia! – desliguei em sua cara.
Voei com o carro até Cotia. Estava tão cansado e com a consciência tão pesada que não sabia se dormiria ou não.
Só sabia que no outro dia seria mais fácil viciar Alex.
Narração de Beatriz Vasconsellos.
Alex me jurara que passaria em minha casa quando estivesse voltando da faculdade. Já eram mais de meia-noite e ele ainda não chegara. Carla dormia sono solto.
Estava sentada na sala prestando atenção a cada som que vinha da rua. O barulho de um carro estacionando me fez correr e destrancar a porta.
Ele estava descendo do carro quando o agarrei pelo pescoço. Abracei-o como nunca.
- Como foi seu primeiro dia de aula na universidade? – perguntei.
- Muito bom. Acredita que lá tem um misto quente muito bom?
Fitei-o um pouco perplexa. Pensei que ele falaria sobre as aulas, os professores, mas falara do misto quente?
Foi fitando-o assim que reparei nos seus olhos rosados.
- Está com sono? – perguntei.
- Na verdade, não!
- É que seus olhos estão quase vermelhos.
- Sinceramente, me sinto muito, mas muito bem mesmo. – ele respondeu com uma euforia que me assustou.
Comentem o capítulo ali embaixo!
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