quarta-feira, 6 de julho de 2011

Capítulo 5


5- PACTO SANGRENTO


         Narração de Rodrigo Valentyne.

            Irmã! Jamais vou aceitar Bia como minha irmã. Ela é a menina que mais amo na vida, e esse amor não é nada fraternal.
            Não era justo! Eu que tinha feito tudo por ela e ela me trocou por aquele esquisito, de classe baixa, família estranha e sem nome. Bittencourt, grande coisa. Ele não fazia jus a ela. Uma Vasconsellos não devia ficar com um Bittencourt, mas com um Valentyne.
            Ainda tinha esperanças. Acreditava que ela poderia voltar para mim. Mas depois desta história de irmãos não dava mais. Bia agora acreditava que nós éramos irmãos.
            Não somos irmãos! Eu queria gritar. Ela não era filha verdadeira de Paulo Ricardo Vasconsellos, meu pai, então não tínhamos o mesmo sangue nas veias. Além do mais, não existe nenhuma lei que proibi o amor entre irmãos de consideração, então eu ainda podia lutar, ter esperanças.
            E eu ia ter!
            Agora eu estava morando na imensa casa de Paulo no bairro Granja Viana, em Cotia. Não era muito longe de Alphaville, mas o bastante para me deixar morrendo de saudades dela.
            A casa era toda branca, com algumas paredes de vidro. Era de três andares, muito espaçosa, principalmente se eram só duas pessoas que moravam nela – mais alguns empregados.
            Paulo me dera um emprego na sua concessionária. Eu já tinha vendido quase todos os meus carros, ficando só o Porsche, o Honda Civic e o Hilux. A maioria tinha vendido para a concessionária de Paulo.
            Naquele dia eu estava de folga, sozinho naquela mansão. Já era de meu costume andar seminu pela casa, as empregadas mais novas até gostavam. Eu estava assim, só com um pequeno short jeans, quando a campainha tocou. Estava esparramado no sofá da sala de TV, no segundo andar. Desci sem pressa alguma para atender a porta.
            Abri e quase tive um ataque cardíaco. Uma loura, extremamente linda estava parada a minha porta. Ela era alta, embora estivesse de salto; os cabelos louros caíam lisos até abaixo das costas; os olhos de um verde-água surpreendente; o corpo com curvas perfeitas. O vestido vermelho, com um imenso decote em V e comprimento até metade da coxa, a deixava ainda mais sensual.
            Senti que estava com a boca escancarada. Recompus a face e tentei tirar a ideia de malícia da cabeça, sem dúvidas minha expressão demonstrava o que eu estava pensando.
            - Olá. – minha voz saiu rouca e sedutora.
            - Oi. – sua voz parecia tão marota quanto a minha – Você é Rodrigo Valentyne, não é?
            Sobressaltei. Ela me conhecia? Devia ser dessas revistas de fofocas.
            - Sou sim. E você quem é? – tentei não parecer grosseiro.
            - Suzana Winter. Você me conhece.
            - Acho que não. Lembraria-me de você, mesmo que fosse há dez anos atrás.
            É claro que eu me lembraria. Como se fosse possível esquecer uma beleza tão surpreendente.
            - Se me convidar para entre posso explicar melhor.
            - Ah! Desculpe.
            Gesticulei para que ela entrasse. Como tinha me esquecido de convidar aquela rainha da beleza para entrar na minha casa? Que grosseria!
            Ela parou no meio da sala de estar, seu rosto mais sensual do que já estava.
            - Você me conhece sim. Principalmente dos recentes noticiários.
            - É alguma top-model? – cheguei bem próximo de sua orelha, minhas mãos pousando em seu ombro.
            - Não. Mas você me conhece muito bem. Se eu disser meu nome promete não tomar nenhuma atitude precipitada sem antes me escutar?
            - Claro que sim.
            - Nada de 190?
            Hesitei um pouco. O telefone da polícia?
            - Nada. – garanti, confuso.
            - Essa não é minha verdadeira aparência, nem meu nome. Na realidade sou morena, mais baixa, com olhos castanhos-escuros...E meu nome é...Gisele Stoff.
            Congelei no mesmo instante. A única lembrança que eu tinha de Gisele Stoff era de uma arma apontada na minha direção. Na minha, de Alex e de Bia. Ela era a garota que quase matou a menina que eu amo.
            Afastei subitamente. Varri a sala com os olhos, a procura do telefone, uma reação reflexa a proteção.
            - Você prometeu. – agora sua voz estava ameaçadora.
            Seus olhos lampejavam fogo. O ódio estava explicito. Por puro instinto permaceni afastado quando falei:
            - Tudo bem. Foi só o susto. – minha voz falhava.
            Ela jogou seus cabelos no ombro esquerdo e virou-se para ficar de frente para mim. A perfeita rainha da beleza. A verdadeira Afrodite. De cabelos louros, longos e de olhos hipnotizantes.
            Meu corpo se enrijeceu de medo e ao mesmo tempo hesitou, de tanta beleza.
            - Vai ouvir o que tenho para falar? – ela cortou o silêncio.
            - C...Cla...Claro. – gaguejei.
            - Não corremos o risco de alguém chegar?
            Pensei naquela pergunta por um instante. Imagina se Paulo chegasse e visse a psicopata que um dia tentara matar sua filha! Claro que ele não reconheceria ela assim, de primeira vista. Mas seria uma traição com ele.
            - Vamos à sala de jogos, no segundo andar.
            Cambaleei pelas escadas, enquanto ouvia o barulho do salto da bela mulher atrás de mim.
            Suzana sentava em cima de uma mesa de sinuca. Ela cruzou as pernas, de modo que o vestido revelasse suas belas coxas. Parei pouco a sua frente.
            - Quero fazer uma união com você. – ela falou enquanto jogava os cabelos para trás e se apoiava nos braços atrás das costas.
            - Que tipo de união? – desta vez minha voz saiu mais desconfiada.
            - Naquele dia, em que vocês foram resgatar Beatriz, reparei em você. Percebi o modo como olhou para a menina. Não era um olhar de amigo, muito menos de parente. Você é apaixonado por ela.
            Assenti.
            - Memorizei cada rosto daquela noite, de cada um que atrapalhou meus planos. Depois pesquisei a vida de cada um deles: Luiz, Max, Gabrielli e você. Marcos e Matheus eu já conhecia. A sua história me intrigou.
            “Rodrigo Valentyne, filho de Suélen e Roberto Valentyne, a família mais rica de toda a região. Você e Beatriz eram namorados, até Alex aparecer e roubá-la”.
            “Dias depois, leio o jornal dizendo que: Beatriz Luiza Vasconsellos não é filha biológica dos ricos Carla e Paulo Ricardo Vasconsellos e que Rodrigo Valentyne é filho de Paulo Ricardo Vasconsellos, sendo assim, irmão de Beatriz, de consideração pelo menos. Mas você não aceita isso. Não quer Bia como sua irmã, e sim como sua namorada”.
            Não foi uma pergunta.
            - Aonde você quer chegar com isso? – perguntei.
            Ela passou a mãos nos cabelos, deixando-os cair ao lado do rosto em uma longa franja.
            - Eu sou apaixonada por Alex. E teria ficado com ele se não fosse Beatriz. Tive raiva dela, por isso a sequestrei. Foi um plano precipitado e idiota, mas eu estava desesperada.
            “Agora estou mais amadurecida. Percebi que não posso vencê-los atacando somente Beatriz, então irei atacar Alex, de um jeito silencioso e mais maduro. Vou atacá-lo de um jeito que Bia jamais quererá ficar com ele”.
            “Mas para isso, preciso de sua ajuda”.
            Aproximei mais dela. Ficamos cara a cara. Ela tinha um olhar tão tentador.
            - O que terei de fazer?
            Sua boca se abriu em um sorriso imenso, revelando dentes extremamente brancos e perfeitos.
            - Apenas o que eu mandar.
            - Não sou de receber ordens.
            - Mais tarde você vai me agradecer.
            Sem querer, abri o imenso sorriso dela. Senti o poder subir a cabeça. Saber que finalmente conseguiria tudo que merecia, que já era meu e que foi roubado. Nada mais justo. Faria qualquer coisa. Até aceitaria receber ordens de uma garota.
            Beatriz.
            Meu único motivo.
            - Aceito. – falei com água na boca.
            - Já vou avisando: Se fizer um pacto comigo terá de cumprir. Caso contrário...
            Ela tirou um jornal da bolsa e atirou em cima da mesa. A manchete estava bem grande:

            PRESO RONALDO JANELL SCARP – RONE –, CUMPLICE DE GISELE STOFF, ACUSADO DE SEQUESTRAR A FILHA DO EMPRESÁRIO PAULO RICARDO VASCONSELLOS.

            - Não tive dó alguma. – sua voz ficou ameaçadora – Foram quatro anos de parceria.
            Respirei fundo. Admito que estava com medo, mas não ia deixar me intimidar.
            - Um pacto comigo também é pesado. Dou meu sangue por um pacto.
            Ela ergueu uma sobrancelha e tirou da bolsa um estilete. Passou o estilete na palma da mão, em diagonal, deixando sair muito sangue, depois passou o objeto para mim.
            Hesitei.
            - Medo? – ela perguntou com escárnio.
            Passei o estilete com a maior força que pude, fazendo um corte profundo. Com certeza teria de enfaixar depois.
            Trocamos um aperto de mão sangrento. Senti nossas mãos se deslizarem. Estava feito. Um pacto de sangue.
            Quando nos tocamos, senti uma corrente elétrica passando. Mas não era uma corrente normal, era fria, horripilante. Naquele momento vi que eu também estava sendo um psicopata. Mas e daí? Conseguiria tudo o que queria.
            Seus olhos estavam sorrindo de um jeito estranho. De um jeito poderoso. Como se vissem um tesouro, algo que pudesse controlar.
            - Já vou avisando: Não vou ser controlado por uma mulher. – falei ainda apertando sua mão.
            - Isso é o que você pensa. – ela falou, puxando minha mão.
            Ficamos frente a frente um com o outro. Seus olhos verdes me hipnotizaram de um jeito enlouquecedor.
            - Por que diz isso? – tentei me livrar de seu poder de persuasão.
            - Porque eu sei que fosse vai se render a mim.
            Antes que eu protestasse, ela me agarrou. Passou os braços em volta de minha nuca e me prendeu ali com um abraço de ferro. Eu era forte o suficiente para tirá-la dali, mas quem disse que eu queria? Posei minhas mãos em sua cintura e apertei mais meu corpo contra o dela.
            Então era assim que ela ia me dominar? Valeria a pena se entregar. Se eu tivesse uma mulher perfeita daquela comigo, então poderia me render.
            Suzana me soltou. Seu olhar era tão dominante que me prendi nele por alguns minutos. Depois ela desceu da mesa e pegou a bolsa ao lado.
            - Onde tem um banheiro? – ela perguntou naturalmente.
            Pelo tom de voz parecia que nós tínhamos acabado de ter uma conversa normal e civilizada.
            - Precisamos limpar essa mão. – ela explicou, levantando a mão que havia cortado com o estilete.
            - Precisamos. – respondi, examinando a minha.
            Estava um corte profundo, o sangue seco se esparramava em toda a mão. Estava nojento de se ver.
            Andei pelo imenso corredor do segundo andar e a conduzi até o banheiro mais próximo. Entramos juntos para lavar a mão. Tivemos de passar água com álcool-gel.
            - Já pensou em algum plano? – perguntei, tentando parecer desinteressado.
            - Na verdade, já. – ela respondeu outra vez com naturalidade – Mas não posso te contar ainda.
            - E por que não? – insisti.
            - Você ainda não é digno de confiança.
            - Qual é? Acha que eu vou sair por aí entregando seus planos para aquele idiota do Alex? Claro que não!
            - Está certo. Mas podemos ir a um lugar mais seguro?
            - Venha.
            Sequei a mão e a conduzi até o terceiro andar, onde ficava meu quarto. Tranquei a porta e me virei. Ela estava de costas para mim, encarando o quarto que havia em sua frente.
            - Vocês vivem mesmo em um luxo interminável, não é mesmo? – ela comentou.
            - Não acho tão luxuoso assim.
            - Claro. Você era um Valentyne. Deve que vivia em um luxo maior ainda.
            - Por que as pessoas se interessam tanto pela minha vida ou de minha família?
            - Você é uma pessoa pública, Rodrigo. A família Valentyne é muito imitada... Ou pelo menos era.
            - Não estamos aqui para falar de minha antiga família. Estamos aqui para você me dizer que plano pretende seguir.
            - Está certo.
            Ela virou para ficar de frente para mim. Seu rosto estava tão angelical que por um momento pensei que estava blefando na história do plano.
            Andei até o conjunto de sofás no fundo da sala. Sentei em um deles e liguei a TV em volume razoável. Suzana me seguiu com uma sobrancelha erguida.
            - É para abafar o som de nossa conversa. – expliquei.
            - Muito esperto. – ela elogiou.
            Suzana se sentou à mesa de centro, ficando a apenas alguns centímetros de mim.
            - Tenho algo para lhe mostrar.
            Ela revirou a bolsa, atrás de algo que eu nem imaginava o que era. Tirou um saquinho transparente cheio de pequenos comprimidos.
            - O que é isso? – perguntei.
            Ela ignorou minha pergunta.
            - Daqui a pouquíssimos meses, Alex irá prestar o vestibular de medicina na universidade em que você estuda. Vocês irão se ver sempre. E eu quero que se aproxime dele, de um jeito que ele tenha confiança em você...
            - Como sabe disso? E como tem tanta certeza de que ele irá passar? – interrompi.
            - Já fui a melhor amiga de Alex, sei quase tudo sobre ele. E ele vai passar sem dúvidas. Você não tem noção da inteligência dele.
            - Tudo bem. Mas por que quer que eu me aproxime dele?
            Outra vez Suzana ignorou minha pergunta.
            - Em fevereiro, Beatriz vai para um campeonato de skate em Campinas. Ficará por lá por uma semana. E Alex ficará aqui, sozinho. Sem a namorada para rondá-lo, a irmã para ajudá-lo e os amigos para alertá-lo, teremos um alvo fácil.
            “Ele ficará mais preocupado com os estudos depois de entrar na faculdade, e isso o deixará um pouco desligado do mundo”.
            “Você vai aproveitar esse momento de fraqueza dele e tentará fazê-lo ingerir isto”.
            Ela levantou o saquinho.
            - Alex vai deixar de ser o príncipe que é. Não será mais educado, muito menos inteligente, não será tão romântico e deixará Bia como segundo plano. Logo Bia irá deixá-lo...E nós dois entraremos em jogo.
            “Bia vai precisar de um ombro para chorar e este será você. Alex vai precisar de um apoio e esta serei eu. Sei como posso fazê-lo voltar a ser um príncipe, mas aí será tarde demais para Beatriz”.
            - Uau! – fiquei boquiaberto.
            Ela passou a admirar os comprimidos dentro de um saquinho.
            - Mas o que é isso? – fiquei desconfiado.
            Ela deu um sorriso torto. O sorriso que revelou o perigo a minha frente. Pela primeira vez seu rosto revelou quem ela era.
            - Ecstasy.
            Senti que meus olhos se arregalaram.
            Se tinha uma coisa que Roberto sempre me ensinou, era que drogas era para derrotados, para aqueles que queria fugir do mundo. E eu nunca tinha que fugir do mundo. A vida poderia não ser fácil, mas as drogas não a tornaria melhor, ela só piorava.
            - Onde conseguiu isso? – perguntei.
            Lembrei que onde havia drogas, havia pessoas muito perigosas envolvidas, – não que existe alguém mais perigoso do que um psicopata –, mas eu não estava a fim de me envolver com traficantes.
            - Vamos dizer que eu conheço alguém, que conhece alguém. – ela respondeu olhando o pequeno saquinho.
            - Mas isso pode matá-lo! – assustei-me com a ideia.
            - Claro que não. Ele ficará depressivo por um tempo, mas sei como resolver isso.
            - Não sei.
            Aquilo não estava certo. Eu ia destruir a vida de alguém só para melhorar a minha?
            - Vai desistir agora? – ela perguntou, vindo se sentar em meu colo.
            Suzana passou as mãos por meu peito nu e beijou meu pescoço.
            - Por favor? – ela sussurrou em meu ouvido.
            O vento fez minha cabeça delirar.
            - Tudo bem. – respondi automaticamente.
            Ela mordeu minha orelha, depois se levantou.
            - Ótimo. Você não vai se arrepender!
            Já estou arrependido, pensei.
            - Mas por que o Ecstasy? – perguntei.
            - Porque é uma droga que vicia, mas não é muito forte. Apenas causará prazer em sua mente.
            - E como você vai fazer para curá-lo?
            - Vou causar nele o mesmo prazer que a droga. Mas com meu próprio corpo.
            - Desse jeito, até eu queria ser viciado. – falei olhando para seu corpo.
            Ela riu e me jogou na cama atrás de mim.
            - Não precisa se viciar para ter isso, basta me ajudar. – ela respondeu indo para cima de mim.
            Acordo feito!


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