16- O PESADELO PARECIA SÓ AUMENTAR!
Era de manhã quando finalmente consegui sair do meu quarto. Estava um dia extremamente lindo. Pela primeira vez me senti viva ao acordar.
Cheguei na cozinha e me sentei ao redor da mesa. Carla estava a minha frente. Ela me encarava com preocupação.
- Juro que estou bem. – falei em meio a um sorriso.
- Está bem melhor que antes, admito. – ela falou.
- Alex ligou? – perguntei com indiferença.
Carla suspirou, o que me fez levantar os olhos para encarar seu rosto, e se inclinou por sobre a mesa.
- Estou preocupada com o Alex, Bia. Ele anda um pouco estranho. Agitado demais, sem falar nas notas da faculdade dele que caíram bastante.
- Por quê? – a última frase realmente me deixou surpresa.
- Ninguém sabe, meu amor. Talvez ele tenha sentido sua falta.
Parecia uma explicação razoável, ou talvez muito desesperada. Imaginei que ela estivesse me poupando de alguma notícia ruim.
- Vou até a casa dele. – levantei sem ouvir a resposta de Carla.
Pensei em ir de carro, mas minha atenção não estava das melhores; skate jamais, ficaria longe dele por muito tempo. Então segui a pé.
Utilizei todo o caminho para pensar no que poderia ter acontecido. Já estava tão mal que qualquer outra notícia trágica me faria em pedaços.
Alex parecia bem desde à tarde de ontem. Bem, teve algumas reações estranhas, mas o que poderia ser que deixaria até Carla preocupada?
Cheguei à casa dos Bittencourt depois de minutos andando. Amanda atendeu a porta após dois toques da campainha.
- Como é bom te ver, Bia! – ela comemorou – Preciso tanto que você fale com Alex.
- O que ele tem? – meu coração já se acelerava demais.
- Não sei, mas ele está estranho.
- Ontem ele parecia bem.
- Este é o problema: ele está bem em um momento, no outro está extremamente cansado e no outro agitado demais. Acredita que depois que ele chegou devorou quase toda a geladeira?
Assenti pensativa e entrei. Subi as escadas até o quarto dele. A porta estava destrancada, então entrei sem bater. Ele estava atirado na cama, mas não dormia.
- Está tudo bem? – perguntei desconfiada.
Ele levantou abruptamente. Sua expressão ao me ver foi de alívio.
- Bia! – quando vi, ele estava em meu pescoço – Senti tantas saudades! Você está bem?
- Ah, estou bem, mas e você? Está agitado.
Ele não respondeu, em vez disso trancou a porta atrás de mim.
Virei para encarar sua expressão. Notei seus olhos vermelhos. Parecia sem dormir a semanas.
- O que aconteceu, Alex?
- Nada. – ele falou sorrindo.
Ficamos próximos um do outro. Sua mão tocou o canto de minhas boche-chas e o sorriso torto que eu tanto amava se abriu em seus lábios.
- Todos estavam falando que você está estranho, mas parece o mesmo para mim.
- Era só saudade de você.
Ele beijou-me com delicadeza, mas logo seu beijo ficou urgente. Percebi que ele começou a me empurrar para trás até cairmos em sua cama.
- Está eufórico. – falei em meio ao seu beijo.
- Estou apaixonado.
Fiz impulso para tirá-lo de cima de mim, e consegui! Agora eu quem estava em cima dele.
- Acho que seus hormônios finalmente entrarem em abolição. – falei – Perfeito!
Levantei e puxei sua mão para levantá-lo também.
- Vamos lá mostrar aos seus pais que você está bem.
Ele levantou-se e entrelaçou nossas mãos, depois descemos juntos até onde estava Amanda e Renan.
- Como está, meu amor? – Amanda perguntou para Alex.
- Era só carência, Amanda. – falei rindo.
- Então da próxima vez que a Bia se ausentar eu te compro uns DVDs bem legais. – Renan falou.
- Pai! – Alex corou.
- Não entendi. – Amanda falou.
- Sorte sua. – também corei.
Todos voltaram para suas antigas atividades. Eu e Alex fomos para seu quarto. Prometi-o ajudar a estudar.
- Nunca suas notas caíram tanto. – observei.
- Não sei o que aconteceu, mas você vai me ajudar, não é? – ele parecia suplicar.
Assenti e lhe beijei de leve.
Passamos o resto do dia estudando. Às cinco horas da tarde ele foi para a faculdade enquanto eu ia para minha casa. Ele me deu carona no seu Audi. Dei-lhe um beijo e entrei em casa.
Roberto estava na sala de estar com minha mãe. Tentei ignorá-los, mas Carla me deteve enquanto eu subia as escadas.
- Como estava o Alex? – ela perguntou.
- Era só carência. – falei.
- Alex? Carente? – Roberto perguntou – Ele é mais assediado do que o Leonardo de Cáprio.
Parei em meio ao passo que me faria desaparecer na escada.
- Como é? – voltei.
- Depois que o Alex começou a trabalhar no banco as meninas vão lá todos os dias, principalmente para procurar emprego.
- E ele? – minha voz subiu duas oitavas.
- Não liga, é claro. – Roberto deu de ombros.
Assenti e terminei de subir as escadas. Lá do alto pude ouvir a voz de Roberto sussurrar para minha mãe:
- Na verdade, de uns tempos para cá ele passou a se importar, parece satisfeito.
Um nó apertou minha garganta. Corri para o meu quarto e me tranquei, atire-me na cama e decidi que só levantaria depois de descarregar tudo o que aquela frase me provocara.
Eu acreditava totalmente no sentimento de Alex por mim, mas saber que ele dava atenção para outras meninas me perturbava bastante. Ele não era disso. Nunca foi!
Não percebi quando foi, só notei a hora em que caí na inconsciência.
Derrubei com a maior força que pude o despertador que tocava frenética-mente, ele caiu no chão e parou de tocar assim que a bateria rolou pelo piso. Minutos depois Carla apareceu correndo em meu quarto.
- Você não vai para a escola? – perguntou.
- Ainda não estou bem. – respondi, rolando para o outro lado da cama.
Carla não protestou. Todos sabiam que demoraria muito tempo até que me recuperasse a ponto de retomar a rotina.
Só acordei realmente uma hora depois. Arrastei-me para o chuveiro, tomei um banho demorado, depois desci para o segundo andar.
Minha mãe se encontrava na cozinha, sentei ao lado do balcão onde ela batia na batedeira algo rosado.
- Amanda te ligou. – ela falou.
Olhei-a abruptamente. Amanda nunca me ligava.
- Por quê?
- Parece que Alex chegou um pouco alterado ontem. Ela quer que você vá até lá.
Meu coração falhou várias vezes até a hora em que decidi ir à casa dos Bittencourt. Entrei em meu ActiveHybrid7 e acelerei rumo ao meu destino. Encostei-me à frente a casa de Alex e toquei a campainha. Outra vez Amanda atendeu:
- Que bom que veio, outra vez.
Entrei sem falar qualquer palavra. Amanda indicou que Alex estava no quarto, subi e entrei sem bater na porta.
Ele estava atirado em cima da cama, o travesseiro cobria o rosto. O quarto estava em completa bagunça: as roupas espalhadas, o closet aberto e exposto, as peças do computador em cada canto do espaço e todos os outros objetos fora do lugar.
- Você está bem? – sentei-me ao seu lado.
- Estou maravilhoso, perfeito, melhor impossível. – sua voz saiu abafada por causa do travesseiro.
Reparei que ele vestia somente uma cueca Box. Realmente ele não estava bem!
- O que aconteceu? – perguntei.
Ele se levantou abruptamente, o que me fez levar um enorme susto.
- Nada aconteceu! Está tudo na mesma! Por que todo mundo acha que não estou bem? Estou perfeito!
- Você não está bem!
- Estou sim!!! – ele gritou.
Fiquei calada depois do grito grave que ouvi. Senti que meus olhos começaram a se encher. Ele nunca falara assim comigo.
- Vou trocar de roupa.
Enfim uma atitude normal dele!
Alex se enfiou no closet bagunçado, revirando todas as roupas e jogando as que não queria.
Estava olhando-o quando notei um frasco de remédio em cima de sua escrivaninha. Andei até lá para vê-lo. Não havia rótulo, nem bula, muito menos receita médica.
- Está tomando remédio, Alex? – perguntei, levantando o frasco.
Ele colocou a cabeça para fora do closet, os olhos arregalados.
- Deixa isto aí. – ele respondeu.
- Responde. – exigi.
- É para dor de cabeça. – ele parecia hesitar.
- Para dor de cabeça tomamos aspirina, não comprimidos, muito menos nesta quantidade. – o frasco estava cheio.
- Deixa aí, Bia.
- Sua mãe sabe sobre isso? – finalmente ele vacilou a alguma pergunta minha.
- Por que está tão curiosa?
- Por que está tão nervoso?
Ele fingiu não escutar e voltou a revirar o closet. Neste instante uma ideia passou-se por minha cabeça.
- Se é só um remédio para dor de cabeça não fará mal se eu ingerir alguns. – falei.
Não sei como foi, mas em uma fração de segundos Alex voou em minha direção e jogou o remédio para longe. Caímos em cima da pilha de roupa suja, ele apertava meu pulso contra o chão.
- Jura nunca fazer isso!? – ele gritava como um louco.
- Que reação é essa, Alex?
Nos levantamos.
Ele passou a respirar fundo, ignorando minha pergunta. Peguei em seu queixo e o levantei a força.
- Que remédio é esse? – também comecei a gritar.
Sua respiração se acelerou.
- Já falei.
- Então posso ingerir, não me fará mal!
- Jura não fazer isso? – ele suplicava.
- Se você não me contar a verdade vou ingerir.
Alex passou a fitar o chão, seus olhos começaram a se encher de lágrimas. Por um segundo, me arrependi de perguntar o que era o remédio. O medo me sondou.
- Desculpa? – ele começou a soluçar.
- O que é? – meus olhos se encheram mais.
Ele respirou fundo duas vezes, fitou o frasco jogado no chão e as lágrimas jorraram de seus olhos.
A resposta quase me destruiu:
- Ecstasy.
Involuntariamente dei um passo para trás. Meu coração acelerava de um jeito que me fazia ofegar. Desejei veementemente que fosse alucinação o que acabara de ouvir. Meus olhos começaram a se encher mais do que imaginava.
Alex começou a andar em minha direção, os olhos negros já não eram mais visíveis por causa das lágrimas. Ele suplicava minha atenção, mas eu olhava para algo além dele, olhava o passado e o futuro.
No passado Alex era completamente contra as drogas, era impossível imaginá-lo usando tal coisa.
No futuro eu já o via como um eterno viciado, alguém sem futuro.
O presente... Bem, esse era o único tempo em que tentava evitar o pensamento.
Por dentro eu ardia em raiva. Sabia que toda a culpa era daquela psicopata. Estava com tanto ódio que se a visse naquele momento cometeria um crime.
Enquanto dava passos de costas tropecei em uma montanha de roupas e caí no chão. Alex correu para me ajudar, mas me afastei arrastando pelo chão. Ele hesitou e se afastou.
Minha voz se escondeu em meu peito. Estava impossível falar. Apenas meus olhos expressavam o horror em que me encontrava.
Alex implorava que eu parasse para escutá-lo, porém meus membros não conseguiam responder a tal pedido.
- Bia, por favor, me escuta? – sua voz se perdia em meio aos soluços.
Juntei meus joelhos aos meus braços, encolhi-me no amontoado de roupas e finalmente joguei tudo o que me sufocava: o rio de lágrimas.
Chorei por horas. Chorei mais do que já chorara até hoje. Chorei de um jeito devastador.
Quando finalmente consegui abrir meus olhos inchados e levantar minha cabeça pesada, que estivera por horas por entre meus braços, já se passavam das duas da tarde.
Encontrei Alex no outro canto do quarto, também com a cabeça entre as pernas. Seus soluços eram audíveis mesmo de longe.
Levantei e andei até ficar de frente para ele. Meu ódio, meu medo, minha angústia havia passado, agora só o sentimento de amor pairava sobre mim. Agachei a sua frente e toquei seus braços. Ele levantou a cabeça, os olhos pareciam esperançosos.
- O que aconteceu? – finalmente perguntei.
Ele não respondeu, em vez disso, abraçou-me de um jeito urgente. Retribuí o abraço, mas logo me afastei. A pergunta ainda estava no ar.
Sentei ao seu lado para ouvir. Ele tocou meu rosto com suas mãos.
- Antes de qualquer coisa... Te amo.
Fui impossível evitar que seus lábios tocassem os meus. Passei os braços por trás de seu pescoço. Nos afastamos e exigi:
- Me explica!
- Juro que eu não sabia que era droga. Não tinha um gosto diferente.
- Como você não sabia que o comprimido que ingeria não era droga? Todo medicamento não receitado por um médico é droga!
- Mas eu não sabia que estava ingerindo medicamento algum. Isso foi colocado todos os dias em minha refeição da faculdade.
Realmente eu não esperava por aquilo.
- E você não sentiu o gosto? Quem colocou? Por que colocou?
- Isso não tem gosto, Bia, só sensações mentais que na hora eu não percebia ter. Não posso falar quem colocou. E não sei o porquê.
- É por isso que anda tendo essas reações estranhas?
- Sem sombra de dúvidas. Não tenho mais controle sobre o que faço. Tento resistir, mas parece que meu corpo não responde aos comandos do meu cérebro.
Peguei em sua mão.
- Me conte quem é que está lhe dando isto.
- Não posso falar. Essa pessoa ameaçou toda a minha família.
- Aquela psicopata está envolvida nisto, não está? – eu tinha certeza absoluta disso.
Ele não respondeu, o que confirmou minhas suspeitas.
- Há quanto tempo que você já está ingerindo isto?
- Mais de um mês.
Não pude evitar a onda de dor que aquela resposta me causou. Pelo tempo, Alex já poderia se considerar um viciado.
Não havia mais nada a ser feito, a não ser compartilhar um pouco da dor. Abracei-o e juntos tentamos esquecer o presente.
Alex contou-me cada pedaço, mas tomou muito cuidado para não pronunciar o nome do seu fornecedor, embora eu jurasse que não contaria a ninguém que ele me contara.
- Você precisa falar isso para seus pais. – falei depois que a história terminou.
- Claro que não! Minha mãe morreria! – ele levantou em um súbito.
- Mas eles podem ajudar, Alex. – também levantei.
- Como? Ninguém pode me ajudar, Bia.
- Não pense assim. – falei tocando seu rosto.
No fundo, eu estava dizendo isso a mim mesma. Implorava para que não pensasse que Alex não tinha salvação.
- Precisa contar a eles.
Seus olhos suplicavam para que eu desistisse desta ideia, mas me mantive intacta quanto a minha decisão.
- Tudo bem. – Alex respondeu depois de um longo silêncio – Só que não será agora. Preciso me preparar primeiro.
- Está bem.
Nos abraçamos outra vez. Senti sua boca tocar meu pescoço e começar a deslizar até chegar em minha boca. Afastei-o antes que me aprofundasse em seu beijo.
- Tenho que pensar um pouco, Alex. – falei.
- Não vai terminar comigo, vai? – sua respiração se tornou insuportavel-mente audível.
- Preciso pensar. – repeti, também me fazendo a mesma pergunta.
- Não termine comigo, Bia, por favor. – ele ajoelhara – A última coisa que preciso agora é que você vá embora. Você precisa me ajudar.
Meu coração começou a bater irregular. Imaginar terminar com Alex deixou-me arrasada. Não conseguia ver meu futuro sem ele.
- Só preciso acreditar um pouco, Alex.
Seus olhos começaram a se encher.
- Eu te amo. – ele falou.
Toquei seu queixo e o levantei.
- Também te amo.
E saí daquele quarto. Despedi de Renan e Amanda, sem olhar em seus olhos, e fui até meu carro.
Pensei que ali, trancada em meu carro, tornaria a chorar, mas as lágrimas pareciam que tinham secado.
Aproveitei que ainda estava em consciência e não entrara em estado de choque para dirigir até minha casa. Estacionei de mau jeito e entrei em casa. As vozes de Carla e Roberto vinham da cozinha, então aproveitei para passar despercebida.
Trancada em meu quarto o mundo lá fora parecia não existir. Fechei meus olhos desejando cair na inconsciência. Dormir parecia a melhor ideia naquele momento.
Poderia até ter sido uma boa ideia no começo, mas na hora em que a escuridão dos sonhos se transformou em um lugar desconhecido, desejei que voltasse a realidade.
Havia duas pessoas ao meu lado. Elas não falavam, apenas estavam sentadas sorrindo para mim.
Eu conhecia aquelas pessoas. Do meu lado esquerdo estava um homem de aparentemente vinte anos, cabelos marrom-acinzentados bem curto, os olhos de um preto profundo e a pele branca. A minha direita estava uma garota de aparência jovem, também sorrindo, mas foram seus olhos que me chamaram a atenção: eram os mesmo olhos que eu via todas as vezes que me olhava no espelho. Reparei em seu cabelo da mesma forma que os meus, porém eram um pouco mais escuros.
Percebi que aqueles eram Bárbara e Diogo, meus pais biológicos. Eles apenas sorriam para mim, os olhos estavam calorosos e brilhantes.
- Mãe, pai. – olhei para os dois.
Eles apenas assentiram e sorriram.
Embora eles estivessem do meu lado eu não conseguia senti-los realmente ali. Era como se fossem apenas fotografias muito grandes ao meu lado.
Bárbara tocou em minha mão, mas não conseguia sentir seu toque, somente estava vendo sua mão sobre a minha. Tentei tocar em Diogo. Minha mão parou no ar quando pareceu que tinha tocado seu braço, porém não sentia nada em minhas mãos.
Dei de ombros, afinal, aquele era o mais próximo que eu chegaria de meus pais, então aproveitei o momento. Deitei no colo de Bárbara e Diogo, mesmo não sentindo nada. Fiquei assim o que pareceu dez minutos até um barulho ao fundo começar. Ele foi se intensificando até ficar insuportável. Então acordei para a realidade e para um despertador frenético ao meu lado.
- Merda! – falei, pegando o despertador e jogando-o contra a parede.
Com certeza Carla o teria arrumado, já que na manhã anterior eu o derruba-ra e o desmontara no chão.
Aquele havia sido o melhor sonho que eu já tivera. Jamais tinha sonhado com meus pais, e mesmo aquele sendo um sonho sem toques e nem palavras, foi maravilhoso. Senti como se existisse alguém me protegendo.
Pude ver através do sonho às vezes em que os olhos de Diogo e Bárbara se encontravam, havia algo tão intenso neles. Era possível ver o quanto se amavam.
Meu pai não fora exatamente um príncipe para minha mãe, mas ela o amara incondicionalmente.
Notei que eu estava passando pela mesma situação. Alex já não estava sendo o meu príncipe, mas eu ainda o amava como nunca.
Diogo fora um usuário de drogas, assim como Alex estava sendo, e o maior motivo por tudo ter acabo em tragédia era que Bárbara não o havia apoiado como precisava.
Foi neste instante que decidi: Agora, mais do que nunca, eu ficaria ao lado de Alex.
Arrumei-me para sair e corri para meu carro. Acelerei em direção a casa dos Bittencourt. Alex ainda estava dormindo. Ajoelhei ao lado de sua cama e comecei a cariciar seu rosto.
Minutos depois que cheguei, ele acordou. Seu rosto estava pálido, os olhos com olheiras profundas e o sorriso parecia cansado.
- O que faz aqui? – ele perguntou rouco.
- Só dizer que estarei ao seu lado para o que você precisar.
Ele se sentou na cama, esfregou a mão nos cabelos bagunçados e olhou com uma expressão confusa para mim.
- Não vai fazer isso por pena, vai?
Sentei-me ao seu lado.
- Não. Vou fazer isso porque já perdi as duas pessoas mais importantes da minha vida para as drogas, não quero perder uma terceira do mesmo modo.
Ele começou a chorar e me abraçou.
Saí da casa de Alex e fui em direção à escola. Estava na hora de retomar a rotina.
Alex voltou a dormir na hora em que saí. Foi difícil fazê-lo parar de chorar, mas finalmente consegui.
Quando cheguei à escola o sinal já havia tocado há cinco minutos. O monitor já me esperava na entrada do pátio principal.
- Olá, senhorita Beatriz. – ele me cumprimentou com sua voz irônica – Pensei que havia desistido da escola.
- Não vai se livrar de mim tão cedo. – respondi enquanto andava pelo pátio.
- Onde pensa que vai?
- Aula de matemática.
- Acho que o diretor gostaria de uma visita sua antes.
Virei-me para encarar seu rosto, minha paciência já havia se esgotado.
- Escuta aqui: Depois do acidente com meu amigo não tenho vontade alguma de vir aqui, tenho atestado comprovando que não estava apta psicológica-mente para vir à aula, ontem descobri que meu namorado é um drogado e há uma psicopata outra vez atrás de mim. Então se eu fosse você, não encheria minha paciência desse jeito, porque se eu quiser faço você perder este cardo chinfrim de monitor. Ouviu, Lucinho? – este era o apelido que a namorada dele usava.
- Só não lhe darei uma advertência neste instante porque...
- Tem medo! – completei e fui em direção a minha sala de aula.
Todos os meus colegas já estavam na sala. Entrei tão distraidamente que não notei a bronca que a professora me dava.
Debrucei-me sobre a carteira, tentando não adormecer na aula. Faltava apenas um mês para aquele tédio terminar.
Quando o sinal da última aula tocou saí apressada para meu carro. Estava disposta a naquele dia trabalhar, a voltar à velha rotina.
Dirigi devagar para Barueri. Estacionei e entrei na imensa academia da família Marshel. Diogo correu para me receber.
- Que bom te ver de novo, garota. – ele me abraçou, nem parecia o mesmo conquistador, na verdade, parecia tomar cuidado com as palavras.
- A vida segue em frente, não é? – tentei sorrir, mas acho que ele não acreditou.
Fui para trás do balcão trabalhar, jurando que não iria infectar ninguém com minha tristeza, revolta, angústia, desespero e principalmente ódio.
Estava deitada no sofá de casa. Havia acabado de chegar do trabalho. Carla e Roberto estavam sentados no sofá ao lado, todos atentos à televisão.
O dia no trabalho me deixara exausta, então ainda não havia passado na casa dos Bittencourt.
- Como foi seu dia, meu amor? – Carla perguntou.
- Bom. – respondi distraída com a TV.
Passaram-se um longo tempo em silêncio. Percebi Roberto acariciando Carla neste tempo.
O telefone tocou fazendo todos na sala se assustarem. Estiquei-me por cima do sofá e peguei o fone.
- Alô? – atendi.
A voz alta de Amanda começou a falar do outro lado da linha. No começou suas palavras estavam impossíveis de se compreender, até que Renan pegou o tele-fone e começou ele mesmo a falar.
- O que aconteceu, Renan? – eu já começava a ficar nervosa.
- Preciso que você venha ao hospital. – ele respondeu.
- Por quê? – levantei abruptamente do sofá. Carla e Roberto começaram a me fitar.
- Aconteceu alguma coisa com Alex.
Foi o que bastou para eu largar a telefone e correr para o meu carro. Ouvi Carla perguntando o que ocorrera, mas ignorei e entrei no BMW.
Saí tão desesperada que quase bati no carro do vizinho e atropelara um cachorro.
O hospital não ficava muito longe dali. Acelerei até o máximo e cheguei em pouquíssimos segundos.
Renan e Amanda se encontravam na sala de espera.
- O que houve? – perguntei exasperada.
- Chegamos em casa – Renan começou – e encontramos tudo quieto e apagado. Pensamos que Alex estava dormindo, então nem nos importamos.
“Mas aí chegamos na cozinha e notamos a geladeira toda revirada, aberta e tudo que havia dentro dela estava espalhado em restos pela mesa, inclusive uma garrafa de Vodka quase vazia. Carla resolveu perguntar a Alex o que tinha acontecido, mas a porta do quarto estava trancada. Gritamos sem parar, só que nenhum som vinha de lá. Resolvi arrombar e me deparei com Alex caído no chão quase roxo”.
- Ainda não falaram o que aconteceu? – fiquei desesperada.
Ele negou com a cabeça.
Sentei ao lado de Amanda que soluçava em choro. Minutos depois um médico chegou à sala e Amanda se levantou.
- Como está meu filho? – ela perguntou.
- Ele ingeriu alguma coisa suspeita hoje? – o médico ignorou a pergunta e fez outra.
Um nó apertou minha garganta. Talvez eu soubesse o que ele andou ingerindo, só esperava que não fosse o que pensava.
- Não! – os dois responderam ao mesmo tempo.
O médico assentiu.
- Seu filho está inconsciente, mas já está longe de perigo.
- O que ele teve? – foi à vez de Renan falar.
- Não tenho certeza. Suspeito de algo, porém preciso dos exames dele antes de falar qualquer coisa.
- Podemos vê-lo? – perguntei.
Ele assentiu. Andamos pelos corredores do hospital até chegar em um quarto e o médico abrir a porta. Vi Alex deitado inconsciente naquela cama, com tubos e agulhas injetadas em seu corpo.
- Para que tudo isso? – perguntei ao médico atrás de mim.
- Ele chegou aqui sem ar e desidratado. Colocamos as pressas essas sondas e agulhas.
- Alex chegou a correr risco de morrer? – Amanda perguntou.
- Você está brincando? Ele chegou aqui já quase morto. Certeza de que ele não ingere nada?
Engoli em seco.
- Que tipo de coisa poderia fazer algo assim nele? – tentei ter certeza do que ele perguntava.
- Droga.
Meu coração falhou. Amanda arfou alto.
- Meu filho não usa drogas! – ela berrou.
- É só uma possibilidade. Não afirmei nada.
Alex recuperou a consciência de repente. Estava arfando e o rosa finalmente começava a voltar ao seu rosto.
- Meu amor! – Amanda exclamou – Meu amor, meu amor! Como está se sentido?
Ele não respondeu. Apenas olhou para todos os lados e focou seu olhar em mim.
- Você se lembra do que aconteceu, Alex? – o médico perguntou.
- Só me lembro de me atirar na cama, esperando a sensação boa vir, quando uma falta de ar imensa me atingiu. Rolei no chão desesperado, mas meu coração acelerou e tudo ficou escuro de repente.
- Que sensação boa era essa?
- O sono. – Alex me lançou um olhar que desmentia tudo.
Consegui imaginar a cena em minha mente: Alex chegara em casa e não encontrara os pais, desesperado pela vontade de usar a droga ele tentou disfarçar com comida, mas não foi suficiente. Tentou com a bebida e também não resolveu. Ingeriu a droga e acabou tendo uma reação adversa.
- Ingeriu algo, Alex?
- Comida.
- Mais nada?
Ele começou a ficar desesperado. O médico já sabia, só não podia dizer porque não havia provas, ainda.
- Se você não contar eu conto! – falei por fim.
- Contar o quê? – Amanda perguntou.
- Vão saber daqui a pouco nos exames. – continuei.
Alex suspirou e começou a fitar além de que se via.
- O que você ingeriu, Alex? – o médico insistiu.
- Vodka.
- Com o quê?
Era certeza de que o médico já sabia tudo.
Alex começara a chorar. Amanda fitava seu rosto com o desespero explicito. Renan parecia não compreender.
- Ecstasy.
- Você é louco, moleque? – o médico berrou – Tem muita sorte por não ter morrido!
- O que é ecstasy? – Amanda tentava não acreditar no que poderia ser.
Todos a fitaram com os olhos angustiados. Já era difícil dizer que o filho usava ecstasy e para piorar teríamos que explicar o que era isso.
- Uma droga que provoca sensações de prazer no usuário. – o doutor respondeu.
- Você está usando drogas, Alex? – ela o olhou chocada.
Decidi que precisava sair daquele quarto. Meus olhos já estavam sobrecarre-gados de lágrimas e os soluços se prendiam em minha garganta. Saí dali e deixei Alex resolvendo sua situação.
Meu peito flamejava de dor. Não estava suportando o fato de ver a pessoa que eu mais amava, a única que realmente era do meu mundo, se perdendo em drogas.
Meu pai já havia morrido por causa de um vício maldito. Minha mãe também, embora não fosse usuária. Agora Alex, aquele que eu jamais suspeitaria tal coisa.
Sentei em um dos bancos do corredor. Coloquei minha cabeça por entre minhas mãos e desabei em choro.
Finalmente podia dizer que estava sem chão. Até a pessoa em quem eu mais poderia confiar já me abandonara.
Pela primeira vez declarei: Alex não é mais o meu príncipe encantado e jamais será!
Senti que alguém se sentou ao meu lado.
- Você está bem? – a voz do médico me fez levantar a cabeça.
Apenas neguei com a cabeça.
- Quer conversar?
Fitei-o com meus olhos encharcados.
- Já perdi meus pais para as drogas, não quero perder o Alex também. – falei em meio aos soluços.
- Mas o ecstasy é uma droga que pode ser facilmente curada com tratamen-tos profissionais.
- Jura? – fitei o fundo de seus olhos.
- Claro!
Consegui cessar o choro. Agora conseguia imaginar Alex sem a droga, mas ainda sim não era o meu príncipe.
- O que aconteceu com ele? – perguntei.
- Misturar esse tipo de droga com álcool provoca reações perigosas, no caso do ecstasy ocorre até a morte. Entretanto, Alex teve apenas uma overdose.
- Apenas? – perguntei incrédula.
- Era o de menos grave que poderia acontecer com ele. Foi muita sorte.
- Ele corre mais algum risco?
- Pelo ocorrido de hoje, não! A droga e o álcool já devem estar saindo do organismo dele, mas preste atenção, qualquer outra overdose dessa será fatal para ele. Outra, e Alex morre.
Meu coração falhou várias vezes.
Comentem o capítulo ali embaixo!
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